segunda-feira, 27 de abril de 2015

Pistas para a redução da despesa das universidades

A proposta surgida no proto-programa económico de um dos possíveis vencedores das eleições deste ano quanto ao financiamento das universidades do estado é uma coisa admirável. Alegadamente produto de alguns professores universitário de Economia, a proposta prevê que o financiamento das instituições de ensino superior do estado seja feita a partir do IRS dos antigos alunos, não se reduzindo o total da dotação orçamental do estado, nem se aumentando a carga fiscal dos ex-alunos. Alegam os autores da proposta que tal incentiva as instituições a produzir alunos com valor porque receberão uma maior dotação quanto maior for o rendimento do seu alumni. 

Eu, para ser franco, gostava de classificar a proposta com uma expressão melhor que “estupidez” mas não consigo. É mesmo uma estupidez. É uma admirável peça de ignorância matemática conjugada com disparate económico, para além de reforçar que a universidade do estado é cada vez menos uma universidade pública. Do ponto de vista matemático é um processo multiplicativo. Um curso que produza muitos alunos vai captar muito IRS, independentemente do valor do curso. Qualquer pessoa que contacte minimamente com o fenómeno económico saberia dizer que a proposta é um disparate, mas vamos concretizar. Se produzir 3000 advogados por ano porque os recursos necessários para os produzir são comuns (como qualquer universidade de vão de escada poderia mostrar aos autores) eu vou conseguir um retorno fantástico porque esses ex-alunos farão tudo para fugir ao ordenado mínimo, a fazer seja o que for. Portanto, serei financiado para produzir aquilo que menores recursos me exija. Economicamente a explicação é óbvia, o valor do curso é só uma das parcelas do valor económico da pessoa. No limite, até posso produzir APENAS advogados que o financiamento universitário é garantido na mesma, apenas num nível de riqueza da sociedade muito inferior.

Portanto, para conseguir um bom retorno basta-me conseguir muitas pessoas e com isso gerar um processo multiplicativo em que os outros cursos ficam vazios. Se os senhores professores quiserem uma explicação mais formal do ponto de vista matemático eu até posso dar, mas bastava terem ido aquele ex-ministro que tirou um curso em 3 dias para terem uma explicação intuitiva.

O outro erro grotesco é confundir valor económico com ordenado. É até tão infantil. O valor económico de um médico é substancialmente superior à seu ordenado até porque cada vida que salva dificilmente poderia ser substituída gastando esse dinheiro. Não há um mapeamento entre valor económico e valor monetário quando se fala de educação(*). Aliás, a proposta contradiz a necessidade económica de educar porque se o IRS dos ex-alunos pode pagar a educação dos presentes, isto significa que se financia mais aquilo que já se sabia, em detrimento daquilo que ainda não se sabe. 

Em resumo, uma estupidez. Mas a proposta dá pistas valiosas para a redução da despesa das universidades do estado. Tantas quantos os autores do estudo, para sermos mais rigorosos...

(*) Ou ciência, coisa que já tentei explicar aqui milhares de vezes, sem sucesso. 

2 comentários:

Unknown disse...

Espero que os "inteligentes" o escutem

António Pedro Pereira disse...

É triste ser-se apenas escutado pelos "pouco inteligentes"

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...