sábado, 30 de janeiro de 2016

Sobre a endogamia nas Universidades portugueses

​ Michael Athans, professor do MIT, já tinha chamado a atenção para o problema da endogamia nas universidades portuguesas, um problema que apesar de tudo é menor hoje do que há alguns anos.

 F. Pacheco Torgal, da Universidade do Minho, pôs recentemente a circular uma petição sobre o assunto, pedindo que o assunto se resolvesse com recurso exclusivo a professores estrangeiros. Julgo que não será a melhor maneira de resolver a questão até porque significaria que os académicos portugueses abdicariam das suas responsabilidades.

 Pacheco-Torgal mandou-me a reprodução parcial de um comentário (abaixo) feito através do Facebook. http://peticaopublica.com/viewfullsignatures.aspx?pi=PT79381&pg=28 Deixo-a aqui para debate.

 "A solução talvez passe pela obrigatoriedade de concursos estritamente externos para uma percentagem elevada de Associados e Catedráticos (33%?). Em termos da avaliação o modelo Alemão, em que o comité é obrigado a pedir a opinião escrita sobre o ranking a 3 colegas externos de reputação internacional, também pode ser considerado. Não há uma solução mágica, mas devíamos promover um debate sério sobre que alterações poderiam melhorar a situação. E qualquer debate sério tem que levar em consideração a baixíssima proporção de Prof. Associados e Catedráticos nas Universidades portuguesas, o que leva a situações lamentáveis de excelentes profissionais que chegam à casa dos 50 anos como Prof. Auxiliares, e a uma competição de vida ou de morte pelos poucos lugares que abrem".

Henrique Miguel Pereira, Prof Catedrático, Martin Luther Universitat Halle-Wittenberg, Inv. Coordenador Convidado, U. Porto

Interessante é também, diz Pacheco-Torgal, o link partilhado através do Facebook, relativo a um ​ excelente artigo do Orlando M. Lourenço, Professor Catedrático da Universidade de Lisboa ​ o qual escreveu ​ há dez anos atrás de forma bastante clara e muito corajosa acerca dos ​ nove principais ​problemas ​ de que enferma a ​​Universidade Portuguesa ​ sendo a endogamia o pior​:​

 1. O maior inimigo da Universidade Portuguesa chama-se endogamia. Endogamia significa pouca transparência e clareza. O termo utilizado por diversos avaliadores internacionais é o de inbreeding, um termo que, literalmente, significa consanguinidade. Quer dizer, protecção dos nossos apaniguados e amigos, mesmo que à custa dos direitos legítimos de outros. De forma não eufemista, endogamia significa corrupção. A palavra é dura, mas deve ser uma das mais apropriadas para a realidade do inbreeding que grassa na Universidade Portuguesa. Como disse, quando a vêm avaliar, os peritos estrangeiros sempre frisam esta triste realidade. Não deve ser, portanto, uma invenção minha. Há muitos anos que estou na vida universitária e tenho constatado que nela há, de facto, muita endogamia. Os estudantes, porventura, não se apercebem muito dela. É uma questão de olhar. De olhar para a progressão dos professores na sua carreira; para os critérios em que ela se baseia; para a constituição de diversos júris de provas e concursos; e para muitas outras coisas. Reparem nesta pequena/grande diferença. Nas Universidades dos EUA e do Canadá, por exemplo, para ocupar um lugar permanente na Universidade, um professor é, em última instância, avaliado por uma comissão de que, além do dean, não faz parte nenhum professor do Departamento ou Faculdade a que a pessoa em avaliação pertence. A ideia é fazer com que a endogamia fique de fora, ou seja controlada, pelo menos. E a ideia é também mostrar a quem não é da mesma área ou departamento se o currículo em apreciação tem ou não algo de cientificamente interessante, algo que pode ser apreendido mesmo por quem está fora da área, departamento ou Faculdade. Na minha Faculdade, por exemplo, há diversos concursos de cujos júris só fazem parte os pares da mesma área: da Psicologia ou das Ciências da Educação. Assim, os membros dos júris que podiam ser mais independentes não contam. Fica tudo mais em família! Se essa não é a intenção, esse é o seu resultado mais provável. Mas há outros exemplos de endogamia, exemplos que outros colegas de outras Faculdades não teriam certamente dificuldade em recordar. Um dia, um amigo meu foi arguente de uma tese de doutoramento. Como considerou a tese apenas razoável, foi isso que disse na sua arguição. Em nome da endogamia, era suposto que devia ter dito que se tratava de um trabalho brilhante! Como não disse, porque a tese não era, de facto, brilhante, o doutorando em causa deixou de lhe falar. Esse meu amigo nunca mais foi (nem será) convidado para quaisquer outros júris por essa Faculdade, e esse doutorando recebeu certamente a aprovação do seu procedimento por parte de alguns professores da sua Faculdade e deve ter tido uma progressão rápida na sua carreia académica (que não científica)! Aberrantes que sejam, existem diversas situações semelhantes a esta na Universidade Portuguesa. São os professores Portugueses mais dados à endogamia que os seus colegas de outras Universidades? Não certamente! O problema tem a ver com aspectos institucionais; com o sistema, como é vulgar dizer-se. Uma coisa é certa. Enquanto a Universidade Portuguesa não resolver o problema da endogamia, será sempre uma Universidade sem prestígio, de segunda classe, ou ainda pior.

