sexta-feira, 24 de outubro de 2008
Economia do conhecimento
No «O Voto da Ciência» afirmei que as tecnologias em energias renováveis serão as próximas indústrias globais, ultrapassando muito provavelmente as tecnologias da informação daqui a uns anos. O gráfico acima, que representa a evolução das estimativas das necessidades energéticas globais, explica esta afirmaçãos já abordada em Agosto no «Energias alternativas e aquecimento global».
A necessidade de investimento na pesquisa de fontes energéticas alternativas é explicada também pelo facto de que, quaisquer que sejam os modelos de crescimento económico que se utilizem, é necessário para evitar recessões que a taxa de crescimento do progresso tecnológico, nomeadamente no sector energético, seja suficiente para contrabalançar os efeitos das restantes variáveis em equação. Assim, os países que mais investirem agora em investigação nesta área beneficiarão assim de uma vantagem estratégica no futuro próximo, facto a que os dirigentes europeus estão muito sensíveis.
Vários anúncios da União Europeia na semana passada confirmam a aposta no desenvolvimento de uma economia do conhecimento. Um deles informa que a Comissão Europeia autorizou o financiamento de 67,6 milhões de euros, concedido no final de 2007 pela OSEO - a agência francesa de apoio à inovação -, para o programa Horizon Hydrogen Energy (H2E). O programa coordenado pelo grupo Air Liquide envolve cerca de 20 parceiros, que incluem grupos industriais, pequenas e médias empresas e laboratórios públicos franceses de investigação. O H2E representa um investimento de cerca de 200 milhões de euros em I&D num período de 7 anos na pesquisa de soluções energéticas ligadas ao hidrogénio - que inclui investigação em células de combustível de hidrogénio.
Por outro lado, a Comissão Europeia, a indústria europeia e a comunidade europeia de cientistas, constituiram a parceria público-privada da Joint Technology Initiative (JTI). A JTI vai investir cerca de mil milhões de euros ao longo de seis anos na investigação em células de combustível e hidrogénio, bem como no desenvolvimento e demonstração desta tecnologia. A plataforma HFP tem como objectivo colocar a Europa na linha da frente das novas formas de energia e criar massa crítica relativamente a estas tecnologias antes de 2020, ano em que se prevê uma diminuição da capacidade de produção da indústria petrolífera.
O Comissário Europeu da Ciência e Investigação, Janez Potocnik, afirmou que «ao investir nestes projectos científicos estamos a colocar o dedo na ferida, pois o desenvolvimento de novas tecnologias é crucial para alcançar os objectivos europeus no que concerne às alterações climáticas e aos desafios energéticos».
A iniciativa foi formalizada numa assembleia geral em Bruxelas que decorreu entre 13 e 15 de Outubro e reuniu cerca de 600 Stakeholders da Fuel Cells and Hydrogen Joint Technology Initiative e durante a qual a a Alemanha, a Grã-Bretanha e a Dinamarca e apresentaram programas nacionais consistentes no que respeita a uma economia focada em energias que não as provenientes de combustíveis fósseis, em especial o hidrogénio. A Dinamarca foi mais longe e anunciou pretender em 2020 produzir toda a sua energia de forma renovável estando em curso o desenvolvimento de uma base industrial de suporte desde a produção de hidrogénio à fabricação de pilhas de combustível.
Mas soube-se também que que o Banco Europeu de Investimentos anunciou a sua disponibilidade para financiar os projectos de infra-estrutura necessários à logística do hidrogénio, por exemplo, a rede comum de pipelines para distribuição de H2 que os países nórdicos pretendem construir.
Foi criada igualmente uma plataforma comum que pretende congregar as regiões e municipalidades activas no desenvolvimento de tecnologias ligada ao hidrogénio – HyRaMP- European Regions and Municipalities on Hydrogen and Fuel Cells.
Mas o interesse nesta forma de energia não se restringe à Europa: por exemplo, dentro de dias começarão a circular em S. Paulo autocarros movidos a hidrogénio no âmbito do projecto «Estratégia Energético Ambiental: Ônibus com Célula a Combustível a Hidrogênio».
Em Portugal, o hidrogénio parece ter sido ignorado pelos nossos legisladores no quadro legal dos incentivos e benefícios fiscais das energias renováveis ao ponto de os veículos movidos a hidrogénio nem sequer beneficiarem da taxa reduzida aplicado aos que utilizam GPL ou gás natural muito menos das isenções em sede de IA de que gozam os veículos híbridos. No entanto, uma das descobertas que promete revolucionar esta área foi feita muito recentemente em Portugal, a gelatina iónica que permitará desenvolver dispositivos mais baratos e mais ecológicos.
