sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

FELIZ ANO DARWIN!


Minha crónica no "Público" de hoje (na imagem Darwin com 31 anos):

Quando há poucos anos se perguntou a um conjunto de professores da Universidade de Coimbra quais foram os dez livros que mais mudaram o mundo, não foi sem surpresa que se apurou em primeiro lugar a “Origem das Espécies” do naturalista inglês Charles Darwin e só depois a Bíblia. Mas, ao querer organizar uma exposição sobre esse “top-ten”, a surpresa foi ainda maior quando se verificou que não havia no rico acervo das bibliotecas da universidade nenhuma primeira edição da obra maior de Darwin, publicada em 1859, ao passo que havia várias centenas de edições, algumas bastante antigas e preciosas, do livro sagrado dos cristãos.

Este facto chegará para mostrar que, se hoje os cientistas são todos darwinistas, há 150 anos, quando foi divulgada a revolucionária teoria de Darwin, não havia entre nós quase ninguém interessado nas ideias do inglês. Graças à sua pródiga confirmação pela observação e pela experiência, a teoria da evolução alcançou desde então uma aceitação que, na sua origem, dificilmente se poderia prever. Hoje, pode dizer-se que não existe nenhuma teoria científica que esteja em competição com o evolucionismo (o criacionismo não é ciência!).

A demora com que as ideias de Darwin chegaram até nós é sintomática do nosso atraso científico no século XIX. Apesar de Darwin ter ficado em pouco tempo mundialmente famoso e de ter trocado milhares de cartas com naturalistas de todo o mundo, o único português a corresponder-se com ele foi um jovem de 26 anos, residente nos Açores, completamente isolado dos círculos científicos. Francisco de Arruda Furtado dirigiu-se, em 1881, ao velho sábio do seguinte modo: “Nasci e vivo nestas ilhas vulcânicas onde os factos de distribuição geográfica dos moluscos terrestres são uma interessante prova da teoria a que deu o seu nome mil vezes célebre e respeitado.” Darwin, que tinha visitado os Açores durante a sua viagem à volta do mundo no “Beagle”, respondeu, quase na volta do correio, com palavras gentis e encorajadoras: “Admiro-o por trabalhar nas circunstâncias mais difíceis, nomeadamente pela falta de compreensão dos seus vizinhos”.

É bem conhecida a polémica que as ideias darwinistas logo suscitaram, nomeadamente a forte oposição que teve por parte da Igreja de Inglaterra. A esse confronto não terá sido alheio o progressivo afastamento de Darwin da sua fé da juventude – ele que tinha estudado teologia em Cambridge – para assumir, no fim da vida, quando respondia ao português, uma posição agnóstica. O mecanismo da selecção natural permitia defender a evolução das espécies como um “design” sem “designer” (algo que os criacionistas ainda hoje se recusam a aceitar). O mais perturbador para alguns crentes era a eventual “descendência humana do macaco”, tendo ficado célebre a afirmação de um anti-darwinista segundo a qual “não era verdade mas, se fosse verdade, o melhor era que não se soubesse”.

A oposição com base na Bíblia ao evolucionismo conheceu também alguns episódios curiosos em Portugal. No mesmo ano em que escrevia a Darwin, Furtado publicou em Ponta Delgada um folheto intitulado “O Homem e o Macaco”, em resposta a um padre que tinha pregado nessa cidade: “E ainda há sábios que acreditam que o homem descende do macaco!... Nós somos todos filhos de Nosso Senhor Jesus Cristo!...” O açoriano esclareceu que “não há sábios que acreditam que o homem descende do macaco (...) mas que ambos deveriam ter sido produzidos pela transformação de um animal perdido e mais caracterizado como macaco do que como homem. Eis o que se disse e o que se diz e, se isto não se prova, o contrário também não”.

Hoje, passados 150 anos sobre a “Origem das Espécies” e 200 anos sobre o nascimento de Darwin, a teoria que o tornou famoso está bem e recomenda-se, não só devido à ajuda da paleontologia mas também e principalmente devido à corroboração pela moderna genética. Conforme afirmou o geneticista Theodosius Dobzhansky, “nada na biologia faz sentido a não ser à luz da evolução”. Feliz ano Darwin!

12 comentários:

perspectiva disse...

“Quando há poucos anos se perguntou a um conjunto de professores da Universidade de Coimbra quais foram os dez livros que mais mudaram o mundo, não foi sem surpresa que se apurou em primeiro lugar a “Origem das Espécies” do naturalista inglês Charles Darwin e só depois a Bíblia.”

