O céu virado a Nordeste, cerca da 1h30 do dia
13 de agosto de 2017. Na imagem pode ver-se o radiante da “chuva” de meteoros
das Perseidas e o intenso brilho da Lua, na constelação vizinha de Peixes. (Imagem:
Ricardo Cardoso Reis /Stellarium)
O
Universo ilumina o pensamento!
Desde
os alvores da humanidade que os seres humanos se deslumbram com a beleza da
abóbada celeste. A contemplação do céu nocturno, iluminada com infinitos pontos
brilhantes, foi fonte para inúmeras perguntas sobre a origem e destino do
Universo e logo da própria vida. Cada estrela tinha um sonho para viajar. Todos
os sonhos tinham a sua estrela.
E
hoje, e sempre, continuamos a sentir maravilhamento quando presenciamos a magnificência
luminosa que estimula as nossas retinas, luz que viajou pelo espaço e com ele
transporta inspiração e curiosidade para descobrir como o Universo funciona e
de quê ele é feito.
Este
mês de Agosto é excelente para realizarmos espectaculares observações
astronómicas, pelo menos por três aspectos que são indicados a seguir.
Durante este mês, é possível observar todos os planetas do nosso
sistema solar (à excepção da Terra onde nos encontramos): Mercúrio, Vénus,
Marte, Júpiter e Saturno visíveis a olho nu; Urano e Neptuno com a ajuda de
telescópio. As indicações adequadas para a sua observação encontram-se, por
exemplo, na página na internet do Observatório Astronómico de Lisboa.
Este mês ocorre uma das maiores “chuvas de estrelas” do ano: a
“chuva” de meteoros das Perseidas. Este fenómeno deslumbrante deve-se ao facto
de o planeta Terra atravessar uma região do
espaço interplanetário semeado de meteoróides, pouco maiores do que uma
ervilha, ecos das passagens do gigante cometa periódico Swift-Tuttle (cerca de
28 km de diâmetro!) na sua órbita ao redor do Sol, a qual demora 133 anos
terrestres! O primeiro registo de observação da passagem do cometa é de origem
chinesa e data do ano 69 a.C. O último ocorreu em 1992, data da sua
redescoberta.
Esta “chuva de estrelas” tem um máximo de actividade previsto
entre as 15h00 do dia 12 e as 2h30 do dia 13, mas a
constelação de Perseu que dá o nome à “chuva”, onde se situa o radiante (ponto
de onde parecem surgir os meteoros), só está completamente acima do horizonte
por volta das 23h30.
Contudo, este
ano e logo no dia 13, a Lua “nasce” àquela mesma hora ao lado do radiante,
na constelação de Peixes. O brilho intenso dos "restos" da Lua cheia deverá dificultar a
visualização dos meteoros que se incendeiam ao entrarem na atmosfera terrestre.
A centena de meteoros por hora prevista deverá reduzir-se para metade mesmo em
céus muito escuros. Isto significa que a contemplação desta “chuva” não será muito reduzida se não nos afastarmos da poluição luminosa dos centros urbanos. Recomenda-se, assim, a observação num local
mais escuro. Em Portugal, um local de eleição é a "Reserva de Céu Escuro do
Alqueva" (Dark Sky Alqueva). “Mas as
Perseidas são ricas em “bolas de fogo” (meteoros ligeiramente maiores e mais
brilhantes), pelo que, de qualquer maneira, deverá valer a pena ficar uma hora
ou duas a olhar o céu”, diz-nos Ricardo Cardoso Reis, astrónomo e comunicador
de ciência do Planetário do Porto e Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.
Por último, mas talvez o ponto de interesse astronómico mais
relevante, ocorre no dia 21 de Agosto: dia de Lua nova, é também dia de eclipse
do Sol. Este só será total na parte central dos E.U.A., sendo a sua
visualização parcial em outras regiões do planeta. É o caso de Portugal e
teremos de nos contentar com um eclipse parcial. Quanto mais a sul, maior será
percentagem da superfície do Sol ocultada pela Lua. O
Eclipse começa por volta das 19h44 (hora legal), e o máximo ocorre pelas 20h20.
Não será possível observar o final do eclipse, que ocorre depois do pôr-do-sol.
Diga-se, a propósito, que o melhor local de Portugal para observar este eclipse
será a Região Autónoma da Madeira, com o eclipse a começar pelas 19h48,
alcançando uma ocultação de cerca de 33%, às 20h35.
São estas as três razões que, entre outras possíveis, nos convidam para boas
horas de observação astronómica durante o mês de Agosto.
António Piedade
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