Informação recebida e Paulo Mendes Pinto:
Reprodução ‘fac-similada’ do Pentateuco impresso em Faro, em 1487
O
 “Pentateuco”, impresso nas oficinas de Samuel Gacon, em Faro, no ano de
 1487, é o mais antigo livro impresso em Portugal. A editora “Sul, Sol e
 Sal” entendeu evocar esse acontecimento histórico lançando, na passagem
 dos 530 anos sobre essa data, uma reprodução ‘fac-similada’ do exemplar
 depositado na British Library.
A
 publicação resulta da coincidência de vontades e do esforço conjunto 
daquela editora e do Círculo Teixeira Gomes – Associação pelo Algarve.
A
 presente edição é acompanhada por um estudo introdutório de Manuel 
Cadafaz de Matos, da Academia Portuguesa da História, que contextualiza a
 edição de Faro do “Pentateuco” na história da imprensa incunabular 
hebraica portuguesa.
Associou-se ao evento a Fundação Portuguesa das Comunicações e o Agrupamento de Escolas Afonso III. 
(Fonte: Jornal do Algarve)
O PENTATEUCO E A EDIÇÃO DE 1487
(por Manuel Cadafaz de Matos)
1- A edição do Talmud e a imprensa em Portugal
teve as suas origens em Faro
Falamos
 sobre a edição do mais antigo livro impresso (até agora conhecido) no 
nosso país, ainda em língua hebraica, em 30 de Junho de 1987[1]. Trata-se da obra Tora [Pentateuco],
 e a sua impressão ficou a dever-se a Samuel Gacon [leia-se Samuel 
Porteiro] que, na sua oficina tipográfica de Faro editou, no último 
quartel do século XV, pelo menos, mais dois tratados, ambos com 
comentários de Rashi[2] – e incorporadas num mesmo volume do Talmud, dito babilónico: Guitin [Tratado do Divórcio] e Shevu’ot [Tratado dos Juramentos] (1492?).
O cólofon daquela edição do Torah dá-nos a data precisa do final da composição da obra: “Acabou-se aqui em Faro, a 9 do mês de Ramuz, no ano Feliz do justo, que gozará o fruto das suas obras! [Isaías, 3, 10, i.e., 247 = 30 de Junho de 1487], por ordem do nobre e alto Dom Samuel Gacon[3]. Que o seu Criador e Redentor o proteja”[4].
O Pentateuco é, efectivamente, o mais antigo livro que se conhece impresso em Portugal. O Sacramental [de 1488?], de Sanchez de Vercial[5] – que em 1988 estudámos na Biblioteca do Rio de Janeiro[6] –, bem como o Tratado de Confissom, cuja edição [de 1489] em boa hora foi descoberta e (inicialmente) dada a conhecer através das páginas do Diário de Notícias[7], foram dados ao prelo, como se viu, não muitos meses depois.
Enquanto o Sacramental e o Tratado de Confissom são obras em língua portuguesa, o Pentateuco, produto
 saído de uma das (porventura primeiras) tipografias 
hebraico-portuguesas implantadas neste recanto da península, é impresso 
com caracteres hebraicos[8].
 Ele materializa – e é testemunho – (d)esse apego judaico à arte 
tipográfica, designadamente em Portugal. Dá conta do significado da 
preservação, em documentos escritos, da Lei do Talmud, de forma a que a palavra dos antigos sábios pudesse, ininterruptamente, ser transmitida de pais para filhos ao longo dos tempos, de sucessivas gerações.
O único exemplar que hoje se conhece deste Pentateuco (de
 Faro), encontra-se depositado na British Library, em Londres. É o 
primeiro grande marco da implantação das artes tipográficas hebraicas no
 nosso país no século XV.
2- Das primícias da acção tipográfica na Europa
à vigilância censória
Vejamos,
 assim, como se implanta a Tipografia em Portugal – tarefa em que 
desempenham incialmente um papel primordial os Judeus – e como daí até à
 publicação do primeiro incunábulo (em caracteres hebraicos) na cidade 
de Faro, vai apenas um passo.
As
 artes tipográficas tornaram-se, logo a partir dos alvores da imprensa 
no século XV, tanto servidoras como “inimigas” da acção expansionista 
da Igreja. Por um lado, graças aos avanços registados nas artes 
tipográficas (que com Gutenberg haviam conhecido, entre 1440 e 1450, a descoberta dos
 caracteres móveis), passaram-se a editar obras de carácter bíblico em 
profusão. Mas foi também graças a essa mesma imprensa que os inimigos da
 própria Igreja, os autores hereges por assim dizer, passaram também a ser divulgados sem limite.
Essa
 foi uma das primeiras razões por que, para a Igreja como sólido suporte
 do poder instituído – importava agir taxativamente nesse sentido. 
Impunha-se coagir aqueles autores, cujos métodos abusivos e 
prevaricadores, postos ao serviço da interpretação dos textos sagrados,
 punham a própria Igreja (e os seus dogmas) em risco. Era essa a função 
da censura, instituída no nosso país muito antes da implantação do 
Tribunal do Santo Oficio, e cuja acção já remonta – senão mesmo antes –
 à terceira década do século XIV, ao final do reinado de D. Dinis[9].
No
 caso concreto Portugal, situa-se já em 1324 (pelo menos) a primeira 
manisfestação de defesa da Igreja e do poder instituído contra os vários
 perigos que os afrontavam ou contra esses ditos hereges. A censura pré-inquisitorial e a censura inquisitorial, depois,
 actuam, assim, cumprindo a “piedosa missão” para que foram criadas, 
salvaguardando os interesses da Igreja, antes de mais, e em sua 
consequência os interesses (aparentes?) da colectividade.
Pelo
 que se depreende de abalizados estudos sobre a censura levados a cabo 
por António Baião ou I. S. Revah, uma das motivações imediatas, para a 
reorganização da actividade censória fora em meados do século XV aquela descoberta de Gutenberg.
