Com a exaltação da beleza patente na escultura da deusa Atena Nike (Atena que traz a vitória) aqui reproduzida, terminou José Ribeiro Ferreira, na passada terça-feira, um ciclo de palestras abertas ao público dedicadas à Arte Grega, mais precisamente à beleza da e na Arte Grega.
Tratou-se de um ciclo dos vários que a livraria e editora Minerva, de Coimbra, tem vindo a concretizar ao longo dos anos e nos quais a Universidade desta cidade tem colaborado com regularidade, através de muitos daqueles que estimam o conhecimento e gostam de o comunicar.
Desta vez - ou melhor, mais uma vez -, foi o Instituto de Estudos Clássicos da Faculdade de Letras que se dispôs a co-organizar, quatro palestras com carácter sequencial, que decorreram entre 17 de Abril e 22 de Maio e se subordinaram aos títulos: Tipologia dos monumentos e arquitectura; A escultura grega: preliminares e época arcaica; Tipo de escultura grega: época clássica e período helenístico; e A pintura grega.
"Em Busca da Beleza" foi, em boa hora, a designação atribuída ao dito ciclo e, por isso mesmo, só no final a refiro, com o propósito de acentuar o seguinte:
1. Todos os saberes de que dispomos foram, obviamente, construídos por pessoas. São também as pessoas que, no presente ou no futuro, os podem valorizar e, se for o caso, reconstruir. Mas, para isso, e antes de mais, têm de ter acesso a eles;
2. Em certas áreas, como é o caso da Cultura Clássica, esse acesso não é fácil, pois o sistema educativo que deveria assumir, em primeira instância, tal compromisso, uma vez que todos passam por lá, tem-lhe atribuído uma importância reduzida, parecendo, neste momento, ser seu propósito encaminhá-lo para a extinção;
3. Assim se justifica e compreende que, fora desse sistema, tanto os que sabem como os que querem saber, se unam cada vez mais em “busca” da beleza que é inerente a todos os saberes. É essa, e só essa, disponibilidade para ensinar e para aprender que poderá manter os saberes vivos, ainda que estes se situem em tempos distantes;
4. Toda a gente tem responsabilidade nessa tarefa sempre inacabada de manter os saberes vivos. Penso que é por perceberem isso que algumas pessoas se encontram em certas tardes e serões na Livraria Minerva.
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5 comentários:
No Colégio Rainha Santa Isabel em Coimbra, os meninos do 5ª e 6º anos têm uma disciplina que se chama qualquer coisa como "Raízes Greco-Latinas da Civilização Ocidental" e a partir do 7º ano, obrigatoriamente Latim.
Cara Helena,
Manter os saberes vivos, é tarefa e responsabilidade de todos. De acordo, mas como exercer tal função ou papel, se este parece remetido para segundo plano ou mesmo extinguir-se das principais funções do professor?
Este post devia ser de leitura obrigatória pela tutela (uma leitura atenta, reflectida)... pois, há que perceber, de uma vez por todas, que o saber é fundamental e o saber erudito não é substituível por testonovelas, pelo saber popular, porque este já os alunos trazem de casa, para quê aprendê-lo? Há que respeitar a condição do aluno mas não ensinar-lhes de acordo com ela. Isso iria acentuar ainda mais as desigualdades de oportunidades se, por exemplo, fossem desenhados curricula para meninos de bairros de elite e curricula para meninos de bairros desfavorecidos. Aplicar à letra esta medida, como preconizam (Steiner e Ladjali,2005, Damião e Festas, 2006) só irá acentuar as clivagens sociais, criando situações de grande injustiça e acentuando as desigualdades sociais, pois, virtualmente, poder-se-á estar a impedir que algumas crianças cheguem a determinadas aprendizagens de carácter mais erudito que, apesar de não estarem de acordo com a sua condição de nascença, podem ser a sua “vocação".
Só uma pergunta: para quê o "Prof. Doutor" antes do nome de José Ribeiro Ferreira? Desculpem-me lá mas, se há coisa em que este blogue deveria dar o exemplo, é neste aspecto!
Ainda a propósito do tema em debate, e em abono da verdade, não podemos passar o tempo a culpabilizar a tutela por todos os males da educação. Também é verdade que temos alguns professores (ainda que não seja a maioria) que se recusam a transmitir conhecimentos, a ensinar… isto tudo desculpabilizando-se com as modas da contextualização e relativização das aprendizagens… Não ensinar, recusar-se a ensinar o saber erudito… é à luz dos conhecimentos actuais uma falha gravíssima que pagaremos bem caro num futuro muito próximo… e que já se vai sentindo à entrada das Universidades...
“O amor à cultura cultiva-se”, é o título de um artigo que escrevi há algum tempo e que ficou inacabado e esquecido no disco do PC… hoje, lembrei-me dele a propósito deste post. Iniciava a reflexão com uma frase de Roberto Carneiro «Na sociedade do conhecimento, na era da inovação permanente e num mundo organizado em rede, os professores podem ser os obreiros de um novo iluminismo educativo».
ENSINAR é a função principal do professor e isso não é incompatível com a inovação… não podemos cruzar os braços e ficar à espera que as crianças, adolescentes… descubram todo o conhecimento que levou milhares de anos a construir… a ideia de que é altamente motivador para os alunos a descoberta do conhecimento e de que o professor deve ser um mero facilitador… é uma ideia falaciosa e que não leva a lado nenhum, a não ser ao abismo… isto só irá acentuar as desigualdades sociais… se os filhos de Engenheiros, Deputados, Médicos, Advogados… nem precisam da escola para serem estimulados para necessidades de cultura, estética (música, pintura, poesia…), porque já o são (ou podem ser), em casa, o mesmo não acontece com os filhos da grande maioria dos pedreiros, dos empregados fabris, das empregadas de limpezas, dos desempregados…que lutam antes pela satisfação das necessidades básicas.
Apesar de alguma nebulosa no panorama educativo, podemos e devemos fazer qualquer coisita para melhorar o estado actual da educação. Diria, temos o dever de ser optimistas como diz F. Savater e de ter como alento a esperança de Voltaire: «Amanhã tudo será melhor…». Ao contrário do que se possa pensar, essa tarefa é árdua, implica muita dedicação e acresce a nossa responsabilidade de profissionais da educação (particularmente dos professores). Por isso, a escola pública tem a responsabilidade de esbater essas clivagens sociais e não reproduzi-las como parece estar a acontecer… a responsabilidade também é nossa (dos professores – grupo onde me incluo, por vocação). Uma difícil mas nobre missão que merece ser assinada a fino oiro, como nos recorda Hannah Arend: «Quem pretende educar converte-se, de certo modo, em responsável pelo mundo, se lhes repugna essa responsabilidade, mais vale dedicar-se a outra coisa e que não estorve».
Cara Helena:
Excelente post!
Cara Fátima:
Excelentes comentários!
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