terça-feira, 6 de dezembro de 2011
ONDE ESTÁS CURIOSIDADE?
Crónica publicada no Diário de Coimbra:
Onde está a cápsula espacial que transporta o robô “Curiosity” – o robô-cientista-, lançada no passado dia 26 de Novembro, do Cabo Canaveral, na Florida (USA), com destino ao planeta Marte?
O seu encontro com a superfície de Marte está previsto para o dia 6 de Agosto de 2012, depois de uma viagem com uma duração de cerca 254 dias.
A sua trajectória, o “caminho” que percorrerá (incluindo o que já percorreu desde o seu lançamento) através do espaço até Marte, foi programada meticulosamente pelos cientistas e engenheiros do Laboratório de Propulsão a Jacto da NASA (Agência Espacial Norte Americana).
Vários aspectos foram considerados neste planeamento. Em primeiro lugar diga-se que o módulo, a nave espacial com o robô, que entrará na atmosfera marciana, terá que estar a 6 de Agosto e à hora certa, no local do espaço em que o planeta Marte vai estar no seu movimento de translação em redor do Sol.
É claro que o leitor não está à espera que Marte pare, interrompa o seu movimento orbital solar, para facilitar os cálculos baseados nas leis do movimento deduzidas por Newton a partir da atracção gravítica entre corpos com massa. Marte vai continuar a mover-se indiferente a este projecto humano com massa, e as influências deste na sua orbita podem considerar-se negligenciáveis tendo em conta a desproporção entre as massas do planeta e as da cápsula Centauro mais o módulo com o robô-cientista que transporta.
Foram previstos seis ajustes ou correcções na trajectória da cápsula Centauro. O primeiro estava previsto para o próximo dia 10 de Dezembro, mas a monitorização continua do seu movimento relativo mostra que Centauro segue sem desvios a rota digitalizada nos vários computadores que a verificam. Assim, o eventual primeiro ajuste foi adiado para finais de Dezembro ou mesmo já no início de Janeiro de 2012.
Uma das missões científicas mais interessantes do Curiosity é o de verificar se detecta, no local, ou melhor, na Cratera Gale na superfície de Marte onde vai “martear”, compostos de carbono característicos da vida tal qual a conhecemos na Terra.
Para eliminar a possibilidade de intrujices, ou seja, de contaminações com moléculas orgânicas transportadas pela cápsula Centauro, e que a ela tenham aderido desde o seu lançamento e ao longo dos poucos minutos que demorou a atravessar a atmosfera terrestre para sair do nosso planeta (há vida na atmosfera!), foi planeada uma rota para a sua trajectória de modo a que a cápsula não se encontre com o planeta Marte. Ou seja, a cápsula que transporta o equipamento científico mais elaborado e caro da história da nossa aventura de descoberta espacial vai falhar de propósito Marte, passando a cerca de 56 000 km ao lado dele.
Mas não se preocupe que o módulo com a nave espacial que encaminhará o robô Curiosity, devidamente esterilizado de vida à base de carbono, será ejectado no momento exacto e na trajectória devida para que poise com a suavidade de uma pena libertadora na superfície marciana da Cratera Gale.
Por estes dias, o engenho humano com mensagens de Obama, que viaja a uma velocidade de cerca de 12 mil km/h em relação à Terra (178 700 km/h em relação ao Sol!) já percorreu cerca de 18 milhões dos 567 milhões km do seu percurso total até encontrar Marte. Saiba mais em http://mars.jpl.nasa.gov/msl/.
António Piedade
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8 comentários:
A Astronomia fascina qualquer amante da Ciência! Aliás, conhecer o Universo e o nosso lugar nele deveria ser a máxima preocupação de todo o ser humano. E o que é que vemos? - Todos preocupados com o seu umbigo, todos viradinhos para o chão que pisam, o prazer que podem alcançar, não ajudando quem precisa, mas explorando o próximo até ao tutano... É fácil adivinhar aquilo de que falamos. Enfim, sem tirar os olhos das estrelas, continuemos a sonhar, pois não há beleza que se assemelhe a tudo o que o Universo contém, mesmo os seus mistérios, partindo do micróbio terreno, transmutacional, que tenta arruinar-nos a saúde e levar-nos à morte o mais prematuramente possível para que ele viva! Também ele, afinal, olha só para o seu umbigo...
Oh piedade, donde vás curiosa?
Vou retornar a doce e formosa!
Mas demorará uma eternidade...
Chegarei, por chegar a vagar.
@ Cláudia S. Tomazi
Deixe de fazer poesia a assuntos científicos.
Isso empobrece o seu talento.
Obrigado.
