domingo, 24 de fevereiro de 2013

Unificação ortográfica?

Eis alguns exemplos colhidos aqui que mostram que o acordo ortográfico é uma mentira política, pois não unifica a ortografia, antes a desunifica:

Pré-AO90 Pós-AO90
Portugal | Brasil Portugal | Brasil
Acepção | Acepção Aceção | Acepção
Concepção | Concepção Conceção | Concepção
Conector | Conector Conetor | Conector
Excepcional | Excepcional Excecional | Excepcional
Expectorar | Expectorar Expetorar | Expectorar
Infecção | Infecção Infeção | Infecção
Intercepção | Intercepção Interceção | Intercepção
Perceptível | Perceptível Percetível | Perceptível
Recepção | Recepção Receção | Recepção


Qualquer cidadão português pode juntar-se à ímpar iniciativa legislativa de cidadãos, um direito previsto na constituição da república portuguesa, para eliminar esta mentira política que é o acordo ortográfico. É preciso enviar uma carta, em papel, mas é um pequeno incómodo para eliminar um dos maiores atentados à língua portuguesa. Todas as instruções necessárias estão neste site. Já enviei a minha carta, do Brasil. Se é contra o acordo ortográfico, faça o mesmo.

46 comentários:

Jorge Candeias disse...

Pretender provar que o acordo ortográfico "desunifica" a ortografia recorrendo a 9 exemplos de divergência ortográfica criados por ele, e "esquecendo" os exemplos de convergência ortográfica também criados por ele tem um nome que me está agora a escapar... como é?... ah, sim, desonestidade intelectual. Completa e absoluta.

Olhe, Desidério, leia e aprenda alguma coisa, vá: http://lampadamagica.blogspot.pt/search/label/an%C3%A1lise%20do%20vocabul%C3%A1rio%20da%20mudan%C3%A7a

Os números reais são: divergências - 221; convergências - 1249. E contra isso, batatas.

Desidério Murcho disse...

Os números correctos não são esses. Os números correctos são estes:

Antes do Acordo, havia 2691 palavras que se escreviam de forma diferente e que se mantêm diferentes, havia 569 palavras diferentes que se tornam iguais, e havia 1235 palavras iguais que se tornam diferentes.

Mas bastaria que só algumas palavras que antes se escreviam do mesmo modo passem a escrever-se de modo diferente para que o acordo ortográfico seja uma mentira política.

Anónimo disse...

Eu acho que a língua deve mudar, para algo mais lógico, por que motivo temos palavras que se escrevem da mesma maneira mas que querem dizer coisas diferentes? Por que motivo temos palavras que se escrevem da mesma maneira mas que se lêem de maneira diferente? Por que motivo temos palavras que soam da mesma maneira mas que se escrevem de maneira diferente? Por que é que “c” e “a” se lê “ka” mas “c” e “e” se lê “se”? Por que é que “çe”, “ce” e “se” tem tudo o mesmo som e é usado de diferentes maneiras em palavras diferentes? Para quê que serve o “H”? Com esta trapalhada toda é impossível saber como é que se escrevem certas palavras quando a ouvimos pela primeira vez (é preciso conhecer todas as instancias das várias formas de escrever para se conseguir escrever correcto), é impossível saber como se pronunciam certas palavras quando a vemos escrita pela primeira vez.
A função da linguagem é permitir uma comunicação eficiente de ideias, deve ser claro e deve ser lógico. Quando eu digo alguma coisa eu quero transmitir uma ideia exacta, mas esta tarefa é dificultada pelo facto de não existir qualquer lógica ou claridade na língua em que usamos. E por que é que raio “usar” não se escreve com “z”????
Eu tenho mais que fazer do que memorizar todas as palavras do dicionário só para conseguir escrever correctamente, deixei-me disso, é uma missão impossível.
E o acordo ortográfico veio melhorar isto? Não! Antes pelo contrário, tornou toda língua ainda mais ambígua, menos lógica, menos clara. E eu recuso-me a aceitar.
Não será uma lei que vai mudar isso, o novo acordo ortográfico poderia até mesmo ser aprovado por unanimidade parlamentar absoluta. Com que autoridade tem uma minoria, um bando de gatos-pingados que infelizmente foi eleita para representar o país, para ditar como todos os Portugueses (tanto presente como no futuro) devem escrever? Tal decisão, a ser tomada, terá no mínimo de ir a referendo popular. E mesmo assim não pode ser vinculativo. E o que é podem fazer? Porem-me na prisão por escrever “mal”? (e falo em “mal” com um grande sentido de ironia).
E porque razão deverá haver acordo? Existe mais vantagem em tentar unificar o Português com o Espanhol do que unificar as várias variantes do Português, e no entanto ninguém propõem seriamente tal coisa? E afinal de contas o Português e o Espanhol foram em outrora a mesma língua. Mas a língua é assim, ela evolui até ao ponto de regiões diferentes do Globo falam línguas diferentes, E não tenho a menor dúvida que em 100 se vai passar com o Português do Brasil e o Português de Portugal a mesma coisa que aconteceu entre o Português e o Espanhol. Isto é se já não aconteceu, muitas das palavras do Português do Brasil são diferentes do Português de Portugal. É possível reconhecer de que tipo de Português um texto está escrito só de ler algumas palavras. É possível formar frases completas em Português do Brasil que são irreconhecíveis em Português de Portugal e vice-versa. Estaríamos a enganarmo-nos em pensar que se trata ainda da mesma língua. Em vez de tentar unificar o “Português” espalhado pelo mundo, seria muito mais produtivo e vantajoso reconhecer de facto que outras línguas não são Portuguesas, seria mais produtivo apenas reconhecer oficialmente o “Brasileiro”.
Algumas pontes devem ser construídas, outras se devem destruir. Esta é uma que se deve destruir.

