quinta-feira, 17 de maio de 2007
UM FILÓSOFO SEM RAZÃO
Este escrito sobre Paul Feyerabend tem por base um artigo que escrevi no “Público” no início dos anos 90. Fui publicamente contestado, mas nesse tempo escreviam-se cartas ao director em vez de se postarem comentários na Net...
A ciência sempre teve os seus amigos e os seus inimigos. Paul Feyerabend (1924-1994) é um dos modermos inimigos da ciência. Zangou-se com Karl Popper (1902-1994), um dos mais influentes filósofos de ciência do século passado. E não há nada como uma desavença pessoal para promover uma luta extremada de ideias e para fazer com que coisas aparentemente tão pacíficas como o método científico e o uso da razão passem a ser denegridos sem dó nem piedade.
De entre os pensadores do século XX, Karl Popper destaca-se por ter obtido uma boa recepção entre os cientistas. Foi ele o defensor da ideia de que a falsificação das teses — a tentativa de provar que se está errado — constitui a base do trabalho científico. Popper admitiu, porém, que não há em ciência método, confessando-se “professor de um assunto inexistente”. De facto, o inglês Peter Medawar, um Prémio Nobel da Medicina defensor e divulgador das ideias de Popper, chamou à ciência “a arte do solúvel”, enfatizando o papel da criatividade pessoal, que parece por vezes extravasar os limites colocadas por qualquer metodologia da ciência e que só encontra paralelo nos processos de produção artística. Embora possa não existir o método científico como chave universal que abre infalivelmente as portas do desconhecido, talvez se possam descobrir traços comuns do trabalho dos cientistas, esses permanentes acrescentadores do conhecimento sobre o mundo. O reconhecimento do erro pela crítica e pela experimentação é, segundo Popper e os popperianos, uma dessas marcas. Localizar o erro e aprender com ele são propósitos permanentes de quem trabalha nos institutos e laboratórios de ciência... Só um cientista pode ficar feliz ao descobrir que, afinal, tinha ideias erradas.
Paul Feyerabend, nascido em Viena de Áustria tal como Popper (curiosamente morreram os dois no mesmo ano), foi aluno de Popper antes de se zangar com o mestre. Os motivos do desaguisado não são inteiramente claros, mas foram suficientemente fortes para acender uma polémica que se manteve durante largo tempo e que, embora os dois já tenham falecido, de certo modo ainda hoje persiste. É a dos amigos da ciência contra os seus inimigos.
Feyerabend começou por criticar não só o popperismo como o método científico de uma maneira que, por vezes, parece exceder os limites do bom senso e das boas maneiras. Os dois personagens estão nos antípodas um do outro. Um viveu na Inglaterra, o país onde a física, com Newton, se desenvolveu e onde há uma forte tradição de filosofia empírica, tendo sido professor na London School of Economics. O outro estabeleceu-se nos Estados Unidos, nomeadamente na Universidade de Berkeley, onde, apesar de haver uma boa escola de física, o multiculturalismo e o pensamento libertário obtiveram bom acolhimento.
Feyerabend escreveu, em 1975, um livro com um título claro: “Contra o Método”. Passou o resto da sua vida a justificar o que aí tinha escrito. Segundo ele, não só não existe método científico, como o racionalismo é um refinado equívoco, sendo Popper pouco menos do que um imbecil. Está-se já a ver que se trata de uma boa profissão de fé para um livre-pensador (um anarquista, mesmo), mas tudo junto, atado e pesado, não chega para fazer escola (nunca se viu, de resto, uma escola de anarquistas!).
