Na sequência de texto anterior (e parecendo que o contradiz, talvez o complemente).
Nunca no currículo escolar português estiveram tão presentes preocupações com a educação integral, holística das crianças e dos jovens como aconteceu na última década.
As "Educações para..." adquiriam um estatuto privilegiado, ganharam horas lectivas, mobilizaram esforços infinitos de professores e doutros agentes educativos e, presumo, envolveram verbas avultadas.
Assumiram as mais diversas formas: Educação para a saúde, Educação para o consumo, Educação para a sexualidade, Educação para a higiene, Educação para os média, Educação para a alimentação, Educação para o abuso...
A prevenção de comportamentos que envolvam álcool, drogas, e tabaco é uma das primeiras preocupações a constar em programas preparados por especialistas de renome destinados a alunos do ensino básico e secundário, nos manuais de diversas disciplinas desde o primeiro ao último ano de escolaridade, nos planos educativos das escolas, nos projectos curriculares das turmas, em documentos disponibilizados na página da internet do Ministério da Educação...
As escolas desenvolveram actividades isoladamente ou em colaboração com a comunidade, convidaram técnicos, consumidores, polícias para darem os seus depoimentos, contarem os seus casos... A formação cívica, a avaliar pelos manuais disponíveis e pelas conversas que se vão tendo, centrou-se no assunto...
E eis que passada uma década, o Instituto da Droga e da Toxicodependência apresenta um estudo onde se afirma que os jovens portugueses começam a experimentar álcool cada vez mais cedo, bebem maiores quantidades e embriagam-se mais vezes...
Se houve "educação para..." como se podem explicar estes resultados? Teria, então, sido a educação certa? Deveria ter-se percorrido outro caminho? Teria sido preferível a escola concentrar-se no currículo clássico?
Há quem diga que se não tivessem existido as "Educações para..." tudo seria ainda muito pior. Talvez... Porém, não vejo como.
terça-feira, 10 de abril de 2012
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
O corpo e a mente
Por A. Galopim de Carvalho Eu não quero acreditar que sou velho, mas o espelho, todas as manhãs, diz-me que sim. Quando dou uma aula, ai...
-
Perguntaram-me da revista Visão Júnior: "Porque é que o lume é azul? Gostava mesmo de saber porque, quando a minha mãe está a cozinh...
-
Usa-se muitas vezes a expressão «argumento de autoridade» como sinónimo de «mau argumento de autoridade». Todavia, nem todos os argumentos d...
-
Cap. 43 do livro "Bibliotecas. Uma maratona de pessoas e livros", de Abílio Guimarães, publicado pela Entrefolhos , que vou apr...
8 comentários:
É bem conhecido o nosso atraso educativo ao longo de séculos. Relativamente aos países mais próximos de nós, do Sul da Europa (Itália, Espanha), contabiliza-se em cerca de 50 anos; relativamente aos do Centro e Norte em aproximadamente um século. São números bem conhecidos e publicados.
Há dias publicava-se na imprensa a comparação entre o estabelecimento da escolaridade obrigatória de 4 anos na República Checa (1776) e entre nós (1956 – rapazes e 1960 – raparigas).
Concomitantemente com este atraso crónico sempre tivemos uma tradição de construir retoricamente a Educação, «quem não tem cão caça com (um) gato», diz-se no dito popular.
Desde tempos mais recuados que somos confrontados com o avassalador número de «grandes» reformas educativas (definitivas, pelo menos até à próxima) e outras leis avulsas, a par dos grandes desideratos e discursos (quem não tem presente a retórica republicana que obteve o «feito» de descer o analfabetismo de 77% para 66%, depois de tanto esforço labial em tanta discursata); mais recentemente tem sido a adição que comete responsabilidades à Escola em quase todas as áreas do nosso viver (distraindo-se não poucas vezes do essencial).
Que não é senão outra forma retórica de construir a Educação.
Pertinente. E uma sugestão/ideia. Quando a "modernidade" quer destruir uma coisa, começa sempre por dividi-la. Só existe uma Educação. Não existem "Educações para..." isto e para aquilo. O objectivo sempre foi o de destruir a Educação. Parabéns portanto: os resultados estão à vista.
Sempre defendi, e continuo a defender, que as "educações para..." devem ser integradas no currículo das disciplinas que já existem, numa visão holística. Muitas vezes, nas escolas desenvolvem-se ações pontuais, descontextualizadas e, provavelmente, sem qualquer impacto nos comportamentos dos alunos. Outras vezes, deixam todas essas "educações para..." ao encargo do professor de Biologia, como se as outras áreas disciplinares não tivessem nada a ver com essas temáticas, quando é exatamente o contrário.
