quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Por uma república refundada


Segundo dados do Eurostat (relativos a 2008) o PIB per capita (PIB PC) português é cerca de 72% do PIB PC médio europeu (EU 27, 100%). Há cerca de dez anos atrás era de cerca de 80% da média comunitária. Considerando as actuais taxas de crescimento, a projecção para 2028 mostra que o PIB PC português será 56% da média comunitária e Portugal será o último da tabela de todos os países europeus. Ou seja, seremos o país mais pobre da comunidade, e continuaremos a divergir da média comunitária. Para convergir e atingir a média comunitária em 2028, Portugal teria de inverter a situação e crescer em média 3.86% ao ano, ou seja, passar de taxas de crescimento médias inferiores a 1% para taxas superiores a 3%.

Como conseguir este objectivo? A única forma parece ser resolver de forma decisiva e sustentável as desvantagens que nos são apontadas, e que se relacionam com a atitude dos portugueses (qualidade da formação secundária e superior, qualidade da formação científica), capacidade empreendedora das empresas e instituições (investimento privado em R&D, patentes), flexibilidade do mercado de trabalho e das leis de trabalho, tamanho do mercado interno (o espaço lusófono tem de ser aproveitado), justiça, aspectos organizativos (serviços públicos, simplificação de procedimentos), e disponibilidade de recursos humanos avançados (baixa disponibilidade de cientistas e engenheiros no mercado, o que é ainda agravado pela tendência crescente de saída dos melhores quadros para o estrangeiro – brain drain).

Apesar disto tudo, o país insiste em ser Lisboa e arredores. Concentra a sua capacidade de investimento na capital do país, com duplicação de infra-estruturas e meios, desmerecendo e desprezando o resto do país que empobrece gradualmente. O centro de Portugal tem um PIB per capita de 62% da UE, ou seja, inferior à média nacional. Aliás, só a região de Lisboa tem valores superiores à média europeia (104% da UE), apesar de estar gradualmente em queda.

É necessário uma nova atitude. Firme. Em defesa dos interesses do país. Chamem-lhe o que quiserem: desafio, desobediência civil, ..., revolução. Não tenho medo das palavras. Não tenho medo de as pronunciar. Precisamos de refundar a nossa república, cumprir Portugal (como se prometeu na revolução de Abril), criando, de uma vez por todas, um país verdadeiramente democrático, equilibrado, solidário, exigente com a aplicação dos seus recursos, consciente dos problemas do mundo e da necessidade de definir uma estratégia nacional de desenvolvimento. Participada pelos cidadãos. Responsável.

É muito claro que aqueles que elegemos para nos governarem só entendem estas palavras e atitudes fortes.

É evidente que o sistema político que construímos desde a revolução de 25 de Abril de 1974 não funciona: os dados mostram que caminhamos para o abismo. É preciso que os cidadãos se apercebam disso. É necessário reformar, revolucionar de novo, desta vez bem. Colocar o foco no país de Norte a Sul, apostando decisivamente num desenvolvimento equilibrado que tire partido das potencialidades de todas as regiões. Esse princípio deveria estar na constituição da nova república.

É preciso mudar, refundar a nossa república. Esta chegou ao fim, por maioria de razão.

Uso, como se fossem minhas, as palavras de Francisco Sá Carneiro: "Cabe-nos cada vez mais dinamizar as pessoas para viverem a sua liberdade própria, para executarem o seu trabalho pessoal, para agirem concretamente na abolição das desigualdades. Para isso mais importante que a doutrinação, é levar as pessoas a pensarem, a criticarem, a discernirem."

J. Norberto Pires
(Editorial da revista "Robótica", N.º 80, Agosto de 2010)

11 comentários:

Unknown disse...

Caro Norberto,

Como partilho da sua opinião. Há muito tempo que desejava ver escrito aquilo que parece que não há ninguém que seja capaz de o dizer. Parece que vivemos resignados, com medo de algo. Parece que por vezes esquecemo-nos quem somos, os direitos que temos, para onde desejamos caminhar. Parece que estamos a ser empurrados para o fundo das nossas consciências de uma forma tão hostil que ninguém deseja que de lá saiamos.
A situação aqui em Portugal está a chegar a um ponto de insustentabilidade em todos os aspectos do ser humano. Insegurança, medo, resignação. Ao ler o seu post finalmente começo a ver que existe uma espécie de "revolta silenciosa". Sim, silenciosa porque parece que voltamos ao tempo antes da revolução. Temos medo de represálias da nova PIDE.
Estamos a atingir um ponto de natureza social que se aproxima muito ao que se viveu no Brasil há cerca de 30 anos atrás. Começou-se a cavar o fosso entre as classes baixa e alta. A média desaparece. A alta é uma minoria. A baixa aumenta tão rapidamente que, sem emprego nem meio de subsistência, as "pobres" aglomeram-se e são empurrados para os cantos das cidades. Começa a haver fome. Começa a violência gratuita. As pessoa matam para comer... Apesar de estarmos ainda um pouco longe deste cenário, é para lá que caminhamos.
Independentemente disso, o que aqui pergunto é: como podemos efectivamente fazer valer os nossos direitos quando estamos a ser constantemente repreendidos, mesmo que tenhamos toda a razão? Mesmo que as pessoas se unam em torno de uma causa, acho que já é tarde... já não possuímos mecanismos sociais para lutar contra a cada vez mais corrupta sociedade política internacional... infelizmente começo a resignar-me que somos meros peões, jogados ao acaso, neste tabuleiro sem xadrez...

