quinta-feira, 28 de junho de 2012

A Implementação da Prova de Acesso à Carreira Docente


“E assim cheguei até vós, ó homens de hoje, e ao país daeducação. E o que me aconteceu? Não obstante toda a minha ansiedade, tive derir. Nunca os meus olhos tinham contemplado algo tão manchado e heterogéneo” (Friedrich Nietzche, 1844-1900).

Em Abril deste ano, foi publicada, na imprensa diária, uma notícia de que transcrevo abaixo o que dela retive de essencial, e que me faz incorrer na repetição de argumentos por mim já apresentados em outras ocasiões e em idênticas circunstâncias, v.g., no meu post publicado neste blogue: “O exame de acesso à carreira docente".


A supracitada notícia reporta-se à declaração aos jornalistas do Ministro da Educação, Nuno Crato, à margem de um almoço no “American Club” de Lisboa, trazendo novamente para a discussão pública uma questão que corria o risco de se eternizar. Disse Nuno Crato: "Queremos dar, na formaçãoinicial de professores, mais peso aos conteúdos. Ninguém pode ensinar muito bem se não dominar aquilo que vai ensinar. E estamos a introduzir uma prova de acesso à carreira docente, que, aliás, está na lei, mas que vai este ano ser implementada”.

Sobre esta exigência do domínio da matéria que se vai ensinar, já Eça não contemporizava: “Para ensinar há uma formalidade a cumprir: saber”! Não indo tão longe no tempo, em finais de 2007, lia-se na imprensa este título: “A vice-reitora da Universidade de Coimbra defende exame para acesso à docência”. De forma institucional, ficou a saber-se que esta professora catedrática da Faculdade de Letras, Cristina Robalo Cordeiro, pois é dela que se trata, subscreveu um parecer suportado em três princípios ": 1.“Qualidade de ensino e equidade de acesso à profissão docente”. 2. “Exigência acrescida para uma competitividade a nível europeu”. 3. “Reconhecimento de que nunca a pedagogia consegue que um professor ensine aquilo que não sabe”.

Em face de ocasiões anteriores em que este assunto esteve em cima da mesa, é de esperar que, de novo, se apreste a acorrer belicosa a guarda pretoriana da mediocridade a gritar em pleno regime republicano: “Aqui- d’el- rei”!. A título de mero exemplo, lia-se em notícia da Lusa ter a Fenprof rejeitado que os professores sejam obrigados a realizarem um exame de ingresso na carreira por considerarem este exame “injusto e sem sentido” (24/01/2009). Injusto e sem sentido? Falemos claro! Injusto e sem sentido, isso sim, é o facto dos alunos diplomados pelas escolas superiores de educação passarem à frente dos alunos das faculdades nos concursos para professores do 2.º ciclo do básico, através, tão-só, da classificação do respectivo diploma de curso. E esta situação muito veio aagudizar-se, nos dias de hoje, devido ao facto de hoje as escolas superiores de educação formarem docentes não só para o 1.º e 2.º ciclos, como até então, mas, outrossim, para o 3.º ciclo do básico.Desta forma, um escasso valor, de nota de curso, superioriza-se à maior complexidade de currículos e exigência de formação exigida pelas universidades.



Mas se como isto ainda seja pouco, um memorando do Conselho Coordenador dos Institutos Politécnicos(05/05/2012), subscrito pelo actual presidente do Instituto Politécnico de Coimbra, ex-director da ESE de Coimbra, Rui Antunes, ARISEPE e ESE de Bragança, Castelo Branco, Leiria, Porto, Setúbal, Viana do Castelo e Viseu, defende a formação de professores do ensino secundário a cargo não só das universidades, mas também das escolas superiores de educação quando conclui que “existem razões suficientes para que a interpretação da legislação seja no sentido de se considerar que a habilitação para a docência não está condicionada pela instituição que lecciona os cursos,mas apenas pela natureza desses cursos e, nesse caso, não faz sentido distinguir os docentes formados nas ESE daqueles que são formados nas universidades”.


É de recear, portanto, que, em desrespeito pela Universidade Portuguesa, apareça um qualquer iluminado que tente demonstrar não haver qualquer diferença entre coisas diferentes. Aliás, sem qualquer novidade por se tornar émulo desta personagem descrita por Eça:

“Caso surpreendente! E sobretudo surpreendente para mim porque descubro que a Academia tem sobre os livros a opiniãodo meu velho criado Vitorino! Este benemérito, quando em Coimbra lhe mandávamos buscar a um cacifo, apelidado Biblioteca Alexandria, um livro de versos, trazia sempre um dicionário, um Ortolan ou tomo das Ordenações; e se, por maravilha, nos apetecia justamente um destes tomos de instrução, era certo aparecer Vitorino com Lamartine ou a ‘Dama das Canélias’. Os nossos clamores de indignação deixavam-no superiormente sereno. Dava um puxão ao colete de riscadinho, e murmurava com dignidade: - ‘Isto ou aquilo tudo são coisas em letra redonda’”.