Anónimo disse...

O acordo teve o dom de provocar o desacordo e nisso estamos muitos de acordo. E ainda bem. Os povos dum modo geral, não precisam de acordos fabricados por peritos de gabinetes estéreis, para se entenderem.

Anónimo disse...

Dr. Desidério Murcho, faça-se esta pergunta: quantas regras de escrita havia para escrever as formas da esquerda? Havia duas. Agora veja quantas há para justificar as formas da direita. Há uma só. É isso o Acordo Ortográfico, regras únicas de escrita para todos os países. Independentemente disso, só quem ainda escreve com a grafia antiga pode pensar que agora há mais formas diferentes.

Jorge Candeias disse...

Oe meus números corretos têm uma fonte clara: o Vocabulário da Mudança. Os seus têm alguma além da sua cabeça? Ou da da Maria Regina Rocha? É que se isso vem daquela aldrabice que a Maria Regina Rocha publicou, lamento desapontá-lo, mas são completamente inventados.

E quanto ao resto, o acordo ortográfico nunca teve como objetivo fazer com que TODAS as palavras passassem a escrever-se de igual forma em todo o lado. O objetivo, como aliás está bem explícito num anexo publicado em conjunto com o acordo em Diário da República, sempre foi unificar dois documentos normativos da ortografia da língua num só. Isso até podia ter sido feito sem uma única mudança na ortografia do português: bastaria passar todas as diferenças a grafias múltiplas aceitáveis em todo o lado e pronto. E os dois documentos estão unificados num só. Que é o que realmente vos dói.

José Fontes disse...

Senhor Jorge Candeias:
O senhor acusa Desidério Murcho de arrogância intelectual.
Mas o que perpassa nos seus comentários não é um saudável espírito de debate aberto e livre mas, precisamente, arrogância intelectual.
Terá o senhor lido a profusa análise e documentação publicada por António Emiliano?
Duvido.
Quando realmente estamos interessados em debater, com vista ao esclarecimento do Outro e de nós próprios, apresentamos argumento, contra-argumentos, etc., mas introduzindo, sempre que possível, dados novos, ou então elucidando os apresentados.
A agressividade e a arrogância nunca foram boas conselheiras.
Aqui lhe deixo para o caso de estar interessado, o que duvido muito:

http://emdefesadalinguaportuguesa.blogspot.pt

e ainda este texto para intróito.

António Emiliano - AS CONTAS E OS NÚMEROS DO ACORDO ORTOGRÁFICO

O único documento oficial favorável ao Acordo Ortográfico de 1990 (AO) que se conhece é a "Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990)" (anexo II do AO). Essa Nota contém, para além de múltiplas deficiências técnicas, lacunas graves: menciona estudos preliminares que ninguém viu e que não estão disponíveis, e refere dados quantitativos que ninguém pode verificar.
A Nota Explicativa defende, nomeadamente, o baixo impacto das mudanças ortográficas através de percentagens (menos de 2% de palavras afectadas pelo AO) calculadas a partir de uma lista de 110 mil palavras (de estrutura e composição desconhecidas) pertencentes ao "vocabulário geral da língua", ignorando:
a) as frequências das palavras;
b) as formas flexionadas das mesmas;
c) a possibilidade de todas as palavras afectadas formarem combinatórias com outras, i.e., termos complexos, designações complexas, etc.
É uma avaliação desprovida de método rigoroso e de base científica séria: a consideração eventual das frequências, das flexões (cada verbo tem mais de cinquenta formas distintas), das prefixações (atestadas e virtuais) e das combinatórias alterará radicalmente os números do impacto ortográfico do AO.
O Governo fez discretamente consultas em 2005, solicitando através do Instituto Camões pareceres a várias instituições: dois pareceres, o do Instituto de Linguística Teórica e Computacional e o da Associação Portuguesa de Linguística (APL), foram tornados públicos aquando da audição parlamentar de 7/4/2008.
São pareceres negativos que apontam deficiências graves ao AO. A APL recomenda a suspensão do processo em curso e a não aprovação do 2.º Protocolo Modificativo. Estes pareceres foram tornados públicos, note-se, pelos autores, não pelo Instituto Camões ou pelo
(continua)

José Fontes disse...

