segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

“Só não sei é quando”!...

Texto que nos foi enviado pelo nosso leitor Fernando J. Regateiro, a quem agradecemos.

“Só não sei é quando”!...

Esta referência a um tempo vago foi trazida para a política portuguesa por Durão Barroso, três anos antes de ser Primeiro-Ministro. Ele mesmo antenticou a veracidade desta afirmação, em entrevista dada ao Financial Times, explicando que a frase tinha surgido quando interrogado sobre se acreditava se iria chegar a primeiro-ministro. Nesse instante, não hesitou, afirmando peremptoriamente: “Tenho a certeza. Só não sei é quando".

Agora, foi António José Seguro que expressou vaticínio idêntico, quando lhe foi posta a questão, durante uma entrevista à SIC. Disse-o ao seu modo e do modo como interpreta as circunstâncias partidárias em que lidera: “Arrisco dizer isso”. E logo se apressou a juntar credenciais justificativas – o “trabalho” que faz “para merecer a confiança dos portugueses”. Acrescentando, ainda, as condições em que tal poderá ocorrer – “quando os portugueses entenderem”! Foi um registo respeitável! Transmite uma mensagem correcta de confiança no discernimento e na sabedoria do povo português.

Mas não estou seguro de que corresponda à atitude necessária para dominar as ambições intestinas e para “electrizar” os eleitores à volta de uma alternativa democrática ao actual Governo de coligação. É certo que a política feita deste modo sereno e civilizado deixaria mais tempo para a reflexão e para a sã convivência!

Só que, num tempo ainda próximo da anterior governação, para que o seu modo de fazer política se tenha elidido da memória e, pela lógica dos ciclos eleitorais, longe da chegada ao poder da oposição, é tradicionalmente esperado, do seu líder, um posicionamento “guerreiro” e audaz, que chame a atenção, desperte emoções fortes e crie o sentimento de que “temos homem”, com o carisma próprio de quem acredita que vai ser Primeiro-Ministro!

Quando um Governo inicia um novo ciclo político com o apoio parlamentar de uma maioria absoluta, é de esperar uma longa travessia do deserto para o partido da oposição do arco do poder e para o respectivo líder. De estranhar, é o modo como a governação actual tem vindo a gerar expectativas de instabilidade e de queda do Governo, ainda antes do meio da legislatura. E que, em função disso, a oposição tenha acreditado num fim próximo para a sua travessia do deserto.

No entanto, a política é prenhe de incertezas. O fim próximo do Governo que ainda há dias parecia uma quase certeza, hoje parece ter-se esfumado. E, daí, as aparentes travagens abruptas de quem jogava na formação de uma nova equipa interna para a liderança do Partido Socialista e para a futura governação do País. Com outros protagonistas, naturalmente! Com os que têm experiência de exercício do poder e não estão para perder tempo e se queimarem em areias escaldantes!

Para António Costa, referido como candidato a novo líder, é, momentaneamente, uma forma de ser coerente com afirmações de 2011 – “não é possível acumular a liderança do PS e a presidência da Câmara Municipal de Lisboa”.

Não é, ou não era!...
Fernando J. Regateiro

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