quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O PROGRESSO SEGUNDO SPENCER


Uma vez que há uma vida real para além da vida virtual é-me praticamente impossível comentar os comentários, embora alguns sejam bons e mereçam comentários. Perguntou-me o leitor Américo Tavares, a propósito de um post sobre uma frase do naturalista oitocentista português Francisco de Arruda Furtado, qual era o significado de progresso. Também não tive tempo de ir cotejar a fonte original com outros escritos do mesmo autor. Mas um autor extraordinariamente influente na época, o filósofo inglês Herbert Spencer (na imagem), tem um pequeno livro precisamente sobre esse tema ("Do Progresso. Sua Lei e Sua Causa", Editorial Inquérito, Lisboa, 1939, tradução e prefácio de Eduardo Salgueiro) onde logo de início define progresso. Deste modo:
"Está fora de qualquer discussão o facto de o progresso orgânico consistir na passagem do homogéneo para o heterogéneo.

Assim, propomo-nos demonstrar, em primeiro lugar, que esta lei do progresso orgânico é a lei de todo o progresso; quer se trate das transformações da terra, do desenvolvimento da vida à sua superfície ou do desenvolvimento das instituições políticas, da indústria, do comércio, da língua, da literatura, da ciência, da arte, dá-se sempre a mesma evolução do simples para o complexo, mediante sucessivas diferenciações. Desde as mais remotas transformações cósmicas, de que ainda existem sinais, até aos mais recentes resultados da civilização, vê-se que o progresso consiste essencialmente na passagem do homogéneo para o heterogéneo."
O sublinhado é meu. Dado o facto de o evolucionismo ter entrado na esfera cultural em Portugal graças a Haeckel e a Spencer, talvez fosse esta a ideia de progresso para Arruda Furtado (o ensaio de Spencer, que ainda se apanha barato numa feira do livro e que está em texto integral na Net, incluindo a tradução portuguesa, data de 1857, portanto dois anos antes da "Origem das Espécies"). A generalização de Spencer do orgânico para o social é perigosa. Como é bem sabido, Spencer é o responsável por alguns "desvios" do darwinismo como o darwinismo social, com a ideia da "sobrevivência dos mais aptos".

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