Texto de  Guilherme
          Valente (editor da Gradiva):
Todos os
          livros da Gradiva são
          obras, digamos, especiais - podemos enganar-nos, mas não
          fazemos cedência ao “lixo".
          Mesmo neste período de crise financeira bastante grave, também
          de crise da
          cultura, da leitura - mesmo nas universidades muitos alunos e
          professores,
          visivel e comprovadamente,  quase não lêem!. 
 A
          Gradiva continua fiel ao projecto e à intenção que determinou
          a sua criação:
          promover o conhecimento, o debate de ideias, a participação
          cívica informada e
          livre.  Por  isso editamos livros, nos vários géneros,  com
          pontos de vista diferentes, por  vezes opostos, com ideias
          novas, uma vez
          que  a realidade muda e novos desafios  se colocam à
          consciência
           crítica dos homens livres, dos que procuram,   acima de tudo,  ser fiéis à sua consciência. 
Continuamos
          a ser a empresa financeiramente equilibrada que desde sempre
          fomos, sem nunca
          termos pedido qualquer  empréstimo. Somos absolutamente
          autónomos. Estamos
          como outras editoras a vender menos, mas também a gastar
          menos. Diminuímos o
          número de títulos publicados e baixámos as tiragens (por isso
          deixámos de ter
          exemplares para oferecer, nós que gostamos tanto de dar).
          Resistimos em
          equilībrio graças à equipa de pessoas da Gradiva, que a fazem
          com um empenho,
          um gosto, um voluntarismo que espantam todos aqueles que têm
          contacto
          profissional connosco ou nos visitam.
Continuo
          a ser sobretudo um leitor, o
          leitor como fui sempre, mesmo que não leia muitos dos livros
          que fui podendo
          comprar, claro. De entre as nossas Novidades de Novembro faço
          três sugestões do
          nosso catálogo. Todos os três são novidades, pelo que estou a
          pensar na época
          das prendas, prendas que devemos também oferecer a nós
          próprios. Todas são
          obras admiráveis, cada uma no seu género. E todos são livros
          que conseguimos
          vender a preços especiais, preços que ainda poderiam ser mais
          baixos se
          houvesse um maior número de leitores - a Gradiva  está a
          publicar cada vez
          mais para uma elite, para um conjunto de leitores reduzido.
          Como dizia a
          personagem de um filme que acabo de ver, "os livros são a
          televisão dos
          inteligentes"...
"A Hora
          do Deslumbramento", de Richard Holmes,  é um livro premiadíssimo, cultural e historicamente
           revelador, cheio de
          informaçào surpreendente,  muito bem "contada", como um
          romance,
          podendo ser lido devagar, embora quem já o leu me tenha dito
          que não conseguiu
          parar. Tem 700 páginas, a um preço incrível, porque  decidimos
          vender a
          edição de apenas mil exemplares (já só temos 200, felizmente,
          e, se  reeditarmos,
           teremos, então, lucro, que
          é  legítimo) só
           através do nosso site
          e nas livrarias que aceitaram uma
          margem comercial inferior à habitual: FNAC, Corte Inglês e pequenas
          livrarias. Claro
          que compreendemos muito bem que outras não genham podido
          aceitar essa margem,
          uma vez que também elas têm despesas enormes e lutam para
          manter o seu
          equilībrio financeiro.  Mas o que não há dúvida é que o livro
          chega caro
          aos que  o querem e precisam de comprar. E isso está também a
          contribuir
          para as dificuldades das editoras, para o cada vez maior
          afunilamento dos
          géneros publicados. Os grandes livros de referência nas várias
          áreas do
          conhecimento estão, como pode ser facilmente observado, a
          desaparecer
          progressivamente das livrarias.
Saberão
          os leitores qual é a margem
          habitual de cimercializção? Aproxima-se dos
          58%. Percebem
          melhor por que os livros  são caros? Especialmente  os livros
          de
          referência, os livros de cultura, os tais que estão a deixar
           de ser lidos
          nas universidades e nas escolas, para um público que devia ser
          culto  e
          qualificado. Que devia começar por ser letrado  para ser culto
           e
          qualificado.  Havendo cada vez menos leitores as tiragens são
          cada vez
          mais pequenas, e, sendo as  margens de comercialização o que
          são, o preço
          de venda do livro tem de ser elevado.
          
