domingo, 15 de abril de 2012

"Esqueça isso da biologia, foi um erro da juventude"

Luís Archer, 1926-2011, "geneticista, padre jesuíta e professor”, assim é apresentado na página da internet da Universidade do Porto, na sessão de Antigos Estudantes Ilustres, um dos mais reputados cientistas portugueses do século XX, que foi também um homem de fé. Da leitura da obra que deixou percebe-se uma convivência serena entre dois mundos independentes, ainda que convergentes”, como disse alguém que lhe era próximo: Walter Osswald. Foi sobretudo um homem de cultura que três licenciaturas (Ciências Biológicas, Filosofia e Teologia) e dos doutoramentos (Bioquímica e Genética Molecular, nos EUA, e Biologia, em Portugal) consolidaram. Foi professor em universidades portuguesas e americanas, chefiou o Laboratório de Genética Molecular do Instituto Gulbenkian de Ciência e foi Presidente do Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.

Proporcionou-se ontem ter voltado a falar dele e do que disse numa entrevista que deu em 2006 ao jornalista António Marujo depois de ter recebido Prémio de Cultura Manuel Antunes. Apesar da extensão dessa entrevista, transcrevo-a quase integralmente aqui dado o interesse que, a diversos títulos, continua e continuará a ter.



Teve relutância em trabalhar a "frieza tecnicista da ciência", como já referiu?


Tive. Lembro-me de quando fazia investigação como aluno, na universidade: era interessante, mas cansativo. A investigação é sempre um campo muito restrito e tem que se aprofundar muito. Não interessa à maioria das pessoas.


Isso foi no seu curso de Biologia.

Sim, antes de ser jesuíta. Quando me fiz jesuíta e troquei a bata de laboratório pela batina pensei: agora, trato do pensamento, de coisas fundamentais da vida, que interessam. Numa perspectiva cristã, dedicar-me a Deus foi um salto do tecnicismo frio para qualquer coisa empolgante e que me entusiasmava.


Como é que surge o convite dos seus superiores?

Quando terminei a minha formação de jesuíta, escrevi uma carta - estava na América nessa altura - ao meu [superior] provincial, em que lhe explicava, [de modo] bem fundamentado, que não [devia meter-me] outra vez nas biologias e na investigação. Toda a minhamaneira de ser era muito mais para as letras e para a literatura. O que queria era exercer o sacerdócio e sentir-me útil. Pelos contactos que tinha, pelos retiros ou conferências que dava, sentia uma adesão muito grande à vivência cristã, renovada pelo tornar-me jesuíta.

Eu dizia ao meu provincial: "Esqueça isso da biologia, foi um erro da juventude." Mas ele não esteve de acordo, por boas razões. E disse-me: "Nós precisamos também de gente na ciência, que é fundamental. E é difícil termos [alguém]." Só quando se teve uma formação desde muito jovem é que apessoa consegue prosseguir. Doutra maneira, quem quiser começar a fazer ciênciaaos 30 ou 40 anos, é muito difícil, faltou-lhe a linguagem básica na altura própria.

Quem era o seu superior?

O padre Lúcio Craveiro da Silva. Ele disse-me: Já temos pessoas para a literatura, a filosofia, mas para ciências [não]temos. Tivemos o padre Luisier, em botânica, o padre Jalay em paleontologia, mas agora não temos ninguém. Você já teve essa formação. Além disso teve uma Licenciatura com 18 valores, [ficou] assistente da faculdade logo a seguir. Se já tem essa preparação toda, deitarmos isso fora seria um desperdício."

Foi isso que o levou a aceitar, mesmo contrariado?

Sim. Achei que era uma grande maçada, mas a minha resposta foi: "Compreendo esse argumento, mas então tem que ser a sério." E não como na altura ele estava a pensar: "É só vir para Portugal, vem para o Colégio de Santo Tirso, depois dá umas conferências." Eu tinha uma licenciatura, com notas brilhantes, mas só uma licenciatura. Nem sequer professor de liceu podia ser. Portanto, não era a minha escolha, mas vamos a isso.

E ele aceitou a sua proposta?

Ficou muito espantado, pensava que eu aceitaria qualquer coisa. Mas eu não queria passar por cientista. Se era para ser, tinha que ser com formação.

Isso exigia ir estudar nos Estados Unidos?

Fui para os Estados Unidos, tive muita dificuldade no princípio. Tinham passado 15 anos após a minha licenciatura. O que eu não tinha esquecido já não era igual. Mas pensei: tem que ser a sério e tem que ser uma matéria que sirva o país. Na altura, o professor Flávio Resende dizia-me: “A área de futuro, na qual não temos pessoas formadas, é a genética molecular”.