Autores
 como Henri-Jean Martin, Roger Chartier, José V. de Pina Martins e Artur
 Anselmo têm-se questionado em França e em Portugal, quer sobre a data 
efectiva da implantação das primeiras oficinas tipográficas na Europa 
Central, quer sobre as primeiras que passaram a actuar em Portugal.
Desde
 os anos cinquenta e sessenta do século XV, principiaram, com efeito, a 
proliferar as mais variadas oficinas tipográficas por toda a Europa, 
designadamente na Península Ibérica. E a Igreja, zelosamente militante 
pela preservação dos dogmas do Cristianismo, não só vigiava com atento 
rigor – graças à sua apertada máquina censória – a produção dita herética como,
 mais do que isso, sempre que podia mandava queimar tais obras como os 
seus próprios autores, em pessoa ou em efigie. E isso passava-se pela 
via da teatralização religiosa, a encenação do auto-de-fé, incentivando 
as populações anónimas (iletradas por excelência) a cometerem contra 
tais intelectuais o maior somatório de atentados, que culminavam na 
maior parte dos casos com a própria morte.
3- Das primeiras tipografias com caracteres hebraicos em Portugal
Não
 se torna hoje muito fácil a elaboração de um rigoroso e exaustivo 
catálogo das obras impressas em Portugal, dado que, certamente, muitas 
delas não terão chegado até aos séculos mais próximos. É hoje possível, 
no entanto, estabelecer que as primeiras tipografias criadas neste 
recanto da Península estiveram associadas a famílias judaicas e 
laboraram com caracteres (móveis) hebraicos, pelo menos desde 1487.
Um
 dado porém a não esquecer é que para o funcionamento dessas tipografias
 de caracteres hebraicos nesse último quartel do século XV se tornava 
imprescindível a observância de quatro vectores ou vertentes 
fundamentais:
I-
 uma técnica de grafismo – vocacionado para a iluminura – e de impressão
 capaz de responder às necessidades de ilustração dos textos, com 
frequente alusão aos textos bíblicos;
II-
 a existência de caracteres hebraicos (diversos conjuntos de caracteres
 importados de países onde esse modelo tipográfico estivesse mais 
avançado);
III-
 uma mão-de-obra (minimamente) especializada que, tanto num plano de 
impressão como de conceptualização e realização de grafismos, pudesse 
corresponder aos desejos e interesses dos editores;
IV- a existência de significativos stocks de papel – provenientes das fábricas já existentes em território nacional[10] – em que se pudesse fazer a respectiva impressão.
Detenhamo-nos, assim, em primeiro lugar, sobre essa hipótese, atrás formulada, de uma teoria da importação, e consequente difusão nacional, dos conjuntos de caracteres móveis hebraicos. É
 por demais sabido, com efeito, que as famílias judaicas que viviam em 
Portugal no século XV se dedicavam, em particular, ao comércio, 
transaccionando não apenas dentro das fronteiras do nosso território, 
mas com outras firmas sediadas em várias cidades da Europa como Toledo, 
Gibraltar, Paris, Livorno, Génova, Nápoles, Antuérpia, Bruges, 
Amesterdão, Roterdão e Hamburgo. Nessas cidades situavam-se então 
algumas das comunidades judaicas, denotadoras de uma identidade 
cultural fortemente enraizada, de que chegou notícia até aos nossos 
dias.
Terá
 sido nas suas incursões comerciais ao estrangeiro que esses 
comerciantes judaico-portugueses e espanhóis terão trazido até à 
Península, quer alguns conjuntos de caracteres móveis de impressão, 
quer os métodos de manufactura dos mesmos e, consequentemente, 
conhecimentos e técnicas acerca da rudimentar arte de impressão.
A
 introdução dos caracteres tipográficos em Espanha antecedeu, ao que se 
presume, em cerca de uma década, a verificada no nosso país. Assim, se o
 Pentateuco (algarvio) acabou de se imprimir em Faro – sob os 
cuidados de Samuel Gacon – em 30 de Junho de 1487, o marco de 
lançamento da primeira obra tipográfica em Espanha nesse tipo de 
caracteres se deveu a Solomon b. Moses b. Alcabiç Halevi, em 
Guadalajara, por volta de 1476 (e não em 1482 em que esse mesmo 
impressor editou, na mesma localidade, os Comentários ao Pentateuco, de David Kimchi).
O dado mais concreto de que hoje se dispõe, a este respeito, é apresentado, porém, na Geschichte des Spanishen Frühdruckes in Stammbaümen,
 de Konrad Haebler, onde se refere que já em 1483 o castelhano Alfonso 
Fernandez de Córdoba procedia ao fabrico de caracteres móveis hebraicos,
 porventura utilizados nas oficinas de Hijar e de Guadalajara.
4- Judeus portugueses impressores no nosso país e no exílio
No
 que respeita às primícias da arte tipográfica com caracteres 
hebraicos, executados por judeus portugueses no exílio ou em Portugal, 
importa reter, numa primeira análise, os nomes de Moses b. Shem Tob Ibn 
Habib e de Samuel Gacon. Ambos viverem em Portugal no último quartel do 
século XV, tomando, as suas vidas, a partir de uma dada altura, rumos 
diferentes dos da sua família espiritual do Algarve.
Moses Ibn Habib foi um poeta hebreu, filósofo, tradutor e gramático que nasceu no século XV em Lisboa[11], em data que não se torna possível precisar. Este autor terá vivido, ao que refere Posnanski[12], durante algum tempo no Levante. Esteve no sul de Itália, designadamente em Nápoles, vindo a morrer nos começos do século XVI.
Foi precisamente na cidade italiana de Nápoles que circulou em 1484 a sua gramática Perah shoshan, preparada nesse ano e sobre a qual trabalhámos, há alguns anos, na British Library de Londres, seguindo registos de Amzalak[13].