Aliás, a necessidadede exigência na formação de docentes foi evidenciada numa intervenção doprofessor catedrático, actualmente jubilado, e historiador, Luís Reis Torgal, num debate, promovido pela Associação Académica de Coimbra (19/02/2003). Nele insurgiu-se ele contra a formação de professores para o 2.ºciclo do ensino básico, a cargo, simultâneo, das faculdades e escolassuperiores de educação. Mereceu-lhe, igualmente, veemente crítica o verdadeiro escândalo da atribuição do grau de licenciado a diplomados pelas antigas escolas do magistério primário, após a frequência de cursos de complemento de habilitações feitos em escassos meses em escolas privadas.

E isto é tanto maisinsólito por as escolas superiores de educação terem sido criadas, apenas paraa formação de professores do 1.º ciclo do básico (antigo ensino primário) e educadoresde infância provendo este ensino politécnico em regiões carenciadas de ensino superior. Mas, com a complacência, ou mesmo pusilanimidade dos poderes públicos, logo elas se instalaram de armas e bagagens, em cidades de longa e cimentada tradição universitária, como Coimbra, Lisboa e Porto.

“Last but not least”, o que acima se relatou sobre a rejeição sindical da Fenprof à prova deacesso à carreira docente (aliás, muito a seu jeito e em coerência com a sua posição em criticar tudo quanto sejam avaliações, ainda que mesmo no sentido de “separar o trigo do joio” ) pode ser sintetizado, de certo modo, nesta frase de Ortega y Gasset : “O ódio aos melhores”!

17 comentários:

Anónimo disse...

"Nietzche, 1884-1900". Não contente com a truncagem sistemática das palavras de outros, este Rui Batista resolve truncar a vida do Nietzche. Como diriam os franceses "c'est la vie", afinal "os velhos hábitos nunca morrem". Ou como diria o Eça "Estou tagarelando muito. Acontece-me isto sempre que estou consideravelmente estúpido."

Anónimo disse...

Só não entendo uma coisa. Se se está a encharcar a Escola de Estruturalismo, Psicologia e Sociologia, muita comunidade e papás, ou seja, desfazendo o papel do professor numa camisa-de-forças, para que raio vamos agora tornar ainda mais restrito o acesso à profissão docente, escolhendo supostamente os melhores?
Que que saiba, a escolha dos "melhores" já está em curso,isto já para nem focar as condições impostas na legislação para a Autonomia Escolar. Os "melhores" começarão a povoar a Escola em maioria, dentro de pouco tempo, só ficarão os professores mais dóceis, de mais fraca personalidade entre outros traços de carácter que servirão exemplarmente vários dos sete pecados mortais. Afinal, quem melhor poderia modelar o aluno de amanhã?

Rui Baptista disse...

Anónimo (13:06):

Congratulo-me com a atenção dispensada ao meu post. Só foi pena que não quisesse, ou pudesse, discutir a temática do exame de acesso à carreira docente com o cuidado que merecia. Mas lá que cumpriu o serviço que lhe competia, cumpriu...

Rui Baptista disse...

Anónimo (16:30):
Foquemo-nos nos seguintes aspectos. Normalmente, acedem à Universidade, por norma, os alunos com maiores classificações obtidas no ensino secundário. Também por norma, a exigência dos estudos universitários que formam professores e classificações de diploma de saída são de maior exigência do que as das escolas superiores de educação.

Em resumo, e salvaguardando uma ou outra excepção, aos alunos que mais trabalharam deve ser dada uma oportunidade de poderem demonstrar a sua "superioridade", através de provas que ponham todos em situação de serem avaliados, com as mesmas “ferramentas”, em conhecimentos da língua materna, da matéria a ensinar, etc. Não esqueçamos que, com todos os imponderáveis a que a condição humana está sujeita, o óptimo, como nos diz o povo, é inimigo do bom Contentemo-nos, portanto, com o bom. Ou até mesmo com o menos mau… Mas mau, mau mesmo, seria continuar a franquear as portas da docência em função unicamente da nota de diploma sem ter em conta a sua proveniência.

Anónimo disse...