 2. O inimigo número dois da Universidade Portuguesa é a falta de mobilidade dos seus docentes. Em termos metafóricos, os seus professores nascem, crescem e morrem na mesma casa. É na mesma Faculdade que, em geral, fazem as suas licenciaturas, mestrados, doutoramentos, agregações, concursos dos mais diversos tipos e é também aí que dão aulas toda a sua vida. Nada melhor do que este sistema para a formação de grupos de interesse, outros que não o científico. Não digo que os professores deviam ir todos, nos seus anos de licença sabática ou em outros momentos da sua carreira, para Universidades cientificamente prestigiadas que existem por esse mundo fora. Pelo menos, que fossem para Braga, Coimbra, Covilhã, Évora, Faro, Porto, para referir apenas alguns exemplos. Não seria salutar que os estudantes de uma dada Faculdade pudessem ter sessões orientadas por professores que vêm de fora, mesmo que seja de uma Faculdade congénere, mas de uma outra localidade do seu país? Quantos estudantes das licenciaturas da Universidade Portuguesa já viveram situações destas? Também existe pouca mobilidade a nível dos estudantes. Conhece o leitor alguns estudantes das nossas Faculdade que, por exemplo, tenham feito uma qualquer Disciplina nas Faculdades que não distam das suas mais do que 100, 200 ou 300 metros? E quanto seria cientificamente interessante que os estudantes de Psicologia (ou outra licenciatura) frequentassem, por exemplo, aulas de uma Cadeira dos Cursos de Direito, Filosofia, ou Matemática? Ironicamente, todos falamos agora da Declaração de Bolonha e da mobilidade a nível de países. Enquanto não existir mobilidade interna, a externa será muito mais figurativa do que operativa. Acho que a Universidade Portuguesa não está, de facto, muito interessada na mobilidade de professores e estudantes. Faz o discurso da mobilidade, como faz o da qualidade, mas não o assume. Por exemplo, os concursos para os chamados lugares do quadro (professor associado e professor catedrático) são nacionais em termos de legislação. Quer dizer, podem concorrer os professores da Faculdade onde abre um lugar para ser preenchido e os professores de outras Faculdades que estejam em condições legais de o fazer. Só que isto quase nunca acontece. Quem concorre, em geral, são só os da “casa”. Se o fizerem, os “outros”, sobretudo os que não concorrem com a aprovação tácita do poder académico aí instalado, arriscam-se a ser tomados por intrusos e a estragar o que já estava, por vezes, mais ou menos arranjado. Uma vergonha! Inútil dizer que quando se abre um concurso já se sabe, muitas vezes, quem vai e não vai ficar a ocupá-lo. E nem sempre em nome de critérios de mérito científico. Conheço casos de professores que nem sequer concorreram a certos concursos, porque, tendo embora mérito científico para serem seleccionados, perceberam que seriam preteridos em função de outros com muito menor mérito. A não abertura de concursos para os quais há vagas em aberto fala também em favor desta triste realidade: não se querer, em última instância, que haja mobilidade (e diversidade) no seio da Universidade. Toda a gente sabe, mas a realidade mantém-se. E viva a mobilidade!