Fernando Martins disse...

Refundar o que nunca foi decidido/escolhido democraticamente? E quem decide que tem de ser uma república?

Anónimo disse...

VIVA A REPÚBLICA!

Ao Prof. Amadeu Carvalho Homem

Sem mácula, sem sombr de pecado,
como a terão sonhado os seus autores,
saibam manter seus actuais mentores
a alvura original do seu legado!

Seja ela sempre, como no passado,
o sol dos nossos cívicos amores
sem nunca dar motivo a dissabores
por qualquer passo menos acertado!

Que não se deixe nunca corromper
por cidadãos movidos de ambições
que importa a todo o custo combater!

Viva a República! hoje como outrora,
límpida e limpa, em nossos corações,
onde há cem anos instalada mora!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Fernando Martins disse...

Viva a república? Qual? a 1ª, com a anarquia política e financeira, as levas da morte, a perseguição a monárquicos e católicos, a sucessão infindável de governos e as decisões nas mãos da maçonaria? A 2ª, de quase 50 anos de repressão e ditadura? A 3ª, com nova anarquia, descredibilização dos políticos e nova bancarrota?

Fartinho da Silva disse...

Qual a diferença entra esta 3ª República e a 1ª? Será que estamos a caminhar para uma nova 2ª República?

Fernando Silva disse...

Perfeitamente de acordo com o principal afirmado que é preciso refundar a república ou o sistema político vingente. Mas permitam-me objectar quanto à qualificação média do português.
Isto é se se está a referir a títulos académicos, 'novas oportunidades', etc., nada de acordo. Se se estão a referir à qualilificação que é necessária ter para um bom exercício de profissões e que os cursos do ensino secundário e médio, não qualificam, só titulam, estou de acordo. Interessa qualificar para a prática da realidade ou seja é preciso que quando se frequenta uma escola o conceito base seja o de aprender fazendo. Independetemente dos graus de ensino, licenciaturas, bacharelatos, doutoramentos, etc, que são importantes, neste momento o que o país precisa é de quem sai das escolas para o mercado de trabalho, saiba aplicar os conhecimentos académicos na prática laboral do dia-a-dia.
Lembro-me de aqui há muitos anos, quando da instalação da Autoeuropa, um amigo simpaticamente me pediu para opinar sobre o CV que pretendia enviar para a direcção de recursos humanos, e perante as 15 folhas com a descrição dos seminários, palestras e cursos de aperfeiçoamento e complementares à sua lincenciatura, lhe ter dito que pela extensão apresentada, nos 10 anos de percurso profissional, não tinha tido tempo para trabalhar. E portanto não lhe agoirava nada de bom com aquele CV.
Este é um mal que ainda hoje enferma o pensamento político vigente para aquilo que se chama educação. Titular em vez de qualificar.
Sem alteração dos programas de ensino será muito difícil mudar este país.
Para mais quando quem exerce os cargos públicos, políticos e de poder na actual sociedade, já são cidadãos, na sua esmagadora maioria, representativos destes 'doutores' titulados mas desqualificados.
Entretanto o povo que já não é tão 'primário' como por exemplo, os de moçambique, estão acomodados à sua própria miséria e perderam a força anímica, muito porque o chamado estado social lhes compra mensalmente a vontade de revolta.

Anónimo disse...

Independentemente de ser 1ª, 2ª ou 3ª, VIVA A REPÚBLICA! "límpida e limpa"! JCN

Fernando Martins disse...

Viva o Rei - viva Portugal!

Anónimo disse...

Vivamos todos, pá! JCN

Anónimo disse...

ILLE REX

Um Presidente Rei: que bela ideia,
que linda estampa a de Sidónio Pais
eleito pelo Povo que o rodeia
como um dos seus heróis nacionais!

Garboso, esbelto, culto, professor
da Academia coimbrã, distinto
oficial do exército, major,
possuía o ar de um príncipe retinto.

Autoritário apenas o preciso,
republicanamente governou
sem pôr em causa a Constitução.

Tinha um porte de Rei sem prejuízo
do regime político de então,
que em certo modo até regenerou!

JOÃO DE CASTRO NUNES

Ruben David Azevedo disse...

Bem Visto. Há dois dias criei um blog precisamente intitulado Refundar a Res Publica (http://refundararespublica.blogspot.com) É urgente seguir um novo rumo!

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