Quem não sabe argumentar usa a linguagem agressiva e esconde-se cobardemente no anonimato!!!! A truncagem das palavras é um dom que nem todos conseguem alcançar, muito menos aqueles que não dominam os conteúdos mas apenas a psicologia eleitoral e usam qualquer meio para atingir os ssseus fins.
Devo dizer-lhe, Sr. Anonimo, que sou formado(a) por uma Escola Superior de Educação e que comentários desses não são bem vindos. A argumentação deve ir mais no sentido de justificar que a formação é importante mas tão ou mais importante é o uso que se faz da mesma e o investimento profissional ao longo da vida. Se pensarmos desta forma e estivermos preparados para o exame talvez consigamos surpreender pela positiva quem não acredita nas Escolas Superiores de Educação. Não podemos deixar de concordar que um bom professor tem de dominar os conteúdos que lecciona e que o que causa todas estas polémicas são as sobreposições formativas que não devem existir. Há que definir campos de intervenção à partida para não andarmos em guerrinhas sem sentido. Também as Universidades a partir de certa altura começaram a copiar, é mesmo este o termo, cursos com um carácter eminentemente vocacionado para os Institutos Politécnicos e que tiveram a sua origem nos Politécnicos. Existem boas e más Universidades e existem bons e maus politécnicos....o exame vai ajudar a escolher os melhores independentemente da sua origem Universitária ou Politécnica. Quem não deve não teme!
Como sou cobarde também me vou manter no anonimato :)

Rui Baptista disse...

Ressalvo a redundância "normalmente e "por norma", excluindo a expressão "por norma".

Anónimo disse...

Serviço público de higiene. Que isto de escrever por colagens soltas - e quantas vezes inexatas - de frases atribuídas a outros, num exercício doentio e obscuro de "argumentum ad auctoritatem", não é escrever, e muito menos será pensar: é regurgitar.

E, convenhamos, não podia debater consigo "a temática do exame de acesso à carreira docente com o cuidado que merecia", quando no seu "post" não há uma única tese sua.

(curiosamente, o que mostra bem a fibra, a correcção foi feita sem lhe fazer qualquer referência)

Rui Baptista disse...

A correcção do nome de Nietzsche ficou a dever-se a um “lapsus calami”.

Daí a emenda, que fiz, sem a ela me referir por ser evidente a falta de um “s” num texto de 5306 caracteres (sem incluir espaços). Se reparar não emendei o nome no texto original, assumindo o meu erro. Erro cometido pelos nossos melhores escritores e neles desculpáveis quanto mais em mim, que em análise crítica sua, não sei o que é escrever e muito menos pensar.

Estranhamente, deixou este comentador passar este lapso para escrever: “(…) este Rui Batista resolve truncar a vida de Nietzche [sem aspas]. Ora isto significa (conseguindo distinguir entre aquilo que pensa e aquilo que escreve) que a referência que faço à data de nascimento e de falecimento deste filósofo não estava correcta. Mas estava (em consulta a fontes do maior crédito): 1884-1900!

E por aqui me quedo ( a não ser que seja obrigado a rever a minha posição) , para não entrar numa discussão em que a culpa de toda esta inútil prosa me é atribuída por si por falta de talento. Mas, apesar de tudo, para não lhe ficar credor da gentileza da citação que faz de Eça, não podia deixar de lhe retribuir com uma citação de um outro gigante da Literatura: “O meu caro amigo tem muito talento, com excepção de escrever muita tolice” (Camilo Castelo Branco).

Anónimo disse...

O erro/lapso a que faz menção ("s" em falta) é usual e já passa despercebida. A asneira de reduzir a vida de Nietzsche aos seus últimos anos é que já não passa de tão grossa que é. E melhor ficou para o fim "em consulta a fontes do maior crédito): 1884-1900!". Nietzsche viveu 16 anos, segundo Rui Batista e as suas fontes de maior crédito. Compreende-se agora a suspeita proveniência das citações mal citadas que floreiam pelos textos deste autor. Ele "saberá grammática, saberá syntaxe, [saberá flexões de pernas] ..., saberá tudo menos escrever [e citar] que é a única coisa que elle faz!"

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professor Rui Baptista;

São de um pedantismo intolerável os comentários do anónimo;

Eles mostram uma parte negativa que existe ainda na nossa sociedade, por sinal bem vincada, que deve ser gradualmente resolvida; no entanto só com a elevação da cultura, de todos, é que se pode combater o charlatanismo.

Mas com isto, pergunto: será que estas pessoas têm responsabilidades na formação dos jovens? Eu receio que sim.

