segunda-feira, 25 de maio de 2015

PROJECTO DIÁLOGOS: MEDEIA EM COIMBRA


 Informação recebida do projecto Diálogos da Fundação Gulbenkian: 

No dia 28 de Maio, pelas 17h30, no Rómulo - Centro Ciência Viva da Universidade de Coimbra, irá realizar-se a Conferência Diálogos: Medeia de Eurípides – o conflito entre paixão e razão.

Serão oradores os Professores Delfim Leão e Alexandre Sá, da Universidade de Coimbra. Delfim Leão apresentará a comunicação Em Defesa de Medeia? O Horizonte Literário e Jurídico da Medeia de Eurípides e Alexandre Sá A Medeia Enquanto Paradigma Fraturante.

No decurso da Conferência haverá Leitura encenada de excertos da Medeia pelo grupo de teatro “Thíasos” / FESTEA – Festivais de Teatro de Tema Clássico.

Esta Conferência enquadra-se no âmbito da colaboração entre o Projeto Diálogos e a Universidade de Coimbra: Rómulo - Centro Ciência Viva; Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos; Instituto de Estudos Clássicos e Grupo de Teatro “Thíasos” / FESTEA.

O Projeto Diálogos, apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian, visa promover uma reflexão a partir de textos fundamentais da história do pensamento ocidental. Aqui se inscreve a Medeia de Eurípides.

Maria Helena da Rocha Pereira refere na Introdução da Medeia de Eurípides, na edição da Fundação Gulbenkian que “(...) é na forma que Eurípides deu à história que o mito cristalizou, foi assim que ele se transformou em motivo de inspiração de pintores e poetas desde a Antiguidade aos nossos dias”.

Analisar, hoje, um texto como a Medeia, numa abordagem transdisciplinar, mostrando a força e persistência de mitos que deram forma à consciência ocidental, é um exercício revelador do sortilégio da poesia e da literatura como meios de irradiação do conhecimento e de construção de um pensamento crítico.

Sejam bem-vindos!


Nota de Delfim Leão
Embora a ação de Medeia nos remeta para o passado remoto de Corinto e, por conseguinte, para um tempo heroico de personagens de exceção, a audiência que assistiu à sua apresentação, nas Grandes Dionísias de 431, vivia numa pólis específica, que se encontrava organizada segundo uma estrutura social concreta. Por este motivo, o público ateniense, na apreciação do drama euripidiano, terá por certo ponderado também a situação jurídica de uma mulher exilada, com uma descendência reconhecida pelo marido, que estava a ponto de ser trocada por outra mulher, de estatuto mais elevado e que oferecia uma ligação mais proveitosa para Jasão. Além disso, acrescia ainda o facto de Medeia se movimentar com uma determinação varonil numa sociedade dominada por homens e respetiva mundividência familiar, política e legal. Numa primeira abordagem, a situação jurídica desta mulher é bastante difícil ou mesmo até insustentável: a um historial altamente violento e comprometedor, motivado pelo impulso amoroso de seguir Jasão, a quem se encontrava ligada sem um vínculo matrimonial legalmente reconhecido, juntava-se ainda a contingência de ser bárbara, de praticar a feitiçaria e de recorrer ao crime hediondo de matar os filhos, quando o instinto maternal a deveria levar a protegê-los. A conjugação destes fatores relega Medeia para as margens da existência em sociedade e torna-a, à partida, numa pessoa indesejável em qualquer comunidade politicamente organizada. Ainda assim, importantes personagens do drama – como a Ama, o Coro e Egeu – reconhecem-lhe certa dose de razão que, se não justifica por inteiro a sua atuação extrema, ajuda a sustentar a justeza dos motivos de agravo relativamente a Jasão.
Nesta análise, irá ser privilegiada uma abordagem jurídica do desenlace trágico da atuação de Medeia e Jasão, não com o objetivo de absolver ou condenar em definitivo a conduta de qualquer um deles (até porque isso não seria viável), mas antes para tentar reproduzir alguns dos constrangimentos legais que, a par de fatores éticos, religiosos, culturais e estéticos, terão pesado na apreciação do público que assistiu à estreia da peça.

Texto: Eurípides. Medeia (vv. 160-172) [tradução de M.H. da Rocha Pereira]
[fala da Ama]

Traindo a minha senhora e os seus próprios filhos, Jasão repousa no tálamo régio, tendo desposado a filha de Creonte, que manda nestas terras; e Medeia, desgraçada e desprezada, clama pelos juramentos, invoca as mãos que se apertaram, esse penhor máximo, e toma os deuses por testemunhas da recompensa que recebe de Jasão.

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