segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

O uso da tecnologia na educação!Um processo irreversível?



A segunda maior audiência da Khan Academy vem do Brasil. O educador visita o País pela primeira vez nesta semana para conhecer como anda a educação por aqui e divulgar seu livro Um Mundo, Uma Escola.  Na última quinta-feira, Khan conversou com o Estado por telefone de seu escritório na Califórnia.(Fonte Carlos Lordelo - O Estado de S.Paulo em 13 de janeiro de 2013)
 
O que o sr. pretende conversar com o governo brasileiro?  
Geralmente falo com os governos sobre como ter um sistema de educação mais acessível e equânime. Isso passa pela forma de se certificar conhecimentos. Podemos criar um jeito de as pessoas provarem que sabem algo independentemente do modo pelo qual aprenderam, seja na universidade, na internet, no livro-texto ou no trabalho? Para mim, bastaria ir a um lugar, mostrar a carteira de identidade, fazer uma prova e sair com as credenciais.


O sr. acha que os diplomas atuais vão perder valor se agora é possível aprender a partir de diferentes fontes e não apenas na escola e na universidade?  
Os diplomas já perderam valor, e não por causa da educação a distância. Se você for a diferentes países, verá que nem todos vão para as melhores universidades. A maioria estuda na sua cidade ou Estado. Mesmo que você frequente uma excelente faculdade, dê duro e aprenda bastante, ainda será difícil para que em outros lugares entendam o que você sabe ou não. O diploma diz muito pouco, é apenas um indicativo de suas competências. Como dar às pessoas algo que deixe evidente o que elas sabem? Precisamos de uma solução para isso.

Como a Khan Academy deve ser utilizada nas escolas?  
O melhor é caminhar para o modelo de sala de aula invertida em que os alunos aprendam a seu próprio ritmo com a Khan Academy e o professor veja na base de dados quem está com dificuldade e retrabalhar os conceitos em pequenos grupos, pedindo àqueles que já entenderam que ajudem os colegas. Nesse processo, o aluno aprende de forma personalizada e interage com outras pessoas. E assim que compreende o assunto pode fazer um teste. É uma questão de mudar a estrutura e o tempo da sala de aula. As classes devem deixar de se basear nas aulas expositivas, já que agora elas estão disponíveis na internet. Na escola, o tempo deve ser gasto com seres humanos se reunindo e se ajudando.

Quais são os impactos dessa revolução tecnológica nos professores e qual o papel deles em um mundo no qual os estudantes são mais ativos e autônomos?  
A maior parte do tempo do professor é gasto dando aulas expositivas. E quando ele não está fazendo isso, está criando e corrigindo provas e planejando aulas. Esses aspectos da carreira docente, nos próximos 5 ou 10 anos, poderão ser feitos por meio de ferramentas virtuais sob medida. A resposta à sua pergunta, então, é: interagir com os estudantes. Em vez de isso ocupar 10% do tempo do professor, como vemos hoje, pode se tornar 90% da ocupação dele, ou até 100%.


Então teremos um professor exercendo mais um papel de tutor? Algo que vemos em universidades como Oxford?  
Exatamente. Várias das vezes em que descrevo esse cenário as pessoas acham que estou tirando a importância do professor no processo educacional, desvalorizando-o. Às vezes um tutor parece menos importante que um professor ou mestre. Mas é como você salientou: este é o modelo de Oxford. Você tem o mestre, pessoa muito talentosa no que faz, que senta com o aluno e o desafia intelectualmente. Para mim, isso exige uma habilidade muito maior do professor do que planejar uma aula e dá-la de modo previsível.
 
Só o Estado de São Paulo tem mais de 5 mil escolas e 4 milhões de alunos. Dá para inverter todas as salas de aula da rede?  
Não tenho a ilusão de que isso vai ocorrer da noite para o dia (risos). Mas está acontecendo mais rápido do que eu esperava aqui nos EUA, pelo menos. Temos 20 mil salas de aulas usando a Khan Academy. Não foi por ordem do governo, mas uma decisão dos professores ao perceberem que podem ajudar seus alunos e tornar as aulas mais produtivas. Não se trata de dizer aos docentes o que devem fazer, mas fazê-los entender que isso deixará a vida deles melhor e fará com que gostem mais do trabalho.
  
No Brasil, só conseguimos colocar quase todas as crianças na escola há cerca de 20 anos, mas falta qualidade ao ensino público. Como a tecnologia pode ajudar a transformar este cenário?  
Do lado dos professores, ela permite saber com mais precisão se as crianças estão aprendendo. Mas o ideal seria padronizar os critérios de avaliação, para que seja possível comparar o desempenho dos estudantes não só ao dos colegas, mas em uma escala nacional. Isso depende de que o resultado do dever de casa que o aluno faz à noite vá para um sistema integrado da escola, do Estado, do País. Assim, a qualquer momento se pode ter um diagnóstico da educação. O que um professor espetacular pode fazer com esses recursos é inacreditável.

E pensando no estudante?  
Um aluno brasileiro pode ter acesso à mesma aula de cálculo que o filho de Bill Gates. Não depende mais de sua escola ser boa ou não porque fica numa região pobre da cidade.
  
Nosso modelo de salas de aula existe desde o século 18. Estamos desenhando o futuro da educação nos dias atuais?  
Espero que sim. Se as melhores escolas estão fazendo essas mudanças, eu vou copiar. No nível universitário você vê grandes instituições como Stanford, Harvard e MIT dizendo que não há mais sentido em dar apenas aulas expositivas, que o ensino tem de ser mais interativo e personalizado, e que precisamos repensar o significado dos certificados de conhecimento e competências. Quando instituições desse tipo mudam, o efeito se espalha por outras universidades e até no ensino médio. Em cinco anos, as melhores escolas vão estar invertendo a sala de aula, então para o resto dos colégios não será uma questão de 'Devo fazer?', mas de 'Como posso fazer isso também?'.

 O criador da Khan Academy, Salman Khan, vai estar no Brasil esta semana e fará uma palestra no dia 17(quinta-feira) às 9h30min, que será transmitida via hangout no link abaixo. Não perca!

https://plus.google.com/u/0/?tab=mX#events/ceq7p5lta9j21sc45vk2cau3ook

4 comentários:

Anónimo disse...

Há sempre a questão de qual é o conhecimento "aprovado", por assim dizer. Como sabe nem toda a ciência ensinada é boa ou actual e nem toda a não-ciência é inútil ou ultrapassada.

José Batista disse...

Pois sim, talvez. Mas a coisa não é assim tão simples...

Agora, o problema dos certificados em Portugal está resolvido: até podem ser atribuídos sem que os destinatários demonstrem o que quer que seja.
Alguns chegaram mesmo a ministros, por sinal muito faceiros.

Ildefonso Dias disse...

Professor Hélio Dias;

Aqui em Portugal ainda se anda a discutir ideias e concepções medievais... e eu não tenho a certeza de quão bem posicionadas estas ideias possam realmente estar; infelizmente... aqui o caminho para o museu das curiosidades históricas é muito longo, inclinado e tortuoso que baste também!!!

Cordialmente,

Cláudia da Silva Tomazi disse...

Quando apontam a tecnologia; de que tecnologia exactamente, estão por considerar...quando, direccionam ao Brasil, a real extensão do Brasil, a populaçao da brasilidade, os vincos e as causas; estão exactamente a esperar o quê, deste continente?! Sim; seria muito fácil trazer a boca, Oxford, Havard e por aí a fora. Exactamente desta gente, a minha gente. Nem pouca gente e a gente pouca, apequena-se; aliás, nem gente! Digo do radinho a pilha.

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...