Escolheram um livro cujo título induz em erro.

Na verdade, o livro está longe de explicar a origem das espécies. Isto é reconhecido pelos próprios evolucionistas.


“Mas, ao querer organizar uma exposição sobre esse “top-ten”, a surpresa foi ainda maior quando se verificou que não havia no rico acervo das bibliotecas da universidade nenhuma primeira edição da obra maior de Darwin, publicada em 1859, ao passo que havia várias centenas de edições, algumas bastante antigas e preciosas, do livro sagrado dos cristãos. “

O que significa que a Origem das Espécies não fez muita falta.

“Este facto chegará para mostrar que, se hoje os cientistas são todos darwinistas, há 150 anos, quando foi divulgada a revolucionária teoria de Darwin, não havia entre nós quase ninguém interessado nas ideias do inglês.”

A ideia de que os cientistas são todos darwinistas é pura e simplesmente falsa.

O que mostra que se está mais interessado numa mentira conveniente do que na verdade inconveniente de que muitos cientistas não são darwinistas.

Na verdade, hoje sabe-se que toda a informação codificada tem origem inteligente e que o DNA contém informação codificada em quantidade, qualidade, complexidade e densidade que transcendem toda a capacidade humana, pelo que o DNA só pode ter tido uma origem inteligente.

A afirmação comentada parece mais orientada para tentar afastar a discussão do darwinismo a partir de pontos de vista exteriores a ele.

A verdade é simples: uma teoria não é científica se não puder ser refutada e não pode ser refutada se não puder ser discutida.

“Graças à sua pródiga confirmação pela observação e pela experiência, a teoria da evolução alcançou desde então uma aceitação que, na sua origem, dificilmente se poderia prever. “

Não sei a que confirmação empírica se pode referir.

Darwin afirmava que a falta evidência gradual no registo fóssil constituía uma forte objecção à sua teoria.

Quase 150 anos depois da sua obra, Stephen Jay Gould confessava que a falta de evidência de evolução gradual no registo fóssil continuava a ser o segredo profissional dos paleontologistas.

“Hoje, pode dizer-se que não existe nenhuma teoria científica que esteja em competição com o evolucionismo (o criacionismo não é ciência!). “

Se o criacionismo não é ciência, então o evolucionismo também não é ciência, porque não pode ser refutado.

Isto porque a única alternativa possível ao evolucionismo é o criacionismo.

Que o evolucionismo não é ciência sabemos muito bem: nunca ninguém viu a vida a surgir por acaso, numa ninguém observou o hipotético antepassado comum, nunca ninguém observou uma espécie menos complexa a dar origem a outra diferente e mais complexa.

E no entanto, os evolucionistas acreditam piamente nisso.

“A demora com que as ideias de Darwin chegaram até nós é sintomática do nosso atraso científico no século XIX.”

Trata-se de mais um disparate sem qualquer fundamento. Antes de o darwinismo se ensinar nos Estados Unidos, já se ganhavam prémios Nobel em ciências médicas e biológicas nos Estados Unidos.


“Apesar de Darwin ter ficado em pouco tempo mundialmente famoso e de ter trocado milhares de cartas com naturalistas de todo o mundo, o único português a corresponder-se com ele foi um jovem de 26 anos, residente nos Açores, completamente isolado dos círculos científicos.”

Vejamos o que vê aí.

“Francisco de Arruda Furtado dirigiu-se, em 1881, ao velho sábio do seguinte modo: “Nasci e vivo nestas ilhas vulcânicas onde os factos de distribuição geográfica dos moluscos terrestres são uma interessante prova da teoria a que deu o seu nome mil vezes célebre e respeitado.”

A distribuição dos moluscos nos Açores pode perfeitamente ser explicada com base no modelo criacionista e na dispersão pós-diluviana.

“Darwin, que tinha visitado os Açores durante a sua viagem à volta do mundo no “Beagle”, respondeu, quase na volta do correio, com palavras gentis e encorajadoras: “Admiro-o por trabalhar nas circunstâncias mais difíceis, nomeadamente pela falta de compreensão dos seus vizinhos”.

Realmente é admirável.

“É bem conhecida a polémica que as ideias darwinistas logo suscitaram, nomeadamente a forte oposição que teve por parte da Igreja de Inglaterra.”

Muitos dos principais opositores ao darwinismo foram cientistas e continuam hoje a ser cientistas.