Quando chegou a Portugal com a nota máxima no doutoramento, disseram-lhe que não o reconheciam em Portugal.

Isso é verdade, mas era comum não se reconhecerem doutoramentos estrangeiros. Estava a começar, com o professor Veiga Simão como ministro da Educação, a ideia de haver esse reconhecimento. Legalmente talvez fosse possível, mas vi que o meu chefe de departamento não gostava. "Se se formou no estrangeiro, se é assim tão bom, por que é que não se sujeita cá? Porque aqui é diferente." Aquilo que tive que estudar e de saber para o doutoramento em Portugal tinha muito pouca relação com o da América. Assim em vez de lutar para que fosse reconhecido o doutoramento, sobre o qual ficaria sempre uma sombra de suspeição, fiz novo doutoramento em Portugal.

Citou na recepção do prémio o também padre jesuíta Teilhard de Chardin [1881-1955], que fez uma síntese entre ciência e fé, dois mundos que hoje mal se conhecem. Como se chegou aí?

Houve uma fase em que ciência e religião se consideravam duas coisas muito próximas. A ciência estudava a natureza e, acreditando-se que a natureza foi criada por Deus, a pessoa que estudava a natureza contemplava a acção de Deus. Mesmo Teilhard de Chardin ainda tem muito essa [posição] de, perante a natureza, ter uma atitude de contemplação, uma atitude mística. Enquanto eram ciências de observação, não havia razões de discordância, eram dois caminhos. Isso modificou-se quando a ciência passou a ser uma construção, fazendo coisas que a natureza não fez, melhorando, transplantando algo de um indivíduo para outro. Os problemas resultaram de uma leitura errada da Bíblia e da teologia, e de a ciência se querer transformar em religião e a religião em ciência. A religião dizia que não havia evolução, porque tinha sido do pó da terra que Deus criara o homem - uma leitura literal [da Bíblia].

Está a falar das correntes cristãs criacionistas, que hoje continuam a sustentar essas ideias?

Voltou-se para trás, há correntes na América que continuam por essa via. Não penso que seja o caminho, mas há uma controvérsia sobre isso.

A suspeição de que o padre Teilhard de Chardin foi vítima não continua hoje em muitos sectores, que encaram a religião como uma ciência?

Sim, não há ninguém que não tenha os seus opositores quando tem uma doutrina nova. O que hoje acontece é que a maioria dos teólogos já aceita a mentalidade evolucionista das espécies.

Darwin talvez tivesse a ideia de lutar contra a fé, talvez. Mas [o teólogo alemão Karl] Rahner, por exemplo, tem artigos sobre [Cristo] numa mentalidade evolucionista. Teilhard de Chardin punha Cristo como sendo o impulsionador da evolução. Hoje não há, da parte da Igreja, a suspeição que havia naquele tempo. Muitas coisas do [Concílio]Vaticano II [1962-65] são moldadas sobre a posição de Teilhard de Chardin. E vários teólogos, falando sobre Teilhard, dizem que ele tinha a visão da teologia do futuro.

Mas em questões como a investigação de embriões ou o aborto, há quem diga que a Igreja continua a olhar para a ciência com muita desconfiança.

Esses são problemas éticos, enquanto os de Teilhard de Chardin eram problemas de fundo sobre como o homem ou a vida apareceram. Eram questões doutrinais ou teológicas, enquanto hoje sã do domínio da ética.

A Igreja tem que evoluir com certa precaução porque é uma instituição que abarca um número muito grande de pessoas em estados culturais muito diferentes. Se faz mudanças bruscas, há muita gente que não acompanha pela sua falta de cultura e poderia até dizer "isto não é a Igreja de Cristo". Tem que se evoluir, mas com moderação e com tempo para as pessoas assimilarem a doutrina.

No discurso de recepção do prémio, disse que os deuses do Olimpo foram digeridos pelas ciências da natureza. Não houve também um modo de entender Deus que foi engolido pelas ciências?

Sim, o evolucionismo que a Igreja condenou - os teólogos, o Santo Ofício - porque tinha a leitura literal: foi Deus que pegou no pó da terra. Eram mitos que se encontravam emtradições da mesma época. Também a ciência acabou por engolir esse Deus oleiro, um Deus que fazia as coisas como o oleiro vai moldando o barro. No conceito actual da teologia [católica], a criação não é fazer coisas. É Deus que se manifesta, que é amor e, sendo amor, transborda e faz com que apareçam coisas.

