Mal acabadas as múltiplas, infindáveis e cansativas campanhas publicitárias de início de férias (quando ainda professores e alunos andam embrenhados em revisões, testes, exames, classificações e tarefas afins) começam as múltiplas, infindáveis e cansativas campanhas publicitárias de regresso às aulas (quando ainda professores e alunos saboreiam a ausência de compromissos).
É a televisão, a rádio, são os prospectos na caixa de correio, os outdoors de tamanho gigante nas estradas, os placards pelas ruas... tudo isto a mandar ir rapidamente comprar... num tom estridente, de necessidade absoluta, urgente, como se não houvesse amanhã.
Quem vai aos super e hipermercados sente-se, de certeza, a entrar numa feira popular ruidosa e desorientadora onde abundam canetas e lápis de cores nem imaginadas, borrachas, afias e colas dos mais diversos tipos, computadores com ligações a não-sei-o-quê, mochilas e cadernos com os bonecos impostos-aos-miúdos-para-eles-gostarem, sapatilhas, camisolas e fatos-de-treino das marcas que se tornaram símbolos de identidade...
Nas estantes, estrategicamente distribuídas por onde as pessoas têm mesmo de passar, é tudo bonito, colorido, brilhante, maravilhoso. Apetece levar de tudo, comprar, comprar, comprar... antes que seja tarde, antes que se acabe o que é parece não ter fim. Que importa o desemprego, a falta de dinheiro para a comida, a água e a luz, as árvores abatidas para tanto papel, a escassez de recursos do planeta!?
Face este cenário de ausência de fronteiras materiais, o que pode a escola fazer, passadas duas ou três semanas, para educar as mesmas crianças e jovens no sentido da poupança, da ecologia, da desocultação das técnicas publicitárias...
A história repete-se todos os anos: por um lado, a sociedade faz e/ou tolera certas opções de marketing e consuno, mas, por outro lado, exige à escola que as "trabalhe", que mude as atitudes dos mais jovens. Alguém acredita que isso é possível? Alguém acredita que é desejável?
Acho que ninguém acredita verdadeiramente nem numa coisa nem noutra, mas a consciência colectiva ficar em sossego com a mistificação consentida.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O corpo e a mente
Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
2 comentários:
Pois, a escola transformou-se (ou transformaram-na ou transformámo-la) numa mistificação.
Agora, é possível os professores falarem nisso aos alunos.
Eles ouvem, embora pareça que não.
Ousem(os) (caros colegas) professores.
Acreditam que há jovens, embora muito poucos, que, ao comprarem uns "jeans" (creio que é assim que se escreve...) pedem para que lhes seja arrancado o dístico com a marca? Recusam que o próprio corpo seja transformado gratuitamente em suporte móvel de publicidade.
Juro.
É verdade, Sra. Professora Helena Damião!
Uma grande mas triste verdade!
Embora nem sempre comente os posts fantásticos dos fantásticos autores do De Rerum Natura, é um blogue que sigo e leio todos os dias.
Um abraço para todos vocês.
Enviar um comentário