Professor Rui Baptista, é muito importante aquilo que o Senhor escreve no seu "post", é por ai que devemos começar (encontrar os melhores Professores).
Ter bons Professores é um direito pelo qual todos nós deveríamos lutar e com todas as forças.

O Senhor é uma referência para todos.

Obrigado.

Rui Baptista disse...

Anónimo (30 de Junho; 19:02): Em dever de consciência de um engano sobre a data de nascimento de Nietzsche penitencio-me perante os leitores e perante si pela argúcia em descobrir de entre (e volto a repetir) 5306 caracteres a substituição de um 8 por um 4. Vou emendar no próprio post (1844-1900, contas feitas 56 anos de vida) . E, assim, aqui termina o seu momento de glória de pisteiro…

Apenas quero acrescentar a honra que me deu em ler os meus textos com um cuidado notável digno de um professor do ensino primário de antigamente, aqueles professores que, como escrevi em tempos, e transcrevo novamente sabendo vir a merecer a sua crítica, “sem qualquer espécie de ‘parti pris’ ou desprimor da minha parte pelos esforçados cabouqueiros (expressão que se tornou já num lugar-comum!) do ensino das primeiras letras”.

Com respeito aquilo que não sei fazer, escrever, e que sei fazer, flexões de pernas, suspeito estar aqui um certo desprezo pelas coisas que fogem à intelectualidade da antiga aritmética. Será? Sabe, é que o anonimato presta-se a todas as suposições a que o sindicalismo que se opõe à prova de acesso à carreira docente concede ( torne a citar aqui a posição da Fenprof a este respeito por ter esta prova como um “exame injusto e sem sentido”). E nesta minha mania das citações, aqui vai mais uma da autoria da “vox populi”: “Quem não quer ser lobo não lhe veste a pele!”

Mas não acha que devemos deixar ao leitor o veredicto de eu “saber tudo menos escrever”, para não se tornar juiz em causa própria ou de terceiros? Ou seja, dando de barato a pouca ou nenhuma importância que atribui à prova de acesso à docência, o que aqui se dirime, como uma questão importante, são os erros da minha gramática e da minha sintaxe. Desta feita, escuso-me à transcrição da grafia destas palavras no seu texto literário, embora correndo outro risco de recair sobre mim o anátema de eu não saber citar…

Rui Baptista disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rui Baptista disse...

Engenheiro Joaquim Ildefonso Dias: O seu comentário foi um bálsamo e um aviso para que eu continue sempre a ter presente de que, como nos legou o filósofo Sócrates da Antiguidade Grega, “é preferível suportar a injustiça do que praticá-la”.

Mas quão difícil é, por vezes, não nos deixarmos arrastar por caminhos a que o calor da discussão nos pode conduzir. E quanto gratificante é ler, por esse facto, as palavras amigas que me são dirigidas na sociedade contemporânea portuguesa que tarda em libertar-se da crítica que lhe teceu Eça, sempre actual e digno de ser revistado: “Entre nós, a mentira é um hábito público; mente o homem, a política, a ciência, o orçamento, a imprensa, os versos, os sermões, a arte, e o País é todo ele uma grande consciência falsa. Vem tudo da educação”.

Bem haja, bom Amigo.

Anónimo disse...

Comentário 1
Senhor Professor e Senhor Engenheiro,

Concordo com o Senhor Engenheiro: " São de um pedantismo intolerável os comentários do anónimo". Mas a pobreza de espírito é grande e a ignorância mãe de todos os males!
Quanto á flexão de pernas, só posso dizer que o anónimo não deve conseguir enxergar o alcance de tão conhecida frase "mente sã em corpo são", e que, por isso, quando chegar a uma idade avançada nem pernas deve ter para se mexer caso não faça exercício físico por considerar esta área pouco importante. O problema é que muitas mentes doentias contam com um corpo aparentemente saudável que lhes possibilita centrarem-se em detalhes de pouquíssima importância dentro da discussão que estava em causa e serem mal-educados. Todavia, infelizmente essa condição não lhes dá vigor psicofísico que lhes possibilite conseguirem argumentar dentro daquilo que se discute e interessa verdadeiramente.
E mais acrescento, criticar quem tão correctamente redige, tem cultura que lhe dá acesso aos textos dos nossos melhores literatos (citando-os) e consegue contextualizar ideias de grande interesse, de forma tão lógica e coerente é possuidor de um dom que só a sabedoria concede não permitindo sofrer de complexos de inferioridade que habitam em certas mentalidades tacanhas.

Anónimo disse...

