segunda-feira, 6 de setembro de 2010

JUSTA HOMENAGEM


Novo texto recebido de Guilherme Valente:

José Sócrates, no início do mandato anterior, preconizou e foi apregoando algumas medidas acertadas na área da educação. Medidas que há muito tempo, aliás, vínhamos defendendo. Algumas dessas medidas foram sacrilégio para os «especialistas», os ideólogos, a nomenclatura que manda no Ministério. Percebeu-se logo, portanto, que tais medidas iriam ser sabotadas. Foi o que aconteceu.

Que medidas foram essas? José Sócrates enumerou-as na homenagem recente à Doutora Maria de Lourdes Rodrigues: directores nas escolas; cursos profissionais; avaliação dos professores; educação ao longo da vida. E mesmo medidas mais específicas, como, por exemplo, o Plano de Acção para a Matemática.

Vejamos as medidas e a respectiva sabotagem:

1. Os directores nas escolas. Uma medida essencial. Mas foi sabotada, com a conivência ou a permissão da ex-ministra: quem decide na escolha a do director? Que autoridade lhe é confiada e que autonomia tem para a sua acção? Mesmo assim, os efeitos benéficos dessa medida logo começaram a manifestar-se, facto que, evidentemente, ameaça o poder controlador do "eduquês" e, por isso, sabe-se agora, com a criação criminosa dos mega-agrupamentos, preparam-se para desfazer tudo, substituindo a figura do director por comissões de instalação. Designadas por quem?

2. A formação profissional. Desde logo não fazendo o que devia ter sido feito, como estou farto de escrever: a oferta criteriosa, a tempo de prevenir o abandono, de uma via técnico-profissional, de exigência e dignidade iguais à via de acesso ao ensino superior, via que, na Finlândia é frequentada, aliás, pela maioria dos estudantes. O que passou a existir, predominantemente pelas antigas escolas industriais e comerciais, foi em larga medida criado e oferecido por iniciativa de directores e professores, graças ao seu espírito de iniciativa e dedicação, mas sem o empenhamento autêntico, muito pelo contrário, do ministério. Cursos improvisados aos quais não foram dadas condições mínimas de funcionamento, meios humanos e materiais indispensáveis, sem reconhecimento e dignificação pelo ministério. Há professores a ensinarem disciplinas de marcenaria sem saberem pregar um prego. Afinal, como afirmou um dia a Senhora que a Ministra agora homenageada colocou na presidência do Conselho Nacional de Educação, «todos os meninos podem ser doutores» (alguns até nem querem).

3. Quanto à avaliação dos professores, não foi necessário encomendar um modelo com a recomendação de que fosse tonto, absurdo e impraticável, para não funcionar. Bastou pedir aos especialistas que elaborassem um modelo.

4. Quanto à iniciativa das Novas Oportunidades, que na mente do Primeiro-Ministro poderá ter surgido como o embrião de uma imperativa formação ao longo da vida, nem vale a pena referir no que, na sua esmagadora generalidade, o Ministério da «Educação», a tornou. É o que se sabe.

5. O Plano de Acção para a Matemática, promovido alegadamente para resolver os problemas que os responsáveis pelos programas, pelas orientações curriculares e pela formação de professores tinham causado, foi confiado pela ex-ministra a quem? Precisamente aos mesmos, aos mesmíssimos responsáveis pela tragédia no ensino da Matemática.

A Senhora Doutora Maria de Lourdes Rodrigues mereceu bem a homenagem que lhe fizeram...

Guilherme Valente

8 comentários:

JCC disse...

"El sueño de la razón produce monstruos» (Goya)

Fartinho da Silva disse...

Caro Guilherme Valente,

Apesar de perceber o alcance do seu texto, não posso concordar consigo.

Maria de Lurdes Rodrigues não foi sabotada e não foi sabotada porque escolheu como companhia de orquestra os "cientistas" e "especialistas" da educação. O antigo Secretário de Estado da Educação de seu nome Valter Lemos, Professor Coordenador (topo da carreira no ensino superior politécnico) da Escola Superior de Educação de Castelo Branco com uma licenciatura e mestre por equivalência de um curso em Boston, fez tudo o que entendeu e criou os maiores dislates que possa imaginar. Foi ele o autor do sistema de "avaliação" de professores, dos planos disto e daquilo, das reuniões de tudo e mais alguma coisa, da diferenciação de faltas justificadas e injustificadas, etc. Lembro-me bem do caos que se instalou nas escolas. Até tive que tirar o meu filho da escola pública, porque cada vez que passava na escola via professores e mais professores por lá reunidos. Se os professores passavam a vida na escola reunidos, isso queria dizer que não estudavam e não preparavam as aulas e como tal, matriculei o meu rebento num colégio a sério. Não foi fácil, porque há poucos, mas consegui.

A antiga Ministra da Educação não tinha conhecimento daquilo que fazia Valter Lemos? Se não tinha é muito grave, se tinha e o permitiu é ainda mais grave.

