quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Ainda as ciências no tempo da 1ª República
Outro excerto do Relatório de Mestrado de Valter Martins sobre o ensino das ciências no tempo da 1ª República:
Os primeiros passos da República foram enérgicos e reformadores, o que é claro da coragem que o novo regime teve ao criar as Universidades de Lisboa e Porto, enfrentando a Universidade de Coimbra. Um ponto notável na Universidade de Coimbra foi, sem dúvida, a extinção das Faculdades de Matemática e Filosofia (um desígnio que deu os primeiros passos ainda no século XIX através da coordenação das suas actividades docentes), substituindo-as pela Faculdade de Ciências.
Apesar de o período temporal da 1.ª República ter sido uma época de grande progresso da ciência no mundo desenvolvido e apesar do esforço pontual de alguns professores portugueses, a produção científica não foi brilhante em Portugal nesse período. A falta de verbas e de material, bem como a insuficiência do número de professores podem não ser a única explicação. O facto de boa parte dos docentes terem tido um desempenho activo na vida politica, como deputados e ministros, pode ser apontado como mais um elemento-chave para ajudar a compreender as insuficiências do ensino superior.
No âmbito da formação de professores para o ensino secundário, a medida mais importante da 1.ª República foi a criação das Escolas Normais Superiores. Desde a sua criação até ao seu desaparecimento, com o Estado Novo, estas escolas formaram, no total dos três cursos (magistério primário superior, magistério secundário e magistério normal primário), cerca de 160 docentes. Esse número, relativamente reduzido, de diplomados ficou-se a dever às restrições na admissão às Escolas Normais Superiores impostas pelo Estado.
O ensino secundário, graças às reformas efectuadas (curiosamente a República não actuou logo aí com a mesma celeridade com que o fez no ensino superior, mantendo a reforma anterior), foi, segundo o estudo do espanhol Rúben Landa publicado n’O Instituto, um dos maiores sucessos da 1.ª República. Com efeito, esse autor afirma que a nossa instrução secundária estava na vanguarda da Europa. No ensino liceal houve um claro aumento de alunos durante a 1.ª República, o que foi acompanhado pelo aumento do número de professores. Houve, porém, insucessos nessa área: A 1.ª República nunca conseguiu, por exemplo, aplicar a legislação referente ao livro escolar.
A vontade reformista da República levou-a, por vezes, a cair na demagogia. O regime nunca entendeu que lidava com um País pobre e atrasado. Não compreendeu a necessidade de estabilidade social e política. A elite política esgotou, em guerras intestinas, a oportunidade de reformas sensatas do país, sacrificando o essencial ao supérfluo. Pessoas com grande competência que passaram pelos cargos governativos não tiveram a oportunidade de pôr em prática medidas de pacificação social ou de efectuar as reformas necessárias ao desenvolvimento do país.
Válter Martins
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1 comentário:
Muito interessante este trabalho. Parabéns ao Válter Martins.
Estou a fazer uma investigação sobre o ensino das ciências no jardim de infância que viu a luz do dia com o respirar da 1ª república e gostaria de trocar, sobre este assunto, algumas questões consigo.
António Piedade
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