(continuação)
Governo. Um requerimento da deputada Zita Seabra permitiu recentemente o conhecimento de todas as entidades contactadas em 2005 e dos pareceres obtidos: há um parecer do Departamento de Linguística da Faculdade de Letras de Lisboa muito negativo, com as mesmas recomendações do parecer da APL, e outro da Academia da Ciências de Lisboa, defendendo a aplicação do AO, redigido por Malaca Casteleiro (MC), autor do AO (!).
No parecer de 2005, MC afirma que "a Academia das Ciências de Lisboa, através do seu Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Língua Portuguesa, está preparado e disponível para efectuar, num prazo de seis meses, uma primeira versão do referido Vocabulário [Ortográfico], com cerca de quatrocentas mil entradas lexicais".
É informação inédita que não se conjuga facilmente com factos públicos:
1) os argumentos quantitativos de 1990 a favor do AO basearam-se numa lista de 110 mil palavras da Academia das Ciências;
2) o Dicionário da Academia de 2001, coordenado por MC, tem ca. 70 000 entradas;
3) MC foi substituído em 2006 na presidência do Instituto de Lexicologia e Lexicografia da Academia na sequência da elaboração de dicionários "conformes ao AO" publicados (em 2008) pela Texto Editores, Novo Grande Dicionário da Língua Portuguesa com ca. 250 000 entradas e Novo Dicionário da Língua Portuguesa com ca. 125 000;
4) MC é responsável por um projecto aprovado em 2006 pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia - Dicionário ortográfico e de pronúncias do português europeu (PTDC/LIN/ /72833/2006) - financiado com 70 000€€, com o qual se "pretende o desenvolvimento do primeiro dicionário ortográfico e de pronúncias para cerca de 150 mil lemas do português de norma europeia, que deverá constituir uma ferramenta linguística de referência a nível ortográfico, morfológico e fonético" (informação do sítio web da FCT).
Havendo informação objectiva que associa um dos principais autores do AO a listas de palavras de dimensões e composição distintas ─ 110 mil palavras em 1990, 125 mil em 2008, 150 mil em 2006, 250 mil em 2008 e 400 mil em 2005 ─ pergunta-se:
a) qual das listas é a mais fiável?
b) qual a credibilidade dos argumentos de 1990 baseados numa lista de 110 mil palavras?
c) como é possível o autor do AO apresentar no espaço de três anos vocabulários tão díspares?
d) por que razão, em resposta a consulta do Governo, MC declarou em 2005 poder apresentar em seis meses um vocabulário de 400 mil entradas mas em 2006 recebeu da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (ou seja, do Estado) financiamento de 70 000€€ para realizar em três anos um vocabulário com 250 mil palavras?
Algo não bate certo nestes números, que requerem, naturalmente, explicações.

António Emiliano | Linguista e filólogo | Universidade Nova de Lisboa
publicado in Diário de Notícias | 25/7/2008

A Petição Contra o Acordo Ortográfico continua aberta e disponível para assinatura.
Conta hoje com 89 740 assinaturas.

Assine-a em www.ipetitions.com/petition/manifestolinguaportuguesa.
Enquanto há Língua, há esperança.

Desidério Murcho disse...

Isto é uma mentira política e este argumento torna-a mais óbvia ainda. Já ouvi este argumento muitas vezes. E é falacioso. Porque se tudo o que era necessário era um documento a dizer que as ortografias opcionais entre os dois países são ambas aceitáveis em qualquer país, não teria sido necessário violar a língua e mudar a ortografia. Bastaria um papel a dizer isso mesmo, em relação à ortografia existente, sem mudar uma vírgula.

Maria Paula Lago disse...

Dinheiro - a chave da questão. A Priberam foi fundada em 1989, o acordo saiu em 1990....

Desidério Murcho disse...

Não, os seus números estão errados. São completamente inventados. Os números que eu dei é que estão correctos.

Concordo que bastaria um documento a dizer que as duas ortografias são legítimas. E isso seria muitíssimo melhor. Seria honestamente uma unificação. Isto que temos é uma mentira política porque 1) foi vendido aos políticos como unificação mas 2) é apenas a vontade de pessoas de duvidosas competências linguísticas imporem as suas idiossincrasias a toda a gente.

O acordo ortográfico está mal feito porque:

1) Não unifica; pelo contrário, separa as duas ortografias ainda mais do que já estava.

2) Está tecnicamente errado porque não distingue casos em que ninguém protestaria contra a eliminação das consoantes mudas (como "actual"), com aberrações como "espectador" ou "pára" (que perde a acentuação, não se distinguindo de "para")

O que leva pessoas a aplaudir o acordo? Duas coisas:

1) Sonhos tolos de uma língua portuguesa a invadir o mundo, como um Quinto Império. Isto é tolo porque o acordo não unifica e porque a força de uma língua não está em ortografias, unificadas ou não, mas na produção cultural dessa língua.

2) Uma vontade quase infantil de ser moderno, pensando que ficamos todos mais evoluídos tirando umas consoantes mudas aqui e outras acolá, quando para ficarmos mais evoluídos o que precisamos é de mais produção científica e cultural de qualidade em língua portuguesa.

