segunda-feira, 4 de junho de 2012

30 anos de “Ciência Aberta” ou cerca de 200 títulos depois.



Crónica publicada no Diário de Coimbra:

Portugal mudou muito nos últimos 30 anos!

A ciência, na sua globalidade, é uma das áreas em que essa mudança surge pela positiva como um facto quantificável, qualificável e substancialmente significativo em Portugal.

Mudança elevadíssima no número de investigadores doutorados em instituições portuguesas, mudança majoral no número de laboratórios e instituições de ciência reconhecidas internacionalmente, centros de incubação e produção de conhecimento científico de referência e excelência internacional, mudança no aumento do número de museus e centros interactivos dedicados à apresentação do conhecimento científico e tecnológico a todos.

Neste mês de Junho assinala-se o aniversário de uma colecção de literatura de divulgação de ciência que faz parte da história literária e editorial portuguesa contemporânea e que influenciou um número maioritário de cientistas portugueses: o 30.º aniversário da colecção “Ciência Aberta”, da editora Gradiva.

Em Junho de 1982, Guilherme Valente, editor da Gradiva, iniciou a referida colecção com a publicação de “O Jogo dos Possíveis”, de François Jacob (prémio Nobel da Fisiologia ou Medicina de 1965), começando a colmatar, paciente e persistentemente, uma lacuna (salvaguardando não mais do que algumas excepções no passado): permitir o acesso, em bom português, ao conhecimento científico actualizado e apresentado pelos melhores divulgadores de ciência e tecnologia do nosso Cosmos.

Título após título, com o pulsar de transumâncias fertilizantes, o crescimento da colecção “Ciência Aberta” apresentou, em excelentes traduções, revistas por especialistas e cientistas portugueses, uma exposição viva e intelectualmente estimulante de sínteses sobre o conhecimento que as várias disciplinas científicas teciam e tecem sobre o Universo em que evoluímos e somos humanos.

O Editor Guilherme Valente

A “Ciência Aberta”, livre, sem preconceitos, sem espartilhos doutrinários, sem fronteiras geográficas nem agendas políticas (o conhecimento científico é de e para todos), motivou e deslumbrou toda uma geração de jovens dos “7 aos 77”.

Há quem (pelo menos o Professor Doutor Carlos Fiolhais no seu livro “A Ciência em Portugal”) designe a geração de cientistas que, no início da década de 80 do séc. XX (e décadas sequentes), desabrocharam solida e compaginadamente para a ciência com a “Ciência Aberta”, como a “Geração Gradiva”.

Dezenas de investigadores com quem tenho conversado sobre este assunto incluem-se, sem hesitações, no que esta designação implícita: foi muito devido à “Ciência Aberta” da Gradiva que as suas formações científicas se fizeram e/ou completaram, que as suas escolhas e opções de investigação se definiram.

As novidades sobre um horizonte possível e tangível, numa escala de amplitude sem precedentes entre o atómetro (milésima milionésima parte do nanómetro) e os mais de 13 mil milhões de anos do Universo, foram sendo primeiramente reveladas através da “Ciência Aberta”. Conhecimento acessível nas fronteiras do saber e para além do que se ensinava e ensina nas nossas Universidades.


Hoje, passados 30 anos, a colecção que cresceu ininterruptamente com uma média impressionante de um novo título em cada dois meses, tem vindo a incluir no seu seio e de forma crescente, vários autores portugueses: só nos últimos 11 anos publicou 27 obras de cientistas portugueses, num total de 37 publicados desde o início da colecção (a lista não cabe no espaço desta crónica!).

Para além do que ficou dito, acrescente-se que a “Ciência Aberta” compõe-se no presente por 193 obras de incontornáveis divulgadores de ciência como sejam Hubert Reeves, Carl Sagan, Richard Feynman, Stephen Jay Gould, Stephen Hawking, Richard Dawkins, entre muitos, muitos outros.

Por fim, aproxima-se uma outra celebração: a do título número 200! 

Cá estaremos para o ler. 

António Piedade

4 comentários:

Manuel Rosa Martins disse...

São livros que pouco param na estante :))

Aqui abertos, consultados, sublinhados, anotados e manuseados por 3 gerações estavam à mão de semear :

1) O século dos Quanta - Prof. Doutor João Varela (Vice-Porta voz da experiência CMS no CERN)

2) A Lição esquecida de Feynman - O movimento dos Planetas em torno do Sol, de David L. Goodstein e Judith R. Goodstein, este ainda a transitar da geração dos meus pais para a minha.

Muito justa homenagem.

Alexandra Nobre disse...

E qual é o próximo António Piedade?

Anónimo disse...

Sem dúvida uma colecção de alta qualidade. No entanto quando um livro se esgota demora anos até ser reeditado! Exemplos: Está a brincar senhor Feynman!, QED e muitos outros não estão disponíveis há anos!

João disse...

Eu lia-os religiosamente de uma ponta à outra há uns anos atrás.. Os primeiros 90 foram de certeza lidos. Desde então, tenho visto com agrado que se publicam a um ritmmo superior ao que tenho disponível para os terminar. Enfim, chegará a altura de os ler. Quando chegar o 200 vou fazer questão de enviar uma foto com a estante dos 200. Por enquanto ainda cabem todos numa Billy. A caminho dos 300! Nessa altura já em ebook, provavelmente.

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