“A esse confronto não terá sido alheio o progressivo afastamento de Darwin da sua fé da juventude – ele que tinha estudado teologia em Cambridge – para assumir, no fim da vida, quando respondia ao português, uma posição agnóstica.”

Darwin adoptou uma filosofia naturalista e procurou desenvolver e validar o seu corolário evolucionista, mas sem sucesso.

“O mecanismo da selecção natural permitia defender a evolução das espécies como um “design” sem “designer” (algo que os criacionistas ainda hoje se recusam a aceitar). “

Nenhum criacionista nega a selecção natural.

Os criacionistas apenas diz que ela, por ser selectiva e eliminatória, explica melhor a adaptação de umas espécies e a extinção de outras do que a origem das espécies.

A selecção natural só funciona a partir de espécies existentes, cuja origem não explica.

“O mais perturbador para alguns crentes era a eventual “descendência humana do macaco”, tendo ficado célebre a afirmação de um anti-darwinista segundo a qual “não era verdade mas, se fosse verdade, o melhor era que não se soubesse”.

Essa hipotética descendência é pura e simplesmente mentira. Estudos mais recentes confirmam-no. A Lucy era um macaco extinto. Os Neandertais eram verdadeiros seres humanos, embora com algumas diferenças genéticas. Dentro da espécie humana existe uma variedade apreciável.

“A oposição com base na Bíblia ao evolucionismo conheceu também alguns episódios curiosos em Portugal. No mesmo ano em que escrevia a Darwin, Furtado publicou em Ponta Delgada um folheto intitulado “O Homem e o Macaco”, em resposta a um padre que tinha pregado nessa cidade: “E ainda há sábios que acreditam que o homem descende do macaco!... Nós somos todos filhos de Nosso Senhor Jesus Cristo!...”

Ele tinha razão. O que mostra que os padres também podem ter razão quando levam a Bíblia a sério.

“O açoriano esclareceu que “não há sábios que acreditam que o homem descende do macaco (...) mas que ambos deveriam ter sido produzidos pela transformação de um animal perdido e mais caracterizado como macaco do que como homem. Eis o que se disse e o que se diz e, se isto não se prova, o contrário também não”.

O problema desse Açoriano é que se limitou a especular, sem apresentar quaisquer provas.

Na verdade, o facto de existirem algumas semelhanças anatómicas e fisiológicas entre macacos e homens não significa que tenham tido um antepassado comum.

Isso justifica-se simplesmente com a ideia de que tiveram um Criador comum.

E a verdade é que a diferença que nos separa dos macacos é muito mais significativa do que as semelhanças que possamos ter com eles.

Na verdade, nenhum macaco se interessa por teologia, filosofia, ciência, arquitectura, pintura, música, literatura, poesia, etc.

Quando um macaco conseguir ler e compreender uma palavra da Origem das Espécies, talvez os criacionistas levem o livro a sério.

“Hoje, passados 150 anos sobre a “Origem das Espécies” e 200 anos sobre o nascimento de Darwin, a teoria que o tornou famoso está bem e recomenda-se, não só devido à ajuda da paleontologia mas também e principalmente devido à corroboração pela moderna genética. “

Como vimos, a paleontologia continua a não mostrar evidência de evolução gradual.

Quanto à genética, ela apenas atesta que a vida só pode ter tido origem inteligente, na medida em que o DNA tem informação codificada e esta só pode ter origem inteligência.

A existência de semelhanças genéticas entre seres vivos corrobora a ideia de um Criador comum.

“Conforme afirmou o geneticista Theodosius Dobzhansky, “nada na biologia faz sentido a não ser à luz da evolução”.

Mais uma disparate completo, que os próprios evolucionistas se encarregam de refutar.

Vejamos o que diz o conhecido evolucionista Jerry Coyne:

“If truth be told, evolution hasn’t yielded many practical or commercial benefits.

… Evolution cannot help us predict what new vaccines to manufacture because microbes evolve unpredictably.

But hasn’t evolution helped guide animal and plant breeding?

Not very much. Most improvement in crop plants and animals occurred long before we knew anything about evolution, and came about by people following the genetic principle of ‘like begets like’.

Even now, as its practitioners admit, the field of quantitative genetics has been of little value in helping improve varieties.”

Como se vê, pode-se fazer excelente biologia e genética sem a teoria da evolução.

