quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

JOSÉ PACHECO PEREIRA

Por Eugénio Lisboa 
À medida que avançamos 
na vida, apercebemo-nos
de que a coragem mais rara 
é a coragem de pensar. 
Anatole France.
La Vie Littéraire

A Sociedade Portuguesa de Autores acaba de atribuir o Prémio VIDA E OBRA a José Pacheco Pereira. Dificilmente poderia ter escolhido melhor. José Pacheco Pereira situa-se naquela nobre linhagem de clercs que, como o Padre António Vieira, Alexandre Herculano, Raul Proença, António Sérgio ou Jaime Cortesão, souberam gerir a nobre missão de serem incómodos. 

A melhor maneira de ser incómodo é não ter medo de pensar e, depois, dizer sempre o que se pensa. Coisa raríssima, querer pensar: Huxley observava escarninhamente, que pensar é a excepção à regra de não pensar. 

Mas não chega pensar: quando o pensamento pode incomodar muita gente, há duas escolas de pensamento, uma mete a viola no saco ou diz o que não pensa, a outra diz mesmo o que pensa, venha a tempestade que vier.

No nosso milieu intelectual, abundam sobretudo os que fazem cálculos de interesses e futurologias de cargos e sinecuras. Antes de porem cá fora o que pensaram, calculam os custos e quase sempre concluem que são demasiado elevados. Os outros – um número muito reduzido – decidem que tem melhor estética ser destemido e que, além disso, como observava Shaw, ninguém se diverte tanto como a pessoa que diz o que pensa: é só ver o ar atabalhoado dos que assistem ao exercício. 

José Pacheco Pereira, armado de uma grande cultura (não só política) e de uma intrepidez à prova de bala, quando fala, escreve ou actua, deixa-nos sempre a grata impressão de pertencer a um único Partido: o da Inteireza do pensar e do “franc parler” que Stendhal tanto estimava. É pois parte integrante do melhor que o nosso património cultural tem para legar aos vindouros. Assim seja e bem haja. 

Eugénio Lisboa

4 comentários:

MM disse...

Bravo!

Carlos Fiolhais disse...

Raramente comento. Desta vez faço-o para manifestar o meu apoio à posição e Eugénio Lisboa.

Alberto disse...

José Pacheco Pereira é um insigne homem de letras que também sabe dar valor às artes plásticas e às ciências galileanas. Portugal está mesmo a precisar de um homem com a sua craveira para sobraçar a pasta da educação que, nos amargurados dias que vivemos, vai de mal a pior. Na primeira oportunidade que surja, num ciclo ordinário, ou extraordinário, de eleições, alcemo-lo a ministro!
Sua Excelência não deixará de tomar as medidas que se impõem para retirar a educação pública do lamaçal para onde a atiraram algumas organizações internacionais, com a conivência de grandes teóricos da nossa praça, como Adriana Cosme e Domingos Fernandes.
As principais medidas a tomar são:
- Aumento dos salários dos professores para valores dignos;
- Restituição da autonomia técnica e pedagógica aos professores;
- Revalorização do ensino: os alunos precisam de saber muito e de professores que os ensinem;
- Acabar com a violência e reduzir drasticamente a indisciplina na escola: sem disciplina não há ensino nem aprendizagem;
- Extinguir, por despacho, a carreira única dos professores dos ensinos básico e secundário e dos educadores de infância, ou, em alternativa, instituir a carreira única dos professores dos ensinos universitário, politécnico, secundário, básico e dos educadores de infância.

João Boavida disse...

Pacheco Pereira é, de facto, um homem muito culto, clarividente e corajoso, o que, nos tempos que correm, é metal muito raro..

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