Julgo, sinceramente, que a senhora acreditava mesmo na doutrina do eduquês, basta dizer que a senhora respondia sempre que não necessitava de ouvir os professores, porque para saber o que tinha que ser feito tinha que ouvir os "especialistas" no assunto. Isto foi dito inúmeras vezes.

Quanto aos cursos profissionais, não foi Maria de Lurdes Rodrigues que os criou mas sim os seu antecessor. No entanto, isto foi um enorme disparate por aquilo que referiu no seu texto e principalmente por colocar, em nome da inclusão e da escola democrática, na mesma escola cursos de Liceu, cursos profissionais, percursos alternativos, etc., etc., etc..

(continua)

Fartinho da Silva disse...

(continuação)

A Doutora Maria de Lurdes Rodrigues acolheu as medidas mais populistas que se possam imaginar graças ao eduquês e às patetices defendidas pela CONFAP (organização que supostamente deveria representar os pais e encarregados de educação e criada de cima para baixo e não no seio de uma sociedade livre e independente do poder político). Atirou com expressões que eu ouvi e continuo a ouvir dos tais "cientistas" e "especialistas" da educação como sejam:
- a culpa é dos professores;
- o professor não deve ensinar, o professor deve orientar as aprendizagens;
- a escola deve antes do mais socializar as crianças e os jovens;
- a escola a tempo inteiro (será que na Alemanha, onde as escolas encerram a partir das 15 horas não tem uma escola a tempo inteiro?);
- aulas de substituição, onde professores de educação física substituíam professores de matemática; onde professores do 2º ciclo do ensino básico, subsistiam professores do ensino secundário;
- avaliação de professores, onde professores de música avaliavam professores de educação física e bacharéis equiparados avaliavam professores mestres e doutores; onde tudo era avaliado excepto o mais importante, os conhecimentos dos alunos com base em exames. O problema é que não existem exames....;
- plano da matemática, para quê? Para gastar dinheiro do contribuinte?
- plano da leitura, para quê?
- até chegou a falar em plano para as línguas estrangeiras e para as ciências....

Em vez de tanta medida, que na minha opinião eram um enorme disparate, porque não começar a casa pelas fundações? Trabalhar como se trabalha em qualquer país pragmático e organizado?

Porque não começou pelo Primeiro Ciclo do Ensino Básico e pela Educação de Infância? Porque não definiu logo aí que os alunos teriam exame nacional no final do 2º ano do ensino básico? E exames a doer?

Ao dar este simples, mas impopular e muito trabalhoso passo, teria que definir o programa deste ciclo, teria que olhar com mais atenção para a desgraçada formação de professores do 1º ciclo. E até poderia, permitir a criação de uma Ordem de Professores.

Com base nestes fortes alicerces, poderia ela ou quem se lhe seguisse definir tudo o resto até ao telhado. Mas os nossos políticos de tanto quererem resultados imediatos, fazem tudo em cima do joelho e os resultados estão à vista de todos.

Repare, Caro Guilherme Valente, que depois dessa primeira leva de exames, o Ministério da Educação poderia criar um sistema de avaliação docente que tivesse como base os resultados dos alunos nos exames nacionais (comparando os seus resultados nos exames no 2º ano e depois no 4º ano).

Os percursos alternativos surgiriam imediatamente a seguir para responder aos alunos que não tivessem tido um desempenho razoável nos exames nacionais.

A reforma do 2º ciclo surgiria de forma natural, a criação de escolas profissionais surgiria, também, de forma natural. A reforma do 3º ciclo surgiria logo a seguir, etc.

Como dizem os suecos, os problemas resolvem-se resolvendo-os e não tentando resolver tudo de uma vez só.

Carlos Albuquerque disse...

Desculpar José Sócrates e Maria de Lurdes Rodrigues pelo que se está a passar no ensino nos últimos anos é como dizer que os alunos não têm nenhuma culpa quando não se esforçam nas aulas.

A culpa não é de quem tem a responsabilidade e toma as decisões mas sim de outros quaisquer?

João Oliveira disse...

Algumas ideias promissoras que foram derretidas pela inépcia de quem mandou e ainda manda.

De Rerum Natura disse...

Comentário recebido de Guilherme Valente:

Não posso estar mais de acordo com os comentários. Peço desculpa por não se ter percebido que o meu título é uma ironia. Claro que foi a Senhora Ministra responsável pela sabotagem, por conivência com o "especialistas", ou cedência, como muitas outras evidências permitem concluir.

Guilherme Valente

Fernando Torres disse...

Não acredito no que leio (refiro-me ao post). Devemos estar a viver em galáxias diferentes.

Fernando Torres

Anónimo disse...

A bem da verdade, a avaliação dos professores não foi da autoria do valter lemos mas sim do jorge pedreira que, por sinal, antes de ter estado no ministério era professor do ensino superior e teria exercido cargos sindicais! eles lá sabem por que fazem as coisas de certo modo...
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