 Esta obra, dividida em sete secções, cada uma dividida em vários 
capítulos, foi iniciada em 23 de Sivan A. M. 5244, no calendário 
hebraico (16 de Junho de 1484) e terminada em 27 Kislev A. M. 5244 (15 
de Dezembro do mesmo ano).
Quanto
 ao outro judeu português atrás referenciado, Samuel Gacon, ele já se 
situa, com mais precisão, nos primórdios da arte tipográfica portuguesa[14]
 em território nacional. Samuel Gacon, cuja data de nascimento também 
não conhecemos, não teve de optar pela via do exílio. Sabe-se, apenas, 
que no ano de 1487 vivia em Faro. Foi precisamente nessa cidade que, em 
30 de Junho desse mesmo ano – três anos depois de Ibn Habib ter feito 
divulgar em Nápoles a sua gramática – concluiu a edição do Pentateuco, que Pina Martins[15] considera “a primeira obra impressa em Portugal em caracteres hebraicos”[16].
5- Da impressão (em 1487) do Pentateuco
Ao
 longo dos últimos anos, tem-se tentado estabelecer uma teoria das 
ligações dos principais núcleos tipográficos espanhóis do último quartel
 do século XV com outros existentes, quer em Portugal (sobretudo em 
Faro, Lisboa e Leiria) quer no Norte de África (onde, a partir do século
 XV, floresceram também importantes comunidades judaicas provenientes de
 Espanha e do nosso país).
Embora
 não se possa ainda admitir correctamente a sua região de origem, na 
zona arábico-andaluza, não podemos deixar de lembrar que é sensivelmente
 neste período da edição do Pentateuco – ou seja, cinco 
anos depois, por altura do decreto de expulsão dos judeus de Espanha – 
que parte para o Norte de África o grande teórico e humanista Yossef 
Alachkar, dito El-Rkyèse – que depois de 1502 se estabelece em 
Tlemecen, onde desenvolve obra intelectual assinalável, no estudo da Bíblia e do Talmud.
Samuel
 Gacon (em Faro), David Kimchi e Solomon AI-Kabiç (em Guadalajara) e 
Yossef Alachkar (em Tlemecem, no Norte de África), afiguram-se-nos, 
assim, peças importantes de um mesmo “puzzle” que importa desmontar, 
reconstituir a analisar até às suas mais ínfimas partes constituintes.
De
 Samuel Gacon chegou até aos nossos dias a primeira obra de que há 
notícia ter sido impressa em Portugal. Trata-se de um trabalho que se 
nos apresenta em 110 fólios, com composição de 30-32 linhas.
Ilustração – Legenda:
Frontispício do Pentateuco
ficheiro da ilustração: “Pentateuco – 1487 – Frontispício.JPG”
Tendo, no nosso país, sido primeiramente divulgada a sua existência por Proença e Anselmo[17] a notícia da sua existência já havia, no entanto, sido feita, segundo adverte Artur Anselmo, nas Origens da Imprensa em Portugal, por Steinchneider, entre 1852 e 1860.
O Pentateuco (de
 Faro) cuja realização tipográfica se concluía em 30 de Junho de 1487, 
foi impresso precisamente um mês depois de ser editada em Itália, nas 
oficinas de Francesco del Tuppo, a obra Apologia de Picco della 
Mirandola. Não pode, porém, ainda hoje considerar-se como provada 
documentalmente a hipótese de António Ribeiro dos Santos de os 
caracteres tipográficos móveis hebraicos terem inicialmente chegado a 
Portugal provenientes de Itália[18].
6- Dos três núcleos de produção hebraica
quatrocentista portuguesa (Faro, Lisboa e Leiria)
Se o Pentateuco de Faro constitui a primeira obra editada em caracteres hebraicos no nosso país, a edição do Séfer Abudraham, ou seja Novas da Lei ou Comentários sobre o Pentateuco,
 de Moisés ben Nahman, é, na opinião de Pina Martins, “o primeiro livro 
impresso na capital portuguesa em caracteres hebraicos”, já objecto de 
reedição, em fac-simile, no nosso país[19].
Marque
 ou não essa edição o início de uma venturosa época (porém de não muito 
longa duração) de intensa actividade dos impressores hebraicos em 
Portugal, sabemos que ela se expandiu entre nós na década de 1487-97 por
 diversos outros pontos do país. Assim, e mesmo que em 1489 (pelo 
testemunho de Pina Martins) ou porventura em 1488 – a confirmar-se a 
hipótese de Rosemarie Erika Horch em relação ao Sacramental, – já
 laborassem em Portugal tipografias com caracteres em língua portuguesa 
como a de Chaves, é facto provado que neste período a tipografia 
hebraica conhecia, já uma significativa fase de implantação entre nós.
Faro
 pode hoje, como efeito, orgulhar-se – justificadamente – de ter sido o 
berço, da primeira Imprensa hebraica portuguesa e, daí, o local de 
realização da mais antiga obra – em caracteres hebraicos – de que (até 
agora) há notícia na História da Imprensa no nosso país.
Não
 restam hoje dúvidas – depois das desenvolvidas pesquisas de Artur 
Anselmo (e contrariando o que escrevera Joshua Bloch) – que Samuel Gacon
 e Samuel Porteiro foram uma única e mesma pessoa. Tal não invalida que 
Offenberg tenha no índice final de Hebrew Incunabula (p. 187) – distinguido Samuel Gacon de Samuel Porteiro, referindo que o segundo imprimiu em Faro até por volta de 1496.
Nessa
 altura os seus filhos levaram o prelo (ou componentes do mesmo) para 
Pesaro, em Itália (onde, segundo Anselmo sobreviveram “vestígios de 
caracteres tipográficos” da sua oficina “na qual só havia tipos 
quadrados de dois tamanhos, embora as vogais-pontos só apareçam na 
matriz maior”). Também elementos da mesma família dos Gacon foram 
descobertos por Joshua Bloch em Constantinopla.