3. O terceiro inimigo da Universidade em Portugal tem a ver com a (não) famosa pirâmide. Professores catedráticos são muito poucos; para o lugar de associados, já há mais algumas vagas; professores auxiliares são em muito maior número do que os associados e, claro, do que os catedráticos. Se a promoção na carreira fosse baseada em critérios de mérito científico e de qualidade, em princípio, quanto mais elevada fosse a competência, maior seria a posição de um professor. Maior competência significaria mais prestígio para a Faculdade, melhor ensino para os estudantes e maior contribuição para o progresso científico. Uma Universidade sem professores muito competentes, por melhores pedagogos que se diga serem, é uma fraude. Sendo assim, deveria haver muitos professores no topo da pirâmide, porque seriam esses, supostamente, os melhores professores e os que mais falta fariam (e fazem) à Universidade. A pirâmide, portanto, deveria estar invertida, como acontece, aliás, em muitas Universidade prestigiadas em diversos países. Não quer dizer que os professores devessem ser todos promovidos, até porque ser professor na Universidade não é um direito fundamental! É sobretudo uma opção e uma enorme responsabilidade. Mas seriam certamente promovidos todos os que tivessem mérito. Não devia, aliás, haver um número restrito de vagas para tais posições. Devia ser o mérito, sobretudo o científico, que determinaria a vaga, não o oposto. Como isto não ocorre, em geral, estamos perante mais uma originalidade da Universidade Portuguesa, embora ela exista também em outros países. Em geral, nos que são menos desenvolvidos e que assim continuam, mesmo que o não queiram, a perder oportunidades de desenvolvimento. A estrutura de pirâmide na Universidade Portuguesa está ao arrepio do que é, hoje, fazer investigação. É uma estrutura mais típica de organizações burocráticas que da actividade de comunidades científicas. O argumento para a existência de pirâmides achatadas na Universidade Portuguesa é o de que não há dinheiro.... É falso! Este é um problema político, muito mais do que financeiro. Além de permitirem economizar dinheiro, os quadros servem, não raras vezes, para seleccionar as mentes menos críticas e mais conformistas, o que está nos antípodas de uma sociedade progressista e interessada no bem comum. Numa palavra, ser competente na Universidade Portuguesa é algo que não é estimulado. Às vezes, ela procede mesmo como se a competência de alguns pudesse pôr em causa o seu estatuto de instituição vetusta, apenas mediana, e cheia de muitos Professores Doutores.

