domingo, 25 de janeiro de 2009

A EDUCAÇÃO LUSA


Parte da intervenção do Prof. José Ferreira Gomes (ver página pessoal aqui, com muitos dos seus artigos sobre ensino superior) , da Universidade do Porto, na apresentação do livro de Carlos Fiolhais “Engenho Luso e Outras Crónicas” efectuada na passada quinta-feira na Quinta da Bonjóia, na cidade do Porto, por iniciativa do “Porto. Cidade de Ciência”:


A Educação merece um lugar destacado. É a secção mais longa deste livrinho o que só faz justiça á importância do tema e à sua centralidade nas preocupações do Carlos Fiolhais no seu livro “Engenho Luso e Outras Crónicas” (Gradiva, 2008). No seu primeiro número de 2009, o editor da Science comunica aos leitores que a sua prestigiadíssima e mais que centenária revista decidiu alterar a sua política editorial para reconhecer que devemos olhar para a Educação com os olhos críticos da Ciência. Glosando o título do seu editorial, o objectivo é fazer da Educação uma Ciência, Making a Science of Education! Ao fim de 128 anos a Science reconhece que pode haver uma Ciência da Educação. Reconhece que a Associação Americana para o Avanço da Ciência deve promover não só a educação científica mas também a Ciência da Educação, no singular!

Chegados a este ponto nos Estado Unidos, é legítimo perguntar quanto tempo mais teremos de esperar para que a educação seja também estudada em Portugal como uma Ciência. Enquanto cronista, o seu papel não é o de fazer ciência nem sequer o de divulgar a ciência feita por outrem. As crónicas recolhidas nesta secção não caem nesta tentação. Seguem o caminho diferente de transmitir ao leitor uma visão crítica (e crítica com filtros do cientista) das estórias da educação em Portugal. A nossa infeliz posição nas comparações internacionais não nos permite tratar a nossa educação com maiúscula. Infelizmente, a nossa educação básica, secundária e superior é tratada pelos nossos governos (e por muitos dos seus “stakeholders”) mais como novela para ocupar o tempo nobre das televisões e as primeiras páginas dos jornais, para entreter os cidadãos, do que como um dos pilares para a construção de um melhor futuro colectivo. Os atrasos na educação dos portugueses são seculares, tanto assim que dificilmente poderemos encontrar as causas primeiras dos atrasos que nos afligem. Por pressão social primeiro, por desenho político depois, procuramos nos últimos anos queimar etapas que outros construíram longamente e chegar a uma educação universalizada que sirva o desenvolvimento pessoal dos cidadãos. A retórica defende e expande a escola pública mas a realidade torna-a socialmente marcada. Até meados do século XX, a escola pública era a primeira escolha das famílias e a escola privada sobrevivia na quase marginalidade mercê da inacessibilidade geográfica ou pelo menor mérito de alguns alunos. Hoje assistimos á fuga generalizada dos melhores. Não faço um discurso a favor da escola estatal. O que choca é que a escola estatal de que todos somos responsáveis se possa vir a transformar numa escola segregada ao invés do discurso oficial ou, porventura, em consequência dos exageros retóricos da escola inclusiva. Creio que é também este o terreno de luta do nosso cronista que aproveita os incidentes novelísticos do nosso dia-a-dia para lançar alguma luz sobre as nuvens que cobrem o “sistema”.

Para um homem que vive na Rua Larga, entre a sua Física e a sua Biblioteca (ainda aboletada na moradia que o Estado Novo lhe construiu por cima de uma história colegial que se pretendia esquecida), Coimbra tem uma presença regular mas não abusa do espaço que dá ao Superior. Para além da cultura pimba estudantil, preocupou-o o desemprego dos jovens licenciados que a actual “correcção”, para usarmos o eufemismo do economês, poderá vir a agravar. Mas não devemos tocar neste ponto sem reforçar a posição do cronista que isto não significa que tenhamos diplomados a mais mas tão somente que temos economia a menos. Não significa também que neste aumento dos números nos possamos esquecer da qualidade ou que não devamos reflectir se algum desemprego não será sinal da deficiente da formação que oferecemos aos nossos jovens.

O ponto comum a todas as reformas da Educação em curso entre nós é talvez a governação das instituições e merece alguma atenção. De facto, tem passado sem quase comentário o que se está a fazer nas nossas escolas. No Básico e Secundário, os riscos de partidarização do sistema são altíssimos com consequências que não precisarei de lembrar. Pior do que um sistema centrado na 5 de Outubro só poderá ser um sistema atomizado em mandarinetes partidários locais. Que não seja este o título de uma próxima crónica! No Superior, correm-se também riscos que estão ainda muito mal avaliados. O diabo está no detalhe! Não chega dar os nomes certos. Não havendo em Portugal qualquer tradição de intervenção cívica, seria de esperar que a introdução de conselhos gerais tivesse medidas de acompanhamento com uma intenção didáctica. Quais serão as consequências de configurar esses conselhos como miniparlamentos sem meios de controlo e supervisão efectiva sobre os executivos? Seria obrigatório bascularmos de um sistema multitudinário ineficaz para uma tirania grega cuja boa intenção inicial terminou na conotação que hoje lhe damos? Se repararmos nos efeitos públicos e notórios que estes erros têm nas organizações empresariais, os problemas não tardarão e darão boas estórias para o cronista num futuro não muito distante. Será para termos boas crónicas que nos dão más leis? Não seria mais fácil antecipar as dificuldades evitando os danos mais óbvios, embora relegasse o cronista para outros territórios?

José Ferreira Gomes

1 comentário:

Edgar disse...

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