domingo, 7 de agosto de 2011

O afastamento de Luís Capucha responsável pelo Programa Novas Oportunidades

“As Novas Oportunidades são uma megaprodução que atribue uma credenciação à ignorância” (Pedro Passos Coelho, em Maio deste ano).

Foi noticiado ontem no Público não ter o actual governo reconduzido Luís Capucha no cargo de presidente da Agência Nacional para a Qualificação (ANQ) responsável pelo programa Novas Oportunidades.

A solicitação deste jornal diário, em 7 de Julho do ano passado, sobre as Novas Oportunidades foram aí publicados, em simultâneo, dois artigos de opinião. Um a favor, da autoria de Luís Capucha em que ele aproveita para se auto-elogiar, no esquecimento ou na ignorância da máxima latina de que laus in ore propria vlescit (isto é, louvor em boca própria é vitupério). Outro contra, por mim subscrito, com o título “Estarão aqui em causa Novas Oportunidades ou Novos Oportunismos?”

Transcrevo abaixo esse meu texto, pela actualidade de que se reveste e por o De Rerum Natura ter sido sempre muito crítico publicamente em relação às Novas Oportunidades. Escrevi então:

"No ano de 2006, foram divulgados os resultados do PISA (“Programme for International Student Assessment”) que colocaram Portugal apenas à frente da Grécia, da Turquia e do México.

(…) Era este, portanto, o desolador panorama do nosso país em que “até dá pena ver o esforço das autoridades portuguesas para desvalorizar o PISA e, quando não o desvalorizam, o esforço para desculpabilizar um sistema que assim se vê tão cruamente retratado e, claro, abalado”, dizia Carlos Fiolhais.

E se no sistema educativo regular dos jovens portugueses com a idade de 15 anos, pois é neste escalão etário que incide o PISA, houve maus resultados impossíveis de esconder, no Programa Novas Oportunidades, destinado a indivíduos maiores de 18 anos que deixaram de frequentar a escola por reprovações sucessivas [ou em aditamento que faço agora, ou por carências económicas] os resultados transformaram-se em êxitos estatísticos oficiais de uma desastrada política educativa.

A réstia de esperança que pudesse haver sobre a bondade de uma segunda oportunidade, para quem desperdiça uma primeira, foi abalada em seus frágeis alicerces pela leitura de uma extensa reportagem sobre os Cursos de Educação e Formação, publicados no “Expresso” (08/12/2007). Por ela se ficou a saber que estes badalados cursos para aumentar as percentagens estatísticas de portugueses que terminaram os 6.º, o 9.º e 12.º anos de escolaridade, não espelham uma situação verdadeiramente verdadeira, credível ou séria.

Não querendo generalizar a todos estes cursos efeitos perversos, tenho razões para pensar que em sua grande maioria sirvam apenas para passar o tempo de quem procura um diploma avalizado pelo Estado. A título de mero exemplo, extraio ainda do "Expresso" este elucidativo pedaço de prosa da autoria do professor que denunciou ao Presidente da República o verdadeiro escândalo que se acoberta por detrás destas actividades curriculares: “Estes frequentadores da escola aparecem nas aulas sem trazer uma esferográfica ou uma folha de papel. Trazem o boné, o telemóvel, os ‘headphones’ e uma vontade incrível de não aprender e não deixar aprender”.

Nas sábias palavras de Stephen Covery, “se continuarmos a fazer o que estamos fazendo, continuaremos conseguindo o que estamos a conseguir”. Ou seja, continuando a consentir “que se estejam a fabricar ignorantes às pazadas” (Medina Carreira), a educação portuguesa corre o risco de ruir ao peso das Novas Oportunidades". Amplamento satisfeito com o trabalho por si próprio produzido, Luís Capucha disse ter “cumprido a sua missão” para logo acrescentar em jeito de despedida como quem acha ser díficil a respectiva substituição: “Espero que o Governo arranje alguém que continue à altura” ("Público", 06/08/2011). Comoventes, ou mesmo trágicas, estas suas palavras, não se desse o caso de serem de um ridículo atroz.

Na fotografia: Luís Capucha.

12 comentários:

Anónimo disse...

Lá nas alturas há menos oxigénio.
Na verdade, a tanta altura havia esse risco do senhor Capunha desorbitar.

Anónimo disse...

Uns têm que se esforçar a estudar para terem os estudos concluídos, outros nada fazem e em três meses têm três anos feitos!

espero que este governo extinga rápido essa aldrabice das novas oportunidades, bem como os exames dos mais de 23.

Rui Baptista disse...

Caro Jorge Gonzaga: Pior do que Luís Capunha desorbitar foi o facto de o porem em órbita do "Planeta Ignorância". Chega a meter dó ele ter feito uma declaração de auto-elogio como esta: "Cumpri a minha missão. Espero que o Governo arranje alguém que continue à altura" (Público,p. 11, 06/08/2011). Não há pachorra para tanta gabarolice!