"Contra o método" foi publicado em Portugal em 1993 pela Relógio d’Água. Mas dois anos antes vieram a lume entre nós dois livros que lhe fazem sequência. Um foi “Diálogo sobre o Método”, na Editorial Presença, e o outro foi “Adeus à Razão”, nas Edições 70. 0 primeiro inclui dois diálogos entre um popperiano e um feyerabendiano (o diálogo é aí usado na tradição de Galileu e Lakatos, mas sem nunca atingir a profundidade destes antecessores do género). A conversa do “Diálogo sobre o Método” é por vezes fiada, ainda que parecendo afiada. O feyerabendiano chega a ponto de defender a astrologia, as chamadas medicinas alternativas, e de ser saudosista do paraíso que se perdeu com o advento da ciência. Parece que Feyerabend não sabe que o número de astrólogos burlões ultrapassa de longe o número de cientistas fraudulentos, embora estes últimos obviamente existam. O leitor pode interrogar-se se o professor de Berkeley ia à bruxa ou ao médico em caso de doença grave. E a história do “paraíso perdido” só pode ser contada por pessoas que nunca andaram a lascar pedra no paleolítico ou não tiveram o azar de andar a cavar terra na época feudal. Não vale a pena perder muito tempo com o “Diálogo contra o Método”: um leitor culto que deite o olho inocente ao livro fica sem saber se o autor está a falar a sério ou se está a gozar.
“Adeus à Razão” é uma obra mais séria. Trata-se de uma colectânea de textos de tempos diferentes, alguns dos quais numa linha relativista (segundo os pensadores doo relativismo — Einstein que lhes perdoe! — tudo tem o mesmo valor e todos têm razão) e outros que, sem ir tão longe, se limitam a defender a “diversidade” contra a pretensa “uniformidade” imposta pelas regras da razão. Começa pelos gregos, passa por Galileu, defende a obra de Mach, no século XIX, e chega quase à actualidade, batendo forte e feio no que chama “excursões de Popper na filosofia”. Num capítulo sugestivamente intitulado “Galileu e a tirania da verdade” Feyerabend faz a apologia do cardeal Belarmini, que esteve envolvido no processo a Galileu, por esse príncipe da Igreja ter estado do lado das aparências e da tradição, quando o perigoso Galileu trazia a prova (observacional, matemática) e a ruptura. Não se compreende porque é que a Igreja reabilitou Galileu (passados escassos quatrocentos anos, mas as escalas de tempo eclesiásticas são diferentes!) e Feyerabend não. Ele é capaz de irritar o mais santo... Quando escreve, por exemplo e a propósito de Galileu, que "os cientistas modernos (...) transformaram as tribulações de um escroque ansioso num conflito de gigantes” está decerto à procura de polémica fácil. Sobre Popper, diz que “não passa de uma pequeníssima baforada de ar quente na chávena de chá do positivismo”. Não é preciso ser-se Popper ou popperiano, bastando conhecer um pouco do racionalismo crítico para se sentir escaldado com a metáfora.
Mas, dito isto, deve acrescentar-se que a vida seria muito menos interessante sem os provocadores. Refiram-se, por exemplo e no século XIX, as intervenções anti-científicas de Nietzsche, quando imperava um racionalismo cego e primitivo. Feyerabend, embora sem nunca fazer sombra a Nietzsche, é um provocador culto, que estudou história das ciências e até sabe escrever escorreitamente. Pode pois recomendar-se o “Adeus à Razão”, confiando que os seus leitores saibam decidir o que é razoável e o que não é. A Feyerabend faltou talvez a prática da ciência, que tiveram Kuhn, Lakatos ou Holton, para experimentar a emoção que advém da convivência quotidiana com a interrogação científica e o prazer que representa a procura incessante do erro.
O caso de Feyerabend mostra que um estudante de doutoramento, quando embirra com o supervisor, pode ficar traumatizado para toda a vida, o que talvez pudesse ter uma explicação freudiana (no espaço de língua alemã, de onde Popper e Feyerabend provêm, o supervisor do trabalho doutoral é chamado “Doktorvater”, o pai-doutor) se a psicanálise fosse científica (não é, assegurou Popper!). O autor de “Adeus à Razão” fala da relação com o mestre nos seguintes termos:... “assisti ao seu seminário, uma vez por outra o visitei e falei com o seu gato. Não o fiz de livre vontade, pois era o meu orientador: trabalhar com ele foi uma condição para o British Council me pagar”. Feyerabend completa a sua auto-justificação no final do livro, dizendo um adeus definitivo a qualquer razão: “Sempre gostei de discutir com os amigos sobre religião, arte, política, sexo, assassínio, o teatro, a teoria do quantum da medição e muitos outros temas. Nesta discussões, assumi ora uma posição, ora a outra: mudei de posição — e até a forma da minha vida — em parte como fuga ao tédio, em parte porque não me deixo influenciar (como uma vez Karl Popper comentou com pesar) e em parte devido à minha crescente convicção de que até a perspectiva mais estúpida e inumana tem mérito e carece de boa defesa”. Paul Feyerabend comportou-se, portanto, como uma espécie de Vasco Pulido Valente da filosofia da ciência: vê o que dizem os outros e defende, com visível talento, a opinião contrária. Se os outros mudam, é melhor, para evitar a influência alheia, adoptar depressa a tese oposta. Como nunca ninguém erra, permanecem todos sempre certos...