Leiria por sua vez foi testemunha, em 1496, da publicação do Almanach Perpetuum celestius motuus. Foi esta obra escrita pelo judeu e astrólogo Abraão Zacuto, destacada figura na corte de D. Manuel[20].
Importa,
 pois, que se estabeleça o “rol” de publicações surgidas em cada um dos 
núcleos tipográficos judaicos portugueses nesse último quartel do 
século XV:
I- Faro
1.1487- Pentateuco (Samuel Gacon)
2.1492(?)- Talmud Babilónico. Comentário de Rashi (Samuel Gacon)[21]
3.1494- Tratado do Divórcio (Samuel Gacon)[22]
II- Lisboa             
1.1489- Novas da Lei ou Comentários ao Pentateuco, de Moisés ben Nahman (Elieser Toledano)[23]
2.1489- Comentário à Ordem das Orações[24], de David Abudarham (Elieser Toledano)
3.1490(?)- Livro de Orações (Elieser Toledano)[25]
4.1490(?)- Caminhos do Mundo, de Josué Levi
4.1.idem- Livro do temor, de Ionah Gerondi
4.2.idem- Segredos da Penitência, de Ionm Tovb (os três trabalhos, reunidos num só volume, da responsabilidade também de Elieser Toledano?)
5.1491- Pentateuco, em versão de Onkelos e com comentário de Rashi (Elieser Toledano)
6.1492- Provérbios de Salomão. Comentário de David Ben Salomão ibn Iaachia (Elieser Toledano)
7.1492- Isaías e Jeremias. Comentário de David Kimchi (Elieser                Toledano)[26]
8.1492(?)- Leis da Matança, de Moisés ben Maimon (Maimónides) (Elieser Toledano?)[27]
III- Leiria [prelo da família Ortas[28]]
1.1492- Provérbios de Salomão. Comentário de Menahem ha-Meiri e Levi ben Gershom (Samuel d’Ortas e filhos)[29]
2.1494- Profetas Primeros. Comentários de Levi ben Gershom e Davi Kimji (Samuel d’Ortas e filhos)[30]
3.1495- Caminhos da Vida, de Jacob ben Asher (Abraão d’Ortas)
4.1496- Almanach perpetuum celestius motuus, de Abraão Zacuto
A
 estas obras bibliográficas judaico-portuguesas do século XV poder-se-ão
 acrescentar, no entanto, ainda alguns “fragmentos de outros espécimes” 
que, segundo A. Anselmo “podem ter sido impressos em Lisboa e Leiria 
entre 1490 e 1495”. Entre tais trabalhos contar-se-ão, seguramente, 
alguns já referenciados em 1971 no censo geral de incunábulos hebraicos 
organizado por Herrmann Mezer.
Ilustração - Legenda:
Trecho do Arco de Triunfo de Maximiliano: brasões dos rei de Maiorca, Sevilha, Sardenha, Córdova, Córsega, Múrcia, Jaen, Algarve, Algeciras,
 Gilbraltar-e-Canárias, Índias-e-ilhas-do-mar-oceano, Quinze ilhas, a 
esquerda; e desenho das armas do reino do Algarve, muito inspirado no da Carte nouvelle de la parte meridionale du royaume de Portugal et des Algarves, por Jean Couveus e Corneelle Mortier, impresso em Amesterdão (entre 1665 e 1706, segundo S. Alves de Azevedo), à direita.
Ver AZEVEDO, Francisco Simas Alves de (1984).
ficheiro da ilustração: “Pentateuco - Brasão Algarve.JPG”
Outra
 conclusão que será licito tirar é que, nos dois últimos decénios do 
século XV, enquanto em Faro se destacava a acção tipográfica 
desenvolvidas por Samuel Gacon, em Lisboa se notabilizava, nesse mesmo 
contexto a de (entre outros) Elieser Toledano. Este último, no primeiro 
ano da sua actividade entre nós (1489), fez editar obras como Novas da Lei ou Comentário ao Pentateuco e Comentário à Ordem das Orações, a
 última das quais, segundo Amzalak, foi adquirida no começo da década de
 vinte, pela Biblioteca Nacional de Lisboa, na Alemanha. Poder-se-ia 
concluir, ainda, que na tipografia judaica de Leiria – e algumas 
investigações entretanto já realizadas apontam que ela se situaria não 
muito longe do castelo da cidade e numa ruela a que tais oficinas 
chegaram mesmo a dar o nome – Samuel d’Ortas terá sido o grande 
“obreiro” neste tipo de actividade. Tal “mester”, afinal, passá-lo-ia 
depois (ao que era tão frequente no espírito corporativo da época) aos 
seus próprios filhos. Desconhecemos, no entanto, o laço de parentesco – 
estrito embora, é certo – entre Samuel d’Ortas (responsável em 1492 pela
 edição dos Provérbios de Salomão) e Abraão d’Ortas que em 1495 (três anos depois, portanto), fez sair dos seus prelos a obra Caminho da Vida.
 Será que Abraão era pai de Samuel e incutiu a este – bem como a outros 
filhos – os segredos, o rigor e o “cuidado” da sua Arte?
Tivesse
 também em Leiria a produção tipográfica hebraica sido mais ampla (ou 
não) do que hoje se conhece, é um facto que aí os impressores, à 
semelhança do que sucedia em Lisboa e em Faro, sentiram uma natural e 
justificada inclinação para editar e, sobretudo, comentar o Pentateuco.
Nesses fins do século XV era naturalmente seguida, pela sua importância, a Biblia dos Setenta. Assim, também os judeus exegetas – segundo o testemunho de Joaquim Carreira Marcelino das Neves[31] – estavam em crer que “os 72 anciãos, reunidos por Ptolomeu com o fim de traduzirem o Pentateuco,
 actuavam sob o carisma da inspiração divina. Filão de Alexandria diz 
explicitamente que os tradutores dos LXX não são apenas tradutores, mas hierophantes et prophétes: ces hommes qui ont pu suivre par des expressions transparentes la pensée si pure de Moïse”. Esta tradição é conservada no Talmud Babilónico.
