Texto de Eugénio Lisboa:
Acabo de receber uma bela reportagem fotográfica sobre África, onde vivi, ao todo, trinta e oito anos inesquecíveis. Mas, a esta reportagem sobre o meu continente natal, fiz o doloroso comentário que transcrevo e que em muito transcende o que se passa no continente africano:
“A África é colorida, quente, generosa e mal
governada. Foi mal governada por brancos e é pior governada por negros. Os
brancos exploravam, os negros saqueiam. Mas a África é grande e bela, os homens
é que dão cabo dela. Gosto mais do leão, da gazela, do elefante, da girafa, do
camelo, do que gosto do homem. Os bichos não destroem a vida no planeta. Os
bichos estão só no planeta. Os homens apropriaram-se do planeta. Quando o homem
se tornou inteligente, a vida no planeta começou a ficar ameaçada. Quando o
homem se tornou muito inteligente, a vida no planeta começou a definhar. Quando
o homem se tornou ainda mais inteligente, a vida no planeta começou a chegar ao
fim. Na obra de Dostoiewsky, o homem inteligente é uma representação do diabo.
Talvez tenha razão. Aliocha era a bondade que salva e cura, mas Ivan era a
inteligência que perverte e destrói. São duas personagens de OS IRMÃOS KARAMAZOV,
espantosa fábula premonitória.
Eugénio Lisboa
1 comentário:
Penso na frustração que atingirá qualquer cientista por não poder operacionalizar o seu conhecimento e a sua tecnologia, incluindo a IA, para propor à comunidade científica internacional uma lei do bem e do mal, em que, o bem fosse a vida e o mal fosse a morte. Nada de matar bichos, nem pessoas. O mais que se pode permitir, porque nada se pode fazer, por mais que nos custe, é ver morrer o que não se pode salvar. A inteligência do homem, quanto a isto, delegou todos os poderes em Deus, que ainda não resolveu nenhum dos problemas, como seria de esperar por um homem inteligente. O homem não é inteligente. Pelo menos não é inteligente no sentido de ser capaz de "ver" para além daquilo para que é dotado, ou naturalmente apetrechado. Se o homem é o diabo, ou deus, o que constato é que muitos estão dispostos a admitir que seja o diabo e ninguém esteja minimamente inclinado sequer a pensar que seja deus. Isto diz muito sobre o que pensamos a próprio respeito, mas não diz nada sobre o que a natureza do homem é, ou, por outra, sobre quanto do homem é natureza e nada mais do que a natureza a seguir os seus rumos irreversíveis. Ninguém, senão o homem, se queixa de as coisas não serem de um certo modo.
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