Portanto, tudo isto é um equívoco de todo o tamanho. Felizmente, será reprovado na Assembleia da República e voltaremos ao que tínhamos antes. Depois, com linguistas realmente competentes como o António Emiliano, poderemos realmente esperar por uma nova ortografia que não seja uma aberração que só não ofende quem nem sequer sabe contar.

Maria Paula Lago disse...

Toda uma máquina de subsídios, formação, venda de "saber"... Aliás é também o que se passa com a TLEBS, agora Dicionário Terminológico.
A investigação não se destina a produzir conhecimento, mas a vender o "conhecimento" já produzido, ou a produzir conhecimento para venda, independentemente da qualidade da investigação.
Devem ser primos de alguém, como é habitual no nosso país..

Desidério Murcho disse...

Se foi isso, apesar de tudo é a mais honesta das motivações para fazer esta tolice. Porque pelo menos não revela estupidez da grossa. Quem quer o acordo para ganhar dinheiro, e obriga milhões de pessoas a passar a escrever de outra maneira, tem pelo menos o mérito de ser esperto. Mas quem pensa que o acordo unifica ou simplifica é pura e simplesmente parvo, porque nem unifica nem simplifica.

Jorge Candeias disse...

Desidério, agora enterrou-se por completo. Os meus números estão disponíveis a quem os quiser analisar. Se se tivesse dado ao trabalho de ler o que está no link que lhe mandei, teria visto que eu forneço o ficheiro excel em que fiz as contas a qualquer um que o queira analisar. E faço isso porque sei que as contas estão certas, pelo menos no que toca ao Vocabulário da Mudança, que foi o que analisei, em resposta àquela coisa aberrante da Maria Regina Rocha. Quem inventa números não disponibiliza as contas ao público. Quem inventa números apresenta os números e mais nada, que foi o que fez a Rocha. Porque assim tem a certeza de poder lançar a confusão à vontade sem que ninguém tenha a possibilidade de mostrar por A+B que as contas estão erradas. Porque assim pode contar com o apoio das Testemunhas da Consoante Muda, essa nova religião que anda agora por aí. Eu disponiblilzo as minhas, e desafio qualquer um a mostrar que estão erradas. Qualquer um. Quero ver algum dos senhores que andam aí a apresentar números inventados, você, por exemplo, a fazer o mesmo.

É o fazes!

Portanto o seu ponto um é uma mentira. Pura e simples.

E o seu ponto dois é simplesmente parvo. Não distinguir os seus casos não é questão de "estar tecnicamente errado", é questão de arranjar uma regra e segui-la. De não fazer as coisas à toa, mas com regras. De não exigir empinanço de ortografias individualizadas, mas a compreensão de meia dúzia de regras genéricas. Porque basta compreender um punhado de regras gerais para se saber escrever perfeitamente português com a nova ortografia. E eu até concordo que a questão do "pára" é o ponto mais duvidoso das soluções encontradas e preferia que não tivessem ido por aí. Mas tenho suficiente massa cinzenta para compreender que há uma regra por trás e qual é essa regra. E isso está nos antípodas de incorreção técnica.

(Ah, e sabia que na nova ortografia pode continuar a escrever espectador? É que é das tais palavras com dupla grafia, sabe?)

Numa coisa estamos de acordo: a principal força de uma língua está na produção cultural dessa língua e sim, precisamos de mais produção científica e cultural, de qualidade ou não, em língua portuguesa.

Mas pior que a inexistência dessa produção, ainda pior que a utilização de argumentos e números falsos para entravar a preparação da língua portuguesa para o século XXI, é tentar fazer com que a ortografia ande aos ziguezagues. Aplicar uma ortografia e dois anos depois querer aplicar outra, sim, destrói a língua. Se vocês tivessem algum respeito pela língua portuguesa tentariam fazer com que esta ortografia, que está em vigor e em aplicação generalizada, fosse aplicada o melhor possível. Bastante mais tarde, daqui a duas ou três décadas, quando a poeira assentasse, colaborariam na análise do que aconteceu e no aperfeiçoamento do que houvesse a aperfeiçoar. Mas não. Em vez disso, só vejo histeria e aldrabices.

E quanto ao Emiliano, há coisas que ele diz que são corretas mas, francamente, eu perdi bastante consideração pela competência técnica dele quando, cerca de ano e meio depois de eu e os meus colegas estarmos a usar a nova ortografia sem dificuldades de maior, ele vem dizer o monumental disparate de "ninguém ser capaz de a usar". Poupem-nos. E quem diabo é o Emiliano ao pé de gente como o Lindley Cintra? Simplesmente o maior linguista português do século XX e, não por acaso, um dos responsáveis pelo AO? Haja algum sentido das proporções. E do ridículo.

Jorge Candeias disse...

Curiosamente, o primeiro livro a ser publicado para o grande público sobre a nova ortografia foi de um tal Vasco Graça Moura, não sei se conhece.

Essa parte da questão está muito longe de só ter um lado.

Anónimo disse...