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24 comentários:
Uma vez tive a ocasião de traduzir para a Gradiva um excerto de um texto de Feyerabend, inserido num livro de Pagels. Comemorava o facto de um distrito escolar ter aprovado o ensino do criacionismo em lugar do evolucionismo.
Dizia ele que, não é que simpatizasse com os criacionistas, mas embirrava com a uniformização da verdade e com os entraves à dissidência.
De entre os milhares de linhas que já traduzi, essas ficaram-me sempre na memória pelo seu tom provocatório.
Penso que pessoas como Feyerabend são indispensáveis em todos os ramos da vida, pois são elas que nos chamam a atenção para coisas que nos escapam à atenção por andarmos sempre tão preocupados em olhar em frente.
É como se progredíssemos por uma galeria principal de uma gruta. A maior probabilidade de encontrar uma saída ou uma sala mais espectacular é progredir sempre pela galeria principal. Mas, a todos os instantes nos aparecem bifurcações, galerias laterais mais estreitas. A maior parte nunca chegará a ser explorada. Na verdade, quase todas acabam num beco sem saída. Mas, uma vez por outra, numa coincidência rara, esses caminhos secundários conduzem a achados maravilhosos. Achados que nunca encontraríamos se não fossem os dissidentes. Aqueles que se recusam a ir pelo caminho mais largo. São esses que, nos raros momentos em que descobrem que uma pequena abertura conduz a uma sala deslumbrante, provocam as grandes revoluções do conhecimento.
Os outros, limitam-se a seguir pelo caminho seguro, onde há mais possibilidades de ir encontrando novas passagens..
Mas, o que é mais curioso, é que os grandes gigantes que agora veneramos, como Galileu, eram feitos da mesma cepa que Feyerabend. Tiveram apenas mais sorte em encontrar a sala deslumbrante. Feyerabend morreu sem nunca ter encontrado mais do que caminhos sem saída. Mas é dessa casta de homens que saem as grandes descobertas que mudam o mundo.
Mais um post de Carlos Fiolhais, mais uma enxurrada de disparates. Começa a ser cansativo. Quando comecei a ler o posto até fiquei pasmado, pois julguei que o autor era o Desidério. O que se teria passado? Mas o nome de Carlos Fiolhais esclarece tudo. Não percebeu rigorosamente nada do pensamento de Feyerabend. Leu as linhas, perdeu a substância. Feyerabend é um crítico do chamado racionalismo duro. Aquele do método da razão rigorosa, mecanicista, das certezas apodíticas, da possibilidade de uma verdade absoluta. Foi um céptico, mas não é um irracionalista. Pelo contrário, sempre se bateu - tal como Popper - contra a interpretação ortodoxa da física quântica. Na mêcanica quântica orotodoxa vale tudo, até recorrer ao mais bizarro irracionalismo, como fez recentemente Aegean Bohr.Felizmente que hoje esta interpretação parece ter os pés virados para a cova.
Quanto à questão, que os físico teimam em não perceber, do relativismo, ela não é exclusiva de Feyerabend, nem uma moda local. Até Kuhn e Lakatos são interpretes dessa corrente. Mas o que podemos fazer quando o comum dos físicos ainda dá como seguro, e inquestionável, aquilo que até Hume e Berkeley mostraram que era duvidoso. Enfim, mais lixo Fiolhais.