Tendo
 debatido exaustivamente esta problemática, Marcelino das Neves acaba 
por concluir que “os LXX não são apenas uma tradução, mas também uma recriação e interpretação do original hebraico. Também é verdade que o Novo Testamento usa destas interpretações para exprimir o mistério de Cristo. Mas nunca esqueçamos que os LXX são antes de mais uma actualização do
 original hebraico com um fim bem determinado: consolar os fiéis, os 
pobres, os justos e a diáspora judaica e levar-lhes a certeza da próxima
 redenção do jugo inimigo e dos mais judeus que o dirigiam”.
Admita-se
 que só nas três cidades de Faro, Lisboa e Leiria actuassem, numa 
primeira fase, essas mesmas tipografias hebraicas. Somos levados a 
concluir, assim, que da região do litoral tais técnicas – e 
consequentemente as acções daí resultantes – passassem assim, a ser 
dirigidas para o interior do País, presumivelmente entre 1488 e 1495. 
Nesse modelo de penetração técnico-cultural desempenharam, em particular, um decisivo papel, a um nível endogâmico e a um nível exogâmico, três intervenientes precisos:
- o rico comerciante judaico;
- o almocreve (inicialmente ligado, também, ao culto judaico);
- e o aristocrata em viagem.
Quanto ao “rico comerciante judaico”,
 esse indivíduo (ou grupo) está associado, a nosso ver, à importação das
 primeiras “impressoras”, rudimentares, já se vê. Ele estava motivado, 
antes de mais, pela mira do lucro. A introdução do “novo” aliciava-o a 
agir nesse sentido, com as “portas” verdadeiramente franqueadas[32].
Um
 lugar não menos decisivo ocupou, então, sobretudo num contexto de 
ruralidade, o almocreve. Era ele – e alguns estudos de especialistas 
como Humberto Baquero Moreno atestam nesse sentido – o grande elo de 
ligação intercomunitária, ligando espaços rurais a espaços rurais, ou 
espaços urbanos a espaços rurais e vice-versa.
O
 almocreve – para além dos produtos de comércio (utilitário domésticos)
 que transportava, designadamente, azeite, tecidos, botões ou, ainda, 
novas técnicas como o fogão de barro, uma forma primitiva de tesoura, e 
agulhas, etc. – é também um elemento intermediário e de propaganda, de 
difusão ou contágio. Não era ele, apenas, que transportava as novas, como também divulgava o conceito de novo, ao nível das novas técnicas surgidas.
O
 almocreve desempenhou também, de facto, um papel decisivo no que 
respeita à chegada à aldeia, à micro-comunidade regional, dos espécimes 
bibliográficos (mesmo que ele fosse analfabeto, como em muitos casos, se
 não mesmo na sua esmagadora maioria, se verificava.) A cultura da escrita sobrepunha-se, assim, a essa arcaica cultura oral-empírica e
 que muito tardaria a ser suplantada. É evidente que esse atraso se 
deveu, fundamentalmente, à falta de amplas medidas tendentes à 
alfabetização popular.
Só
 neste século, em certa medida, é que o conjunto de analfabetos 
principiou a atingir índices menos gritantes (embora, naturalmente, 
ainda não satisfatórios).
O terceiro componente a que atrás fazíamos referência é o aristocrata em viagem. Ele faz chegar ao interior do País – sobretudo junto da aristocracia reinante,
 descentralizada, nos contextos de ruralidade da época –, durante as 
suas incursões de tipo comercial ou de mero carácter recreativo 
(designadamente venatório), como prolongamento da sua cultura, muitas vezes obras de imitação dos clássicos, designadamente Marco Túlio Cícero ou Séneca[33]. Tais obras normalizam, por
 vezes, a conduta social do nobre, disciplinam a sua actividade em 
termos de vida social, num plano de exercício em comunidade – os jogos, 
os torneios, partidas recreativas – ou em privado, designadamente no que
 respeita à educação dos filhos nobres, à maneira de se comportar à 
mesa, de negociar um casamento, ou falar ao coração de uma donzela.
7- A penetração das tipografias judaicas no interior do país
Ao
 longo da última década do século XV, a acção tipográfica judaica, nas 
cidades de Faro, Lisboa e Leiria foi sendo, gradualmente, objecto de 
intensificada vigilância. Já nos primeiros tempos do reinado de D. 
Manuel, mesmo antes do tão conhecido decreto, de 1496, da expulsão do 
povo judaico, a gente de Nação passou a sentir não só as mais vivas represálias, como a mais acesa perseguição.
À
 semelhança do que sucedia em Lisboa, também nas judiarias das cidades 
do Sul do país, como Évora, Beja e Faro, essa perseguição não deixou de 
ser uma afrontosa realidade. Estamos em crer que foi na sequência de 
tal situação que os filhos de Samuel Gacon Porteiro partiram de Portugal
 para o Levante, mais concretamente para Itália e Constantinopla. E, 
ignorando-se também se o pai daqueles técnicos partiu com eles, podemos 
hoje, no entanto, afirmar, que à semelhança do que já no século XIII 
fora Moses ben Nahman, Samuel Gacon foi, pelo menos, um editor do Talmud com os olhos postos no Oriente.
Para
 aqueles que em 1495 ainda não tinham partido, a perseguição era 
efectivamente feroz. Isso verificava-se, pelo menos, na cidade de Évora,
 o que levou a Rainha D. Leonor a escrever uma carta – datada de 24 de 
Outubro desse ano, e dirigida a D. Fernando de Castro, Conde de Lemos e 
Trastâmara – em que incumbia aquele dignitário “de proteger a comuna 
judaica, então ameaçada de expoliações e violências”[34] .