Na verdade, esta atrasou a investigação em torno do “junk” DNA que agora se sabe ser funcional.

“Feliz ano Darwin! “

Cá estaremos para discutir Darwin.

Algumas coisas são certas:

1) Não existe informação codificada sem uma origem inteligente;

2) o DNA contém informação codificada capaz de ser precisamente transcrita, traduzida, executada e copiada para a produção e reprodução de seres vivos extremamente complexos;

3) Na origem do DNA só pode ter estado uma inteligência muito acima das capacidades humanas.

Jorge Oliveira disse...

Eu não duvido de que a estrutura do ADN constitua um daqueles mistérios do caraças com a Natureza nos brinda e até era capaz de dar razão aos que acreditam que foi um Deus que criou o ADN e tudo isso por aí fora.

Só não dou porque estranho à brava um fenómeno ainda mais intrigante : por que razão é que um ser tão super inteligente como Deus só se manifesta em parvoíces, como imagens de santos a deitar lágrimas de sangue e só aparece, por interposta Virgem, a pastorinhos ignorantes, em vez de aparecer decididamente numa conferência de cientistas para lhes dizer com justificada energia que não passam de um bando de idiotas incapazes de Lhe reconhecer a obra? Note-se o respeitinho das maísculas…

Que Deus mais esquisito, este. Não dá vontade nenhuma de acreditar.

perspectiva disse...

Jorte Oliveira diz:

"Eu não duvido de que a estrutura do ADN constitua um daqueles mistérios do caraças com a Natureza nos brinda e até era capaz de dar razão aos que acreditam que foi um Deus que criou o ADN e tudo isso por aí fora."

Não existe outra alternativa, visto que não existe outra origem para a informação codificada que não uma inteligência.

E o DNA está repleto de informação codificada.

Informação não é matéria nem energia, antes é uma grandeza imaterial que só pode ter origem imaterial.

A informação contida no DNA só pode ter tido origem no Espírito de Deus.

Isto não é religião. É ciência pura e dura.

É por desconsiderarem esta verdade simples e óbvia que todas as concepções naturalistas da origem da vida têm fracassado e só podem fracassar.

"Só não dou porque estranho à brava um fenómeno ainda mais intrigante : por que razão é que um ser tão super inteligente como Deus só se manifesta em parvoíces, como imagens de santos a deitar lágrimas de sangue?"

Realmente só podemos concordar. Isso é uma parvoíce.

"...e só aparece, por interposta Virgem, a pastorinhos ignorantes..."

Está a falar na aparição de Fátima? Também a desconsideramos como não tendo nada que ver com a verdade bíblica.

"... em vez de aparecer decididamente numa conferência de cientistas para lhes dizer com justificada energia que não passam de um bando de idiotas incapazes de Lhe reconhecer a obra?"

Ele aparece decididamente a cientistas através de evidências infalíveis. Assim queiram eles considerar essas evidências:

1) as leis naturais testemunham de um Universo racionalmente criado, tal como Génesis diz.

2) a sintonia antrópica do Universo corrobora a criação tal como Génesis diz;

3) a dependência da vida de informação codificada testemunha a origem inteligente da vida como a única alternativa possível, tal como o Génesis ensina;

4) as soluções engenhosas que se encontram nos seres vivos e que os cientistas imitam na biomimética;

5) o testemunho dos escritos bíblicos, sucessivamente corroborados pela história, pela arqueologia, pela ciência, etc.

6) a encarnação de Deus através de Jesus Cristo, historicamente investigável, que revela um Deus pessoal, amoroso, com rosto humano, que participa activamente na história;

"Que Deus mais esquisito, este."

Realmente, quem procurar Deus nas imagens de escultura ou em "produções fictícias" só pode ficar com essa imagem de um Deus esquesito.

"Não dá vontade nenhuma de acreditar."

Compreendo perfeitamente.

Diferentemente, se pensar no Deus que criou e sintonizou o Universo para a vida, que criou a vida, que dotou o mundo de uma lei moral e que veio salvar os homens das consequências da violação dessas leis, vai ver que é possível sentir muita alegria e conforto espiritual, físico e intelectual em acreditar.

leandro ribeiro disse...

«A informação contida no DNA só pode ter tido origem no Espírito de Deus.

Isto não é religião. É ciência pura e dura. »


Isto é lindo :'D

Nuno Calisto disse...

O primeiro comentário, na substância é patético. O gosto por estimular este debate, para além de contraproducente, só pode ter algum interesse em termos de retórica.