 4. Outro mal da Universidade Portuguesa é seu o carácter verboso, escolástico e burocrático. Quero deixar claro, como já disse, que existem excepções em todas as Faculdades, ou seja, que eu estou a falar em termos gerais. Basta ver o número de páginas das dissertações (de mestrado e doutoramento) realizadas. Teses de mestrado com 300 ou mais páginas abundam. Doutoramentos com 500 páginas ou mais também não faltam. Embora haja excepções notáveis, de tais longas teses, o destino principal é, em geral, ficarem arquivadas no pó das bibliotecas. Ou serem citadas apenas localmente e quando tal é conveniente! São, em geral, palavras a mais e ideias e problemas a menos. Em geral, essas teses são mais um testemunho de capacidade de gestão do saber do que de produção de conhecimento novo. E uma Universidade que não produz conhecimento nem sequer merece esse nome. O que nós, professores, geralmente fazemos, é ensinar apenas o que os outros pensaram e investigaram, o que é uma tristeza. Veja, por exemplo, a lista de referências nos livros ou artigos que lê, mesmo que sejam em Português! São maioritariamente de autores estrangeiros. De autores Portugueses, são poucas e, mesmo assim, ditadas muitas vezes mais por razões de conveniência que de qualidade científica. Isto significa que também devíamos ensinar aos nossos estudantes o que nós pensamos e investigamos. Às vezes, digo aos meus estudantes que, se quiserem saber mais sobre um determinado assunto, podem ler um ou outro artigo que publiquei recentemente numa revista internacional prestigiada. Observo, então, em alguns deles, um sorriso levemente irónico. Tomam por vaidade a expressão de algo que é, ou devia ser, relativamente frequente e banal nos seus professores: contribuir, por pouco que seja, para o progresso científico na sua área de especialidade. É o carácter verboso que prolifera na Universidade Portuguesa que ajuda a compreender que os estudantes tenham uma arreliadora tendência para decorarem textos e artigos, conceitos e expressões, mesmo que não saibam muito bem quais as questões em análise, quais os argumentos que fazem sentido e quais os resultados inteligíveis. Têm nisso os estudantes muitas responsabilidades. Mas nós, professores, temos ainda mais. Continuará a ser assim se os problemas da Universidade portuguesa não forem seriamente enfrentados. Devo confessar que não estou muito optimista. Os Governos mudam. Todos parecem ter vontade de alterar o estado de coisas mas, depois, nada de importante é perseguido. Ironicamente, muitas vezes são as mesmas pessoas que tiveram possibilidade institucional de introduzir alterações para melhor, que, mais tarde, vêm declarar que, afinal, a Universidade Portuguesa está muito atrasada em termos europeus e, portanto, que é necessário transformá-la. Em vez de um conjunto pequeno de medidas profundas, as suas propostas limitam-se à constituição de "grupos de reflexão" que produzem relatórios de 200, 300 ou mais páginas! Para que tudo fique mais ou menos na mesma!

 5. Outro mal na Universidade Portuguesa é ser demasiado hierarquizada. Em títulos, somos, de facto, os melhores! Somos sempre, e logo, Professores Doutores. Talvez seja um modo de compensarmos a nossa generalizada incompetência. Costumo dizer que à Universidade Portuguesa sobra em títulos o que lhe falta em investigação e reconhecimento internacional. Quando alguém obtém o grau de doutor, é logo promovido a Professor Doutor e até os artigos publicados em revistas (Portuguesas) fazem muitas vezes preceder o nome do autor dos seus respectivos títulos. Ironicamente, esse alguém recém-doutorado, ainda que, de facto, muito competente na sua área, pode ficar muitos e muitos anos como Professor Auxiliar, e isto porque as vagas de Professor Associado estão todas preenchidas! Ao menos fica-lhe o Professor Doutor!

 6. Outro aspecto menos positivo na Universidade Portuguesa, e de que a minha Faculdade é um bom exemplo, é ser, ou querer ser, demasiado profissionalizante. Porventura os estudantes e muitas outras pessoas não estão de acordo comigo. É certamente importante que a Universidade Portuguesa forme bons profissionais.
 [Mensagem reduzida]

13 comentários:

Ricardo Lima disse...

A endogamia na Universidade Portuguesa é um assunto bastante interessante e recorrente.
De x em x tempo, há alguém que mais uma vez traz o assunto à baila.
Eu assisti à apresentação do Professor Michael Athans na FEUP no dia 29 de Setembro de 2000, onde me lembro de estarem presentes pessoas como o Prof. Marques dos Santos e o Prof. Sebastião Feyo de Azevedo, entre outros.
Foi uma apresentação bastante interessante e que guardo como referência.
No entanto, neste assunto já perdi a esperança (basta analisar algumas contratações no IST recentes).