Aage Bohr e não Aegean Bohr.
JLC,
diz:
"Quanto à questão, que os físico teimam em não perceber, do relativismo, ela não é exclusiva de Feyerabend, nem uma moda local."
Comete aqui um erro de palmatória. Não são os físicos que teimam em não perceber. Quando muito seria o relativismo que teima em não se saber explicar. Mas nem se trata de uma questão de teimosia. Trata-se de uma questão de insustentabilidade racional e de um erro que foi muito promovido: a de que as ideias absolutas conduzem a maus resultados. E conduzem! Mas o erro consiste em confundir a procura da verdade com a posse da verdade e imposição da mesma. O relativismo é que é perigoso. Qualquer ditador de meia tigela defende o relativismo para poder impor a sua IDiotice. De resto a um defensor do relativismo só tenho a dizer que acho o relativismo uma IDiotice. E que terá o relativista a dizer sobre a minha posição? Se é relativista nada terá a dizer.... de certeza.... a menos que só seja relativista por conveniência.
Por outro lado o JLC erra quando diz que os físicos teimam em não perceber o relativismo, mas não são os físicos que mais discutem essa questão, mas os filósofos (talvez por essa razão tenha confundido o autor do post). Pensar que a questão do relativismo - racionalismo se reduz à física é redutor, uma vez que a discussão alarga-se desde a filosofia moral à filosofia da ciência. Creio que sabe disto. A menos que o comentário do JLC só visasse ofender o Carlos Fiolhais e, nesse caso, não há qualquer discussão a fazer!Se não quis ofender, acabou por criar uma ilusão muito grande de que queria, o que é pena.
Em relação ao post de Carlos Fiolhais, não vejo nada de errado com ele.
Rolando Almeida
Caro Rolando:
É quase uma evidência histórica. Fora da Filosofia - onde pertence o relativismo, têm sido principalmente os físicos a oporem-se ao relativismo. Tantas e tantas vezes manifestando uma clara ignorância em relação à profundidade que algum relativismo têm. Veja-se o famoso caso Sokal (aqui em relação ao Pós-Modernismo) para se perceber a confusão de grassa na cabeça de tantos e tantos físicos. Fogem e renegam Deleuze - por exemplo - como um beato foge de um hereges. Não sou relativista. Como não sou empirista, fisicalista, cepticista, idealista material, filósofo literante ou analítico, entre outras coisas. Mas, meu Deus, é preciso ser-se sério e perceber que, tal como na física, no relativismo há muito lixo, mas há igualmente ideias profundas e que devem ser bem trabalhadas. Algo que, manifestamente, muitos físicos, com as suas certezas ingénuas, não o fazem. Foi isso que o Fiolhais fez aqui ao pobre do Feyerabend, que, pese o estilo, foi um grande pensador e pode não ser reduzido àquilo a que Fiolhais pretendeu - por manifesta ignorância - reduzir. Veja-se o desplante: " A Feyerabend faltou talvez a prática da ciência, que tiveram Kuhn, Lakatos ou Holton, para experimentar a emoção que advém da convivência quotidiana com a interrogação científica e o prazer que representa a procura incessante do erro.
O caso de Feyerabend mostra que um estudante de doutoramento, quando embirra com o supervisor, pode ficar traumatizado para toda a vida, o que talvez pudesse ter uma explicação freudiana"
Como o pensamento de Feyerabend fosse apenas fruto de uma embirração com Popper. Uma infantilidade. Uma birra. E como a falha do pensamento Feyerabend morasse na falta de praxis científica deste. Afirmação perfeitamente imbecil, especialmente quando um dos grandes relativista do século XX foi precisamente alguém com formação profunda em Física: Kuhn.
Por fim, não deixa de ser engraçado observar a forma como os físicos igualmente não perceberam Popper, nem sequer praticam a metodologia Popperiana. E como engraçado ver que a física é, afinal, o campo, por excelência, de Kuhn, Lakatos e Feyerabend. Se dúvida, passe uma vista de olhos pelas Physical Review e pelas Foundations of physics letters
O que nos conduz, no fim de contas, a reconhecer que Feyerabend tinha alguma razão.
