“Tudo o que sucede,
sucede por alguma razão”
Gabriel Garcia Marquez.
Breve nota
introdutória: Hesitei em escrever este texto, todavia essa hesitação
inicial foi menor que a lembrança da luta que o Sindicato Nacional dos
Professores Licenciados (SNPL) manteve contra uma Carreira Docente que mais do
que igualar docentes de formação muito
diferente foi para além disso prestando favores aos menos habilitados com a “benção”
da Fenprof. A criação da Plataforma de Sindicatos de Professores, sob a tutela
da Fenprof, com a aderência do SNPL levou a demitir-me do cargo de presidente
da respectiva Assembleia-Geral (2008) por
contrariar o princípio que presidiu à sua criação: A defesa dos interesses específicos dos professores licenciados por
universidades.
Debruçando-me, agora, sobre o post, aqui reproduzido, anteontem, intitulado “Texto de uma professora
portuguesa sobre a profissão docente”, em
alguns aspectos esta professora poderá ter razão desde que não procure razões
para a falta de motivação em continuar a
dar aulas argumentando com a data do seu
ano de nascimento. Todos nós conhecemos professores com mais de sessenta anos
(“caquécticos”, portanto!) que pedem meças de dinamismo, entrega e brio
profissional a jovens que ingressam na profissão já desmotivados.Noutros aspectos a razão para as suas queixas pode encontrar-se na Fenprof quando conseguiu reformas para os professores do 1.º ciclo do básico com a “provecta” idade de 52 anos. E, como tal, entendem eles (ela e ele), contas feitas, que se trata de um injustiça estar a trabalhar quando "os 60 aproximam-se a passos largos"! Vistas as coisa por este prisma nada a opor, até porque “o coração tem razões que a razão desconhece” (Blasé Pascal). E a Fenprof, razões sindicais!
Rendo-me, portanto, perante a bandeira lacrimejante que arvora de “vir para a escola num transe” e “ mal dormida pela enésima vez desde há meses”,
sob condição de me dizer qual a panaceia para tanto mal: voltar-se ao tempo de uma meia-idade pujante, com a reforma aos 52 anos de idade para os
professores do 1.º ciclo do ensino básico?
Esta uma conquista da Fenprof de que Mário Nogueira não pode
ser acusado de tentar colher benefício
próprio por na altura não ter condições dela vir a beneficiar, ainda que mesmo correndo
o risco de alguém lhe chamar a atenção de haver profissionais mais iguais que outros
dentro da Carreira Docente única (ao que penso, até prova em contrário, em toda a Europa!). Nada disso!
Optou ele em boa hora, boa hora para ele, claro está!, depois de ter frequentado algumas cadeiras
de Economia da Universidade de Coimbra, e diplomar-se pela antiga Escola do Magistério
Primário desta mesma cidade, pelo sindicalismo em devoção e entrega sem limites
sem ir para a sede sindical ou negociações com o Governo “sem poder com uma gata pelo rabo” (ressalve-se o plebeísmo deste
dito popular), por já ter chegado a
sexagenário ou andar perto disso. Aqui chegado, trata-se tudo de uma questão de
motivação ou desmotivação.
Isto apesar de, embora como ele próprio afirmou,
já ter tido vontade de regressar à docência na sua escola do 1.º ciclo do
básico, não o tendo feito, ao que se deduz, por amor doentio ao trabalho esgotante de sindicalista que o ocupa
das nove da manhã até à meia-noite (Mário Nogueira dixit!) .Azar, portanto, o desta professora em não ter optado pela carreira de sindicalista para cada dia de trabalho lhe dar o prazer inefável de não ser escravizada na sua docência que a obriga a ainda estar a trabalhar perto dos sessenta anos de idade quando podia enveredado pela carreira sindical ainda que mesmo um dia de trabalho, pior do que um trabalhador braçal de tempos idos que ia de sol a sol, se prolongue das 9 horas da manhã à meia-noite. Ou seja, de inverno do nascer do sol até quando a lua já vai alta!
Mais de uma questão de motivação ou desmotivação, trata-se
de uma questão de ir ao engano na profissão seguida por
parte de uma professora que a leva a lamentar-se sobre a escravidão de uma profissão tida como das mais nobres porque, segundo Erasmo, “a principal esperança de uma Nação reside na educação apropriada da
sua juventude”. Com a condição sine qua non de os professores vestirem a
pele da motivação. E isto, ainda que sem utilizar a palavra sacerdócio que exige uma
entrega total que se chama VOCAÇÃO!
8 comentários:
Nem sequer me irei centrar na tónica (samba de uma nota só) da discrepante formação entre universidades e politécnicos, sentando os professores universitários (claro está) no divino trono da última coca-cola do deserto. Nas universidades por onde andei, vi algumas aves raras, acredite, com pouca noção de protocolo e um cérebro sofrível, pululando por entre alunos à procura de novas ideias para as colar aos seus trabalhos individuais de investigação... Às vezes, os colares de pechisbeque são tão grossos, não é verdade? Mas também não iremos por aí.
