domingo, 22 de outubro de 2023

A REVOLTA DOS ALUNOS LICEAIS CONTRA OS UNIVERSITÁRIOS NA COIMBRA DOS ANOS DE 1930

No Diário de Coimbra de hoje, é recuperada uma notícia publicada no mesmo jornal em 1934 que dá uma visão pior da vida académica do que aquela que temos hoje, não obstante os muitas excessos das praxes.
 

Eis a importância de revisitar a história, por exemplo, através dos jornais:

 
"Os alunos dos liceus de Coimbra – “bichos”, na terminologia da praxe académica – eram alvos frequentes das trupes que após o anoitecer percorriam a cidade em busca de “tresmalhados”, caloiros em especial mas também outros estudantes de “categoria inferior” na hierarquia praxística, que ao desrespeitarem o toque vespertino da cabra de recolher para o estudo, e sen­do apanhados em zonas que não lhes eram permitidas, se sujeitavam a humilhantes cortes de cabelo e outros vexames. 
A 20 de novembro de 1934, os alunos dos liceus José Falcão e Júlio Henriques (ambos instalados no Colégio de S. Bento, na Alta da cidade) mobilizaram-se num protesto contra a praxe dos universitários, cujas práticas também os abran­giam. Após reunirem para deliberar, juntaram-se às 16h00 na Praça da República e seguiram «em manifestação pa­ra a Baixa, até à Rua Ferreira Borges, onde tiveram de dispersar por se terem dado vários conflitos com académicos, que obrigaram a polícia a intervir», relatou o Diário de Coimbra na edição do dia seguinte."

Maria Helena Damião

1 comentário:

Anónimo disse...

Convém relembrar que o fundador dos liceus no século XIX, Manuel da Silva Passos, era filho de um grande negociante de vinhos do concelho de Bouças. Nos anos trinta do século XX, a maioria dos poucos matriculados na universidade provinham das classes mais favorecidas de Portugal, um país onde se passava muita fome nos campos e nas cidades. Tal como quando um indivíduo aparecia no bairro com sapatos novos e toda a malta lhe pisava os pés, também os caloiros, quando entravam na antecâmara do poder e do dinheiro, eram sujeitos a estúpidas humilhações por parte dos "doutores" mais imbecilizados.
Porém, não podemos dizer que a "vida académica", em plena vigência do regime democrático, esteja melhor do que estava há cem anos. No dia 13 de dezembro de 2013, a jactância delirante das praxes, feitas por duxes, caloiros, segundanistas, terceiranistas, quartanistas e quintanistas, de uma universidade privada, acabou em tragédia com a morte de seis estudantes. Infelizmente não foi um caso pontual, como dizia a outra!

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