sábado, 9 de maio de 2009

ÁFRICA NOSSA


Minha crónica no "Sol" de hoje (na foto a investigadora Sarah Tishkoff junto a um dos seus postos de recolha de amostras):

Somos todos africanos! A espécie Homo sapiens teve origem no continente africano há cerca de 200 000 anos, tendo-se espalhado a partir daí há cerca de 50 000 anos. Já se suspeitava desta origem comum dos modernos humanos, mas uma investigação publicada agora na revista Science veio corroborar essa hipótese.

A cientista norte-americana Sarah Tishkoff, da Universidade da Pensilvânia, liderou uma vasta equipa que recolheu amostras de sangue de mais de uma centena de grupos humanos em sítios recônditos do continente africano. Em sucessivas expedições ao longo de dez anos, viajando num Land Rover e acampando, conseguiu ganhar a confiança de milhares de indígenas e deles obter consentimento para realizar o seu trabalho. Se alguns recearam ficar fracos ao dar o sangue, outros revelaram-se curiosos quando lhes foi dito que poderiam conhecer os seus antepassados através do exame de uma gotinha de sangue. De facto, das células do sangue a antropóloga molecular extraiu DNA, que analisou em certas partes, para desvendar a história dessas populações. Antropóloga molecular? Sim, graças à moderna genética é hoje possível complementar dados sobre cultura e língua de grupos indígenas, observando as marcas genéticas deixadas por uma longa e complexa história evolutiva.

Concluiu que a variabilidade genética dentro de África é enorme, maior até que em todo o resto do mundo. E conseguiu localizar na região desértica entre Angola e a Namíbia os descendentes do grupo mais antigo. O povo San, pertencente aos Bosquímanes, é o que está mais próximo dos habitantes do lendário Jardim do Éden. Não significa isto que o Homo sapiens nasceu no Sudoeste, mas sim que os seus parentes mais próximos, depois de eventuais migrações, se encontram hoje nessa zona. Por seu lado, os descendentes das tribos que, “out of Africa”, saíram para povoar a Europa e a Ásia localizam-se no Nordeste, a meio do Mar Vermelho. Quem diria que a dinamarquesa Karen Blixen, retratada no famoso filme de Pollack, ao emigrar para o Quénia estava afinal a regressar a “casa”?

5 comentários:

Luís Silva disse...

Pela mesma ordem de ideias somos todos descendentes do D. Afonso Henriques e andamos a cometer incestos que até mete dó. Mas, é claro, disto já sabiamos nós. Tal como sabiamos que descendiamos todos de africanos. Da próxima vez não se esqueçam de avisar o Carlos Fiolhais, 'tá bem? (é claro que, entretanto, com mais uma vulgaridade de café o carlitos lá ganhou mais umas pratas.)

Anónimo disse...

caros amigos cientistas, então como é que ainda não sabiam disso ? ... as notícias chegam tarde e por via do SOl ??? a nobel italiana Rita levi-montalcini já em 2005 escreveu um livro de divulgação para crianças pequenas (!) "Eva era africana" ... os meus filhos ja o leram hùa uns tempinhos
vera n.c.

Helena Ribeiro disse...

Caro Brikebrok,

Não convém confundir "Crónica" com "Notícia", só esta última implica actualidade.

Anónimo disse...

Não conheço todos os pormenores do dito estudo, mas pelo que foi falado gostava de levantar algumas questões. Pelo que percebi, foram recolhidas amostras um pouco por toda a África, descobrindo-se assim as populações africanas geneticamente mais próximas do homo sapiens. Isto pode revelar muita coisa, mas revela pouco sobre a origem do homo sapiens (a não ser que completada com outros tipos de informação). O facto de as populações da fronteira de Angola com a Namíbia serem mais próximas do homo sapiens não é suficiente para concluir a sua origem naquela zona. Primeiro porque houve mobilidade, os nossos antepassados podem ter tido bem mais dificuldade em migrar do que nós temos hoje, mas andaram pelo planeta durante muito tempo, o que permitiu que se espalhassem pelo globo. O homo sapiens pode ter surgido noutro lugar e aqueles que se tornaram os seus descendentes mais semelhantes acabaram por migrar para a zona onde foram encontrados pela investigadora. Segundo, porque a evolução e diferenciação genética da espécie baralham os resultados. A proximidade genética nada tem a ver com proximidade genealógica. Entre homo sapiens e os ditos Angolanos/Namibianos ou entre o homo sapiens e eu próprio encontra-se um numero semelhante de gerações de indivíduos. Simplesmente, por razões que só um biólogo evolutivo poderá descobrir, aquelas populações divergiram da matriz original um pouco menos que o resto da humanidade. Isto continua a não nos dizer nada sobre a localização do primeiro homo sapiens.
Além disso, espero que que este trabalho não contribua para que a opinião pública veja estas populações como biologicamente "primitivas". Isto dependerá da forma como a descoberta for divulgada e infelizmente, essa responsabilidade pesa sobre os nossos mass media.

Aguardo esclarecimentos
Luis

Anónimo disse...

Bem, retiro o que disse. Afinal as minhas dúvidas já estavam esclarecidas neste post. Espero ter contribuído para reforçar o anteriormente dito.

Luis

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