sexta-feira, 9 de maio de 2014

BALANÇO DA ACÇÃO DA TROIKA NA EDUCAÇÃO: MUITO NEGATIVO

Declarações que fiz à revista Visão sobre o balanço da acção da troika na educação portuguesa. Tem sido tudo, em geral, bastante negativo:

A troika fez diminuir brutalmente a despesa com a educação em Portugal, tanto no ensino básico e secundário como no ensino superior. Os cortes foram em muitos casos cegos, isto é, foram feitos sem atender a critérios de qualidade. A troika mandou cortar e o governo cortou em força rapidamente. Não se pode dizer que a escola pública esteja esse melhor com esse assim chamado "reajustamento". Por exemplo, o aumento do número de alunos por turma não veio aumentar a qualidade das aprendizagens. Outro exemplo: ao cair o financiamento nas construções escolares e nas bibliotecas escolares os alunos não saíram nada beneficiados. Persistem de resto alguns problemas que vêm de trás e que dificultam o trabalho de alunos e professores. Um livro publicado recentemente pela Fundação Francisco Manuel dos Santos - "A Sala de Aula" - de Maria Filomena Mónica veio chamar a atenção para o problema da indisciplina e para o continuado centralismo por parte do Ministério. A autononomia das escolas não passa de uma palavra, pois na prática cada evz é menor. O exame aos professores não correu muito bem ao Ministério. Os professores ficaram zangados, piorando o ambiente escolar. Como evolução positiva registem-se a revisão curricular, com a definição de metas de aprendizagem e a mudança de alguns programas do secundário, e a tentativa de aprofundamento do ensino profissional. Por seu lado, olhando para o ensino superior foi negativa a queda de financiamento para bolsas devido à política de lesa ciência da FCT,  mas poderá ser positiva a criação de cursos mais curtos no ensino politécnico.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não creio que a culpa dos cortes cegos seja da troika. É, mesmo, ideologia de quem dos governa. Se assim não fosse, como se poderia ter cortado e vai cortar tanto na educação pública e, ao mesmo tempo, se financiam escolas privadas? Como é que alguém imagina que a escola pública pode ter qualidade se um professor , por exemplo, de História ou Ciências pode ter mais de 240 alunos ou um de TIC ter 500 em diferentes níveis e ciclos de aprendizagem ( isto agora pois há sinais de que no próximo ano pode aumentar) ? Depois , vão dizer que os professores do público não ensinam , não querem trabalhar e , por isso , há necessidade de privatizar tudo.

Temos poucas crianças devíamos tratá-las bem e não pensar apenas nos empresários da educação. Ainda ontem foi notícia uma grande compra no sector privado da educação. Também a educação está a ficar na mão de multinacionais.

Para mais , também o sector universitário tomará o caminho do americano em que quem quiser aceder aos estudos universitários vai ter de os pagar bem caros ou endividar-se. Alguém consegue explicar bem por que é que nos EUA as propinas são proibitivas?



Ivone Melo

Anónimo disse...

Em relação à indisciplina na escola há um factor que não vejo discutido e é da maior importância, os guetos em que algumas escolas se tornaram e que também estão relacionados com a proliferação dos privados.

Andei num liceu onde se podiam encontrar todos os estratos sociais, como era habitual naquele tempo ( os colégios eram para os de longe, os indisciplinados e os que não queriam estudar). Mais tarde, dei aulas numa escola , a Leonardo Coimbra, em que igualmente se encontravam todos os estratos sociais e não existiam problemas de maior a nível disciplinar. Pouco tempo depois de lá ter leccionado foi aberta uma outra escola a cerca e um km, a Francisco Torrinha ,em plena Foz. É evidente que a Torrinha se tornou a escola dos meninos da Foz e a Leonardo foi esvaziada daqueles que eram os bons modelos a seguir pelos filhos dos bairros degradados . O resultado está à vista . Uma boa escola tornou-se uma TEIP e aqueles miúdos, sem outros exemplos a seguir, continuam e continuarão a atolar-se na vida escolar e na sociedade.
Tudo isto, aprofundado com a proliferação dos colégios, como dos condomínios fechados, torna a sociedade bipolarizada entre maus, os pobres atolados nas suas ilhas de miséria (- quase todos nós , não tarda nada) e bons , os ricos, sempre cheios de medos que os comam vivos. Dois grupos que nunca se encontrarão como duas linhas paralelas, eis a sociedade do futuro que se está a criar e já nem existe o serviço militar para permitir que haja algum ponto de contacto entre eles!



Ivone Melo

O corpo e a mente

 Por A. Galopim de Carvalho   Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...