Vou voltar a repetir (já submetiada neste blog) a minha opinião em relação à endogamia:

Eu tenho uma opinião que poderá ser um pouco controversa em relação a este assunto. Os júris deviam ser internos, apenas do departamento, isto é responsabilidade total para os departamentos na escolha dos seus professores. Porquê que hão-de ser professores externos a decidir qual o melhor candidato para o meu departamento? Se o departamento acha que fica melhor servido com endogamia em termos de qualidade de ensino, em termos de investigação, em termos de captura de fundos nacionais e internacionais através de projectos, em termos de estratégia de diversificação de recursos humanos, tudo bem. Responsabilidade total para os departamentos.
Para aqueles que ainda não perceberam, eu sou contra a endogamia por várias razões.

Unknown disse...

Ana Amorim Ferreira
Caros colegas, considero as questões que levantam muito interessantes mas por vezes parecem-me fora da realidade nacional.
Como se pode falar de endogamia num sistema universitário onde a média de idades do corpo docente é igual ou superior a 50 anos? onde a grande maioria são professores auxiliares?
Onde estão então os concursos que geraram endogamia? que dívida tem a sociedade para com os colegas que sem qualquer perspectiva de progressão profissional, ano após ano, garantem que a Universidade portuguesa continue a formar investigadores de excelência reconhecidos internacionalmente?
A produção científica das universidades portuguesas cresceu exponencialmente nas últimas décadas. Como pode ter isso acontecido sem o trabalho, não reconhecido, dos professores auxiliares, a grande maioria próxima da reforma sem ter tido oportunidade de progredir? é isto endogamia ou um sistema injusto e retrógrado?
Por quê comparar apenas a endogamia das universidades portuguesas com as estrangeiras e não comparar as reais condições em que os professores universitários se vêm obrigados a fazer ciência e as condições em que nessas universidades se faz ciência?
Sou contra a endogamia mas sobretudo sou a favor de uma reflexão sobre a realidade da universidade portuguesa que reconheça a dedicação de quem, apesar de todas as contrariedades, não a deixa morrer. É fundamental rejuvenescer os quadros – abram concursos para professor auxiliar; Reconheçam o trabalho dos professores auxiliares – abram concursos para professor associado e catedrático. Deem condições para que com liberdade de espírito se faça investigação nas universidades.

Mota disse...

Não posso concordar (nem subscrever) a petição, apesar dos intuitos louváveis e indiscutíveis de exigência porque:

1- Esta petição não vai ao encontro de uma questão central que se tem evitado discutir que é a separação clara entre concurso externo e a legítima progressão por mérito (p.ex. por concurso interno, mas não necessáriamente exclusiva) ; como já referi, é a única carreira das 5 dos Corpos Especiais do Estado, com a singularidade de obrigar a concurso externo para as categorias superiores; neste aspecto a petição vai precisamente em contra-corrente, desejando-se manter o "status quo" do ECDU de 2009;

2- “Endogamia” no entendimento dos subscritores diz respeito apenas à situação dos docentes que se doutoram numa universidade e são contratados como professores (deduz-se que auxiliares) pela mesma universidade; mas e então os doutorados que se formaram em outras universidades , na licenciatura e doutoramento (frequentemente estrangeiras, e de reputação) e são contratados como Prof. Aux.: para progredirem por mérito a Associados e Catedráticos, são considerados também casos de “endogamia”?

3- Os factos descritos e que terminam frequentemente em tribunal, com concursos anulados e impugnações, são apenas um sintoma de que algo está fundamentalmente mal no processo; não admira que, em especial devido às recentes restrições orçamentais, as universidades façam tudo para não incorrer em mais despesa (ca. € 70 000/ano por catedrático). Já tive oportunidade, em termos pessoais, de contestar um concurso devido à ilegalidade de um edital de uma universidade pública, sei do que falo, simplesmente o processo seria longo e oneroso, e com “outcome” duvidoso; e poder no final sobrar o “odioso” de entrar numa nova universidade com isto em cima.