Dr. Desidério Murcho, não fui agressivo ou ofensivo para consigo e não era minha intenção irritá-lo. Antes do Ao havia palavras que se escreviam de forma diferente por serem seguidas para elas regras de ortografia diferentes: actual/atual, lingüiça/linguiça, idéia/ideia, etc, etc. Esses casos foram todos eliminados. Agora escrevemos de forma diferente apenas o que tem de facto divergência também na fala. Agora basta decorar a regra, não é necessário decorar para cada palavra que aqui a consoante se lê, ali muda o valor da vogal, acolá não tem valor nenhum.

Podíamos de facto ter dito que cada um seguia a sua regra e acabava-se a história, mas isso não era unificar um sistema de regras - como é a ortografia. Essa unificação foi conseguida com o Acordo Ortográfico, não há como o negar.

Desidério Murcho disse...

Os seus números estão errados. Tudo depende de como se faz as contas. Qualquer vê que são poucos os casos em que há unificação, e há muitíssimos mais em que não há unificação alguma, há desunificação. O objectivo de quem fez esta salsada não era, desde o início, unificar coisa alguma, mas apenas impor a ortografia fonética, nada mais. E, claro, como a fonética é precisamente o que mais nos separa dos brasileiros, vê-se logo a mentira política: o objectivo não era unificar, era apenas mudar por mudar. Talvez para ficar na história.

Quanto à opção de escrever "espectador" é completamente falsa, na prática. Porque quem publica livros e artigos sabe perfeitamente que quem manda na ortografia são os revisores dos editores, e esses acabam por aplicar o princípio da simplicidade, que é escrever tudo como querem e o acordo permite. Este é outro aspecto em que o Emiliano tem insistido: a aplicação do acordo é um desastre, precisamente porque nos casos em que o acordo é aberto e facultativo, essa abertura é como se não existisse, acabando na prática por impor aberrações. É o caso de "espetador", um dos muitos em que a ortografia portuguesa e brasileira era igual e agora já não é. É precisamente ao contar estes casos de uma maneira ou de outra que você obtém os números que obtém. Se contar as palavras correctamente, como realmente estão a ser usadas por quem adoptou o acordo, como o jornal Expresso, vê-se logo que a unificação é uma mentira e das grandes.

Anónimo disse...

Que desilusão. Isto chega a ser ofensivo para quem saiba um mínimo de ortografia. O Acordo unifica de facto todas as regras de escrita. Foi pensado ao longo de décadas pelos melhores linguistas de Portugal e do Brasil, Lindley Cintra e Antônio Houaiss, que estavam longe de ser parvos e muito menos imperialistas. Ambos foram aliás ferozes combatentes das ditaduras em que viveram. Respeite ao menos isso na sua memória.

Desidério Murcho disse...

O problema é precisamente o princípio fonético, homem! Se usamos o princípio fonético de escrever como falamos, estamos a garantir que dentro de 100 anos há duas línguas e não uma só.

Porquê? Porque o que mais nos separa dos brasileiros é a maneira como falamos, e não a maneira como escrevíamos.

Aceitando o princípio fonético, os brasileiros devem continuar a escrever "idéia", pois é assim que a pronunciam, com o "e" totalmente aberto.

Aceitando esse princípio, nós devemos escrever "úmido", como os brasileiros, porque não pronunciamos o "h".

Aceitando o princípio fonético, devemos escrever "pára" e não "para", como quer o acordo ortográfico, precisamente porque pronunciamos as palavras de maneira diferente.

Daí a mentira política, homem. Só há duas hipóteses: ou as pessoas que fizeram este acordo são parvas porque querem unificar a ortografia usando como princípio precisamente o que mais nos separa; ou são mentirosas, porque o que queriam fazer realmente era aproximar a ortografia da fonética, mas sabiam que nem os políticos nem a generalidade da população aceitaria tal coisa. Ora, eu penso que as pessoas que fizeram este trabalho não são parvas. Logo, são mentirosas.

Desidério Murcho disse...

Então eram mentirosos. É impossível uma pessoa de senso querer unificar ortografias diferentes usando como princípio unificador exactamente o que mais nos separa, que é a fonética.

Não. O que estas pessoas querem não é unificar a ortografia. Querem desunificá-la, fazer duas línguas em vez de uma, e querem uma ortografia fonética por razão nenhuma de peso, excepto um ódio à história da língua que se manifesta na etimologia.

Desidério Murcho disse...

Uma pessoa pode combater ditaduras só por querer ser ele o ditador. É este o caso. Agora de repente temos de passar a escrever como os ditadores linguísticos o querem.

Jorge Candeias disse...

"Tudo depende de como se faz as contas?!" Mas em que raio de mundo vive você? No seu mundo há maneira de 2+2 não dar 4, é?

Olhe, se assim é tenho muita pena. Deve ser um sítio mais confuso que o País das Maravilhas onde a Alice vai cair. Mas com todo esse psicadelismo matemático, realmente, nem vale a pena prosseguir a conversa. Quando se substitui rigor por "tudo depende de como se faz as contas", está tudo dito. A aldrabice fica clara e cristalina.

Já nem vale a pena responder ao resto, que como é óbvio também é crasso disparate. Só quem não tem a mais pequena noção de como se processa a edição pode dizer coisas destas.

Olhe, vá ler Mia Couto. Mesmo que essas ideias estapafúrdias não lhe passem com a óbvia violação que o Mia faz do "revisorês" que você tem na cabeça, ao menos lê boa literatura.

