quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
PREVISÕES PARA 2012 E 2015
Minha crónica no Público de hoje (na imagem, o asteróide 433 Eros):
A astrologia não está em crise. Esta é a altura em que os astrólogos miram as suas bolas de cristal, ou lançam as suas cartas, ou olham para as folhas do chá, para anteverem o que vai suceder no próximo ano. São muitos os que disputam o prémio da adivinhação: por exemplo, segundo a revista Focus (28/12/2012), a astróloga Cristina Candeias, conhecida dos espectadores da RTP1 pela sua presença no programa Praça da Alegria, prevê que vão ocorrer “falências de algumas empresas e um aumento da taxa de desemprego”. Além disso, “a grande asfixia em que nos encontramos neste momento levará a um exaspero das classes menos favorecidas e, consequentemente, a um aumento da criminalidade”. Adianta ainda: “Infelizmente, pelas análises astrológicas assumidas por mim, esta triste realidade vai manter-se até Setembro de 2015. Só após esta data é que irá verificar-se um alívio das dificuldades do país, porque Saturno entrará em Sagitário, signo de fé, de novas filosofias de vida e de sorte”. Será difícil não dar razão à vidente quer quanto às falências e ao desemprego quer quanto ao exaspero e ao aumento da criminalidade. E também quanto ao alívio das dificuldades antes das legislativas de 2015 pois não é novidade nenhuma que todos os governos fazem tudo e mais alguma coisa para ganhar eleições. De Candeias vem pois a confirmação de más notícias para o curto e médio prazo. Enfatizo, porém, as boas notícias: segundo a moderna astrologia, sobreviveremos ao fim do mundo anunciado pelo ciclo longo do calendário maia para 20 de Dezembro de 2012, segundo uns, ou 23 de Dezembro do mesmo ano, segundo outros (não é fácil ler calendários maia).
Sem querer competir com a astróloga Candeias, nem com a taróloga Maya, que com certeza chegará ao mesmo resultado da sua colega lançando cartas, ou com o Prof. Karamba, que não terá dificuldade em ver algo semelhante no fundo de alguma chávena, atrevo-me a fazer algumas previsões para 2012 e 2015, que serão ainda mais certeiras do que as que fez a astróloga de serviço à nossa televisão pública (ainda ninguém reparou que se podia poupar mais ao erário público?).
Assim, prevejo que 2012 será um ano bissexto, como acontece normalmente de quatro em quatro anos. Existirá, portanto, o dia 29 de Fevereiro de 2012, que será a uma quarta-feira, facto que ajudará ao magno objectivo do ministro da Economia de aumentar a produtividade nacional. Conto trabalhar nesse dia.
Prevejo também que, na passagem do dia 5 para o dia 6 de Junho, vai ocorrer um trânsito de Vénus, isto é, uma passagem desse planeta por diante do disco solar. Eu vi como foi no ano de 2004 e posso garantir que neste século não voltará a haver mais nenhum evento desse tipo (o ministro da Educação e Ciência, Nuno Crato, também o garante no seu livro Trânsitos de Vénus, com Fernando Reis e Luís Tirapicos, Gradiva, 2004). Após 2012 só volta a haver em 11 de Dezembro de 2117, numa altura em que a actual crise já terá passado (quero ser optimista), embora possa haver outra diferente (diz o meu lado pessimista). O problema com a observação do trânsito de Vénus de 2012 é que ela exige uma viagem ao Pacífico, por exemplo ao Havai. Não que me importasse, mas não prevejo fazê-lo devido à crise. Uma pena, pois uma ocasião desta é absolutamente imperdível.
Prevejo ainda, se me é permitido acertar muito mais do que Cristina Candeias, que a 20 de Maio próximo haverá um eclipse do Sol anular, infelizmente de novo visível apenas no Pacífico. Também não posso ir por estar a trabalhar. A 13 de Novembro haverá outro eclipse do Sol, este no Pacífico Sul, na Austrália. Já é azar, passar-se tudo tão longe: até os astros nos são desfavoráveis. Lamento muito porque tive oportunidade de ver o eclipse solar total de 2005, em Miranda do Douro, que foi uma coisa digna de se ver. Em contrapartida, espero desfrutar do eclipse solar que será visível de Portugal continental em 20 de Março de 2015, antes da campanha eleitoral desse ano, segundo Candeias numa conjuntura económica mais favorável do que hoje. Oxalá ele seja auspicioso. Eu cá gosto de eclipses, ao contrário da astróloga da RTP, que explicou um dia, num eclipse tanto da ciência como da língua portuguesa, numa das emissões em que participou: “Não gosto muito dos eclipses, porque eles estão muito associados a cataclismas (sic) naturais. [...] Ainda mais com a lua cheia, que é aquilo que vai enchendo.” Fico sem saber como é que as nossas dificuldades vão ser aliviadas: por um lado Saturno entrará em Sagitário e, por outro lado, a Lua tapará o Sol.
