segunda-feira, 12 de junho de 2023

In memoriam — Nuccio Ordine

In memoriam
Nuccio Ordine (18 de julho de 1958 - 10 de Junho de 2023)

Por Isaltina Martins e Maria Helena Damião

Ficou mais pobre a cultura, calou-se uma voz, mas ficará a sua obra em defesa da importância do professor, do ensino, do conhecimento, das Humanidades e da Humanidade. 

Nuccio Ordine, um Professor, um homem das Letras, da Literatura e da Cultura Clássica. Um divulgador do legado europeu, que dizia com tristeza: 

"Não há uma Europa da cultura. Há uma Europa do comércio, uma dos bancos uma das finanças... mas não da cultura." 

De uma entrevista dada no mês de Janeiro de 2023 (aqui) extraímos algumas ideias:
"Esta ideia de profissionalizar o estudo no ensino é uma loucura total. A melhor resposta a tudo isto encontra-se em Aristóteles: quando lhe perguntaram na sua época para que serve a filosofia, respondeu que era inútil. Não serve porque a filosofia não é servil, a filosofia ensina-te a ser um homem livre. 
Quando surge esta ideia do saber útil, de profissionalizar a escola, de olhar unicamente para o mercado, significa que perdemos totalmente a ideia da importância do conhecimento como experiência em si: estudar para ser melhores. 
É muito importante alimentar o corpo para viver, mas se não alimentarmos também o espírito, o homem não pode encontrar-se. 
Estou convencido de que hoje em dia parece ser fundamental a importância de um bom professor. No entanto, muita gente pensa, pelo contrário, que é necessário investir muito dinheiro em tecnologia mas não se formam nem se remuneram adequadamente os professores. E isso é uma estupidez: um bom professor pode ganhar pouco, mas é fundamental para o futuro de uma nação e dos seus jovens. 
A dignidade do ensino é quase inexistente em todo o mundo, porque hoje o valor da pessoa é o dinheiro que ganha. A mercantilização da educação é internacional. Em todo o mundo há esta ideia de pensar que o estudo deve estar ao serviço de uma profissão. 
Penso que os estudantes devem escolher as disciplinas que amam e que a paixão é melhor que o dinheiro. Porque a paixão pode fazer com que possamos viver uma vida feliz. 
Conheci muita gente que tem muito dinheiro, mas que não é feliz, porque está a fazer um trabalho só para ganhar cada vez mais dinheiro. Se se ama o trabalho que se realiza, a situação muda. 
Eu sou um homem feliz porque em cada dia da minha vida me levanto e me pagam para fazer coisas que para mim não são um trabalho, são a alegria da minha vida."

1 comentário:

Anónimo disse...

Triste notícia!
Nuccio Ordine entendia a importância da cultura. Sem aspirações mais altas do que apenas poder vir a ganhar muito dinheiro, os alunos das escolas perdem-se facilmente nos caminhos da vida. Veja-se o exemplo do chamado ensino profissional: o que interessa, sobretudo, às instituições da europeias que co-financiam este sistema de ensino, que não prevê reprovações, é o número de horas infindáveis e obrigatórias que formandos e formadores passam no interior de quatro paredes, em escolas ou iinstalações industriais. Se alguém faltar, nem que seja por motivo de greve ou por doença, sejam formadores ou formandos, têm sempre de repor, mais tarde, o número de horas em falta. As "sessões formativas" desenrolam-se quase sempre num ambiente de selvajaria, portanto a cultura não tem condições para fazer parte destes "cursos profissionais". Quanto às profissões, muitos acabam a carregar caixotes...

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...