E pela parte que me toca, a conversa acabou. Quando se desce ao "tudo depende de como se fazem as contas," deixa de haver o mínimo indispensável de seriedade intelectual para debater as coisas.

Anónimo disse...

Antes escrevíamos com base em numa ortografia consuetudinária? As consoantes mudas escreviam-se por razões etimológicas? Porque se põe a discutir ortografia como um entendido se não sabe claramente do assunto? Julgava-o mais aberto, autocrítico e honesto. E inteligente. Fique, pois, na sua. Adeus.

Anónimo disse...

Não falei em princípios fonéticos. Antes não escrevíamos de forma diferente para mascarar diferenças de fonética, escrevíamos de forma diferente porque seguíamos regras diferentes. Quanto ao seu exemplo, substitua o pê do seu "pára" por qualquer outra consoante e veja como lhe soa aquela primeira vogal. Esse caso não serviu para unificar grafias, serviu para simplificar o sistema de regras. Foi o mesmo que se fez com as consoantes mudas, eliminou-se uma coisa que servia supostamente de muleta à fonética, mas apenas em Portugal. Ou seja, o seu argumento é completamente inválido. Enfim.

Anónimo disse...

89 740 assinaturas numa nação com mais de 10 milhões de habitantes? Desconte-se os miúdos e os analfabetos!Fiquemos exageradamente com 5 milhões: Apenas 89 740?
A A.R deveria rejeitar tal papelada inútil!
Viva a nova ortografia!

Artur Costa disse...

Por Odin, discuta-se, mas não se ultrapassem os limites. E considerar o Professor António Emiliano, um homem obviamente com dificuldades ortográficas, a "competência suprema", enquanto se chama "parvos" ou "mentirosos" a Lindley Cintra e Antônio Houaiss não me parece muito sensato.

Anónimo disse...

Se querem sensatez, não a procurem por aqui.

O Desidério Murcho é um "filosofo" que se dedica em exclusividade a um ramo muito especifico da filosofia, onde se procura demonstrar que ele, Desidério Murcho, merece receber o monopolio da definição dos programas de ensino e que quem pensa diversamente é fascista.

Lendo alguns textos, uma pessoa pode ter momentaneamente a ilusão de que ele esta sinceramente preocupado em compreender a realidade. Mas quem procura debater com ele chega muito cedo à conclusão que não é assim. Por isso é completamente vão argumentar. O que ele quer não é ficar a saber, mas apenas ter razão.

Portanto se quiserem fazer-lhe um favor, não lhe dêem objecções nem argumentos. Dêem-lhe razão.

Ou antes, vendam-lha. Que é o unico trato que ele percebe...

Anónimo disse...

Os acordos são como as leis, tanta lei e tanta confusão onde já ninguém se entende.
Estou de acordo, o dito cujo serve apenas para ditar e impor o que meia dúzia de cabecilhas se lembrou e depois quer que quase 250 milhões se ajoelhem e digam ámen! Era o que faltava. Onde fica a liberdade de cada um? Referendo era o mínimo que se podia pedir.

Jorge de Sousa disse...

Caro Candeias, leia e aprenda!
Valada, Francisco Miguel (2010). "Os lemas em '-acção' e a base IV do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990". Diacrítica - Série Ciências da Linguagem, n.º 24/1, pp. 97-108. Braga: Universidade do Minho.
http://ceh.ilch.uminho.pt/publicacoes/Diacritica24-1.pdf

Gil Rikardo disse...

Para refrescar esse debate, sugiro-lhes uma crônica do professor, escritor, jornalista, tradutor Janer Cristaldo cujo tema é mui pertinente, além de esclarecedor.

A VIÚVA E A VIRGEM


Escreve um leitor: o "benfeito" devemos ao pandemônio causado pela última reforma ortográfica. Escreve um outro: "Você está dizendo que a regra é equivocada. Concordo com você. Recuso-me a escrever "benfeito" e outras coisas. Mas o fato é que a regra mudou. Caso uma pessoa escreva "bem-feito" em um concurso público, ao invés de "benfeito", terá pontos descontados por erro de ortografia. A Veja não é uma instituição pública, contudo, e, por isso, a menos que tivesse tomado a bandeira da pureza gramatical - opondo-se a uma reforma colocada em vigor por um semi-analfabeto - não vejo por qual razão deveria ser criticada por seguir a norma atual".

Pode ser! Mas jornalista deveria raciocinar além dos gramáticos responsáveis pela reforma espúria. Se bem-feito deriva de bem-fazer, não pode ser benfeito. Ainda no ano passado, escrevia Thaís Nicoleti, no Uol:

Num primeiro momento após a implantação do Novo Acordo Ortográfico, entendeu-se que a forma “benfeito” substituiria a grafia “bem-feito”, preservando o sentido de “feito com esmero, com cuidado”. De acordo com esse primeiro entendimento, a forma “bem-feito” deixaria de existir. Não foi o que ocorreu.

