A íris é uma estrutura circular e fina que existe nos olhos, e que lhes dá a cor que nos maravilha. É responsável pelo controlo do diâmetro e tamanho da pupila, no seu centro, e logo pela quantidade de luz que se adentra no olho e atinge a retina. O seu nome deriva da divindade grega para o arco-íris, exactamente devido às suas inúmeras cores. Estas cores resultam da refracção da luz solar por miríades de gotas de água (ou de um prisma, entre outros exemplos), separando-a nas suas componentes, na região do espectro visível.
Esta gama de
frequências, ou comprimentos de onda, a que os nossos olhos são sensíveis, é um
pequeno intervalo no espectro de toda a radiação electromagnética de que temos
conhecimento existir no Universo.
Irradiada
por estrelas e, outros corpos e eventos cósmicos, de forma característica ao
longo do tempo, a radiação electromagnética inunda o espaço, pelo menos desde
380 mil anos após o “Big Bang” que originou o nosso Universo.
Como é que
sabemos disto? Entre outros dados, através da radiação cósmica de fundo captada
através de outras íris, estas radioteslescópicas, que fomos tecnologicamente construindo
e colocando em altas montanhas (onde o ar é mais rarefeito e seco, e longe da
poluição luminosa dos grandes centros urbanos), ou em telescópios espaciais colocados
em órbitas determinadas (onde não há ar, nem muitas poeiras).
Existem
várias “íris telescópicas” a olhar o céu por nós, humildes míopes cósmicos. As
ciências astronómicas e astrofísicas usufruem hoje de satélites que, com instrumentação precisa e apropriadamente muito
sensível, perscrutam zonas específicas de quase todo o espectro
electromagnético.
Recentemente, e como exemplo de actualidade, o telescópio Planck registou,
por todo o espaço em seu redor e durante 15 meses, o registo fóssil dos
primeiros fotões (partículas de luz) que surgiram no nosso Universo, depois de
uma viagem de mais de 13 mil milhões de anos até chegarem até nós. Esses fotões
chegam-nos em radiação electromagnética com a frequência das micro-ondas e
correspondem ao que se designa por radiação cósmica de fundo. Através dos dados
obtidos pelo telescópio satélite Planck conseguimos “ver” a primeira luz que
irradiou despois do “Big Bang”.
Outros
telescópios incorporados em satélites “veem” o Universo em outras frequências.
Alguns exemplos são: o Herschel no infra-vermelho longínquo; o JWST no infra-vermelho; o Telescópio Espacial Hubble no vísivel; o Gaia no infra-vermelho próximo, visível e ultravioleta; o XMM-Newton no raios-x; o Integral nos raios gama; entre tantos outros da ESA, da NASA e de outras agências espaciais.
Cada uma destas “íris telescópicas” têm missões científicas precisas e
têm contribuído decisivamente para a concepção que temos do Universo, desde as
galáxias mais distantes aos buracos negros no centro da nossa galáxia, desde as
espantosas nebulosas remanescentes de explosões de supernovas, aos pulsares das
estrelas de neutrões, autênticos faróis na noite cósmica.
Outras íris avançam em direcção às estrelas: as sondas Voyager e Pioneer que são os objectos
humanos actualmente mais longe da Terra (a Voyager 1 encontra-se na fronteira
mais distante conhecida do nosso Sistema Solar, a mais de 120 vezes a distância
da Terra ao Sol).
Há mais de 400 anos, mais precisamente no mês de março do ano de 1610, Galileu
Galilei deu início à observação instrumental do espaço através da sua luneta
composta por duas lentes que aumentavam em 30 vezes o tamanho aparente de um
objecto. Sentado no seu atelier cósmico em Veneza, os músculos de uma das suas
íris contraíram-se para aumentar a pupila e deixar entrar todo espanto que então
iluminou o novo conhecimento das crateras da nossa Lua, a descoberta de quatro
Luas a orbitarem Júpiter, entre tanto outro espaço. Tinha dado início a ciência
instrumental moderna, o que comunicou ao mundo através do livro Sidereus Nuncius ou “O Mensageiro das
Estrelas” (publicado entre nós pela Fundação Calouste Gulbenkian).
Ao longo dos últimos quatro séculos fizemos uma viagem cósmica de mais de 13
mil milhões de anos, descodificando os sinais transportados em ondas
electromagnéticas por fotões, quais peregrinos cósmicos, finalmente captados
pelas “íris tecnológicas” que construímos. Uma das maiores é o recentemente
inaugurado radioteslescópico ALMA, do
Observatório Eusopeu do Sul, instalado no planalto desértico de Atacama, em
Chile.
Abrem-se assim novas
pupilas em “íris tecnológicas” que, apesar de não impressionarem a retina dos nossos
olhos, espantam os nossos caminhos neuronais. Com o cérebro na posse do conhecimento e da
tecnologia actuais, expande-se o nosso conhecimento do passado, e espreitamos o
horizonte futuro de um novo cosmos invisível à nudez dos nossos
olhos.
Hoje, podemos pintar o céu com um arco-íris que começa na radiação gama e
acaba nas ondas dos nossos rádios!
António Piedade
Nota: O título é o primeiro verso de poema inédito de António Piedade
6 comentários:
Estimado José Batista. Tem razão. Já corrigi a distracção. Obrigado pela chamada de atenção e também pelas palavras generosas.
A cada dia, compreendemos que a imparcialidade é o gesto mais próximo, promissor (nobre) em objetivos. A par de inovar e ante consolidar deste natural desafio, escrever. Eis que a humanidade revela-se, elaborada em planos que o ser humano desconhece. E o feito da humanidade, pois elaborar é elaborar-se. Aqui, neste patamar seria orientar fazer de arestas, palavras, em belas palavras a ciência. As quais do suave carinho apreciam, outras e outras, palavras. Descrever-nos de quando próprias, originais ou inspiradas e até, inesperadas a exemplo da crônica acima. Eis, descresve-nos e eleva-nos, de quando eleva a comunidade científica, eleva a humanidade. E, que muitos modestamente consideram compreender-se neste sentido, desta ousadia. Eminente de respostas no céu que permeiam olhares e lentes, que buscam e rebuscam, através de conceito por definir o facto de impulsionarem novas experiências aos laboratórios fora de seu país ou, fora de seu aconchegante posto. Estes heróis professores(as) aventuram-se em pesquisas, dispondo superar, superando-se em busca do conhecimento!
Eis, que reconhecem a outrem, reconhecendo-se, de quando ciência.
E nós, pela generosa mão com que escrevem, podemos ver melhor e mais longe.
E o mais belo.
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