Quer dizer que as ciências da natureza dissolveram em química alguns mitos bíblicos, uma vez quea linguagem mitológica também está presente na Bíblia?

Sim. A ideia de tirar uma costela ao homem e, com ela, fazer a mulher tem relação com os mitos dos deuses que tiram uma parte e fazem outros deuses. Há uma série de mitos que são lindos, úteis e interessantes quando são considerados mitos. Mas se se interpretam como realidade concreta, surgem os problemas. O problema da ciência [por seu lado], é quando ela pretende ser uma religião, ser totalizante.

Ser uma explicação do mundo?...

Total, não havendo mais nada que não seja redutível àquelas fórmulas ou linhas. Não há o espírito, não há amor, solidariedade, afecto, não há enraizamento. Não há nada disso, que é uma parte importante davida humana.

Mas essa atitude ainda existe nos cientistas, quando eles sabem que as descobertas de hoje põem em causa as de ontem?

É um reducionismo completo. Suponho que alguns [defensores] do trans-humanismo têm esta posição. A ciência hoje é mais humilde do que noutros tempos. Este movimento do trans-humanismo causa uma certa preocupação.

Qual é exactamente essa perspectiva?

A ideia é que o homem é uma coisa mecânica e que podemos criar uma espécie melhor, com uma programação informática em vez do cérebro, etc. E o homem acabará com sentimentos e afectos, e será reduzido a reacções químicas e a potenciais eléctrodos que podem ser inseridos no indivíduo. Será uma nova espécie e o homem acaba. Há livros do [Francis] Fukuyama que falam no último homem que existirá na Terra e os [que virão a seguir] são seres pós-humanos.

Isso não se confunde com o elixir da vida eterna? Acabaremos por ser eternos?

Fala-se em imortalidade. Os órgãos passam a não ter as contingências da carne, dos aspectos biológicos. É uma loucura, muita gente nem toma isto a sério. Mas há uma literatura extensa e uma sociedade do trans-humanismo, que mostra que há uma tendência. Não está morto o cientismo do século XIX, que dizia que a ciência explica tudo e que o que não for ciência - religião, filosofia - é um outro estádio cultural e um dia se tornará ciência. O terceiro [patamar] cultural de Augusto Conte é justamente a ciência. Só que, dizem, há povos que estão atrasados, ainda têm religiões, ainda têm filosofias.

Esse cientismo, que depois passou - era uma coisa absolutamente inaceitável, desumana -, recomeça agora. Quer dizer que é muito funda no ser humano [a ideia de] mecanizar, reduzir todo o fenómeno humano a equações, a química, fórmulas, traços.

Como olha para tudo isso, enquanto homem de ciência mas que também acredita que a vida tem limites e há um Deus criador que ultrapassa esses limites? Vamos um dia ser como deuses?

Não, nem poderíamos. Há o anseio da imortalidade e isto é fundamental no homem. Desde os mitos mais antigos, a ideia do elixir da eterna juventude, do imortal, da eternidade, é qualquer coisa de muito profundo.

Um cristão acredita na mensagem de Cristo: teremos essa vida, mas noutra forma, não na que temos agora. Mas será uma continuação da actual, da vida cristã que temos em nós, de uma maneira confusa e oculta. Como dizia S. Pedro, já temos a eternidade em nós, mas ainda não se manifestou. Quando se manifestar, então serão novos céus e nova terra.

Quem não tenha esta solução vai buscar outras coisas, como o trans-humanismo. É uma forma idolátrica do anseio de eternidade.

O discurso da Igreja já assumiu plenamente que a técnica e a ciência são um bem indispensável?

Sim. O discurso do Vaticano, por exemplo, faz o elogio da medicina, dizendo que corpo e alma são uma unidade e que quem trata do corpo e melhora as suas condições tratando as doenças também está a tratar da alma.

De toda a tecnociência, não sei. Não estudei suficientemente todos os textos desse ponto de vista. Creio que há um certo medo das novas técnicas porque há [receio] de que se vão ferir princípios cristãos ao desenvolver essas tecnologias.

É a Igreja que tem medo do novo ou, enquanto pessoas, temos medo das consequências que o novo possa trazer?

Sim, há sempre o medo do novo quando há suspeitas de más consequências. Não creio que [a Igreja tenha] medo de coisas novas - talvez todos tenhamos um pouco. É o medo como atitude conservadora, digamos assim.

É a prudência a falar, sobretudo nos temas que envolvem questões éticas?