E sobre o fim do mundo? A coisa mais próxima que se consegue arranjar é a passagem do asteróide 433 Eros a 31 de Janeiro perto da Terra. Perto, mas não muito: à confortável distância de 27 milhões de quilómetros. Foi nesse asteróide que pousou em 2001 uma sonda da NASA, a NEAR Shoemaker.
Votos de Bom Ano de 2012! E faço também votos antecipados de um 2015 bem melhor.
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7 comentários:
Estou em crer que a Cristina Candeias não terá dado a devida atenção à Internet em 2011, onde se pode encontrar explicações muito detalhadas do fim do mundo em 2012. Quer pelo fim do calendário Maia, quer pela conspiração mundial que nos pretende dizimar!
Julgo também que não tem prestado atenção ao cinema de Hollywood, que nos avisou claramente do "aquecimento global" e "inundação global" em 2012.
Ou será que os astros que ela consultou são de outra galáxia?
Pois eu prevejo que a Candeias, a Maya e o Caramba continuarão a ter mais clientes do que o Professor Fiolhais. Mais certa do que as suas previsões é a estupidez humana.
Caro prof Carlos Fiolhais
Com a passagem do asteróide Eros e o trânsito de Vénus, sem dúvida que 2012 vai ser um ano propício ao amor e à beleza (todos aqueles rapazes e raparigas jovens e belos nas olimpíadas). Não vai concerteza ser preciso viajar ao Hawai para que nos enfiemos em alcovas enquanto nos não penhorarem o colchão.
Xico
Quanto aos eclipses eu também não gosto, principalmente desde que se me eclipsaram certos subsídios.
E já agora, os astrólogos lêm os astros, não cartas nem bolas de cristal. E foi da leitura dos astros para interpretação do futuro que nasceu a astronomia. Já para não falar da leitura nas vísceras dos animais que tanto contributo trouxeram ao estudo anatómico. Como vê as crendices também cotribuiram, e muito, para o progresso da ciência, pelo que não há que menosprezá-las. O que seria dos amantes sem a lua cheia que só existe para iluminar os seus amores? Como se sabe, a lua e as estrelas não servem rigorosamente para nada a não ser para ilustrar os poemas e guiar os viajantes. Servem para interpretar o futuro porque as vemos no passado, algumas já com alguns anitos em cima.
Xico
E afinal quem é que vai ganhar o Campeonato Nacional?
Só uma correção: o eclipse que viu em Miranda do Douro não foi total mas sim anular... De resto concordo com as suas previsões!
Caro Xico,
Achei bastante interessante a sua frase "Como se sabe, a lua e as estrelas não servem rigorosamente para nada a não ser para ilustrar os poemas e guiar os viajantes".
Realmente não servem absolutamento para nada! Só me lembro mesmo que fomentam a tecnologia espacial e consequentemente permitem-nos melhorar ou desenvolver uma data de coisas que usamos por cá como:
*bombas infusoras de insulina;
*tecnologia de análise de ossos;
*instrumentos cirúrgicos de operação às cataratas;
*avanços na imagiologia médica com a tecnologia IRM (imagem por ressonância magnética);
*dispositivos portáteis de raio-x;
*dispositivos cardíacos (pacemakers) programáveis;
*sistemas de purificação do ar;
*óculos de esqui antinevoeiro;
*calços dos travões dos carros;
*tacos de golfe de materiais sintéticos;
*revestimento de protecção anti-corrosão;
*aspiradores manuais;
*sistema de previvão de sismos;
*sistemas de ar condicionado com baixo consumo de energia;
*detectores de incêndios/chamas;
*televisores de ecrã plano
*etc.
Ana
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