Quanto ao texto da professora Calimero, claro que os professores se entreolham em algumas situações análogas e ambiências esgazeadas que as escolas proporcionam. Há demasiada gente a entupi-las: Direção, professores de todos os tamanhos e feitios, apoios educativos e de NEE, coadjuvações, monitores das AEC, monitores de ATL, assistentes operacionais, alunos, câmaras municipais, juntas de freguesias, associações de pais, pais e mães e avós, gente do mecenato, projetos das mais variadas instituições, estagiários, JNE, IAVE, IGE, ME, parceiros exteriores e quem mais quiser aparecer, que aqui o pessoal sofre de crónica permeabilidade. Todos a mandar efetivamente ou a mandar postas de pescada, peixe que dispenso. Como professora, nunca interferi na profissão de encarregados de educação ou de quem quer que fosse. Há poderes que deveriam ser revistos e restituídos aos professores. Como profissional, devo dar satisfações do meu trabalho à Direção e aos órgãos competentes para o efeito e, havendo azares, aos seres iluminados do Olimpo, sem qualquer receio. Cada macaco no seu galho.
Quanto a reformas, pois sendo eu de 1967, aos 61 anos completarei 40 de serviço. Com 66 anos de idade terei completado 45 de serviço. Não percebo por que motivo terei de oferecer em sacrifício quase 6 anos de vida saudável ao Estado. Claro que estes 6 anos serão inteiramente meus, pelo que espero não ter de assimilar todas as sintomatologias da Arquipatologia que sustentam o merecimento de atestados médicos psiquiátricos por loucura passível de internamento perante a recusa da realidade. E isto é motivação! Uma motivação que corrói os pilares do conceito de justiça social e equidade de direitos universais e nos faz levantar do chão com toalhas ao ombro em direção à praia mais longínqua, em transe hipnótico de felicidade. Diagnóstico: burnout. Vão todos para lá.....
Quanto a vocações de “Eu hei de amar uma pedra”, pois, são cada vez menos. Há vocação, sem dúvida, não há é condições para a engordar, sofrendo a mesma de anorexia. Só pode ser por vocação que se atravessam passeios de dejetos para entrar em escolas a cair de velhas, com infiltrações de todo o género, grafitadas sem arte, para estar o dia inteiro a dar xaropes, atar atacadores, puxar autoclismos, repetir instruções permanentemente, corrigir 26 vezes de cada vez que se faz um exercício, pôr curativos nos joelhos das quedas, ensinar o silêncio impossível, limpar o vómito do pequeno-almoço mal digerido e partir pedra a cada novo conceito nunca ouvido simultaneamente pelos 26 e aprendido só à noite.
Aos 66/67 anos espero estar apta para saltar à corda furiosamente e para subir ao plinto mais alto e andar às voltas com o banco sueco enquanto corro até ao espaldar a ver se o apanho a tempo, em excelente exemplo vocacional, para que os meus alunos não tenham colapsos nas notas finais de aferição e não possam ser doutores por causa disso. Isto mete impressão a qualquer zarolha do "Irritações".
Não me arrependo de não ser sindicalista. Arrependo-me de não ter sido professora catedrática. Pelo menos os 80% do 8º escalão das mesmas 24 horas do dia (escalão a que conseguirei chegar com 45 anos de serviço, por causa do congelamento de 9 anos), seriam melhor remunerados. Não admira! Ninguém, na primária, me ensinou a saltar à corda!
Desculpe lá Professor, mas a minha barriga está lisinha como uma ripa. Quando como uma azeitona e engulo o caroço, pareço grávida.
Não sou educadora. Sou professora. As "atividades" extra que referi no post anterior são feitas por professores do 1º CEB.
Começo por lhe agradecer o comentário que me endossou. Obrigado!
Apreciei o seu comentário pela forma correcta (eu diria mesmo, ética) como está escrito e a forma literária e com espírito com que está redigido. Pois bem, assim como não concordo com a reforma aos 52 anos, discordo, outrossim, da forma como o Ministério da Educação aumenta essa idade defraudando espectativas anteriores.
Mesmo no primeiro caso ponho as minhas dúvidas que essa idade (52 anos) permita ao professor dar uma cambalhota ou saltar ao plinto por na idade escolar ter sido vítima de um ensino livresco já criticado por Eça em “Os Maias” e que, atravessando épocas, chegou aos nossos dias arreigado ao dualismo cartesiano: “res cogitans/res extensa”.
Entretanto, fazendo correr os ponteiros do relógio qual corrida dos 100 metros, a idade actual da reforma para a docência do ensino básico sobe várias vezes, apesar das tarefas que enumera bem e exaustivamente por o professor mais do que o ensinante ter sido domesticado a ponto de ser pau para toda a obra. Mas isso deve-se, em grande parte, à Fenprof que se serve de um sindicalismo de rua politizado tendo sempre no topo da pirâmide remunerações por “ ser correia-de-transmissão do PCP”, como escreveu Mário Soares.