Em
 relação à vida dos judeus, nesses últimos decénios do séc. XV, em Beja e
 Faro, ela decorreria também – à semelhança do que se verificou em 
relação à comunidade eborense – também em moldes de uma manifesta 
segregação ou, mesmo, ao nível de uma auto-marginalização. Existe 
documentação apropriada que permite estabelecer, para este período, um 
nítido traço de união entre a comunidade judaica de Beja e a de Faro. 
Mais importante que isso é, porém, o facto de se poder admitir – embora a
 falta de documentos precisos nos impeça de o afirmar categoricamente –
 uma identificação de um tal “Gagim Judeu morador” da cidade de Faro, 
com Samuel Gacon (ou Porteiro), impressor do Pentateuco, na mesma cidade, em 1487.
Esta
 hipótese de identificação foi aventada, pela primeira vez, por Alberto 
Iria, académico e um dos mais distintos investigadores da História do 
Algarve, na conferência “os Judeus no Algarve Medieval e o Cemitério 
Israelita de Faro do século XIX, História e Epigrafia...”[35], pronunciada em 24 de Novembro de 1983 na Academia das Ciências de Lisboa.
Segundo Alberto Iria “em Beja, a 9 de Novembro de 1489, el-Rei D. João II confirmava a Abraão Alegria, morador em Faro (faarão), a carta de aforamento que, nesta vila algarvia, lhe fizera Fernão de Espanha, contador da Casa Real e, por especial mandado régio, contador neste Regno do algarue, em 8 de Agosto de 1488.
Neste aforamento, Fernão de Espanha fez saber que por díuida que huū manuel (?) gagim Judeu morador na dita villa deuia ao dito Senhor [Rei] da parte que teue das Remdas do Amoxarifado da dita uylla o anno passado de lxxxiiijº (sic) lhe foram tamadas (sic) hūas casas que por ello tinha dadas a fiamça da dita Remda ho dito anno o dito abraão elegria (sic) seu cunhado.
“Metidas
 estas casas em pregão, só Abraão Alegria licitou, pelo que lhe foram 
aforadas por 400 reais de foro anual, enfatiota, a pagar em Janeiro, já 
no ano de 1489”, sublinha ainda o autor de “Os Judeus no Algarve 
medieval”...
As casas estavam localizadas na própia “Judaria”: as quaes [casas] estam dentro de judaria da dita uilla E partem com casas de jsaque tolledano e com casas de Joham de dios e com Rua pruuica...
Mas Abraão Alegria ficou com a obrigação de pagar bem
 e despachadamente vimte Reaees de prata destes de vimte Reaees o Real 
que fazem catorze e ctmco oytauas e huūa homça por dia de Janeiro em 
cada huū anno...
Este aforamento – constante do Livro II de Odiana, a fl. 217 v.º – foi feito em Faro por Fernão Gonçalves, porteiro dos contos por Fernão Vieira, seu escrivão.
É
 plausível na óptica de Alberto Iria (e corroborando a opinião já 
expressa por Artur Anselmo) que Samuel Gacon, já referido, “tivesse 
também exercido em Faro as funções de porteiro dos Contos, por nomeação
 régia que, infelizmente, não chegou até nós”.
Estas
 são algumas das considerações que se nos oferecem fazer no respeitante 
quer à implantação da tipografia em Portugal, no último quartel do 
século XV, quer às primeiras tantativas de “pôr a circular” pelo 
interior do País, o produto cultural saído do labor desses mesmos 
artífices (tipógrafos hebraicos, ou de credo judaico).
Assumiu,
 de facto, uma enorme importância para a cultura portuguesa de fins da 
Idade Média e do Renascimento a introdução da Arte tipográfica em 
Portugal, por intermédio da impressão de obras como o Pentateuco, em
 1487 em Faro. A esta comunidade estiveram, aliás, ligadas várias 
famílias judaicas, até há poucas décadas (Ver APÊNDICE DOCUMENTAL IV).
Foi essa mesma motivação que levou, em 1489, os judeus, estabelecidos em Lisboa, a imprimir a mais antiga obra que se conhece, Novas de Lei ou Comentário ao Pentateuco. Ou, ainda, a motivação daqueles impressores cristãos que, nesse mesmo período, imprimiram, em linguagem, o Sacramental (1488?), ou o Tratado de Confissom (1489).
O Pentateuco comemorou,
 em 30 de Junho de 1987, o quinto centenário da sua publicação. E 
atinge tal relevância a evocação desse remoto acontecimento 
(artístico-tipográfico) para o Portugal de hoje – quanto ela 
permite, também, fazer a evocação do passado dos portugueses nos mares, 
ou lembrar à Europa e ao mundo o peso da Cultura lusíada já nesse tempo.
[1] A
 passagem desta data, em relação à História da Imprensa portuguesa, foi 
assinalada, fundamentalmente, com a criação, por parte do Estado 
português, de uma Comissão para as Comemorações do Quinto Centenário do 
Livro Impresso, presidida pelo Prof. Doutor José V. de Pina Martins. A 
mesma data motivou o aparecimento, na imprensa escrita, de alguns 
artigos. Cfr. MATOS, Manuel Cadafaz de, (1987 a; b), p. 25; pp. 6-7.
[3] Ver-se-á, adiante, o significado de Porteiro, quer a um nível de comunidade cristã, quer a nível de comunidade judaica.
[4] ANSELMO, Artur, (1981), pp. 427-428.
[5] HORCH, Rosemarie Erika (1956), pp. 283-285.
[6] Rosemarie
 Erika Horch, na sequência das pesquisas que desenvolveu nesta 
biblioteca brasileira em particular durante a preparação do catálogo (referido na nota anterior) – escreveu um artigo para a revista Prelo, da Imprensa Nacional (Lisboa), onde defende tratar-se do mais antigo livro impresso em linguagem portuguesa.
