sexta-feira, 11 de maio de 2018

44 ANOS DE LIBERDADE DESPERDIÇADOS

Como na Primeira República, a classe política a quem os Capitães de Abril, generosa e honradamente, entregaram, “de mão beijada”, o destino dos seus concidadãos, mais interessada nas lutas pelo poder, esqueceu-se completamente de lhes facultar cultura civilizacional e humanística.

Entre os sectores da vida nacional que nada beneficiaram com esta abertura à democracia está a educação. E, aqui, a escola falhou completamente.

Na imagem, uma fotografia que circula
na net e cuja autoria desconheço
A sucessiva e elevada abstenção em actos eleitorais, a iliteracia cultural e científica, mesmo aos níveis mais básicos, e a irracionalidade e violência associada ao futebol são prova dessa absoluta falência.

Esta, agora, manifestação estudantil de Coimbra, um arraial de cerveja, irreverência gratuita e mau gosto, que dá pelo nome de Queima da Fitas, é mais uma demonstração dessa falência.
O carro do habitual cortejo, onde, alarve e ostensivamente, evocam a ex-ministra da administração interna, uma muito respeitável senhora, vítima de um terrorismo incendiário, ainda por explicar, que deu e continua a dar muito jeito às oposições, representa a falta de civismo e a alienação, dos que nela participaram.

Privilegiados, numa sociedade onde ainda grassa flagrante desigualdade, estes rapazes e estas raparigas são filhos e filhas de uma geração de pais e mães, em grande parte carentes da dita cultura civilizacional e humanística, educados no chamado Portugal de Abril, que de Abril pouco ou nada teve e tem para muitos e muito teve e tem para poucos.

A. Galopim de Carvalho

9 comentários:

Anónimo disse...

O "engenheiro" Sócrates de Sousa personifica, melhor que ninguém, a falência do sistema de ensino em Portugal. Para ser primeiro-ministro, a vaidade e a sociedade exigiam-lhe um título académico. Afinal, foi mais fácil, oportuno e proveitoso ser chefe do governo do que ser engenheiro sem aspas, que ainda não é!
A nível institucional académico, a PRAXE dá-nos o retrato mais fiel da decadência da educação e dos usos e costumes em Portugal nas últimas décadas.
A existência de um sistema educativo que faz a apologia de atos de enorme irracionalidade, tais como o do DUX a conduzir por calçadas e veredas magotes de pastranos e pastranas, segundoanistas e terceiroanistas, todos trajados de negro, com capa e batina, até às areias da praia, onde, a altas horas da noite, na zona de rebentação das ondas de um mar furioso, vão celebrar cerimónias rituais secretas que provocam a morte dos celebrantes, é a prova final de que o Estado Português é inviável, tal como confirmado pelas notícias recentes da venda da EDP (Eletricidade de Portugal) privatizada ao Estado Chinês!
Com a celebração destes negócios da china, arriscamo-nos a ser alvo da chacota dos nossos parceiros europeus. Mal sabem eles que os burros em Portugal estão em vias de extinção e número de doutores tem vindo a subir exponencialmente!

Anónimo disse...

Concordo quase plenamente com as palavras do anónimo de 11 de maio às 23:46, mas nas áreas da estultícia pura e estultícia prática ainda está para nascer em Portugal quem suplante o maior estadista que chefiou um governo do pós 25 de Abril. Ei-lo:

JOSÉ MANUEL DURÃO BARROSO

Durão disse...

O problema não é a caricatura do original.
O problema é quando o original é uma caricatura.

Sei lá quem esgreve... disse...

Estranho

Há uma nostalgia intemporal de ser.
Como um céu cinzento e nublado.
Eterna manhã, eterno anoitecer
No olhar, por dentro, abandonado.

Nascem dias inteiros, por nascer...
Cobre o tempo o rosto demorado.
Espero, prolongo-me e não sei ser
O que de mim, por ti, é esperado.

Escondo-me na saudade que te tenho.
Demoro de vazio lúcido e não venho,
Enquanto outras mãos te levam flores.

Devolvi-me, grave, na voz que era tua,
Líquida, amniótica e cruelmente nua...
Já não somos... nem vou onde tu fores!

Anónimo disse...