A ideia era fazer a aglutinação tomando por base palavras da mesma família etimológica, como “benfeitor” e “benfeitoria”. Embora a mudança obedecesse a um critério lógico, a forma “benfeito” parece ter sido rejeitada pelos usuários. O fato concreto é que, na errata do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (e já na versão eletrônica), figura o verbo “bem-fazer”, com hífen, cujo particípio é a forma “bem-feito”.

O “Vocabulário” não é um dicionário, portanto registra os vocábulos sem indicar suas possíveis diferenças semânticas. O dicionário “Houaiss” traz, no entanto, a informação precisa. Registra as duas formas, “benfeito” e “bem-feito”, indicando o sentido exato de cada uma delas.

A distinção é simples: “bem-fazer”, com hífen, é fazer com esmero (“ trabalho bem-feito”, “corpo bem-feito”, “unhas bem-feitas” etc.) e “benfazer” é fazer o bem, fazer caridade (“Tinha benfeito aos pobres”, ou seja, “Tinha beneficiado os pobres”). O termo “benfeito” pode ainda ser um substantivo (sinônimo de “benefício” ou “benfeitoria”).

Não por acaso o dicionário Houaiss admite benfeito, afinal Antonio Houaiss é o responsável por esta reforma esdrúxula. Seu dicionário é demagógico, aceita o errado para parecer popular. Um só verbete desqualifica todo o dicionário: Houaiss admite as formas “adéqua”, “adéquam”. Com isto, absolve milhões de analfabetos. A reforma teve por finalidade não simplificar a língua – em verdade a complica, por suas incoerências – mas sim facilitar a vida dos analfabetos.

Fosse só isso não era nada. Uma reforma ortográfica é como a mudança da tomada de dois pinos para uma de três. Parece uma bagatela, mas rende milhões a vivaldinos que sabem que a mais eficaz forma de roubar não é roubar milhões de poucos, mas roubar centavos de milhões.

CONTINUA

http://cristaldo.blogspot.com.br/2012/12/a-viuva-e-virgem-escreve-um-leitor-o.html

Gil Rikardo disse...

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Tudo parece tão inocente, não é verdade? Coisinhas banais, como tirar um hífen aqui, um acentinho lá. Mas pense no que vem embutido com a reforma: novas edições de dicionários, reedições de toda a literatura, incluindo nisto os livros escolares e os paradidáticos, a galinha dos ovos de ouro dos editores. Um acentinho aqui, um hifenzinho ali... e o movimento de milhões de reais na indústria do livro.

Esse é o verdadeiro significado da reforma. A universidade e a imprensa brasileiras se renderam vilmente aos mercadores da língua. Não há sanções para quem não aceitar a reforma. Se não há sanções, pode-se continuar escrevendo como se escrevia. Se a universidade e os jornais – não falo dos editores, que são os principais beneficiados – continuassem grafando como sempre se grafou, o acordo espúrio iria águas abaixo.

Penso, inclusive, que se um estudante seguisse a antiga grafia no vestibular, não poderia ser reprovado. Se o fosse, poderia muito bem recorrer na Justiça. Digamos que um vestibulando faça uma péssima redação segundo a nova ortografia. E outro produza um excelente texto utilizando a antiga? Terá melhor nota o que usou a reforma do Houaiss? Seria uma injustiça berrante.

De minha parte, ignoro a tal de reforma. Sei que milhões de portugueses – isto é, os criadores da língua – fecham comigo. Que mais não seja,como dizia o saudoso Nestor de Hollanda, o acento diferencial é fundamental. Sem ele, não se consegue distinguir uma viúva de uma virgem.

A virgem diz “ai”.

Anónimo disse...

O Jorge é um espetador! É um gajo que espeta muito!
Ganhem olhos na cara, cambada de analfabetos!

Anónimo disse...

Falácia por apelo à autoridade. Podia até ser o Deus da língua, se é uma parvoíce é uma parvoíce independentemente de quem o diz.

Anónimo disse...

Falácia Ad hominem. Vai lá descobrir o que é isso!

Artur Costa disse...

Falácia é uma palavra bonita, muito utilizada nestas discussões. Anónimo é uma palavra feia, embora também abundante. E quem invoca autoridades, como Emiliano, não pode abespinhar-se porque se fala de Cintra ou Houaiss. Os três sabem disto mais do que eu. Mas isso sou eu, que não sou um campeão da sabedoria.

Anónimo disse...

Assumo completamente o caracter ad hominem do argumento.

Pode suceder que o acordo seja mau, admito isso perfeitamente. Digo apenas que a minha experiência (de debates noutros postes) é mais do que suficiente para poder afirmar que não vamos aprender rigorosamente nada acerca do assunto ao debater com DM, nem vamos aprender nada sobre ortografia, sobre linguistica, sobre decisões politicas nem sobre o que quer que seja. Pelas razões que apontei, que são ad hominem, não faço nenhuma dificuldade para reconhecê-lo.

A minha experiência, mas também a de outros comentadores, basta ver a sobranceria arrogante com que o DM responde neste mesmo post...

Não acreditam ? Pois não têm que acreditar. Experimentem e verão...

Quem vos avisa vosso amigo é.