Rui Baptista disse...

Caro anónimo (7.Agosto; 14:41): Estou a redigir um texto sobre as provas de acesso para maiores de 23 anos, a publicar brevemente. Nem preciso de ser demolidor como um caterpiller. Elas próprias, por si só, se encarregam da demolição da pouca vergonha por si consentidas.

Anónimo disse...

Já agora, caro Ruy Baptista debruce-se também sobre os mestrados em ensino pós-Bolonha e legislação que regulamenta as qualificações para a docência produzida pelo anterior governo de má memória.
Tem aí objecto de estudo em grande quantidade.
Mudando de assunto (ou não), é incrível mas já li algures na rede que há quem esteja contra o fim da Área de Projecto com o argumento de que era fundamental na formação dos alunos e assumindo-se frontalmente contra o lobby do Português e da Matemática. Será ingenuidade, desconhecimento da realidade das escolas ou pura e simples má fé?

Anónimo disse...

o ISCTE que se cuide que eles voltam todos para lá...

Anónimo disse...

Caro senhor Rui Baptista

Dado que o acesso pela via dos maiores de 23 nada tem a ver com as ditas Novas Oportunidades, vergonha é as provas serem feitas pelas universidades sem a exigência devida. Vergonha é o ensino universitário continuar a ser, em muitas capelas, tão mau quanto o era há 20 anos atrás. Vergonha é ninguém dar a cara por isso e se falar sempre em surdina como uma história bem contada, uma praxe pela qual todos nós tivemos de passar.
Quanto ao senhor Luís Capucha, e à suposta auto-gabarolice, dada a forma como o senhor escreve e critica tudo e todos, pelo menos há a obra de quem mais fez pela qualificação profissional em Portugal e pelo acesso às profissões que não carecem de uma licenciatura que o senhor que nada fez e, pior, recusa-se a ver o que quer que seja para lá do seu universo.
Ainda que a Iniciativa Novas Oportunidades tenha muito de criticável, e careça de um aumento de exigência, garanto-lhe que nestes últimos anos foi muito mais feito pela educação e formação de adultos, e pela conquista para a escola e para a formação, do que aquilo que o senhor, na sua preconceituosa ignorância alguma vez conseguiria fazer.
Lamento ter de me dirigir a si neste tom e nestes termos, mas confesso que estou cansada da sua gabarolice e forma pretensamente racional, mas a mais das vezes de má retórica, como ataca tudo e todos. Confesso que era seguidora deste blogue, que tornei numa leitura quase diária, mas suas intervenções me levam a lê-lo cada vez menos.

Rui Baptista disse...

Anónima (08 Agosto; 22:28):

Minha Senhora: O seu comentário começou por me dar umas grande alegria e terminou por me entristecer.

Começo pela alegria. A crítica que faz aos meus posts é prova de que os lê de fio a pavio. Eu não quero acreditar que a tenha feito de ânimo leve ou de “pena ao vento”, para eu não lhe encontrar semelhança com aqueles pseudo-intelectuais que dizem não ver as telenovelas televisivas mas conhecendo o seu enredo de fio a pavio.

A tristeza vem do facto do período final do seu comentário que transcrevo: “Confesso que era seguidora deste blogue, que tornei numa leitura quase diária, mas suas intervenções me levam a lê-lo cada vez menos”.

Ou seja pagam os justos (os outros autores do blogue) pelo pecador (que sou eu, em sua opinião e que eu respeito como respeito todas as opiniões).

Estando os meus posts devidamente assinalados com o meu nome por que não os deixa de ler continuando a ter o DRN de leitura diária?

De resto, eu não gostaria de a influenciar com as minhas críticas pessimistas, a ponto de criticar o que também faz, numa espécie do ditado: "Diz o roto ao nu..." A crítica que tece ao ensino universitário não a tenho como menos ácida...levando-me a crer que não se trata de uma bafejada pelos favores das Novas Oportunidades!

Rui Baptista disse...

Erratas ao meu comentário anterior:

1.ª linha, 1.º §: substituo "umas" por uma.
4.ª linha, 2.º §: "telenovelas" , simplesmente.

Rui Baptista disse...

Caro anónimo (8. Agosto; 22:02):

Faz-me três perduntas: "Será ingenuidade, desconhecimento das realidades das escolas ou pura e simples má fé?" Eu respondo-lhe: É tudo isso e muito mais!

Rui Baptista disse...

Caro anóniomo (8. Agosto; 22:04):

O ISCTE que fez deles "profes" que ature os seus filhos pródigos que voltam à casa paterna.

Rantanplan disse...

O sr Rui Baptista falou e falou muito bem. Podia até ter sido bem mais contundente. O que o socialismo fez em 15 anos à educação em Portugal não tem perdão. Portugal precisa tanto deste socialismo como de um surto de peste negra.

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