- a escola (entendida no singular) tende a manter os seus ancestrais modos de funcionamento (que se afiguram desadequados);- é preciso mudar a educação proporcionada pela escola, urge mudá-la;- a educação escolar deve decorrer das necessidades da sociedade (actual, ao momento) e dar-lhe resposta;- as (novas) tecnologias (aquelas que se vão inventando) melhorarão, por certo, a aprendizagem;- a motivação (ainda que raramente apresentada de uma forma precisa) é a chave da aprendizagem;- o professor não é o (único) detentor do saber;- as aulas "tradicionais" (com exposição do professor) maçam os alunos;- é preciso interessar os alunos na aprendizagem por via de métodos dinâmicos;- a escolaridade está, sobretudo, assente na memorização com fins de reprodução.Um texto saído ontem no jornal Público com o título "O quadro negro da escola", assinado por um investigador das Ciências da Educação, Helder Ferraz, ilustra na perfeição o que acima disse.
A escola enquanto instituição tem vindo a demonstrar pouca facilidade de adaptação à complexidade de sociedades em constante evolução – e muita resistência em acompanhar a evolução tecnológica. O paradigma escolar que a maioria de nós terá na memória é o do estudante sentado numa carteira a olhar para um quadro negro, enquanto alguém profere um conjunto de saberes que devem ser assimilados para depois serem reproduzidos. Na melhor das opções, a projecção no quadro negro é através de powerpoint e não com giz.
Esta relação de obediência, que assenta em duas posições de poder distintas, assume à partida que o detentor do saber é a figura do professor e que o grupo de estudantes dentro da sala de aula deve aprender algo pensado para mais tarde ser motivo de escrutínio.
E, por muita vontade que tenhamos em alcançar um paradigma de ensino e aprendizagem diferente, a verdade é que na prática tendemos a contra-dizer-nos. E porquê? Porque é mais fácil ignorar que a aprendizagem se faz acima de tudo através da motivação do outro para aprender, ou seja, a aprendizagem pode acontecer por memorização, mas nunca será devidamente apropriada nem será mantida a médio/longo prazo e, portanto, não servirá para coisa alguma nem será conhecimento. Além disso, a maioria de nós não tem uma capacidade de memorização que permita decorar tanta coisa para, por exemplo, ser capaz de realizar dois exames distintos no mesmo dia. E se a maioria de vós disser o contrário também não me sinto mal sozinho.
É aborrecido ouvir alguém durante 1h30, quem tem paciência? Agora imaginem as crianças que acabaram de sair do pré-escolar e são obrigadas a estar sentadas e sossegadas durante duas horas a ouvir um adulto a dizer coisas que só são interessantes para ele ou ela; ou então adolescentes que vivem o maior drama das suas vidas porque perderam o primeiro grande amor, ou têm que actualizar as redes sociais, ou logo à noite vão ao seu primeiro concerto, e têm que estar dentro de uma sala a ouvir alguém a falar de seno, cosseno e tangente.
Ainda por cima são gerações que não se encontram separadas da tecnologia, a tecnologia é praticamente uma extensão das suas existências. E, perante tantos estímulos electrónicos, como é que se mantém a concentração a preto e branco, ou mesmo a cores, num quadro negro?
Todos aprendemos se formos motivados para aprender, se nos for despertada a curiosidade, se encontrarmos utilidade nos conhecimentos que nos estão a ser disponibilizados.
É certamente muito mais interessante aprender História e Geografia através do teatro; é provavelmente mais fácil e interessante aprender Matemática no recreio com desenhos e objectos; é definitivamente mais interessante aprender a estruturar a escrita através da construção de histórias ilustradas feitas em grupo.
Contudo, a criatividade e imaginação que cada um de nós pode ter esbarra com um sistema fortemente estruturado em conteúdos predefinidos, um sistema que seleccionou e produziu os melhores memorizadores para assumirem a responsabilidade da reprodução, e coloca nos lugares de decisão aqueles que melhor provaram serem defensores do sistema (...)
É preciso que o paradigma de ensino e aprendizagem mude, é preciso que saia dos belos parágrafos da legislação portuguesa, das vozes que têm atrás de si os quadros negros enquanto proferem discursos inspiradores, é preciso que não passemos o tempo a pedir a mudança e a recusarmos ser agentes da mudança, mesmo que o sistema seja tão difícil de enfrentar."
3 comentários:
A Helena Damião não transmitiu o que pensa sobre o referido texto, ou não vislumbro aonde quer chegar? Neste caso, agradeço a maçada de explicitar um pouco o seu pensamento sobre as questões abordadas. Por exemplo, e muito sucintamente, se concorda com o autor, em quê e porquê.
O problema destes comentários, destas opiniões sobre a escola que "tem de mudar", é que falam sempre da escola do passado como se falava há 30/40 anos. Parece que não conhecem a escola dos nossos dias. A escola há muito que não é feita de "aulas expositivas", de professores "que falam e os alunos ouvem". Momentos expositivos tem de haver sempre, o professor está lá para ensinar, para transmitir aos alunos as matérias dos programas, mas grande parte da aula é diferente. Os alunos trabalham, são levados a fazer pesquisa, a resolver problemas, a ler e explicar o que lêem, a comentar, a expor a sua opinião, a debater com os colegas, etc. O problema, por vezes, é eles, muitos alunos, não quererem fazer nada disso, porque dá trabalho, é mais simples estudar para os testes através dos apontamentos do professor, é mais simples "decorar" do que analisar e compreender... por isso se espantam, por vezes, com os resultados dos testes e dos exames. Para saberem comentar e dar opinião é preciso que antes tenham estudado as questões, não se pode opinar sobre aquilo que se desconhece.
Ora os textos que proliferam por aí, em jornais, revistas, etc., falam da escola de hoje como se ela fosse igual ao que era nos anos 60 do século passado e continuam a repetir as mesmas ideias de mudança, como se fossem novas, quando, na verdade, dizem aquilo que se ouve desde meados do século XX ou até antes.Mudanças tem de haver sempre, mas o estudo, o conhecimento tem de ser a base do ensino/aprendizagem, as tecnologias não são solução, são apenas um auxiliar de trabalho.
“Todos aprendemos se formos motivados para aprender”.
O investigador Helder Ferraz, indubitavelmente bem motivado para aprender as ciências da educação, com este pequeno texto feito de grandes certezas originais, abre-nos de par em par as portas por onde haveremos de entrar na escola do século XXI. Os alunos modernos, se frequentarem as escolas básicas do 1.º ciclo, aprenderão mais com as pedrinhas do recreio do que com os modelos de madeira dos sólidos geométricos da sala de aula que, sendo de conceção ideal, não servem para nada porque estão desligados da vida quotidiana; se frequentarem as escolas C + S (para abreviar), os alunos só ganharão em faltar às aulas maçudas, onde se aprendem artificialidades abstratas como são os senos e os cossenos, para irem passar o dia no escurinho do cinema com colegas que por vezes até parece que já nascem ensinados.
Infelizmente, Helder Ferraz comete um erro palmar: todos e cada um dos homens podem aprender o que quer que seja.
Não, não podem!
Há uma minoria de pessoas geniais, a maioria da população tem capacidades de aprendizagem médias, e alguns são mentecaptos.
Helder Ferraz neste pequeno texto giza um sistema de ensino onde todos os alunos atingem facilmente o sucesso educativo, mas que só é viável quando os professores deixarem de ensinar completamente, substituindo as aulas por muitas saídas de campo, nas modalidades de sessões de circo, teatro e cinema, de que toda a gente gosta!..
Enviar um comentário