4- Reparo que a lista em destaque é essencialmente assinada por Professores Catedráticos; nada a comentar.

5- Mantenho a opinião acerca da necessidade de reformular totalmente o processo de progressão da carreira docente, não apenas com cosmética, tentando através da inclusão de individulaidades estrangeiras salvar as regras de funcionamento do ECDU 2009, nesta matéria.


Saudações académicas

Manuel Mota
Dept. Biologia
Univ. de Évora

Unknown disse...

O relatório do Michael Athans pode ser lido em http://www.math.ist.utl.pt/~jpnunes/PORTUG-RES-mathans.pdf

Nos Estados Unidos a endogamia é combatida de maneira simples: Há uma separação clara de contratação e promoção. Na contratação só em casos muito excepcionais é contratado alguém de "dentro".

A ausência de distinção entre contratação e promoção mostra o objectivo do legislador é reforçar a endogamia.

José Luís Martins, IST

Anónimo disse...

Isto era facil de corrigir. Simplesmente devia-se proibir a contrataçao de professores que tivessem feito licenciatura ou doutoramento na mesma universidade num periodo de 10 anos antes do concurso.

Pinto de Sá disse...

Mas se tudo em Portugal funciona por endogamia, a começar pelos Partidos, porque diabo seria diferente nas Universidades?
Desiludam-se: não há esperança.

Eduardo Martinho disse...

Não pensava voltar a referir-me a um caso concreto que conheço bem, mas como parece que o assunto “endogamia” está na ordem do dia, aqui fica renovada a sugestão de leitura de http://tempoderecordar-edmartinho.blogspot.pt/2015/12/escandalo-num-concurso-para-professor.html.

Mota disse...

Muito bem! É isso que proponho há muitos anos, conheço bem o sistema pois vivi nos EUA durante 8 anos, tendo lá leccionado. A questão central nas promoções é assegurar um juri sério e de elevadíssimo nível em cada área científica, naturalmente com participação de 1-2 membros estrangeiros, mas aqui o relevante não é ser estrangeiro, é ser estrangeiro (externo, portanto) mas de muito elevado currículo científico e reconhecido entre pares. Lamentavelmente duvido que a tutela e uma boa parte dos catedráticos (que curiosamente usufruíram da endogamia) estejam abertos a aceitar esta mudança radical. M. Mota

Ricardo Lima disse...

Concordo. Há muitos anos que defendo que deve existir uma diferença entre promoção e contratação.

No entanto, acredito que os júris devem ser internos. O corpo docente de um departamento tem de ter a capacidade de julgar o melhor candidato nos interesses do departamento.
Responsabilidade total para o departamento.
Imaginem um professor de Princeton a indicar o melhor candidato para o MIT!!!

O que não significa que o departamento não possa solicitar pareceres externos sobre os candidatos a promoção ou contratação.
O que não significa que nas provas académicas de agregação não existam professores externos.

A minha opinião é júris internos com proibição de endogamia.

Fernando Ornelas disse...

Faço este ano 62 anos de idade, tenho um CV e uma reputação internacional que nunca nenhum Geólogo Português teve, mas ... sou um mero Prof Auxiliar na FCUL. Algo está mal neste sistema, e seria tão fácil corrigi-lo se os sucessivos ministros tivessem vontade de o fazer. E nem é preciso grande imaginação, basta seguir um de dois exemplos paradigmáticos: o Suíço ou o Canadiano

Francisco A. Monteiro disse...

A única e urgente mudança de fundo a fazer é copiar o modelo Americano, Canadiano, e Britânico: uma separação completa entre "promoções".

