Dentro de pouco mais de um ano, em 12 de Fevereiro de 2009, celebra-se o bicentenário do nascimento de Charles Robert Darwin, ano em que se assinalam igualmente os 150 anos de publicação de «A Origem das Espécies», livro que marcou profundamente toda a ciência e a forma como descrevemos o mundo.
Na génese do livro está a viagem que um Darwin de apenas 22 anos iniciou a bordo do HMS Beagle. Recomendado por John Stevens Henslow, seu profesor em Cambridge, Darwin embarcou no Beagle a 27 de Dezembro de 1831 numa expedição à volta do mundo que durou quase cinco anos, até 2 de Outubro de 1836. Durante a viagem Darwin leu os «Princípios da Geologia» de Charles Lyell - que seria posteriormente um defensor do evolucionismo, nomeadamente no livro «A Evidência Geológica da Antiguidade do Homem», publicado em 1863. Lyell descrevia as características geológicas da Terra como o resultado de processos graduais ocorrendo ao longo de grandes períodos de tempo e não de acontecimentos catastróficos e repentinos.
O Beagle percorreu as costas atlântica e pacífica da América do sul o que permitiu a Darwin a realização de expedições terrestres para recolher exemplares da fauna e da flora locais. Nestas expedições, Darwin encontrou, entre outros, fósseis de animais extintos como o megaterium e o gliptodonte em camadas que não mostravam quaisquer sinais de catástrofe ou mudanças climáticas. Inicialmente Darwin pensou serem esses animais fossilizados similares a outros encontrados em África mas, após o seu regresso, Richard Owen mostrou-lhe que estes fósseis eram mais parecidos com animais não extintos que viviam na mesma região (preguiças e tatus).
Na primeira edição de «A Viagem do Beagle», a influência de Lyell pode apreciar-se na adopção por Darwin da teoria de Lyell de «centros de criação» para explicar a distribuição das espécies que encontrou. Em edições posteriores, a fauna encontrada nas Ilhas Galápagos era já evidência para Darwin da evolução que seria consagrada com «A Origem das Espécies»: «é possível imaginar que algumas espécies de aves neste arquipélago derivam de um número pequeno de espécies de aves encontradas originalmente e que se modificaram para diferentes finalidades».
Não parece improvável que os fósseis do gliptodonte, um «parente» dos tatus, que se extinguiu por volta da época em que se pensa que o homem chegou ao continente americano e que com os seus cerca de 3 metros de comprimento e peso de aproximadamente 1.4 toneladas mais parecia um tanque de assalto, tenham ajudado ao estabelecimento da teoria da evolução.
Na edição de quarta feira da revista «Journal of Vertebrate Paleontology» é descrito no artigo «A New Basal Glyptodontid and other Xenarthra of the Early Miocene Chucal Fauna, Northern Chile» o fóssil de um ancestral do gliptodonte com cerca de 18 milhões de anos, descoberto em 2004 na região Salar de Surire, no altiplano chileno, a 4.300 metros de altitude.
A nova espécie, baptizada Parapropalaehoplophorus septentrionalis, com cerca de um metro de comprimento e 90 kg, de acordo com um dos paleontólogos, «Pareceria uma mistura entre uma tartaruga e um tatu, mas claro que está mais relacionada com os tatus».
A equipa de paleontólogos da Universidade Case Western Reserve, do Museu Americano de História Natural e da Universidade da Califórnia em Santa Barbara que descobriu e estudou o fóssil acredita que esta área dos Andes, o habitat da fauna Chucal - cerca de 18 espécies extintas evidenciadas pelo registo fóssil encontrado na região - e a maior elevação no hemisfério ocidental em que se descobriram fósseis de vertebrados, era uma savana aberta cerca de mil metros acima do nível do mar quando os mamíferos que descobriram viveram no local, há 18 milhões de anos.
Como referiu John Flynn do Museu Americano de História Natural em Nova Iorque, «Os nossos e outros estudos no Altiplano [chileno] sugerem que a região se encontrava a uma muito mais baixa altitude, fornecendo novos dados para o timing e taxa de elevação dos Andes». Ou seja, o estudo agora publicado é apenas mais um que esclarece detalhes da teoria mais marcante do século XIX e de uma das teorias que a influenciou, as evoluções biológica e geológica de Darwin e Lyell.
Na imagem: uma reconstituição do P. septentrionalis, crédito de Velizar Simeonovski.
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3 comentários:
Muito bom post de base paleontológica!
Luís Azevedo Rodrigues
Charles Darwin disse:
«é possível imaginar que algumas espécies de aves neste arquipélago derivam de um número pequeno de espécies de aves encontradas originalmente e que se modificaram para diferentes finalidades».
Os criacionistas não disputam esta realidade. Pelo contrário!
De acordo com a Bíblia, depois do dilúvio global as diferentes espécies foram-se espalhando pela face da Terra, adaptando-se a novas condições ambientais e dando origem até a várias sub-espécies.
Assim, de acordo com o modelo bíblico, as diferentes espécies de aves encontradas no arquipélago dos Galápagos derivavam realmente de um número pequeno de espécies de aves encontradas originalmente e que se modificaram para diferentes finalidades.
A intuição de Darwin estava correcta. Nada a objectar.
Todavia, essa intuição está longe de provar a evolução de partícular para pessoas, na medida em que nessa derivação das aves não foi criada nenhuma informação genética nova, geradora de estruturas e funções totalmente novas e mais complexas.
Antes a informação genética contida nas espécies de aves presentes nos Galápagos era uma especialização da informação genética já contida nas aves continentais de que as mesmas derivavam.
Na verdade, à medida que ocorre a selecção natural, a informação genética disponível vai diminuindo.
Ela não vai aumentado, como seria necessário para a teoria da evolução poder funcionar.
A variação e a adaptação acontecem.
A selecção natural também. Mas a evolução através da criação de informção genética mais complexa, especificada e integrada, não.
ahahah
se estivesse escrito na biblia que a agua a uma temperatura de 20º C e à pressão atmosferica normal era um solido com um sabor agridoce voce tambem acreditava?
lol, voce é ridiculo ;)
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