Isto é o resultado de fazer leituras com base em preconceitos. Se lesse Feyerabend atentamente, estou certo de que teria escrito algo melhor ao nível do que costuma
escrever. Mas limitou-se a dar uma visão redutora de um pensamento que, apesar de muito contestável, escreveu uma página importante da crítica científica. Feyerabend pode ser muito criticável, pode até ter sido muito pouco rigoroso em determinados escritos seus - ele próprio se assumia como um provocador nato -, mas não chega reduzir o seu trabalho a uma espécie de brincadeira académica. Defendo vivamente a leitura dos trabalhos de Feyerabend, pois não é por acaso que, mesmo sendo representante de uma crítica que se pode tomar como algo exagerada, Feyerabend ficou na história da epistemologia. Bem sei que o racionalismo gostaria de existir incontestado, mas para isso não chega tomar uma atitude redutora perante discussões muito úteis.
Aliás, a sua crítica é tão redutora e, se me permite, em certa medida tão infantil, ao ponto de eu não conseguir perceber como se digna a escrever uma página sobre um individuo tão inútil e com ideias tão ridículas como o Feyerabend. Se ele fosse assim tão insignificante, certamente que o Carlos Fiolhais não se dedicaria a escrever tal texto.
Mais: se toda a sua crítica se baseava num ódio gratuito a Popper, como consegue explicar a sua grande relação de amizade e profissional, tendo produzido inclusivamente trabalhos juntos, com Lakatos? Lakatos, certamente que o Carlos estará consciente disto, era um falsificacionista, tal como Popper, e foi dos indivíduos que mais contribuiu para a solidificação da teoria popperiana.
De resto, se conhecesse um pouco mais da vida de Feyerabend e até de alguma da sua produção fora da epistemologia, iria perceber que o filósofo foi tudo menos anarquista, no sentido político do termo, e estava muito longe de o ser. Face ao facto de o apontarem como sendo anarquista, por classificarem as suas ideias como "anarquismo epistemológico", Feyerabend mostrava-se mesmo ofendido e anulava por completo a possibilidade de estar associado a tal ideia. Era, tal como Popper, um liberalista.
E esqueci-me de referir outra coisa importante: Feyerabend estudou física ainda antes de ter conhecido Karl Popper, salvo o erro. E, segundo sei, esse período teve tanta influência nas suas ideias futuras quanto o seu contacto com Popper.
Este texto do Professor Fiolhais é tão grave, pelo menos num blogue com a qualidade do De Rerum Natura, que achei que tinha obrigação de o contestar com algum detalhe, não apenas aqui nos comentários, mas no meu próprio espaço. É o que que faço em http://maquinaespeculativa.weblog.com.pt/2007/05/18/cientistas_e_filosofos_haja_de
o sr rolando também quer um autógrafo do sr carlos fiolhais? não bastava um do sr. desidério? Como se reclama tanto da filosofia, convém que siga uma práticaque está na sua essência, a de não partir para uma disputa minado por ideias previamente concebidas e a de não ceder tão facilmenteao argumento da autoridade. Está bem que os autores do blog têm desenvolvido bons trabalhos nas suas áreas, mas daí não me pareceque justifique essa reverência toda.
Para além de acusações várias, ha algo que se destaca neste texto (como em muitos do Desidério, sobretudo quando ataca pessoas ou correntes de que não gosta): ausência total de argumentos e discussão das ideias do filósofo em causa. El é birrento, infantil, relativista, etc...
Sobre se o que ele diz faz ou não sentido, nem uma linha. Para além de ser triste é intelectualmente empobrecedor.
O que eu sei é que nao há nenhum gajo que ande para aí a investigar o gap de um novo semicondutor, ou outra coisa qualquer das ciencias naturais, que se importe minimamente com o que disse o Feyerabend ou o Popper, a maior parte nem sabe quem eles sao, e nao é por isso que as televisoes e os satelites deixam de funcionar bem. Nao é de admirar que o pessoal nao os conheca porque os gajos nunca publicaram nada na área das ciencias, eles apenas se limitaram a mandar uns bitaites sobre como fazer aquilo que eles nunca fizeram, o que no meu entender é um pouco estranho...