[7] Diário de Notícias de 25 de Maio, de 1965. Oito anos depois Pina Martins veio a editar, em fac-simile, o Tratado de Confissom.
[8] Continua
 hoje a desconhecer-se qual a oficina de fundição em que foram 
produzidos os carateres hebraicos utilizados em Faro por Samuel Gacon.
[10] Esse
 papel, no entanto, chegava também a Portugal (entrando por portos como 
os de Faro, Lisboa, Porto, Setúbal e Viana do Castelo), proveniente de 
regiões do ocidente europeu como da Galiza, do oeste e norte de França, e
 da Itália mediterrânica. Cfr. LARES, Maria Manuel Fernandes Pinto 
(1989).
[12] POSNANSKI, S. (s.d.), p. 125.
[13] AMZALAK, Moses ben (1941), pp. 1-4.
[14] No
 campo de autores judaico-portugueses que se auto-exilaram neste 
período, conta-se, ainda, David Ibn Yahia Ben Solomon que nasceu em 
Lisboa em 1440. Autor de uma gramática, Leshon Linundim, ele 
optaria mais tarde por partir (em data que não se tornou possível 
precisar) para Constantinopla, onde veio a falecer em 1506.
[16] O “único" exemplar que se conhece do Pentateuco é, segundo Amzalak (op. cit.)
 o que se encontra depositado no “British Museum”, Londres. Sobre esta 
obra trabalhámos na capital britânica nos anos setenta, altura em que 
formulámos a intenção de a divulgar em edição fac-similada por altura do
 seu quinto centenário. FERNANDES, Leão (1935-1936), p. 44. Este último
 autor refere, a tal propósito, conhecer que “o único exemplar conhecido
 guarda o British Museum, de Londres”. Também Alberto Iria chamou a 
atenção (em conferência na Academia das Ciências em 1983) para a 
necessidade de uma nova edição do Pentateuco de Faro.
[18] MARTINS, José V. de Pina (1971), p. 208. Francesco del Tuppo terminou a sua edição da Apologia,
 de Giovanni Pico della Mirandola, precisamente em 31 de Maio de 1487. 
Curiosamente António Ribeiro dos Santos, apresentou, já há várias 
dezenas de anos – e acerca da vinda de caracteres hebraicos de Itália 
para o nosso país esta hipótese: “Ela [a tipografia] nos veio transplantada
 da Itália, e por mãos dos Hebreus, que eram os únicos naqueles tempos 
que a estabeleciam e propagavam por toda a parte, porquanto os Judeus, 
maiormente os alemães da cidade de Spira, que haviam passado à Itália, 
tinham levantado os seus primeiros prelos nas cidades de Socino (sic), de Piobe (sic),
 de Pesaro, de Bolonha e de Ferrara; e destes vieram alguns a Portugal, 
para onde muito os atraía e convidava a grande quantidade que cá 
tínhamos de Judeus estrangeiros e nacionais e a esperança do grosso 
lucro que lhes prometia o muito fervor com que então se tratavam os 
estudos de literatura sagrada nas sinagogas deste Reino”, in SANTOS, 
António Ribeiro dos (s.d.), p. 17.
[19] MARTINS, José V. de Pina (1972), apêndice documental, gravura 2. Desta obra, Comentários ao Pentateuco, foi
 feita uma nova edição, em fac-simile, da responsabilidade de Edições 
Távola Redonda, Lisboa, 1989, com estudo introdutório de Manuel Cadafaz 
de Matos. Tendo nós, no estudo introdutório que preparámos para essa 
edição, apresentado (baseados em Artur Anselmo) os exemplares de tal 
obra existentes em várias bibliotecas e arquivos mundiais, fomos 
informados, em carta, por Offenberg, que essa relação pode ser hoje 
ampliada com estes novos dados: Amsterdam, UB, BRos 1(-3 últ. ff) 
(Burger; IDL); Berlin (Ocid.), SB 1(VB; Schmitt); Budapest, BN 1(-) 
(IBH); Cambridge, Clare CL 1(-) (Cohen; Goldstein); Cambridge, UL 2(1-, var)
 (Cohen; Oates; Goldstein); Cambridge, Mass., HCL, HoughtL l(-) (Goff); 
Chicago, NewbL l(-) (Goff); Cincinnati, HUCL 1(-fl) (Marx; Goff); 
Copenhagen, KB 2(1-26ff; 1 frag de 1f) (Madsen); Frankfort/ M., StUB 
l(Fr.; Ohly-Sack); Jerusalem, JNUL 3(1-1f) (TishbyIsr); Jerusalem, SchockInst 1(-74ff) (TishbyIsr);
 Leningrad, BAcad, InstOrSt 2(1-9ff; 1-) (Wiener; Chwolson; Jakerson); 
Lisbon, BN 1(-) (BiblPort; Anselmo; Sul Mendes); London, BritL 1(2ff esq.) (Zedner; Pr.; STCSp-Port; Goldstein);
 London, JewsCL l(-) (Wild; Goldstein); London, ValmTr l(p.c.); Moscow, 
Lenin B 2(Kiselev; Verusalimsky; Jakerson); New Haven, YaleUL 2(-) 
(Goff); New York, HispSocAm l(Goff); New York, JTSL l(Goff); New York, 
NYPL l(Goff); New York, PML l(Goff); New York, YeshUL 1(Goff); Ottawa, 
NLCan 1(Hill); Oxford, BodIL 2(St.CB; Pr.; Cowley; Goldstein); Oxford, 
ChrChurchL l(Goldstein); Paris, BMaz 1(p.c.); Paris, BN 1(-5ff) (Adler; 
CIBN); Parma, BPal l(TamaniParma; IGI); Philadelphia, RosFound 1 (Goff); Piacenza, BC l(-) (TamaniPiacenza; IGI); Provo, BrYoungUL l(Goff); Reggio Emilia, BM 1(-) (IGI); Rome, BApostVat l(Tishby Vat);
 Rouen, BM l(Doublet); San Juan, CasadLibro 1(-) (Goff); San Marino, 
HuntL l(-)(Mead; Goff); Strasbourg, BNU l(Catane); Turin, BN 1(Artom; 
IGI); Uppsala, UB l(Coljnl Uppsala); Vila Viçosa, PaçoDuc 2(1-) 
(BiblPort; Peixoto; Anselmo) (exemplar por nós seguido em 1989, no 
essencial); Warsaw, ZydlnstHist l(Weil); Washington, LC l(Goff); Zürich,
 ZB l(-) (p.c.).