Diogo Bogéa disse...

Muito bem. Darwin tem mesmo de ser celebrado por sua teoria científica livre do veneno das religiões. E pensar que ainda hoje, em pleno século XXI, há quem ainda viva com base nestes fantasmas religiosos.. é muito atraso..

Agraços,
Diogo Bogéa

Anónimo disse...

"A distribuição dos moluscos nos Açores pode perfeitamente ser explicada com base no modelo criacionista e na dispersão pós-diluviana."

Ainda bem, hoje já vou dormir muito mais descansado.

Carlos Faria disse...

Embora não sendo açoriano pelo local de nascimento, sou-o por ser filho directo de dois ilhéus deste arquipélago e residente há várias décadas nos açores. por isso foi com orgulho que soube que o único português a corresponder-se com darwin era açoriano, com um nome totalmente desconhecido para mim.
darwin, apesar das atribulações com a sua teoria, ao menos teve a sorte de a ver começar a vingar dentro do seu ramo, contrariamente ao que aconteceu num campo menos polémico (apenas porque não mexe tanto com a religião) da geologia, com wegener e a "deriva" dos continentes, marquei deriva porque também essa era a realidade onde o original não corresponde ao modelo actual da teoria, mas tal como darwin, são teorias que hoje são definitivamente aceites com as devidas adaptações da evolução das ciências...
CarlosFaria

Unknown disse...

Amigo perspectiva, o seu inquebrável argumento de inteligência divina => DNA pode demonstrar por processo semelhante a inexistência de alma ou até de Deus. Então vejamos:

1)Todas as formas conscientes, pensantes, com capacidade de sentir, raciocinar, ou simplesmente de interagir com o meio, são baseadas em suportes materiais;
2)A alma é uma forma consciente e sensível;
3)A alma é forçosamente material
OU então não existe - porque é incongruente.

Notas:
Quanto à 1ª permissa, estou tanto em condições de afirmar isto como que "Não existe informação codificada sem uma origem inteligente", já que em todas as situações conhecidas e demonstradas funciona assim.
Sobre a 2ª, depende do conceito de alma, mas penso que as que apresentei são características da alma apresentada na Bíblia

Outro caso:

1) Todos os deuses têm origem humana;
2) Deus é um deus
3) Deus tem origem humana
OU então não existe - porque é incongruente.

Notas:
Na primeira premissa, ocorre o mesmo que nos outros silogismos: em diversos casos conhecidos é assim. Será UNIVERSALMENTE assim?

Resumindo, obviamente que não quero provar a inexistência de Deus ou da alma, mas sim mostrar que esse argumento não é assim tão imbatível - e que se pode ser aplicado de igual forma para contrariar bases de quem o usa.

Um abraço e feliz 2009 para todos

Espectadores disse...

Caro Carlos Fiolhais,

Obrigado por mais este seu texto útil para um debate sempre fértil e vivo.

Haveria muito para comentar e debater, mas queria focar-me nestes pontos:

«O mecanismo da selecção natural permitia defender a evolução das espécies como um “design” sem “designer” (algo que os criacionistas ainda hoje se recusam a aceitar).»

Parece-me que simplifica (ou talvez evita) a dimensão filosófica do problema, que é bastante complexa.

Noutros tempos, fez-se um esforço filosófico para distinguir quatro tipos de causas: material, eficiente, formal e final. Depois, sem grande razão para tal, considerou-se no meio filosófico que as causas forma e final não existiam.

A meu ver, as ideias de Darwin abriram a porta para a compreensão filosófica do devir das espécies em termos de causas finais.

É curioso, isto, porque as causas materiais e eficientes só foram conhecidas com o advento da genética, algo que Darwin não pôde aproveitar.

Então, o melhor legado de Darwin, parece-me ser o de propor uma explicação finalista para o devir das espécies, explicação essa baseada na adaptação ao meio e na sobrevivência dos adaptados dentro de uma população.

(Um parêntesis: tentou-se em tempos denunciar que esta formulação da adaptação apoiava-se num raciocínio circular: os mais adaptados são os que sobrevivem, e sobrevivem os mais adaptados; mas há muito que se sabe que há uma formulação não circular da teoria de Darwin)

Essa explicação de Darwin, talvez uma das maiores na história da Biologia, reconheçamos, é uma explicação finalista (filosófica).

