A possibilidade de (através da voz, da imagem, da escrita) se encontrar o rasto de uma pessoa no ciberespaço é, há muito, possível. E, diz quem sabe, fácil e rápido. Daí depressa se passou para a captação das emoções que deixamos transparecer.
Câmaras de vídeo espalhadas por centros comerciais, ruas e sabe-se lá onde mais captam a nossa expressão facial e interpretam-na para que alguém possa saber qual é o estado de alma de cada um nesta e naquela circunstância.
Se ter acesso aos comportamentos de alguém é, para certas mentes, maravilhoso, ter acesso aos seus sentimentos é absolutamente fantástico. De facto, quando as moedas de troca são coisas irresistíveis como o controlo e o dinheiro não se olha para trás nem para os lados, só para a frente.
É isso que certos centros de investigação - que não consigo ver como científica - públicos e privados fazem. Efectivamente, a esses centros - muitos deles ligados a universidades - se deve o aperfeiçoamento da tecnologia que permite o "panóptico sempre ligado". Os subsídios que recebem das mais diversas entidades são de milhões, a aplicação no mercado é imediata e altamente rentável, os prémios estão garantidos e o reconhecimento académico também.
Haverá algum investigador que possa resistir a tudo isto?
Esta foi a pergunta que fiz a mim própria ao ter uma notícia (aqui) do super financiamento - 3,6 milhões de euros - que, recentemente, a Comissão Europeia atribuiu a um projecto que envolve uma empresa privada e uma universidade das civilizadas Inglaterra e Alemanha, cujo objectivo é aperfeiçoar a leitura das emoções através de smartphones e webcams que as pessoas usam, para se ver se elas gostam dos conteúdos veiculados por estes equipamentos.
Não duvido da competência técnica de quem está incluído no projecto, acredito mesmo no que um dos responsáveis disse: dispondo de "uma base de dados com mais de cinco milhões de imagens de caras, cada uma com uma descrição que pode conter informação como se o movimento de uma sobrancelha indica surpresa ou confusão, por exemplo, está-se a “elevar a medição emocional a outro nível”. De momento, a aplicação, destina-se à rentável publicidade, mas no futuro não haverá fronteiras: policial para detecção de mentiras; rodoviária, para detecção de condutores qualquer-coisa.
E é isto mesmo, acreditar na competência de tal gente e saber que o que fazem tem aplicação certa, que me deixa verdadeiramente assustada.
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2 comentários:
Deixa-a assustada a si e devia deixar-nos a todos nós. O que se está a criar é uma imagem redutora e robotiza daquilo que é um ser humano. O espaço para o cientismo e a falácia é exponencial. O problema é que anda muita gente deslumbrada com o maravilhoso progresso, a crescente dependência dos investigadores e a destruição das estruturas tradicionais (Escola, Família, etc) deixa-me realmente assustado, o mundo utópico vai falhar, seja como fôr e o futuro vai prender-nos na cilada. Fujam desse mundo melhor porque seremos sempre carne para canhão.
Prezado leitor anónimo, eu faria uma diferenciação entre "ciência" e "tecnologia". No caso, é a tecnologia que questiono. Cordialmente, MHD
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