quarta-feira, 2 de agosto de 2017

LIVROS PARA FÉRIAS


Minha crónica no Público de hoje: 

À medida que as férias de Verão se aproximavam fui fazendo um montinho de livros para ler ou reler nesta altura. Parecem-me bons para a canícula, evitando uma paragem estival do cérebro. Proponho uma smart season em vez de uma silly season. A ordem destes oito títulos recentes é a alfabética do apelido do autor.

- Almeida, Onésimo T., A Obsessão da PortugalidadeIdentidade, Língua, Saudade e Valores, Quetzal, 2017. Onésimo, professor na Universidade Brown, Estados Unidos, vê melhor Portugal ao longe do que muita gente cá perto. Este é um repositório de textos sobre a “portugalidade”. Quem somos? De onde vimos? Para onde vamos? O autor tenta introduzir racionalidade num campo minado pela confusão.

- Brennan, Jason, Contra a Democracia, Gradiva, 2017. Da autoria de um professor americano de Política e Ética que já ensinou na Universidade de Brown, mas que agora ensina em Georgetown, este livro defende que nenhum modelo político deve ser sacralizado. A democracia tem decerto virtudes, mas tem também defeitos, aqui escalpelizados e está em muitos casos a falhar. A ler agora que em Portugal se irão realizar eleições, nas quais os partidos tradicionais vão ter de concorrer em muitos locais com movimentos de cidadãos.

 - Harari, Yuval N., Homo Deus. História Breve do Amanhã, Elsinore, 2017. Este é um dos livros do ano tanto em Portugal como no mundo. Depois do grande êxito de Sapiens: História Breve da Humanidade, um irreverente historiador israelita traça a história do nosso eventual futuro (o seu subtítulo lembra a História do Futuro do Padre António Vieira). As perspectivas não são brilhantes: podemos estar condenados a dar o nosso lugar aos robôs que criámos. Para ler e reflectir. Ainda estamos a tempo de arrepiar caminho?

- Ordine, Nuccio, A utilidade do inútil, manifesto, Ágora K, 2016. Um professor universitário italiano defende a utilidade das Humanidades. Num mundo em que a tecnologia está omnipresente, é bom atentar no valor perene do saber "inútil” legado por uma pleiade de filósofos e literatos. O autor virá na rentrée a Portugal no quadro do Mês da Educação e da Ciência da Fundação Francisco Manuel dos Santos.

- Perry, Sarah, A Serpente do Essex, Minotauro, 2017. Este romance é o segundo da autora inglesa, depois do grande êxito que foi o primeiro. Conta a história de uma naturalista que vai viver para o Essex, a terra natal da autora, onde se vê confrontada com a suposta aparição nos pântanos de um animal lendário, do tipo do “Loch Ness”. Céptica, logo quer investigar o que se passa. E é assim que conhece o padre local, iniciando-se um encontro de duas personagens muito diferentes que, no entanto... Este livro integrou a short-list do Prémio do Livro de Ciência da Wellcome de 2017, que raramente inclui obras de ficção. Ganhou uma outra obra de ficção, o romance Mend the Living, de Naylis de Kerangal.

- Real, Miguel, Traços fundamentais da cultura portuguesa, Planeta, 2017. O professor de Filosofia, escritor e crítico literário é um dos autores que, com Eduardo Lourenço e Onésimo Almeida, mais tem escrito sobre a cultura nacional. Mas como definir essa cultura? Com prefácio de José Eduardo Franco, outro grande estudioso da cultura portuguesa, designadamente na procura das suas obras pioneiras, esta é uma reflexão que vale a pena ler.

- Rodrigues, Alexandre Marques, Entropia, Teodolito, 2017. O título é um termo da termodinâmica, o ramo da física que estuda a energia. É o segundo romance do autor, um psicólogo brasileiro. A segunda lei da termodinâmica ou lei da entropia surge na portaria do livro, na sua expressão matemática. Mas o leitor não se assuste que não tem que saber física nem matemática. Começa aliás com uma quente cena de sexo.

- Tyson, Neil de Grasse, Astrofísica para gente com pressa, Gradiva, 2017. O novo título da colecção “Ciência Aberta” é a mais recente obra de um dos divulgadores científicos mais conhecidos do mundo, hoje famoso por ser o autor do slogan anti-trumpiano: “Let us make America smart again.” Com um estilo muito próprio pontuado por humor, Tyson leva-nos numa viagem às origens do Universo, a maior e a mais interessante de todas as histórias.

Bom Verão. Boas leituras!

*versitário (tcarlos@uc.pt)

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