Interessante que quanto mais as pessoas estudam mais estão em supor que outros, não...
A literatura inglesa de uma Lady, inclusive muito interessante "A formosa Lusitania" de Catherine Hannah Charlotte, Lady Jackson, de 1877 é quase um traseunte da história, diga-se peculiar inglesa, a que caiba portugueses por compreender suas origens, inclusive de seus discursos directos e instigadores.
De mais a mais, recomendaria por aprimorar de certa forma os modos, pois para defender a ciência há de no mínimo uma clareza de espírito!
Na vida há lugar para tudo, e inclusive para a poesia, não há nada de mal com a poesia por não ser ciência...
Agora, há que separar as coisas...como convém (falamos de ciência quando é para falar de ciência, e assim para tudo).
As coisas nos seus lugares; doutra forma, o dialogo é desconcertante, e assemelha-se, ao da historia que R. Feynman descreve - no seu livro "Nem Sempre a Brincar Feynman - no Capitulo Como nasce um Cientista" - do artista (amigo de Feynman) que achava que conseguia apreciar a beleza de uma flor, enquanto artista, e Feynman, enquanto cientista, só saberia desmancha-la.
Permitam-me transcrever, sem quaisquer pretensões de eventuais comparações não merecidas, os seguintes poemas de António Gedeão (pseudónimo do professor, cientista, investigador, historiador, pai, Rómulo de Carvalho)
Lição sobre a água
Este líquido é água.
Quando pura
é inodora, insípida e incolor.
Reduzida a vapor,
sob tensão e a alta temperatura,
move os êmbolos das máquinas que, por isso,
se denominam máquinas de vapor.
É um bom dissolvente.
Embora com excepções mas de um modo geral,
dissolve tudo bem, bases e sais.
Congela a zero graus centesimais
e ferve a 100, quando à pressão normal.
Foi neste líquido que numa noite cálida de Verão,
sob um luar gomoso e branco de camélia,
apareceu a boiar o cadáver de Ofélia
com um nenúfar na mão.
Máquina do mundo
O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo. "
António Gedeão, in Máquina de Fogo
Não esquecendo que o De Rerum Natura, compreendo-o Da Natureza das Coisas, assim compreendo-o Universidade de Coimbra, cuja estampa do conhecimento esforça-se e empreende a magnífica experiência do saber e permite-nos, neste sentido, vislumbrar a história por construir pontes, mutatis mutandis. Nota-se de minha insignificância, compartilho cotidianos, quer das ciências, quer das idéias, quer formas resilientes por abastecer anseios ou cumpri-los de minha ação voluntária em expressão a um dom. A atenção pela responsabilidade do fruir pensamentos, palavras e completudes são de forma no mínimo delicada a qualquer orientação e preciosa enquanto prescrição pelo aprendizado ou ensino. Pois, ante o mais senhor, o fruto de meus comentários é assunto que tem avaliação de Doutores, quando da exposição, creio fora examinado, como assim adverte na postagem. Sinceramente, é vergonhoso discorrer um assunto, tanto a meu entendimento dar atenções a quem Anônimo, supondo a capacidade, porém de crista a não expor-se.
O senhor lembra quando dizem: Olha só que bonitinho o meu filho, o único que está marchando certo do pelotão...
Certamente há boa intenção de vossa parte.
@ Cláudia S. Tomazi
Sabe, julgo que em Portugal faz muita falta algo que estimule a “irreverência cientifica”… ao estilo de Feynman;
Considero que os seus textos poéticos em nada ajudam a esse propósito;
Basta já, de vivermos num país pouco científico, num pais de sociólogos, psicólogos e doutores afins…
Para as pessoas que quiserem entender aquilo de que falo, permitam-me, que recorra novamente a um exerto do livro de Feynman.
“ […] Havia um sociólogo que escrevera um trabalho para todos lermos – uma coisa que ele tinha escrito adiantado. Comecei a ler aquilo e os olhos saltavam-me: não percebia absolutamente nada! Pensei que isso acontecesse por não ter lido nenhum dos livros da lista. Tinha aquele sentimento incomodo de «não sirvo para isto», até que, finalmente, disse para comigo: «Vou parar e ler uma frase devagar, para poder descobrir que raio ela significa.»
Por isso parei – ao acaso – e li muito cuidadosamente a frase seguinte. Não a recordo com precisão , mas era muito parecida com isto: «O membro individual da comunidade social recebe frequentemente a sua informação via canais simbólicos e visuais.» Percorria-a em todos os sentidos e traduzia. Sabem o que significa? «As pessoas lêem.»”
Cumprimentos Cordiais, creia,
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