É certo que ela permitiu o "desbloquear" do estudo empírico das espécies e das suas origens. Mas, espremendo a filosofia tímida que encontramos nos escritos de Darwin, sobressai uma sua estupefacção perante uma necessária finalidade (o "fim" visto como adaptação e sobrevivência), em simultâneo com uma vontade férrea por parte de Darwin em remover qualquer Causador ("Deus") da equação.

Parece-me que o problema não será tanto, como diz o Carlos, um problema de "design" (sendo que o "design" filosoficamente é aparentado com a velhinha causa formal), nem será tão importante a refutação do ID como ciência (pois o mais certo é ser uma tese de biofilosofia), mas sim reconhecer as perplexidades filosóficas do próprio Darwin.

(para uma análise competente, ver Etienne Gilson, "D'Aristote a Darwin et retour")

A teoria de Darwin demonstrou sem margem para dúvidas que não há devir das espécies sem uma "estrutura" de finalidade, vista como um sistema em cadeia fechada, na qual as espécies mudam para se adaptarem a um fim (sobreviver).

Ora Darwin fez bem em reconhecer a realidade dessa finalidade: no entanto, professou uma tese pessoal e subjectiva ao dizer que essa finalidade não tinha Causador: baseado em quê, em termos científicos?

Reconhecer a realidade de um fenómeno finalista, como sucede com a Teoria da Evolução das Espécies, não permite tecer afirmações acerca de se tratar de uma realidade causada ou não causada por um agente (inteligente ou não).

Darwin não trouxe quase nada de revolucionário para a filosofia nem para a teologia. A sua revolução, apesar de se apoiar numa noção filosófica já existente (a de finalidade) foi estritamente científica nos seus efeitos. Apesar de estar eivada de problemas filosóficos (entre eles, a distorção ao significado do termo "evolução" e a trapalhada ontológica acerca das "espécies", pois qualquer categorização implica o conceito imaterial de "forma"), o darwinismo não serve, nem deve servir, de arma de arremesso contra qualquer doutrina acerca da Criação, nomeadamente a cristã.

O "criacionista" cristão tem a obrigação de aceitar as verdades científicas, nomeadamente as do darwinismo. E se o darwinismo, como ciência, foi amplamente validado pela observação, já a ideologia materialista (a verdadeira adversária do cristianismo), que tantas vezes se apoia no darwinismo, nada tem de científico.

Cumprimentos,

Bernardo Motta

José Lourenço disse...

Até prova em contrário, a teoria evolucionista é a única (o criacionismo não é uma teoria, antes uma crença) que faz alguma luz ao fundo do túnel das origens.

Quanto aos criacionistas, convém relembrar que o ónus da prova pertence aos crentes e não aos descrentes. Aconselho a leitura da parábola "do bule celeste" de Bertrand Russel...talvez, assim, fossem mais tolerantes e compreensivos!


Um reparo:

"A demora com que as ideias de Darwin chegaram até nós é sintomática do nosso atraso científico no século XIX."

O evolucionismo continua a não chegar "até nós" em pleno Século XXI (mesmo dentro da comunidade científica)!

Saudações

Ant.º das Neves Castanho disse...

O "criacionismo" não é nenhuma "teoria científica", é apenas uma "teoria" ideológica, como muitas outras. Pretende ùnicamente "provar" algo em que se acredita, prèviamente à observação imparcial e científica.


O Evolucionismo é "apenas" uma Teoria Científica, como muitas outras.


Não pretende explicar "tudo" nem, muito menos, "provar" que Deus não existe, ou que não possa ter sido o Criador do Universo.


Há um simplismo atroz em pôr as coisas nesta "Perspectiva" tão enviesada.


Para quem acredita (ou acreditou) em Deus, ou apenas se considera agnóstico - como o próprio Ch. Darwin, aliás, que nem por ter "descoberto" a evolução das espécies se tornou ateu! -, a Fé terá sempre de resistir a todas as demonstrações científicas, como resistiu às de Galileu e de Darwin, pois a ideia de Deus, por definição, está para além da Ciência, que é uma "mera" conquista (embora das mais nobres) da inteligência humana.


Duas coisas são bem certas: não será seguramente negando a Ciência que se promoverá a Fé, nem será progredindo nas descobertas científicas que se ficará mais longe de Deus...


Foi um Padre filósofo e cientista, meu Professor no Técnico, que me fez ver isto com muita clareza.


Daí que o simplismo e o obscurantismo sejam muito maus conselheiro neste tipo de discussões (como talvez em todas, não?)...

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