O Conselho Nacional da Educação é um órgão consultivo independente, no qual participam representantes de diversas entidades do país com ligação ao sistema de ensino. A sua principal função é contribuir, dentro das atribuições que lhe estão alocadas, para melhorar o sistema. Presume-se que, quando o Presidente do órgão se pronuncia, veicula uma sensibilidade colectiva do que é o melhor, do que beneficia os aprendizes que estão no sistema. Posto isto, deixo aqui um apontamento elaborado a partir de uma notícia da Agência Lusa do dia 25 deste mês (ver aqui).
Reconhecendo a gravíssima falta de professores no sistema, registada em diversos documentos produzidos pelo Conselho, nomeadamente no ainda recente Relatório do Estado da Educação 2023 (ver aqui), numa recente audição na Comissão Parlamentar de Educação e Ciência, o referido Presidente
"... sugeriu que o ensino ‘online’ pode ser uma das respostas para mitigar o impacto nas aprendizagens da falta de professores (...). «Não sei se já estamos a explorar devidamente as potencialidades da formação ‘online’, se não necessitaremos de pensar mais acerca desta matéria».
A ideia de "apoiar os alunos que estão sem aulas" parece sensata: na verdade, sabemos que a sua aprendizagem fica comprometida nessa circunstância. Mas, devemos perguntar:
- que alunos serão "apoiados"? Por certo aqueles que estão na escola pública, e em zonas do país onde a falta de professores é mais acentuada. Além disso, a palavra "apoiar" não traduz, de modo algum, o direito constitucional que todos têm à educação escolar, em igualdade de oportunidades;
- se as máquinas não funcionam sozinhas, quem será responsável pelo seu funcionamento? Professores não, que os não há. Mas há fundações e empresas (privadas) dispostas a "ajudar", sendo que algumas delas já estão a "ajudar" dentro do próprio sistema, individualmente ou interligadas. O certo é que se estão a dar passos seguro para legitimação destes "parceiros"
Na notícia diz-se também que, na perspectiva do mencionado Presidente,
"a aposta na formação inicial de professores não permite responder ao problema a curto prazo".
Estando, desde há longa data, implicada nessa formação não posso concordar com esta declaração, que considero conformista. De modo propositado ou por mero desleixo, o Ministério mas também as instituições responsáveis pela formação deixaram que a situação chegasse aos níveis a que chegou; situação que não é, de resto, exclusiva do nosso país. A promessa de "fazer mais com menos", recorrendo às novas tecnologias digitais, é deveras aliciante e não podemos, portanto, excluí-la dessa situação, ela deverá ser escrutinada.
Ministério, Conselho Nacional de Educação, Universidades e Institutos Politécnicos deveriam ter a mesma vontade de superar a falta de professores e coordenar esforços para a fazer valer: envolver potenciais candidatos a professores e proporcionar-lhes uma formação digna desse nome. Apelando tanto à inovação e à criatividade, esta é uma ocasião que justifica o materializar destas palavras.
Haverá (tem de haver) solução para tão grave problema. Essa solução não pode, no entanto, deixar de preservar a essência do ensino e da aprendizagem em sala de aula, no quadro da relação pedagógica, absolutamente essencial na constituição do humano.
Podemos não conseguir encontrar uma solução no imediato, para este mês, para este ano; mas temos obrigação moral, ética de encontrar uma solução a curto prazo, sim. É que o que está em causa é demasiado importante para ser deixado para depois e/ou entregue a máquinas. Afinal, como disse José Morais dizer numa conferência realizada em 2017 na minha Universidade: "o futuro da humanidade depende de nós, dos que têm alguma responsabilidade na educação".
5 comentários:
Título confuso!
O problema candente da falta de professores é grave, mas não é tão grave como possa parecer à primeira vista. Muito mais grave é a deliquescência de que padece atualmente todo o edifício escolar. A qualidade do ensino, assente no princípio abstruso de que é preciso ensinar pouco, quase nada, para que os alunos aprendam muito, quase tudo, é péssima. Depois, no âmbito comportamental, tolerar-se, em contexto de sala de aula, a indisciplina e violência de alguns alunos delinquentes, sujeitos a penalizações ridículas, impedindo o professor de lecionar, é muito mais grave do que não ter aula por falta de professor.
Concluindo, se começarem, desde já, a tratar bem os professores, a nível profissional, o problema da falta de professores resolver-se-á a curto prazo, haja em vista, os milhares de licenciados, mestres e doutorados que todos os anos saem das nossas universidades e politécnicos que, se for necessário, poderão concluir as cadeiras pedagógicas, simultaneamente com exercício da sua profissão, como se fazia antigamente, quando a qualidade do ensino era boa.
Muito obrigada por ter notado o engano. Já emendei. Cordialmente, MHDamião
Ser burro não é um insulto de má qualidade! Está escrito no texto divino! É uma personagem da história no estábulo da humanidade.
Não é bonito.
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