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11 comentários:
Essa gelatina iónica é realmente uma ideia interessante. Falta saber se poderá ser impermeável à água (o maior problema das membranas para transporte de protões), mas, para já, parece ser mesmo muito interessante.
Prevejo apenas um problema: sem saber qual o processo utilizado, poderá ser muito complicado fabricar estas membranas de gelatinas iónicas em espessuras muito finas (nanómetros), de forma a reduzir a resistência ao transporte. Mas tudo o que melhore o desempenho é bem vindo.
Convém, além disto tudo, lembrar que a tecnologia de hidrogénio só será viável num novo paradigma energético, onde toda as as fortes de energia estão integradas entre si. Isto porque o hidrogénio apra células de combustível terá que vir, creio que obrigatoriamente, da electrólise da água. Isto só pode ser feito com recurso a energia excedentária em períodos off-peak.
Do ponto de vista didático este texto deixa muito a desejar. O que é que o hidrogénio tem a ver com fontes renováveis? Que quase todos os transportadores são renováveis sabemos nós: "basta" carregá-los de novo. A pseudo solução hidrogénio é avançada pelos construtores de automóveis apenas para boicotar o carro elétrico!
Há aqui um grande equivoco, diria mesmo, um grande desperdicio de energia: os cientistas falam numa solução para casos específicos, não escalável, e quem os houve está a pensar em uso generalizado das células de combustivel. O preço (e energia de input associada)? Isso não interessa aos cientistas, que gostam de olhar só para uma parte do problema.
Sobre o hidrogénio, ver os textos do Prof.Delgado Domingos.
Erro: houve -> ouve
Desculpas
Simpatizo com as fuel cells e com o desenvolvimento da tecnologia do hidrogénio.
Mas a substituição dos motores de combustão interna por motores eléctricos accionados pelas fuel cells implica a disponibilidade de quantidades enormes de energia eléctrica para efectuar a electrólise da água e obter o hidrogénio.
Onde vamos buscar toda essa energia eléctrica? Eu tenho uma resposta, mas fica para depois. Por outro lado, se, ou quando, tivermos acesso a energia eléctrica suficiente, por que razão utilizar as fuel cells em automóveis e não novos e mais avançados acumuladores de energia eléctrica, recarregáveis ?
Pois, Jorge, esse é o problema maior do hidrogénio, a sua produção...
Tanto quanto sei, há alguns países, acho que a Bélgica, a comprar energia eléctrica durante a noite à Alemanha, a preços mais baixos, e a produzir hidrogénio.
Acho que a solução passa pelo que o JSA indicou, um novo paradigma energético, onde toda as as fortes de energia estão integradas entre si. Por exemplo, para além do aproveitamento dos off-peaks, em vez de despejar na rede a energia produzida em fotovoltaicas, eólicas ou das marés poder-se-ia usar essa energia na produção de hidrogénio.
Há também uma série de projectos em curso destinados a «escravizar» bactérias (geneticamente modificadas, claro) para produzirem hidrogénio assim a optimizar a produção tradicional de hidrogénio via electrólise da água.
Oscar:
As pilhas de commbustível em geral e as de hidrogénio em particular são baterias electroquímicas como as outras. Não se pretende carros movidos a combustão de hidrogénio (o Hydrogen 7 da BMW foi a única tentativa que eu saiba) mas sim carros eléctricos em que em vez de , por exemplo, baterias de lítio que necessitam ser recarregadas, se tem pilhas de hidrogénio alimentadas não a energia eléctrica mas a este gás.
Além da sua produção, o armazenamento de hidrogénio também está longe de ser resolvido. Este problema torna-se muito relevante para os transportes.
Mas talvez mesmo, o mais díficil será ultrapsssar a barreira do custo face aos actuais preços do petróleo, para justificar o investimento e
câmbio em energias menos poluentes.
Sguna, é bem verdade. O armazenamento e transporte de hidrogénio continua a ser um enorme problema devido aos perigos inerentes ao uso de hidrogénio. Por outro lado, há ainda a questão da rede de distribuição e abastecimento de hidrogénio, o qual é um problema de ovo e galinha mas à priori. Ainda não há a rede de abastecimento de hidrogénio para os carros, pelo que estes não são comprados. Mas se os carros não são comprados, também não vale a pena criar a dita rede.