As Contratações são para expandir áreas científicas. Tipicamente são feitas só a dois níveis (Lecturer / Prof. Aux., para mais novos, postdocs ou já lecturers de uma universidade de rank menor) ou para Full Prof (Prof. Cat.), que trazem consigo o seu grupo de investigação, bolseiros, equipamentos, tudo.

As promoções são internas, por mérito absoluto, para premiar quem atingiu "reconhecimento nacional" (sic, para Senior Lecturer) ou a "reconhecimento internacional" (Reader ou Full Prof). A verificação de tal pode ser feita com com um júri externo ao departamento, possivelmente com académicos de universidades estrangeiras mas que não precisam de ser todo). Doutorei-me na Univ. de Cambridge em Engenharia e é assim lá. Conheço muito bem outras universidades no UK onde trabalhei e colaboro, assim como estive bastante tempo no Canadá, onde o típico é que quase todos sejam Full Prof. Por exemplo: http://www.comm.utoronto.ca/group/index.php?option=com_content&view=article&id=44&Itemid=53

O gargalo é feito na admissão a uma tenure-track position. Só se consegue após anos com a mala às costas entre continentes em postdocs e depois em posições ("lecturships") universidades menos consagradas. Depois de se entrar para uma tenure-track, os primeiros 5 anos até à tenure são, como se costuma dizer: não se pode ter família. São 80h de trabalho por semana. Nos EUA há casos de admissão de 5 e só 2 ou 3 ficarão com a tenure. Ou admissão de 3 e só 1 sabe que fica.

Mas quem passa pelo gargalo da admissão sabe que, correndo tudo normalmente, em 10 anos está no topo da carreira (e tem ainda décadas à frente de si para ser Fellow da Royal Society ou o que seja - há muitas distinções e muito para fazer para depois de ser full professor).

E no UK há aumentos anuais de escalão e de salário na "pay scale" em cada categoria só por passagem dos anos, tendo cada categoria cerca de uma dúzia de patamares, apenas saturando a progressão temporal ao fim de uma dúzia de patamar de progressão nessa categoria (mas quase ninguém ficaria 12 anos na mesma categoria...).

O que se passa em Portugal com o pequeníssimo número de catedráticos é inacreditável. Acho que há consciência disso (lembro-me do actual Reitor da ULisboa, Cruz Serra, tê-lo dito no final de uma entrevista ao Mário Crespo na SICN, antes de ser reitor). Há pessoas com tudo o que a sua comunidade científica de mais prestigiante possa atribuir, que deram a vida ao seu departamento, e que vão um júri de doutoramento a universidades estrangeiras, ou em conversa numa conferência, e ninguém acredita que são aos 50 e tal anos "Assistant Professor".

Anónimo disse...

Percebo o ponto de vista da responsabilização, e até estou de acordo com o princípio. Śó que nunca há consequências absolutamente nenhumas, nem responsabilidade.

Quando escreve "Se o departamento acha que fica melhor servido..." há, na minha opinião, vários problemas subjacentes que invalidam o argumento.

Em primeiro lugar, o júri representa apenas uma pequena porção do departamento. No caso dos maiores departamentos do IST, por exemplo, os membros do júri internos em muitos casos não representam nada a não ser eles próprios, ou uma pequena facção dentro do departamento. Por isso, mesmo que houvesse consequências, não é claro que estes indivíduos estejam preocupados com elas. Estarão, por exemplo, mais preocupados em não importar para o departamento alguém que os possa por em cheque, por exemplo.

Quem tem parte da responsabilidade é o CC, que devia começar por olhar para os CVs dos membros do júri (internos e externos), de forma crítica, mandando para trás os que não estão à altura, em vez de assinar de cruz.

Ricardo Lima disse...

Obrigado pela sua opinião. Eu apenas quis abordar a questão da endogamia e composição do júri em termos interno vs externo.

A questão da responsabilidade necessita de um discussão holística que vai para além de um comentário num blog.

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