E aqui chegado, mais do que esta discussão, embora importantíssima, choca-me bem mais a avaliação dos professores que, para a respectiva progressão são avaliados de forma de tal modo “exigente” que todos, os muito bons, os bons, os suficientes, os medíocres, os maus, os péssimos atravessam essa imposição como quem vai a uma festança como se para ensinar, entre outras virtudes, não houvesse, como diria Eça, “uma formalidadezinha a cumprir – saber”.
E tanto assim é que, tempos atrás, desafiei num artigo de opinão os sindicatos a publicarem a percentagem de professores que tiveram má informação que os impedisse de subir ao escalão superior. Com paciência de Job, continuo à espera. Enquanto ela não chega vou-me servindo do meu conhecimento empírico baseado na minha experiência pessoal dos maus e até péssimos professores que tive durante o meu período escolar. E essa percentagem não é nada animadora para me permitir, como li algures, de boca sindical, que todos os professores são bons só que há uns melhores do que outros. Ou seja, “tão pobres somos que as mesmas palavras nos sevem para exprimir a mentira e a verdade” ( Florbela Espanca).
Na 9.ª linha do meu comentário anterior, corrijo "saltar ao plinto" para "saltar no plinto".
Não o vi a criticar comentários deste blogue envolvendo asneiras do pior, eticamente falando...
Ninguém se reforma aos 52 anos. Toda a gente se reforma aos 66. Não há qualquer expectativa de coisa alguma porque ninguém acredita em milagres.
Pau para toda a colher? As funções dos profs. estão descritas na legislação. As extra são consequência de ensinar crianças tão pequenas. Não vou fingir que não as vejo. O 1º CEB deveria começar aos 7 anos, por todas as razões psicológicas, cognitivas e de autonomia pessoal. De quem é a culpa?
Não tem outro alvo, enquanto espera?
Os professores são impedidos de aceder ao escalão superior pelas cotas e se não têm negativas, como tanto deseja ver, é porque não os avaliam desse modo. Temos as carreiras congeladas há mais de nove anos e está tão preocupado porquê? Choca-se do quê?
Vou deixar de lhe responder. Não vale a pena o esforço.
Errata: No meu comentário (10 de Junho de 2018, às 17:01), +ultima linha do 1.º § onde escrevi "espectativas" corrijo para expectativas.
Os comentários têm destes "lapsus calami". Ao escrever a correcção a "espectativas", cometi outro lapso: "ultima" sem acentuar a palavra que emendo para última.
A doméstica (10 de junho de 2018 às 19:30:
Começo por lhe citar Edgar Morin: “Peço que me ataquem frontalmente, me julguem pelas minhas ideias e não por aquilo que queriam que fossem as minhas ideias”. Mas pior é querem fazer-nos passar por mentirosos até porque, segundo Goebbels, ministro da Propaganda da Alemanha do III Reich, “uma mentira mil vezes repetida se transforma numa verdade”. E nesse tempo não havia a internet que espalha essa mentira pelo globo num ápice.
Pondo ambos ("A doméstica” e eu) o peito na barra do tribunal da Opinião Pública,” cito o que ela escreveu:” Ninguém se reforma aos 52 anos. Toda a gente se reforma aos 66 anos. Não há qualquer expectativa de coisa alguma porque ninguém acredita em milagres”.
Escrevi, eu: 1. “[ A FENPROF] conseguiu reformas para os professores do 1.º ciclo do ensino básico com a “provecta” idade de 52 anos.” 2. “Perante o facto de ter sido aumentada a idade da reforma para os 66 anos [donde tornando-se desnecessária a sua chamada para o facto, a não ser para a revisão da matéria por mim dada!] qual a “panaceia” para esta situação: “Voltar-se ao tempo de uma meia-idade pujante com a reforma aos 52 anos de idade para os professores do 1.º ciclo do ensino básico?”
Já agora, para os professores dos restantes ciclos do básico e ensino secundário era de 56 anos de idade. Moral da história: Quantos menos anos de formação académica, de queimar as pestanas ou de pesar nas despesas familiares , mais regalias!
E porque o vento de tempos imediatamente a seguir à época de 25 de Abril parecem querer enfunar novos oportunismos, ocorre-me o nome insuspeito de Sophia de Mello Breyner: ”Depois do 25 de Abril, tenho-me sentido tentada a escrever uma peça que se chamaria ‘Auto dos Oportunistas´, mas que é impossível de escrever porque há sempre mais um acto”.
Se no tempo de Eça, segundo ele, se não lia, folheava-se, hoje lê-se em diagonal os textos dos posts levando a que haja quem os não saiba interpretar ou interpretando-os o suficiente para deles fazer uma salda russa!
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