As filosofias e as religioes nao interessam para nada porque ha grandes cientistas que sao muculmanos, outros catolicos, hindus, e outros mesmo que sao supersticiosos, mas isso tudo nao interessa para nada, o que interessa é que as coisas resultem, que funcionem, e mai nada!
O que eu vejo por aqui é gente com muita treta, demasiada treta e muito pouco trabalho!
Boa continuacao e bons posts!
luis
Err...Anónimo Luís, o Popper teve também trabalho científico puro e duro. Quanto à profunda estupidez do que escreveu, se acha que a ciência é tecnologia ou engenharia,
se acha que o conhecimento se esgota no saber fazer. então, de certo modo, acaba por dar razão aos alertas de Feyerabend e Popper. O seu pensamento é mais anti-científico possível. Mais atentatório à Ciência que qualquer relativismo. Mas não se preocupe, o Fiolhais também ainda não percebeu isso.
Penso que tenho o direito de deixar aqui a minha indignação por, frequentemente os autores dos posts deste blog serem insultados nestas caixas.
Estas caixas de comentários existem para os visitantes poderem concordar ou discordar dos posts que comentam. E até podem dizer porquê.
Insultar os autores é uma atitude que me escuso a adjectivar porque tenho a certeza que há muita gente que não anda a dormir.
Artur Figueiredo
Agradeço os comentários, favoráveis ou desfavoráveis. As manifestações de opiniões contrárias são muito saudáveis e só tenho pena de o tempo - que tenho de dedicar a muitas tarefas -não me permita aprofundar algumas discussões. Já não me parecem ser saudáveis os insultos, nomeadamente os que são feitos sob a protecção do anonimato. Quem insulta mostra em geral ignorância, pois raramente se vê um sábio exaltado. Para benefício de todos, ignoro completamente esse tipo de intervenções.
Carlos Fiolhais
Só faltava aqui o Feynman a mandar umas bocas sobre as "ciencias", como a psicologia, as tais a que ele chamava "ciencias do culto da carga" para o jlc se mandar mesmo ao ar!
Claro que há outros saberes para lá da ciencia pura.
luis
"O outro estabeleceu-se nos Estados Unidos, nomeadamente na Universidade de Berkeley, onde, apesar de haver uma boa escola de física, o multiculturalismo e o pensamento libertário obtiveram bom acolhimento."
Uma coisa invalida as outras?
Também não percebi por que razão deu a entender que o pensamento anarquista vá contra a ciência; é uma interpretação de "anarquista" preconceituosa e falsa.
Note-se o que Carlos Fiolhais escreveu no seu comentário: "Quem insulta mostra em geral ignorância, pois raramente se vê um sábio exaltado. Para benefício de todos, ignoro completamente esse tipo de intervenções."
Sublinhe-se a pretenciosa conjunção "raramente se vê um sábio exaltado" e "Para benefício de todos, ignoro completamente esse tipo de intervenções."
Observe-se, por fim, que neste post, como quase todos os que comentaram
assinalaram, há não só erros grosseiros de facto em relação ao contéudo do pensamento de Feyerabend, como há diversos insultos - sob a forma de reduções infantis - a este filosófo. Esquecendo-se, ou tomando a ignorância pura, que todos os grandes pensadores - e Feyerabend foi um deles - merecem o nosso humilde respeito. Por mais que discordemos deles. Sendo que, para deles discordarmos temos, primeiro, que os estudar com atenção.
Que se julgue então que é principal autor dos insultos e quem é principal ignorante.
Caro Anónimo luís: O Feynman um dia escreveu: "Para se ser considerado um filósofo profundo é necessário tão-só dizer generalidades compreensíveis por toda a gente."
Isto mostra bem o profundo estado de ignorância de Feynman sobre a filosofia. Seria algo tão disparatado como alguém afirmar que para se ser físico quântico é necessário tão-só saber somar e subtrair.
