O texto Uma escola para os MEUS filhos, que antes publiquei neste blogue, mereceu comentários que, de uma ou de outra forma, me surpreenderam. Procurarei reforçar a ideia central desse texto:
1. A escolaridade universal, gratuita e, até certo patamar, obrigatória para todos, começou por ser um sonho. Graças a pessoas que pelos séculos fora afirmaram a capacidade transformadora (num sentido positivo) da educação formal, o sonho realizou-se em certas partes do mundo. Noutras ainda não foi possível realizá-lo ou só é possível para uma minoria, ou deixou de ser possível...
2. Efectivamente, a escolaridade universal, gratuita e, até certo patamar, obrigatória para todos, uma vez implantada, não se constituiu como garantia, pode sofrer retrocessos. É, portanto, um sonho que implica alerta e defesa.
3. Temos a sorte de viver numa das partes do mundo em que a escolaridade universal, gratuita e, até certo patamar, obrigatória para todos se encontra consagrada na Constituição da República Portuguesa e na Lei de Bases do Sistema Educativo. Temos obrigação de estar alerta às ameaças que possa sofrer e estar prontos para a defender.
4. O nosso currículo está longe de ser perfeito, as nossas escolas denotam mútiplos problemas, mas o dever de cada um é, com sentido do que é razoável, contribuir para melhorar o que estiver ao seu alcance. Declarar que não gosta da escola - e isso acontece sobretudo em relação à pública - e abandoná-la, optanto por construir um currículo próprio para quem lhe é afectivamente próximo, não me parece, de facto, a melhor atitude cidadã.
5. Justifico a minha afirmação: se nos devemos preocupar com as crianças e jovens que estão sob o nosso cuidado directo, não podemos deixar de nos preocupar com todos os outros. Todos têm, afinal, os mesmos direitos no que respeita à educação. Por outro lado, as crianças e jovens que estão sob o nosso cuidado directo não podem aprender apenas e só o que cada um de nós acha que é relevante. Talvez aqui importe admitirmos que há pessoas com melhor preparação que a nossa para decidir e concretizar a sua aprendizagem formal
6. Finalmente, sublinho que não sou contra a escola privada ou o ensino doméstico, que reconheço como opções ou necessidades da sociedade. Desde que cumpram o núcleo central do currículo com a qualidade esperada, o seu lugar deve ser reconhecido.
Mas sou absolutamente contra a desvalorização da escola pública, que está na moda. Para isso têm, seguramente contribuído várias "estrelas" do mundo empresarial, artístico, intelectual... - o exemplo que dei no texto referido não é, infelizmente, único - que declaram "não gostar" dessa escola e, talvez de nenhuma, e apresentam a "sua" ideia de educação dos "seus"... Tendemos a concordar: estão no seu direito, não é? E, os outros? Bem... são os outros!
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2 comentários:
Caríssima Professora Helena Damião, onde é que, na Constituição (CRP), está escrito que ao Estado incumbe a instrução universal e gratuita como escreve e deixa entender no post? Em lado nenhum não é verdade, o que a CRP diz na a) do n.2 do art. 74 é que ao Estado incumbe «Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito; »
A Professora Helena Damião diz que é contra a desvalorização da Escola publica, mas não diz que é por uma maior valorização, no que a uma inclusão da instrução completa universal e gratuita da Escola publica diz respeito. Usa prudentemente a expressão "até certo patamar" ! pois que, com essa atitude, considerará que existem partes do ensino dispensáveis (as reservadas para as elites), ficando essas só para os que as podem pagar. Ora assim sendo, não faz sentido, porque se insurge contra o tal senhor que cria um escola para os seus filhos, porque ele a pode pagar, se nem uma Escola completa universal e gratuita a senhora defende. Desculpe-me a franqueza senhora professora mas é na sua reserva prudente em relação a gratuitidade do ensino universitário que a coloca em igualdade de principio burguês com o tal senhor muito rico.
cumprimentos,
Afinal sempre parece que não interpretei mal o post anterior...
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