[20] Vide SILVA, Armando Carneiro da (1955). O Almanach Perpetum, segundo Artur Anselmo “documenta a única impressão gótica saída dos prelos hebraicos” (op. cit., 1983, p. 116).
[21] ANSELMO, Artur, (1981), p. 88, referencia esta obra (além da grande maioria de todas as outros).
[22] Este
 espécime bibliográfico é descrito (designadamente com reprodução em 
fac-simile, de um dos fólios, in AMZALAK, Moses ben (1922), p. 20-21, 
Estampa II.
[23] No
 cólofon desta obra, que é apresentado por Artur Anselmo (in op. cit., 
secção “Registo Catalográfico”, afirma-se: “... por um homem justo e 
pobre, R. Elieser, que, entre as balanças (i. e. prensas), trabalhou e imprimiu a Lei com o targum e o comentário de R. Salomão que é a luz dos olhos. Acabou-se em Lisboa, no ano 251 (= 1491), no mês de Av, adicionando (aos 251) três mil e dois mil (3000 + 2000 + 251 = 5251). Seja Deus, que o assistiu, exaltado com harpas, órgãos e címbalos.”
[24] No cólofon deste Comentário à Ordem das Orações, de
 David Abudarham, refere-se, designadamente: “Impresso em Lisboa, no 
meio da qual está situada a sinagoga que é o amparo e a mãe de todas as 
principais sinagogas.”
[25] Do Livro de Orações
 temos conhecimento directo do espécime existente no Seminário Teológico
 Judaico de Nova Iorque (de que até há pouco, pelo menos, era 
bibliotecário o dr. Menahem Schmelzer). Veja-se a respeito desta obra 
hebraica (e outras). MEZER, Herrmann (1971), vol. 8, cols. 1319-1344. 
Deve-se a Artur Anselmo (in op. cit.) a primeira referenciação desta obra em edição portuguesa.
[26] No cólofon desta obra refere-se, designadamente: “Impresso em Lisboa, em casa do sábio R. Elieser, no ano Ele voltará radiante de alegria, com as suas gavelas (Salmos, 126, 6), segundo a Criação.”
[27] Sobre este pensador judaico medieval remetemos para Romano David (1986) e R.D.B. (1967), pp. 174-175. Este tratado sobre as Hilkhot Shechitali
 (Leis sobre o Abate Ritual de rezes), publicado presumivelmente em 
1492, contém, na expressão de Artur Anselmo “os preceitos da degola dos 
animais, de acordo com as instruções do Talmud” (op. cit., ed. 1981, p. 262).
[28] Sendo
 hoje certo que Samuel d’Ortas teve filhos que (também) se dedicaram às 
artes tipográficas, há quem defenda a tese que ele (o impressor de 
“Provérbios de Salomão”) e Abraão d’Ortas (o impressor de “Caminho da 
Vida”), são uma e a mesma pessoa, que se chamaria precisamente Samuel 
Abraão d’Ortas.
[29] No cólofon desta edição dos Provérbios de Salomão afirma-se: “Executado na oficina impressória do honrado Dom Samuel d’Ortas, num país distante... (com a ajuda do seu hábil filho Abraão (e à custa de) Samuel Kolodro. Acabou-se no primeiro dia do mês de Av (= 25 de Julho)... no ano E eles chegarão a Sião com Júbilo (Isaías, 51, 119...)”.
[30] No cólofon desta edição dos Profetas Primeiros
 refere-se: “Por ordem textual de pessoas eminentes e das autoridades 
residentes na comunidade de Lisboa, cidade feliz sob todos os aspectos, a
 composição foi feita pelos três irmãos, dos quais o pai é o chefe e 
rei, na vila chamada Leiria, situada na margem do rio do mesmo nome. 
Acabou-se no ano de (5)254..., na terceira semana do mês de Shevat, 
perícopa sabática de Mishpatim.”
[32] Os
 Judeus tiveram uma particular preponderância em negócios do reino e, 
também, na benéfica introdução de novas técnicas, designadamente no que 
respeita à tipografia e ao primeiro fabrico de papel. Nesta época de 
transição da Idade Média para o Renascimento, a arte tipográfica – e 
outras formas de arte – contribuíram, ao que é sabido, para a introdução
 do ideal do Renascimento no nosso país. Importaria, a nosso ver, 
estudar hoje em detalhe o que concerne à introdução no nosso pais dessas
 mesmas técnicas científicas e artísticas.
[33] Vide, por exemplo, as edições do Infante D. Pedro, em pleno século XIV, XV, intituladas O Livro da Virtuosa Bemfeitoria (a partir de Beneficiis, de Séneca) ou o Livro dos Ofícios (a partir de De Oficcii, de Cícero).
[35] O texto desta conferência veio a ser publicado no tomo XXV das Memórias da Academia das Ciências de Lisboa (Classe de Letras), Lisboa, pp. 293-334 (ver em particular, pp. 320-321).

 
 
 
1 comentário:
Penso tratar-se de reedição da edição de 1991 pelo Governo Civil de Faro, a qual teve circulação muito limitada.
Faço votos de que esta edição tenha circulação muito mais ampla.
José Quaresma Neto
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