Para o Carlos: voce deve ter montes de problemas quanto ao perguntar as horas ou uma morada na rua a algum estranho!! Sera que voce para perguntar as horas a um estranho tem que lhe pedir o BI?! Deixe-se de tretas, eu sou anonimo, nunca o insultei, e venho ca porque gosto de ler o blog! Deixe-se de manias sem logica, isso nem parece de um fisico! Fale conosco a vontade! Eu ate sou seu fa!
Para o jlc: porque e que me tratas por anonimo se tu ainda es mais anonimo do que eu, nao passas de uma sigla! Vou-te dizer uma coisa que e certa: tu nao sabes nadinha da mecanica quantica, eu apostava! Deixa-te de tretas, tomaras tu saberes metade do que sabia o Feynman! Saber filosofia e muito facil, basta saber ler, nao e preciso saber matematica! Agora, tu, para saberes o que e um operador hermitico ainda tens que comer muita sopa durante uns anos!
Nao leves a mal o meu tom, eu sou um bocado feynmanesco! xau!
luis
Se fosse o anónimo Luís, eu não apostava. Especialmente quando a probabilidade do seu sentido de aposta é semelhante -seilá- à probabilidade de transição de uma qualquer partícula quântica através de uma barreira de potencial infinito. Mas olhe que até gosto bastante dos operadores quânticos. Especialmente do operador tempo.
jlc, essa coisa de potenciais infinitos e demasiado filosofica, era melhor que falasses de barreiras de potencial finito, coisas mais reais, onde eu tenho mais hipoteses de tunelear! Estou a ver que les qualquer coisita de divulgacao cientifica, o que ja nao e mau!
luis
Pois, potenciais infinitos é demasiado filosófico...Pouca sorte a minha. É que no tempo em que fiz a minha licenciatura na área de física na FCUL, eles ainda entravam nas cadeira de mecânica quântica. Sei lá, em problemas de poços de potencial, ou de caixas...Mas agora faz parte da filosofia. Pois, tenho estar mais atento e deixar de me preocupar com problemas de velocidades supraluminares em óptica quântica.
jlc, carississimo colega, onde e que arranjas tu pocos de potencial infinitos na vida real?! Ate o universo, o tal, parece que e finito, por isso...
Nao te preocupes, para ja o c e ainda um cinal de garantia, e um c ceguro!
Deixaste a fisica, estas a fazer alguma posgraduacao em filosofia? Pareceu-me que teras um certo jeito para isso...
Ate logo!
luis
Comentário recebido de uma amiga nos EUA que, por qualquer razão, não consegue postar.
Carlos Fiolhais
Olá Carlos,
Verifico que foste atacado, no teu blog, de forma violenta, pouco elegante, com linguagem vulgar, na sequência do teu post sobre Popper e Feyerabend. Por acaso, e eu não percebo nada de filosofia, o Feyerabend é um dos meus filósofos preferidos. Gostei de ler os livros dele quando fazia o mestrado em história das ciencias na FCT, UNL e digo-te que nessa altura li o “diálogo sobre o método” numa noite (bom, aí tenha menos de mais 10 anos do que agora (está certo?) J). Li também “contra o método” e o “adeus à razão” e fiquei com simpatia pelo autor, exactamente pela sua ousadia.
Mas o meu email para ti tem o fim de te sugerir que a comentários insultuosos talvez devesses atirar com respostas do tipo: “Do not reprove a scoffer, or he will hate you; reprove a wise man, and he will love you” in Bible, proverbs 9:8. Ou então esta: “Silence is the most perfect expression of scorn” in George Bernard Shaw, Back to Methuselash: A Metabiological Pentateuch, 5, 1921….
Continuo a não conseguir fazer comentários no teu blog, a partir do meu laptop (um Dell que me atraiçoa!:)). Ainda hoje tentei um “test” e não apareceu no teu blog .
Bjis e continuação de bom trabalho,
Elvira
PS – não me importo que divulgues a minha posição.
Maria Elvira Callapez
University of California
Office for History of Science & Technology
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