sexta-feira, 29 de maio de 2009
Porquê a Europa?
Post sobre a Europa recebido do historiador António Mota de Aguiar:
Sou dos que pensam que os portugueses têm boas razões para votar no próximo dia 7 de Junho nas eleições para o Parlamento da União Europeia (UE). Cada um de nós vota segundo a sua consciência, mas o importante, na minha opinião, é votar. Apoio-me nas seguintes premissas para esta conclusão.
Ao longo dos séculos a oligarquia portuguesa foi-se apropriando dos bens de outros povos. Primeiro, expulsou os árabes e os judeus, tendo ficado com as suas riquezas. Mais tarde apropriou-se das riquezas de outros povos e continentes(ouro, açúcar, café, petróleo, diamantes, escravos, etc,) e, na última fase histórica, do produto do trabalho de milhões de emigrantes portugueses, que ao longo do tempo foram enviando as suas poupanças para Portugal.
Apesar de todas estas riquezas vindas do exterior, nunca, ao longo da nossa história, como, por exemplo, os suíços e os holandeses fizeram, conseguimos criar uma indústria competitiva que nos permitisse uma mínima independência nacional. Fomos sendo o apêndice de outros e, nos últimos dois séculos, quase sempre vivemos sob golpes de estado, guerras civis ou ditaduras. Uma vez que as riquezas provenientes do exterior nunca foram distribuídas pelo povo português, pois ficaram sempre na posse de uma minoria, que as gastou, ou sumptuosa ou inutilmente, quando se deu o 25 de Abril de 1974 quase não havia em Portugal riqueza para distribuir.
Por isso, quase tudo o que temos hoje provém do nosso relacionamento com a UE e, por acréscimo, também a paz social de que hoje gozamos. Não tivéssemos nós entrado na UE e andaríamos agora em verdadeira turbulência sociopolítica.
Mas a UE para nós não representa apenas o desenvolvimento económico e o bem-estar social que usufruímos nestas últimas duas décadas e meia. Com a entrada na UE fortalecemos a presença nacional no seio da comunidade internacional, passámos a ser minimamente ouvidos e respeitados, o que foi muito raro acontecer no passado. A UE é também um projecto político, isto é, não se adere só por interesse, também se adere por partilhar valores comuns: liberdade, democracia, direitos humanos, etc.
A partir dos primeiros anos da década de 60, mais de um milhão de portugueses emigrou para a Europa. Gerações de portugueses já lá nasceram. Muitos dessas pessoas são culturalmente europeias, fizeram uma síntese entre a cultura lusa e a cultura dos países que os acolheram e lhes deram um nível de vida decente. Portanto, para todos mas em particular para os nossos compatriotas que vivem em países europeus, a UE é também um projecto cultural.
Apesar de tudo, a UE tem, como é sabido, os seus cépticos. Alguns pensam que a sociedade de bem estar será, para os povos europeus, uma meta difícil de manter ou de atingir, pelo menos nos próximos anos. Penso também que sim. Mas é melhor enfrentar as dificuldades juntos do que sozinhos. Porque somos todos diferentes (felizmente!), cada país contribuirá para o “bolo comum” segundo as suas possibilidades, recolhendo depois conforme o que for justo e adequado.
Outros põem em destaque algumas dificuldades que a UE enfrenta quanto à criação de instituições comuns aos 27 países membros, como seja, por exemplo, a ratificação do Tratado de Lisboa pela Irlanda. Ou ainda as questões de novos alargamentos. É claro que há dificuldades, mas sou dos que acreditam que, paulatinamente, os europeus saberão encontrar o peso político, económico e cultural a que têm direito no concerto da nova geografia mundial. Não vai ser certamente fácil: os portugueses levam oito séculos de gestação e a EU, com apenas seis décadas de vida, ainda não passou do berço. Creio que o projecto da UE há-de chegar a bom porto e é por isso que vou votar nas próximas eleições para o Parlamento Europeu.
António Mota de Aguiar
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4 comentários:
Talvez tenha razão. Mas apetece pouco votar. É que podemos "errar" e depois os sábios dizem que não está bem. Tal como fizeram no tratado constitucional e no de Lisboa. Ora se eles é que sabem, que votem eles. Já percebemos que os franceses, holandeses e irlandeses não sabem votar e não entenderam a bondade que os sábios lhes tinham preparado. Desanima, não é?
Quando há eleições, há 4 posições distintas, todas elas de grande significado, a saber:
1. Votar num dos candidatos
2. Riscar o voto
3. Votar em branco
4. Não ir seuqer às urnas.
A Europa anda a pedir a última posição. Não me venha dizer que a última não serve. Pode é ser prematuro...isso admito.
Com os rios de dinheiro que nos chegou da Europa, temos hoje em dia uma indústria competitiva, a exemplo dos suiços e dos holandeses? O nosso nível de vida, compara-se, também, hoje em dia ao desses países?
Se se faz uma comparação histórica com Portugal, não vale a pena ir buscar suíços e holandeses. Os primeiros foram quase colonizados no passado mas passaram o resto da sua história de certa forma isolados. Os segundos tiveram um império clonial que sobreviveu até ao fim da II Guerra Mundial.
João Sousa André tem razão o que alude à Suíça., relativamente ao seu isolamento.
A esse propósito Salazar teceu-lhe esta crítica:"A Suíça é um mau exemplo para a Europa".
Como dizia um deputado do vintismo: "Alguns têm dois sacos, um à frente, outro atrás; no da frente lançamos os defeitos dos outros; no detrás, os nossos."
Salazar esqueceu que o bom julgador a si se julga.
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