Concordo com o artigo do Professor Galopim de Carvalho, um conceituado cientista e humanista e um comunicador exemplar. Porém hesito nos conceitos de 'cultura civilizacional e humanística', de 'iliteracia cultural e científica' e de 'Privilegiados, numa sociedade onde ainda grassa flagrante desigualdade'. Porque reconheço que nestes anos, (ainda e lamentavelmente) só houve tempo para substituir, com laivos políticos a anterior sociedade semianalfabeta, acrítica, reverencial e paroquial, por outra que, votando democraticamente, (ainda) não é suficientemente letrada, crítica e dotada de cultura civilizacional e urbana, com capacidade para colmatar as constantes investidas das enormidades da cultura de massas.
Que fazer? Aguardar? Ou manter o grau de exigência democrática a que são obrigados os que possuem (alguma) cultura académica e (bastante) distância partidária?
Voto na última.
MJ

Anónimo disse...

A sociedade portuguesa, dos anos trinta e quarenta do século XX, para que remete a análise de MJ, não é igual à dos anos sessenta, quando vastas camadas da população acederam ao ensino liceal e industrial e comercial, antecâmaras do ensino universitário e politécnico, onde muitos entraram já na vigência do regime democrático, fruto do golpe militar do 25 de abril de 1974. Por exemplo, o juiz Carlos Alexandre, filho de um carteiro e de uma operária fabril, já era um rapaz espigadote quando rebentou a Revolução dos Cravos. MJ pode contrapor que os carteiros fascistas eram ricos quando comparados com os ceifeiros alentejanos, mas então eu returco-lhe que não foi a educação democrática que retirou a maioria dos camponeses do campo, porque sabe tão bem como eu que tal façanha se deve ao eixo franco-alemão com contributos da Suiça, Bélgica, Luxemburgo, Andorra, Holanda, Venezuela, Emiratos Árabes Unidos, etc.
Assim, ao fim de 45 anos de democracia, Galopim de Carvalho não faz mais do que enunciar uma evidência: a escola falhou!
Éramos pobres, pobres somos!
A venda da EDP privatizada ao Estado Chinês é o toque a finados pelo Estado Português!

Anónimo disse...

Em 1970 havia 27 mil alunos nos cursos complementares, sendo que 7 mil nos cursos técnicos. Eu não vejo onde está a "vasta camada da população". Aliás, sei, um milhão e tal no ensino básico. Ah, espera, é verdade, dantes a 4ª classe equivalia ao universitário.

Neste último Benfica-Moreirense estiveram 41 mil pessoas no estádio. Não faltava muito para duplicar o nº de estudantes matriculados no ensino secundário antigo em 1970. Tudo gente analfabeta, é claro, bruta, violenta.

Trata-se de uma generalização absurda. "Irracionalidade e violência" - e no entanto temos casos de futebolistas profissionais licenciados em Medicina. Esta é boa.

O futebol é apenas um desporto, aliás saudável e divertido. Em si mesmo não cria violência, pelo contrário. A violência é que invadiu o futebol. Mas mais cedo ou mais tarde será expulso, como o foi em Inglaterra nos finais dos anos 1980.

Aliás, é justamente este discurso anti-prática desportiva associada ao desenvolvimento académico, como se fossem coisas antagónicas, que também mina a nossa sociedade. É esta também a nossa pobreza.

Anónimo disse...

Agradeço e (quase) concordo com o q diz por acrescentar ao meu comentário uma explicação/leitura mais concreta, completa, esclarecida, politizada e (talvez) suficiente.
MJ

Anónimo disse...

Nos anos setenta, antes do 25 de abril, quem ia à escola apenas para passear os livros, habilitava-se a, no fim do ano, levar uma raposa para casa. A escola servia para os professores ensinarem e os alunos aprenderem. Quem não queria, ou, infelizmente, não tinha capacidades intelectuais para estudar no liceu ou na escola industrial, ficava em casa ou ia trabalhar!
O ensino obrigatório até aos dezoito anos, que para pouco mais serve do que retirar os rapazes da rua perigosa, pressupõe uma despesa monstruosa para o nosso pobre país, como provam os cortes cruéis desferidos pela troica nos bolsos dos professores e educadores de infância, que o Costa já disse que ia reparar, mas muito devagar!...
Uma das primeiras medidas dos revolucionários de abril de 74 foi decretar que as notas do 3.º período só contavam para a média anual se beneficiassem o aluno. A partir daí, foi sempre a abrir!...

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...