Extracto de entrevista a José Medeiros Ferreira publicada no jornal Ensino Magazine, número de Janeiro de 2013 (página 5).
O médico neurologista António Damásio esteve há semanas em Portugal onde inaugurou uma escola com o seu nome. Disse ele que «não é possível haver uma sociedade justa e com progresso se não houver educação». Subscreve?
Mantenho uma certa relação de afetividade com quem está no ensino em Portugal e discordo, completamente, da imagem que se formou. Penso que a Escola é muito pouco estimada em Portugal. E não é de agora, é um sentimento ancestral. Há uma cultura refratária que penaliza, quase sempre, a escola pública. Na dúvida, estou ao lado das escolas, porque acho que têm feito um trabalho admirável. Respondem aos problemas inerentes à comunidade escolar, para além dos problemas decorrentes da sociedade, seja dos menores rendimentos das famílias, pelo afluxo de imigrantes, a desagregação das famílias, etc. A escola tem vindo a aumentar o seu leque de funções de uma forma repentina, a que nem a sociedade e o poder político estão a conseguir dar resposta. São as crianças com fome, a gestão das cantinas, os jovens imigrantes que mal sabem falar português, etc. A escola está a funcionar como uma espécie de amortecedor das tensões sociais.
Os professores vão conseguir recuperar a autoridade junto dos alunos e da sociedade?
Houve um certo desvario, com culpas repartidas entre os professores e a tutela. Eu teria sempre tendência a negociar. O movimento sindical dos professores não pode deixar de ser um interlocutor. É preciso corrigir a lógica de ver no outro um antagonista e entender as partes do sistema numa lógica de cooperação. No atual contexto económico, financeiro e social a educação será ainda mais determinante. Apesar da filosofia de economia de meios, que é uma das lições da crise, não é possível abandonar as populações à sua sorte, retirando-lhes a saúde e a escola. É preciso ter cuidado para não deitar fora o bebé com a água do banho.
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1 comentário:
Só aparentemente "a escola está a funcionar como uma espécie de amortecedor das tensões sociais". Na realidade as tensões explodem frequentemente dentro da escola, e não propriamente de modo surdo, e sempre com consequências (por vezes terríveis) sobre alguém...
Só que, funcionando como funciona, a (nossa) escola não está a funcionar... como escola, ou, pelo menos, como a escola que devia ser.
E não ver isto é... não querer ver.
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