A revista Pública desafiou-me para um exercício de ficção, para distrair das eleições no dia das mesmas, imaginar como comunicaremos daqui a 100 anos. Receio que a distracção não fosse muito necessária, dado o elevado (e já tradicional) nível de abstenção e o excelente dia de praia. Aqui fica o texto escrito pela jornalista Natália Faria com base nos meus contributos. As ilustrações da imagem são de João Fazenda.
Telemóveis de origem biológica
Em 2111, segundo o bioquímico David Marçal, o entendimento cabal das vias metabólicas — a rede intrincada de transformacões que ocorrem nos organismos vivos — permite o surgimento de uma engenharia própria e o desenvolvimento de infra-estruturas de comunicacão globais que são gigantescas redes de células vivas. Neste cenário, a informacão transmite-se sob a forma de impulsos eléctricos, alimentadas por estações fotossintéticas. “Os utilizadores usam a rede através de dispositivos orgânicos, que nalguns casos interagem com os próprios impulsos eléctricos do cérebro. Estes interfaces telepáticos são cada vez mais populares.” Tanto podem ser usados para controlar um veículo (que também será feito em materiais biológicos) como para comunicar com outras pessoas. E, lembra Marçal, “como o modo de transmitir a informacão é o mesmo tipo de impulsos eléctricos que há entre células nervosas, é possível transmitir ideias e emoções, para além de conteúdos verbais ou visuais”. No fundo, “é como se essa rede de comunicação fosse uma extensão do sistema nervoso do próprio indivíduo, funcionando segundo os mesmos princípios e permitindo transmitir ideias e emocões de um cérebro para o outro”. Mesmo se uma das pessoas está em Portugal e outra na Austrália.
Os dispositivos que desempenham as funções dos telemóveis, das televisões e dos computadores terão uma origem biológica, ou seja, serão feitos de tecidos “produzidos por microrganismos ou plantas com as características físicas adequadas à sua função (por exemplo dureza)”, o que significa que “são biodegradáveis e regeneráveis”. Ou seja, a era dos resíduos de plástico do tempo do petróleo há muito que ficou para trás.
1 comentário:
Não está a ser muito ousado…
Sugiro antes: daqui a 100 anos a engenharia genética permitiu apurar uma raça de super homens, descendentes directos dos políticos e dos maçons que se submeteram – secretamente - às primeiras manipulações. A casta dominante é aproximadamente 10% da população, 30% são kapos submetidos voluntariamente à nova ordem, a troco de algumas pequenas regalias – que incluem poderem beneficiar das intervenções genéticas – 40 % vive sob o regime da escravidão e da pobreza, e os restantes 20 % estão colocados em reservas, chamadas «bancos de corpos». Qualquer um destes últimos é «dador» de qualquer órgão, ou parte do seu corpo, necessário para um transplante que prolongue a vida aos 10% da casta dominante, ou a kapos escolhidos a dedo (baseado parcialmente num livro da Argonauta que li há 30 anos).
Mais do que uma boa razão para ir votar, um argumento destes é uma boa razão para se ser – permanentemente – interventivo. Por alguma razão os nossos políticos preferem as democracias representativas em lugar das participativas…
AM
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