Jorge Teixeira disse...

Caro Anónimo, deixe de ser troll.

Anónimo disse...

Falácia Ad hominem. Lá porque eu não me dou ao trabalho de criar uma conta e por tanto ser "Anónimo", não torna nenhum dos meus pontos menos válido. Um argumento é válido independentemente de quem o invoca. E se não és capaz de utilizar um argumento válido, não digas nada, estás a perder o teu tempo.

Anónimo disse...

De facto, bastava a criação de uma única nova diferença para o «acordo» ser mau.
Para o séc. XX_I , a nível mundial, não seria mau se o Brasil tentasse atingir o nível de alfabetização do Zimbabwe. É uma meta ambiciosa mas não deve desistir.
Portugal também devia tentar atingir o nível de alfabetização do resto da Europa.

Anónimo disse...

A grafia antiga é a de Portugal 2010? E a nova é a ortografia brasileira dos anos 30 do século passado, tão do agrado do Getúlio Vargas, e de mais uns quantos nacionalistas de extrema-direita brasileira?

CM disse...

O Houaiss era honesto: «Folha de S. Paulo», em 11 de Maio de 1986, porque é que os brasileiros rejeitaram o acordo de 1945 (que unificava relamente a grafia): «Sentimos que a ortografia de 1945 era lusitanizante».

Parece que isso seria um defeito importante, que o português tivesse uma ortografia aportuguesada...

O Lindley Cintra fazia uma cedência política, que Malaca reproduz sem peias: "É que isto não é uma questão linguística, é uma questão política, uma questão muito importante do ponto de vista da política de Língua no âmbito da Lusofonia", sublinhou Malaca Casteleiro"

Acontece que nenhum dos dois estava mandatado para tal (nem a Língua está, aliás, na disponibilidade de decisões politicas).

Anónimo disse...

Ha aqui uma confusão, subtil, mas de grandes consequências.

Quando um cientista se presta ao exercicio de ajudar a preparar decisões politicas, deixa de ser apenas um cientista e passa, necessariamente, a servir objectivos politicos.

Isso não tem mal nenhum.

Linguistas e gramaticos descrevem a lingua, melhor ou pior, com mais ou menos rigor. Questão cientifica. Leio a gramatica do Lindley Cintra porque acho que ele foi um bom gramatico (cientificamente falando). Isso não me impede alias, muito pelo contrario, de ler gramaticas de outros autores, porventura com posições diferentes ou opostas às de L. Cintra.

Agora quando se trata de preparar um acordo de unificação da ortografia, ja não estamos a falar de ciência, ou ja não estamos a falar de um objectivo cientifico. A ciência intervém, mas em posição de auxiliar.

Chocarmo-nos com esta participação "auxiliar" da ciência em matéria politica, é defender que as decisões politicas não se devem apoiar na ciência.

E é também defender que a ciência, não so não serve para nada, como deve abster-se de qualquer veleidade de se tornar util socialmente.

Não estou a dizer que não se deva criticar a idoneidade cientifica do acordo. Também não estou a dizer que o objectivo politico do acordo não deva ser debatido.

Mas, a meu ver, muito pior do que os (eventuais) danos causados pelo acordo, são os danos causados pela confusão que critico, que infelizmente vejo praticada quotidianemente neste blogue, ao revês daquilo que deviam ser os seus principios fundamentais...

Artur Costa disse...

O grande problema, caro Anónimo das 20.44, é que uma pessoa não sabe com quem está a falar com tantos anónimos. E, portanto, a que argumentos responder?
Não sou eu, é o dono (ou os donos) deste espaço quem nos pede para "1) Identifique-se com o seu verdadeiro nome." Está escrito, em português, ali em baixo, e eu gosto de respeitar as casas que visito. Não é preciso criar uma "conta" - essa sim, é uma falácia, muito própria de quem não consegue argumentar. Há uma coisa chamada "nome" que se pode escrever no final do texto. Há quem diga, até, que é uma boa regra.
Mas estou, realmente, a perder o meu tempo.

Guilherme de Almeida disse...

Atente-se na frase seguinte:

"Nada para os empreendedores".
Como interpretar esta frase à luz do AO? [no AO, "para" e "pára" escrevem-se do mesmo modo].

LEITURA 1.- "Nada para (proposição) os empreendedores" = "os empreendedores não têm direito a nada" (admitindo-se que são gente que nem merece consideração).

LEITURA 2.- "Nada pára (verbo parar) os empreendedores" = "nada faz parar os empreendedores" (vendo-se neles pessoas dinâmicas, criativas e imparáveis).

Qual das leituras é a correcta? Por favor não me venham dizer que isso se tira do contexto, pois a leitura não é um jogo de adivinhas.

Guilherme de Almeida

Guilherme de Almeida disse...

Onde acima escrevi "proposição" leia-se "preposição".
GA

Luís Ferreira disse...

Um excelente texto que acrescenta mais algumas peças ao argumentário aqui exposto:

http://inflorescencias.blogspot.pt/2013/03/resposta-gabriela-canavilhas.html

Transcrito para aqui:

http://ilcao.cedilha.net/?p=9978

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