Já agora, uma vantagem das células de combustível é o reabastecimento no caso de pequenos equipamentos (iPods, laptops, telemóveis, etc). Claro que isto não passa pelo hidrogénio, uma vez que ninguém andará com um tanque de hidrogénio atrás, mas o metanol é uma solução excelente neste campo.
Quanto à produção do hidrogénio, tal como referi, a produção em períodos off-peak parece ser o indicado. A Palmira desenvolveu avançando as energias solar, eólica e das marés para isso. Além das bactérias, claro. Eu acrescento mais um ponto: o mar, onde estarão instaladas as centrais energéticas para marés e até algumas wind farms em offshore, pode ser usado para electrólise com menores custos energéticos, dada a sua maior condutividade (embora isto acarrete também problemas de corrosão acrescidos).
Já agora Jorge, eu não concordarei com a possibilidade do nuclear (que creio ser a sua resposta para a produção de hidrogénio), mas poderá ser outra solução caso seja implementado.
Esquecia-me da questão do preço do petróleo.
O preço do petróleo foi inflaccionado pela procura e pela especulação. O preço actual, apesar de ser resultado de uma correcção, nã estará ainda definitivo. Mais cedo ou mais tarde o preço do petróleo continuará a subir e voltará para cima dos 100 dólares, seja porque a procura vltará a ser brutal, seja porque os novos depósitos serão de extracção cada vez mais difícil e onerosa, seja porque o petróleo poderá acabar, seja por todas estas razões juntas.
Seja como for, o preço do petróleo só seria um obstáculo no caso de o hidrogénio coninuar a ser produzido, como hoje, a partir do gás natural. Com o uso de electrólise, o hidrogénio terá como preço associado essencialmente os custos da energia usada para o produzir. Nesse aspecto, a fonte de energia com a qual terá de competir será, muito provavelmente, o carvão. E basta o advento da famosa carbon tax para muitas das tecnologias de produção de energia (e consequentemente, a produção de hidrogénio) se tornarem competitivas.
Caro JSA
Sim, claro, a fonte primária que eu tinha em mente para a produção maciça de energia eléctrica, era a energia nuclear. Mas porque não?
Eu não sou fundamentalista, detesto ideologias e religiões e estou aberto à possibilidade de mudar de opinião, se me for apresentada informação que o justifique. Mas, de facto, com os dados disponíveis, não consigo compreender a relutância que muita gente revela em relação ao nuclear. Concordo com muito do que diz o Prof. Delgado Domingos, mas em relação ao nuclear não posso acompanhá-lo.
Por um lado, a energia nuclear constitui uma fonte de produção de energia eléctrica de baixo preço, que apenas o carvão consegue bater. Por outro lado, se recorrermos a reactores regeneradores o urânio pode ser quase integralmente aproveitado, o que praticamente elimina o problema dos resíduos radioactivos.
E não só. Se retirarmos o urânio dissolvido na água do mar temos energia praticamente para o resto da nossa vida na Terra, antes desta ser engolida pelo Sol em expansão.
É caso para se dizer que uma forma de energia que dura até ao fim da vida do planeta devia ser catalogada como uma forma de energia renovável…
Existe um outro aspecto que joga a favor da energia nuclear. Para além do preço tendencialmente elevado do petróleo e do seu esgotamento relativamente próximo, nós, no mundo ocidental, não podemos viver descansados com o petróleo dos árabes (ou do louco venezuelano) e com o gás natural dos russos. Não é gente em que se possa confiar.
Os decisores políticos europeus ou são cegos ou inconscientes. Nos EUA a discussão sobre o nuclear é difícil mas ainda se vai fazendo. Está presente na campanha presidencial. Na Europa, liderada por gente frouxa, e com uma opinião pública manipulada pela ideologia da esquerda internacional, a opção nuclear quase constitui um tabu. Estamos a caminhar para um desastre maior do que o da actual crise financeira.
Concordo com Oscar. A utilização do hidrogénio como veículo energético nada tem a ver com a fonte de energia ser ou não ser renovável. O hidrogénio, já que não se encontra na natureza a não ser combinado, necessita ser obtido com consumo de energia, seja esta renovável ou não. A principal vantagem do hidrogénio é, creio eu, poder evitar a poluição em meio urbano. Outra vantagem é poder-se utilizar para a sua produção a energia produzida em horas de vazio. Mas de qualquer modo, a sua disponibilidade e o seu preço dependem da disponibilidade e do preço da energia primária utilizada.
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