sábado, 28 de setembro de 2013

"O amor incerto"

O "pacote" de canais de televisão que agora tenho dá-me acesso a programas inacreditáveis, verdadeiramente inacreditáveis.

Um deles é sobre concursos de beleza de meninas. Meninas muito pequenas, com quatro, cinco, seis anos... As suas mães, em geral, enormes, enraivecidas, apostam nas suas crianças, como quem aposta em cavalos, cães, ou galos... Admitem injectar-lhe botox, obrigá-la a dietas, manipulam-nas descaradamente, gritam umas com a outras, dão murros e pontapés onde calha, insultam o júri. Danadas por ganharem o prémio sujeitam as filhas a tudo. As filhas, pequeninas, procuram acolhimentos nos braços que as enxotam, algumas choram, outras reproduzem as palavras das mães.

Não é preciso ser-se especialmente sensível para se perceber que o instinto maternal é uma ficção e o amor de mãe é mais do que incerto. O espectáculo dá plena razão a Elisabeth Badinter.

Chantal Jouannotem (LIONEL BONAVENTURE/AFP) (Fotografia retirada da citada edição do jornal Público) 
Isto passa-se nesta década, num país que tem ascendente sobre a maior parte dos países do mundo, e também se passa noutros incluindo os da civilizada Europa. Podia passar-se em Portugal. Se alguém trouxesse esse "formato" para uma estação lusa, não faltariam mães-concorrentes, estrelas-júris, espectadores-gulosos, especialistas-que não vêem problema algum, escolas-a reproduzirem o modelo (já aconteceu mas, tanto quanto sei, as crianças eram mais velhas).

Mas, haja esperança! Recentemente, Chantal Jouanno, ex-ministra e actual senadora, conseguiu que o Senado de França se pronunciasse "a favor da interdição dos concursos de beleza para raparigas com menos de 16 anos". O resto da notícia pode ser lida aqui.

2 comentários:

Anónimo disse...

O impulso maternal não é ficção; apesar de Badinter afirmar e comprovar o seu lado de aprendizagem social. Que deve estar na origem de tal comportamento materno (e paterno,só que não filmam os pais).
Alguém deve proteger as crianças quando os progenitores são de tal índole. Deixá-las ser crianças: brincar, sujar-se, aprender a atacar os sapatos, abotoar botões, escovar o cabelo e mais. E amá-las como são. Porque não há muitos caminhos para que cheguem a adultos saudáveis de corpo e mente se lhes retiramos o que lhes é devido: a infância.

Parabéns para Chantal Jouanno.

Intrigante, uma sociedade que não sanciona tais perversidades. Diria mesmo crimes. Apesar de nunca como hoje todo o gato e rato defender os Direitos Humanos. Não se entende.

Anónimo disse...

Este já passa há bastante tempo. Felizmente que não temos disto por cá.
Infelizmente que estrearam uma série de programas sobre armas. Depois de tantas mortes recentes devido a tiroteios em escolas e não só, o canal discovery oportunamente dá uma ajuda à promoção de hobbies que nem sei como classificar...

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