Sim, a Igreja tomou muito a sério a palavra de Cristo: o que fizerdes ao mais pequenino dos meus irmãos a mim o fazeis. E vê no embrião o mais pequenino. Econstituiu-se como defensora [incondicional], talvez.

Olhando para princípios como o não matarás. Ele foi sendo matizado: passou a admitir-se que sim, em legítima defesa, depois também condicionada a certos factores. No aborto ou na investigação em embriões, o discurso não vai mais pela prudência do que pela consciência?

São vários aspectos. A questão do não matarás, quando é [proclamada], tem a ver com o não matarás os do mesmo povo. Mas podiam matar-se os inimigos e pedia-se a Deus que ajudasse nessa luta. O que me parece é que há interesses económicos: dá muito melhores resultados que se utilizem células estaminais dos órgãos do indivíduo que está doente do que de embriões que o indivíduo pode rejeitar. Mas, do ponto de vista económico, é muito mais barato ir buscar aos milhares [de embriões] congelados do que fazer investigação num indivíduo. Há aqui um problema de eficiência das empresas. Claro que os que acreditamos que já há vida pomos as objecções todas e ainda dizemos: é porque é mais rentável.

7 comentários:

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professora Helena Damião;


Nesta entrevista sobressai um tão arreigado desprezo pelo povo; ao ponto de o entrevistado o considerar incapaz para investigar ou sequer compreender a realidade da vida.


Analisemos a 1ª resposta: - “Não interessa [a investigação] à maioria das pessoas.” que coisa absurda!!! vou tentar corrigir esta atitude perniciosa para a educação dos jovens, com uma citação do Professor António Aniceto Monteiro.


"Ser investigador é um dever de todo o cidadão consciente das suas responsabilidades perante a sociedade, porque ser investigador é adoptar uma atitude crítica, perante a vida e o conhecimento, para chegar a novas conclusões. Mas é claro que para investigar, em certos capítulos da ciência, é necessária uma preparação especial, um longo treino, uma escola. As Universidades têm, sob este aspecto, um papel importante a desempenhar, mas para isso é necessário que o ensino não vise exclusivamente a transmissão de conhecimentos, isto é, que ele não seja um ensino erudito e portanto estéril e infecundo. Existem, na realidade, investigadores sem qualidades para o ensino; mas nenhum professor poderá iluminar as suas lições com cores vivas e profundas se não tiver vivido os problemas que trata, se não tiver investigado na disciplina que professa.”


Professora Helena Damião, certamente que irá reflectir e concordará.


Cordialmente,

Francisco Domingues disse...

Li até ao fim. É assunto que me interessa este falar de Ciencia, sendo-se padre e padre jesuíta, o que tem um cunho especial de ora fecho ora abertura à mesma Ciência. E Luís Archer, 1926-2011, foi geneticista, padre jesuíta e professor. Confesso que fiquei desiludido. Quando se põe o problema da Ciência vs Religião (neste caso a católica), um ecelsiástico, mesmo cientista, nada adianta. Refugia-se na Fé nas palavras do Jesus que mitificaram em Cristo. Não há dúvida: a Igreja tem medo de confrontar os seus fiéis com as descobertas científicas, a nível do mais pequeno ou ao nível do Universo. Seria de tentar conjugar a realidade Deus, supostamente um Ser Criador, com a realidade Universo cujos mistérios vamos desvendando. Em vez disso, a Igreja perde-se em Fé, ainda de tipo medieval e de crendice. Vejam-se os últimos textos do meu blog "Em Nome da Ciência" intitulados "O inacreditável Credo Católico" e deixem um comentário.

Carlos Pires disse...

O facto de um homem, nomeadamente um homem inteligente como Luís Archer, ser simultaneamente religioso e cientista e filósofo, implicará que a religião e a investigação racional (ciência e filosofia) são compatíveis? Haverá coerência no pensamento de Luís Archer?

José Batista da Ascenção disse...

Em 1993, se não estou em erro, tive a oportunidade e o

privilégio de receber formação pelo Professor Doutor

Luis Archer, no Departamento de Biologia da

Universidade do Minho, durante uns dias, a convite da

(muito dinâmica e sempre incansável) Professora Doutora

Cecília Leão.

Fiquei impressionado:

Pelo saber;

Pelo humor;

Pela cultura;

Pela abertura;

E pela qualidade como pessoa, como investigador e como

professor.

Apenas dois apontamentos, como os guardo na memória:

Quando, em décadas recuadas, o Professor Archer

trabalhava numa universidade portuguesa e mostrava a

alunos um "novelozinho" filamentoso de DNA que enrolava

num pauzinho a partir de uma suspensão de células

rebentadas contida num gobelé, um professor catedrático

da altura acotovelava-se entre os discentes, de ar

espantado e com a boca aberta, proferindo, sem se

conter:

- "Isto é a alma! A alma!"