          
É por
          isso que uma venda directa,
          através do nosso site
          ou por pedido
          telefónico  ou por email à Gradiva  é uma grande ajuda. Nessa
          venda
          directa podemos vender todos os livros com um desconto muito
          significativo.
          Pelo menos todos  os
          que não estiverem
          sujeitos à... estranha Lei do Preço Fixo. Uma lei que se diz
          ter sido feita
          para proteger as pequenas livrarias, mas que, na verdade, não
          as defendeu.
          Acabaram quase todas... Essa lei foi
          agora reforçada.
          Com o mesmo argumento que a realidade infirmara, o de proteger
          as pequenas
          livrarias. E quem protege as pequenas e médias editoras, as
          tais a que se vem
          chamando "independentes? As editoras que não possuem livrarias
          onde possam
          manter as suas obras em exposição, onde as possam colocar em
          montra? Edtoras que publicam livros para um público mais 
restrito, com pequenas tiragens, insuficientes para permitir a  compra 
de espaço nas montras ou nas bancas de exposição?  Não deveria  também 
de haver uma lei para proteger os pequenos editores, os
          editores ditos "independentes".
          Para proteger a diversidade, que é afinal a fonte da
          liberdade?
          
          
Acontece o
          seguinte, regra geral:  O editor coloca o livro nas livrarias.
          Se o editor
          não comprar espaço de exposição nas montras  ou nas bancas, os
          livros
          ficam uns dias, um ou dois exemplares, muma banca geral das
          novidades.  Se
          não se venderem num curto prazo, deixam de estar expostos e, passados dois ou três  meses,
          são devolvidos à editora. Por que razão não se permite, então,
          ao editor
           que os venda no seu site com o desconto  que permita a mais
          pessoas
          adquiri-lo?  Para quê obrigar-se  o editor e o leitor a
          esperarem 18
          meses para recuperar o investimento e para poder ter acesso ao
          livro  que
          deseja ou de que precisa  a um preço ao seu alcance? Mistério.
          Outro
          mistério tal como o do estúpido
          Acordo Ortográfico
          imposto ao país.
A Gradiva -- sem violarmos a lei, porque é uma  lei (as multas são, aliás,
          violentíssimas)
           - está a fazer regularmente grandes  descontos nas obras que,
          publicadas há mais de  18 meses,  já não se
          encontram ou não
          estão  visíveis nos pontos de venda, porque foram devolvidas.
          Pedimos, por
          isso, que visitem o nosso site, que é
          a a livraria da Gradiva. Aí encontram todo o nosso singular
          catálogo. E grandes
          descontos em grandes livros. Das vendas  efectuadas dependerá
          podermos continuar a
          editar o género de livros que distingue a Gradiva.
Mas
          voltemos às  Novidades.
          O livro do Umberto Eco que
          sugerimos, "História das Terras e dos Lugares Lendários",  é uma obra de características diferentes de “A Hora
          do Deslumbramento".
          É de um género, digamos, visual, bem numa das linhas de
          interesse cultivadas
           por um autor que é um dos grandes intelectuais do nosso
          tempo. Texto
          belíssimo, imagens belíssimas, imaginação contagiante, a
           erudição que
          distingue o autor. Uma  prenda deliciosa de ler e de ter, nas
          nossas estantes
          ou em cima da mesa da sala para se olhar, folhear e ir lendo.
Quanto ao
          terceiro livro "Ouvir com Outros Olhos", de João Lobo Antunes,
          não
          hesito em dizer: comprem-no na Gradiva ou no vosso livreiro
          habitual (que bem
          merece ser ajudado, sendo o preço neste caso o mesmo)
          e leiam-no já.
           Confiem em mim.  A sua leitura vai dar-vos um grande prazer
          intelectual e  humano.
          João Lobo Antunes
          é quanto a mim um dos mais profundos, mais cultos, o mais
          preocupadamente
          humano no pensamento, o mais elegante na escrita, dos três
          ensaístas
          portugueses  maiores do
          nosso
          tempo. Sou  insuspeito nesta minha opinião, porque tenho o
          orgulho
          enorme de ser também o editor dos outros dois:  António José
          Saraiva e Eduardo
           Lourenço.  Leiam este livro de João Lobo Antunes, os temas
          tocam o
          que mais  toca a todos nós. E se o lerem... vão também querer
          ler todos os seus livros anteriores.
Leiam o melhor, leiam Gradiva. Como  dizia um slogan muito usado nos meus tempos de criança...o saber não ocupa lugar. 
Guilherme
          Valente



 
 
 
2 comentários:
"Leiam o melhor, leiam Gradiva."
A auto-publicidade neste blog desce a níveis pornográficos.
Acabei de aderir ao vosso blogue, não tinha conhecimento que haveria uma vanguarda da defesa e manifestação da cultura e sabedoria em Portugal. Primeiro que tudo parabéns pelo nome do vosso blogue porque foi o que me trouxe aqui em primeiro lugar.
Relativamente aos livros vou seguir o vosso conselho, embora a Era do Deslumbramento já cá canta na estante, os outros dois se seguirão ;)
Agora cabe-me finalizar o Folly of Fools de Robert Trivers, depois irei considerar estas obras.
Um obrigado por partilharem esta informação, eu cá vou certamente ter muito para explorar neste vosso blogue nos próximos tempos.
Kind regards
Enviar um comentário