Professora Helena Damião;
Do livro “como se forma uma inteligência” (autor Dr. Toulouse) – da Biblioteca Cosmos (direção do Professor Bento Jesus Caraça) retiro algumas transcrições parciais que julgo vão muito de encontro às interrogações que nos coloca;
“O objetivo da educação escolar é formar a inteligência, e não, como geralmente se acredita, transmitir conhecimentos.
(…)
Se realmente se quisesse estabelecer o contingente de utilidade da maioria das noções escolares, causar-nos-ia estupefação certificar-mo-nos que geralmente tendem sensivelmente para zero. E, quanto às outras, a invencível lei da memória se encarrega de lhes dar, em pouco tempo, o mesmo valor. Os confecionadores de programas de ensino parece terem trabalhado para seres abstratos que não estivessem submetidos às necessidades fisiológicas da inteligência humana, das quais, esquecer é a primeira.
Que resta dos factos concretos que se aprendem nas aulas? Na realidade, muito pouca coisa.
(…)
Mas então? Que fica da educação e porque nos instruíram, se tão pouco se retém?
O objetivo é completamente diferente.
Devemo-nos esforçar por desenvolver a inteligência, quer dizer, a faculdade de compreender e de assimilar factos; reconhecê-los e, em caso necessário, comprová-los, fazer a crítica das ideias e apreciar a sua relatividade e parte hipotética, reconhecer os juízos errados e distingui-los dos conhecimentos certos, não ser vitima da lei da autoridade, nem da do menor esforço – que ambas têm tendências para nos impor noções suspeitas, - raciocinar com exatidão... reagir em conformidade com excitações exteriores, ter iniciativa, combinar os seus actos e descontar nos resultados previstos.
A aptidão, mais do que o conhecimento, é o que nos devemos esforçar por adquirir.
(…)
Esforcemo-nos, pois, por ser mais inteligentes do que sábios.”
Cordialmente,
Simplesmente, lol.
Professor Rui Baptista;
É muito mau haver doutores analfabetos.
Mas é também mau os cérebros pobres que produzem homens medíocres.
Do livro “como se forma uma inteligência” (autor Dr. Toulouse) – da Biblioteca Cosmos (direção do Professor Bento Jesus Caraça) retiro uma transcrição para dar o significado do que eu considero ser os “cérebros pobres” e “homens medíocres”.
“O bom sentido popular, por outro lado, não se deixa enganar pelos factos da inteligência. Uma pessoa poderá ser muito instruída, graduada em todas as Faculdades e laureada em cursos superiores, ser até possuidora de cátedra e ter funções eminentes e, contudo, continuar a ser um pobre cérebro. O seu criado de quarto não ficará deslumbrado por esses títulos; pensará que apesar de tudo, o seu amo não é inteligente; e não se enganará. Desta forma se explica o fracasso de certos indivíduos notados na escola, alunos de prestígio, que se converteram em homens medíocres.”
Um bom exemplo é António Barreto (sociólogo) poderia ser outro, há tantos;
António Barreto diz num documentário televisivo, e escrevo de memória: que a lei agrária com o seu nome (lei barreto) era boa, tudo era pensado e indicado à realidade do páis; só descuidou um pormenor, e diz ele - com à-vontade surpreendente - que só mais tarde compreendeu que a sua reforma nunca poderia ter sido viavél sem que houvesse a adesão voluntária das massas trabalhadoras”.
Professor Rui Baptista, haverá melhor exemplo pelos resultado e conclusão (qual verdade de La Palisse), de falta de inteligência, e de homem com cérebro pobre que se tornou medíocre.
Não basta pois a certas personalidades deixar crescer o cabelo e puxa-lo atrás para mostrar a sua testa e assim parecer doutor; nem tão pouco o país proporcionar-lhes oportunidades (com recursos e meios) o que para outros não passaria de uma quimera; nada lhes servirá no branqueamento da verdade, pois o bom sentido popular não se engana.
A História fará justiça certeira, assim espero.
Liberte-mo-nos de certas amarras intelectuais.
Cordialmente,
Comentário colocado neste post indevidamente. Vou coloca-lo no post Resposta a Inês Pedrosa no "Sol".
Quando se perder o tempo e a energia em assuntos dessa natureza, o resultado é aquele que conhecemos.
Os delírios de todos os que defendem a educação para... os filhos dos outros está à vista de todos...
Enviar um comentário