A alma...

Noutra altura, falando a alunos da atitude

imprescindível no laboratório, comentava: «É (agora)

necessário controlar as (possíveis) variáveis: se

estamos a tentar encontrar causas não podemos explicar

os acontecimentos como se fossem "milagres"»

Enfim, eram as posições de um homem muito inteligente e

conhecedor da ciência, particularmente da ciência

biológica.

E dava gosto ouvi-lo. Chegava a ser uma tentação

contrariá-lo, para poder... ouvi-lo mais.

Agora começa a haver muitas pessoas que se apresentam

como divulgadores de ciência mas que se percebe que

são muito pouco conhecedores de como se produz (a)

ciência. E essa limitação é fatal. E para quem os lê é

uma "dor de alma". Também aqui, a atitude válida é a de

Luís Archer: "eu não queria passar por cientista. Se

era para ser, tinha que ser com formação."

E foi-o.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professora Helena Damião;

Ao ler novamente o meu comentário verifico que ele contém uma dureza que não devia ter usado;

Estaria este Professor a deplorar a situação?

Provavelmente interpretei mal e fui injusto para com este Professor que não conhecia.

Peço-lhe ainda que retenha do meu comentário apenas o apontamento do Professor António Aniceto Monteiro.


E peço-lhe mais, peço-lhe que me desculpe.


Cordialmente e com admiração.

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professora Helena Damião;


Tenho em mãos o livro «modernas tendências da educação», por Irene Lisboa, da coleção Biblioteca Cosmos;

Da introdução retiro as seguintes palavras:

“A escola dita ativa opõe-se à passiva pelos fins especiais que tem em vista. Uma considera a criança como vaso recetor, cérebro a mobilar, - a passiva, - a outra considera-a como um corpo e alma com molas próprias a acionar, - a ativa.

Vejamos se posso ser mais explicita:

A escola tradicional ou passiva tem por missão ensinar o aluno, dar-lhe conhecimentos; a ativa tem por missão dar-lhe igualmente conhecimentos, mas despertando nele toda a espécie de interesses e de ações, compatíveis com a sua idade.

A primeira obriga o aluno à imobilidade e ao silêncio, à atenção. Aprende-se sendo-se atento à lição! é um dos ditames. Porém, este esforço do aluno para não perder o que o professor diz e não perturbar os camaradas, o seu trabalho silencioso e a sua agitação disfarçada, quando a não pode conter, contrariam a sua tendência natural para o movimento e para a ação externa. A própria precipitação que os professores censuram em certos alunos inteligentes, muitas vezes não é mais que uma explosão de atividade. A criança nem sempre pode esperar a vez, ou estar coacta, reprimida.

A escola passiva morigera ou refreia todos estes impulsos, canalizando-os para trabalhos regrados. A ativa, pelo contrario, respeita-os, permitindo uma grande variedade de iniciativas e de ocupações infantis.
(…)
A doutrina da disciplina (imposta) faliu. É absurdo supormos que uma criança adquire melhor disciplina intelectual e moral a trabalhar contra vontade que a fazer uma coisa em que ponha interesse e a que se dê de corpo e alma. O ideal da educação não é que a criança junte conhecimentos, mas que desenvolva capacidades.”


Professora Helena Damião;

Estamos a regressar à Escola passiva. Creio que consigo aperceber-me disso e da gravidade da situação.

Por isso lhe pergunto, como é que é possível isto estar-nos a acontecer?

Porquê, a falta de parcimónia dos exames, que agora chega em toda a força às crianças, e que é bastante prejudicial no seu desenvolvimento?

Porque não caminhamos para a escola moderna?


Cordialmente,

Joaquim Manuel Ildefonso Dias disse...

Professora Helena Damião;

Só mais esta pequena citação de Irene Lisboa. Isto porque não faltará quem se apresse a dizer que os métodos da escola moderna também já faliram, ou já se encontram muito ultrapassados; como se o "maquinismo da mentalidade infantil" (ou o conhecimento que se têm hoje da forma como cérebro funciona) fosse coisa de menos importância.


“A escola moderna já não ensina para que a criança aprenda, por jeito ou por força; toma em linha de conta o maquinismo da mentalidade infantil. Tira todo o proveito possível das riquezas deste maquinismo e satisfaz ao mesmo tempo os entusiasmos, as simpatias e os verdadeiros gostos infantis.”



Cordialmente,

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...