(continuação do comentário 1)
Centremo-nos, agora, em outros aspectos desta discussão::
1- A prova de acesso vai permitir aos futuros Professores superarem lacunas na sua formação, venham das Universidades ou dos Politécnicos. Os advogados, os médicos, os engenheiros não fazem uma prova de acesso? Talvez a prova de acesso seja o primeiro passo para a criação da Ordem dos Professores (como tenho vindo a ler em posts do Senhor Professor Rui Baptista neste blogue) em vez da existência em abundância de sindicatos de professores que nem sempre estão de acordo e que muito dinheiro consomem aos cofres públicos. Se o sistema português permitiu esta sobreposição formativa, que não devia ter permitido, entre Universidades e Politécnicos, há que competir de forma saudável. Parece-me que em determinadas alturas o governo permitiu a abertura de cursos em sobreposição consoante a feição política da instituição e sempre próximo das eleições. Não sou muita dada à política, mas uma coisa é certa, quando chega a altura das eleições, todos os partidos e candidatos reagem da mesma forma, assinam e deixam passar à procura de votos. É assim que queremos qualidade em educação?

2- O ensino e a aprendizagem nas Universidades e nos Politécnicos depende muito do seu corpo docente, do investimento que os alunos fazem ao longo do curso, dos conteúdos transmitidos, dos recursos existentes, da formação para a autonomia e de outros factores que não têm uma influência assim tão directa como os que acabei de enunciar.

Anónimo disse...

(Continuação do comentário 1)
Quase a terminar, só queria referir que me licenciei numa Escola Superior de Educação e hoje vejo as vantagens, não me esquecendo nunca dos bons professores que tive por Lisboa. Por isso mesmo, procurei sempre dar visibilidade à minha instituição de formação inicial e jamais me senti discriminado(a) pelas Universidade aquando do meu acesso a ela para posteriores graduações - mestrado e doutoramento numa das Universidades portuguesas do maior prestígio - que fui obtendo com sucesso. Tenho sido convidada por algumas Universidades para leccionar nos cursos de mestrado e para orientar e arguir teses de mestrado e de doutoramento. Não será isto um sinal que a minha formação inicial na Escola Superior de Educação de Lisboa me deu as bases para poder voar, sonhar e concretizar?
Mas penso que não é isto que está em causa, o que o Professor Rui Baptista questiona é a sobreposição formativa a partir do 2.º Ciclo, defendendo que a formação para este nível de ensino deve ser da responsabilidade das Universidades. Também não sei se não teria sido preferível as Escolas Superiores de Educação, ao nível da formação de professores, terem investido sobretudo nos cursos de Educação de Infância e de Professores do Ensino Básico. Formar Educadores de Infância e Professores do 1.º Ciclo é uma tarefa nobre e tão ou mais importante do que formar para outros níveis de ensino. É nesta fase que se pode potenciar ao máximo o desenvolvimento da criança, atendendo à sua plasticidade cerebral. Quem não se recorda das suas experiências iniciais nos bancos da escola? Quem não se lembra do provérbio " é de pequenino que se torce o pepino"? Os conteúdos a ensinar e a aprender nestas primeiras idades são tão importantes como tantos outros. Penso que a duração dos cursos ou a respectiva importância, sejam eles Universitários ou Politécnicos, nunca podem ser postos em causa, atendendo aos Ciclos de formação para a docência a que se destinam.
Por último, concordo com o(a) anónimo(a) "educado(a)" quando diz que as áreas de intervenção devem ser definidas para evitar este tipo de discussão.
Força Sr. Professor Rui Baptista!
Continue a escrever pois gosto muito dos seus artigos, apesar das nossas pequenas divergências, que só valorizam o ponto de vista de cada um.

Rui Baptista disse...

Caro anónimo: Ainda bem que divergimos em alguns pontos! A convergência de opiniões só se verifica em quem se acomoda a tudo, nos partidos políticos (nem sempre!) e em certas formas de sindicalismo (sempre!).

Mas a questão em que trocámos pontos de vista civilizadamente, como se impõe entre docentes e o que esse facto implica de servir de exemplo aos discentes (independentemente do grau de ensino de docência), está muito para além de certos e mesquinhos horizontes políticos e sindicais. E, “um dia “, como escreveu Freud, “quando olhares para trás verás que os dias mais belos foram aqueles em que lutaste”.

Que se criem raízes e que florescem mais dias como este porque o que está, verdadeiramente, em jogo é a preparação integral (intelectual, física e moral) das crianças e dos jovens, o bem mais precioso de um país e orgulho das suas gentes. Bem haja!

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