domingo, 20 de janeiro de 2008

Karajan 2008



A 22 de Janeiro de 1929 em Salzburgo, a orquestra do Mozarteum foi conduzida pela primeira vez por um dos filhos mais ilustres desta cidade alpina, Herbert von Karajan. A cidade iniciou no passado sábado dia 4 as celebrações do centenário do nascimento do maestro, com um concerto no Grosses Festpielhaus cujo programa era idêntico ao de há 79 anos, a 5ª Sinfonia de Tchaikovsky, o 23º Concerto para Piano de Mozart e o poema sinfónico Don Juan de Richard Strauss.

A Orquestra Filarmónica de Berlim realizará igualmente uma série de concertos de homenagem ao maestro que a dirigiu de 1955 até à morte, em 1989, em Berlim, Paris e Tóquio. O primeiro terá lugar dia 23, em Berlim, o Concerto para Violino em D Maior, Op. 61 de Ludwig van Beethoven e a 6ª sinfonia em B Menor Op. 74 «Pathetique» de Tchaikovsky, concerto que se repetirá dia 25 na Salle Pleyel em Paris.

Herbert von Karajan foi ainda director vitalício da Wiener Gesellschaft der Musikfreunde, a partir de 1951, director musical da Ópera de Viena de 1955 a 1964 e, entre 1964 e 1988, membro da direcção dos Festivais de Salzburgo. Dia 5 de Abril, data em que se completa o centenário do nascimento do maestro, terá lugar um acto ceremonial de homenagem na Haus für Mozart em Salzburgo. Os detalhes do programa não são ainda totalmente conhecidos, sabendo-se que actuará o quarteto Küchl.

Pouco conhecido é o facto de que o jovem Herbert von Karajan pensou inicialmente dedicar-se à engenharia e não à música, tendo frequentado a Escola Técnica Superior de Viena, mas a música cedo suplantou a engenharia, pelo menos como modo de vida. De facto, von Karajan manteve ao longo da vida um fascínio pela ciência e tecnologia, sendo notório o seu interesse em defender a técnica digital de gravação e reprodução. Amigo de Akio Morita, co-fundador da Sony, foi o primeiro maestro a gravar a 9ª sinfonia de Beethoven nesse formato, tendo gravado de novo o seu repertório de forma a preservar para o futuro o seu legado musical com as melhores possibilidades técnicas.

Mais detalhes das celebrações programadas podem ser encontradas numa página devotada, onde estão igualmente disponíveis alguns vídeos que incluem as raras entrevistas concedidas pelo maestro (infelizmente a maioria em alemão e sem legendas).

O vídeo que se segue, a 1ª parte do Bolero de Ravel, que integrou o concerto de Ano Novo da filarmónica de Berlim em 31 de Dezembro de 1985, não necessita legenda. A 2ª parte pode ser apreciada no YouTube.


10 comentários:

Unknown disse...

obrigado Palmira por este momento. Simplesmente... divinal :)) este Bolero!

Bruce Lóse disse...

Palmira,

A primeira vez que vi um cambojano comer uma tarântula frita apontei imediatamente no meu Moleskine: "de gustibus et coloribus non disputandum est"

Lembrei-me desta sábia anotação por causa da facilidade crescente com que associamos "apreciar música" com o pelintrismo dos sub-formatos digitais. Karajan teria suportado a 9ª em MP3?

isabel mendes ferreira disse...

Karajan teria suportado a 9ª em MP3?
::::::::::::::::))))))))))))


aposto que sim....talentoso e genial tinha também um especial sentido de humor, generosidade e humanidade.

________________.


cordialmente.

rresende disse...

Ena, um cambodjano, alimentos exóticos , latim e um moleskine. Uma frase viajada, moderna, cosmopolita e erudita! A 2ª parte é que foi mais fraquita... Saiba que o formato mp3 (ou outros sub-formatos compressíveis) permitem, com a taxa de compressão (bit rate) apropriada, não perder nada da qualidade de um CD (lossless). E continuar com tamanhos de ficheiro razoáveis. Por isso se vendem já docking stations de alta-fidelidade para o Ipod.
Portanto, claro que Karajan teria suportado a 9ª em mp3. Ou talvez em AAC, que é mais chique.

Bruce Lóse disse...

Ora ora, amigo Ricardo. Tanto sentido de humor...

Sabia que a gravação digital baseia-se desde logo numa taxa de compressão? (ver argumentos de vendas da tecnologia Super Audio) E quantos ficheiros guarda o meu amigo no seu MP3 se não os comprimir pelo menos para 128 kbits? Não concorda que cada vez mais a malta nova consome música em formato "ruído de fundo"? Era esta a minha questão inicial.

Já agora, não uso Moleskine nem escrevo em latim. Mas gosto muito de música.

rresende disse...

Concordo que a música é usada como ruído de fundo, sim. Mas muita dela não merece mais que isso.
E irrita-me muito a música em todo o lado: no metro, nas esplanadas (mesmo nas que são junto ao mar, onde as ondas seriam a melhor música). E por aí fora. Mas o meu ipod, ou as músicas gravadas no meu pc permitem-me viajar e levá-las comigo para locais exóticos: Costa da Caparica, Carnaxide, Mexiolheira da Carregação, etc.


Nem toda a gravação digital implica compressão. Os formatos wav, mp3, aac, etecetera (latim, mas foi para ninguém pensar que etc é um formato novo) sim. Mas tenho aqui no meu pc o album CODA dos Led Zeppelin (também tenho a 9ª do Karajan, para não me considerar um inculto). O album, gravado em 320 kbps, ocupa 126 Mb. O meu ipod tem 80000 Mb, é só fazer as contas. Desafio qualquer pessoa "normal" a distinguir uma música a 320 kbps de uma música não comprimida, na mesma aparelhagem.

João Pinto e Castro disse...

Para equilibrar um bocadinho tanto entusiasmo em torno da humanidade do homem, conviria lembrar que, quando Hitler tomou o poder, ele concordou em expulsar os judeus da orquestra.

Anónimo disse...

Karajan foi membro do partido nazi (inscreveu-se em 1933) mas depois da guerra um tribunal "branqueou-o" quando afirmou só se interessar por música e não entender nada de política...

Bruce Lóse disse...

Parente,

Não é raro encontrar escroques no firmamento musical. O melhor mesmo é tentar apreciar a competência específica que os torna especiais e fazer os possíveis por esquecer as outras. Nas relações pós-guerra com Karajan foi o que fizeram Oïstrakh (velha guarda), Kissin (nova) e muitos outros juden resignados. Não terá sido apenas o tribunal a tratar do branqueamento.

Anónimo disse...

Bruce

Eu gosto do Karajan e não o condeno por ele ter pertencido ao partido nazi. Se analisarmos as nossas próprias vidas não são lineares. Todos fazemos coisas que num determinado momento pensamos que estavam certas e mais tarde reconhecemos que foram erradas. Por isso não gosto de julgar ninguém.

No entanto, são tão raras as oportunidades para dar umas alfinetadas na nossa anfitriã que entendi não poder desperdiçar este momento único... Ainda por cima a meninha Rita comentou, o que é um momento único de apanhar 2 em 1. Tal como esperado a Palmira ignorou olimpicamente a minha observação.

Aproeveito para o cumprimentar pelo seu regresso. Quando der umas pauladas no kavazak peço-lhe que dê algumas em meu nome.

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