terça-feira, 16 de agosto de 2011

ENSINO DA GEOLOGIA EM PORTUGAL

Texto recebido do geólogo Prof. Galopim de Carvalho:

(análise de um caso que, certamente, ilustra muitos outros no panorama nacional)

Acabei de analisar, em pormenor, o relatório de um trabalho de grupo, sobre um tema que envolve mineralogia e geologia, elaborado por alunos do 11º ano de uma das Escolas Secundárias da capital. Trata-se de dois volumosos dossiers com centenas de páginas, na grande maioria fotocópias de imagens e textos recolhidos da internet segundo um critério de escolha que deixa muito a desejar e que permite concluir não ter tido este trabalho o acompanhamento desejável por parte do(a) professor(a) da respectiva disciplina. Esta falta de acompanhamento, a que se juntou a não existência de uma desejável revisão final, fica clara na mais que deficiente correcção dos textos escritos pelos alunos.

Este relatório foi-me facultado, a título de gentileza, por um dos elementos deste grupo de trabalho a quem (a seu pedido) procurei dar apoio, sob a forma de documentos de consulta. A sua leitura permite-me, pelo menos, três reflexões que vão ao encontro de alguns dos reparos que muito boa gente deste país vem vindo a fazer de há uns anos para cá:

- O(a) professor(a) em causa, licenciado(a) em Biologia, sabe muito pouco, ou quase nada, sobre o tema do trabalho e desconhece elementos básicos de química que obrigatoriamente constam da sua formação académica, deixando passar, sem reparo ou correcção, os muitos erros e imprecisões no conteúdo científico.

- Não se dá conta dos imensos erros de sintaxe do texto.

- Não excluo a hipótese de este(a) professor(a) se ter limitado a passar os olhos pelo trabalho, numa leitura rápida, em diagonal, lamentavelmente desinteressada, assinalando um ou outro erro de ortografia mais visível, o que também é grave.

É certo que não podemos generalizar. Nas muitas escolas que continuo a visitar por todo o país, como convidado, fazendo palestras para professores e/ou alunos, participando em debates ou em outras actividades, conheço licenciados em Biologia, tanto ou mais interessados e competentes no ensino da Geologia, do que muitos dos seus pares licenciados em Geologia. Contudo, não podemos negar que o ensino da Geologia nas nossas escolas não tem merecido, por parte dos responsáveis, a atenção que esta disciplina merece como motor de desenvolvimento e bem-estar social e como componente da formação integral do cidadão.

Galopim de Carvalho

1 comentário:

Marta disse...

É lamentável que situações como a que é referida no post do Professor Galopim de Carvalho aconteçam.
Penso que a melhoria do ensino da Geologia passa por uma atitude mais interveniente de especialistas e de associações na área da Geologia, nomeadamente na promoção de acções de formação, revisão de livros didácticos, esclarecimento de dúvidas… Estes não podem ficar alheados ao que se passa no ensino secundário. Por outro lado, os próprios docentes devem “exigir” mais a sua intervenção e a sua análise crítica quer aos livros didácticos quer aos próprios exames e testes intermédios da disciplina de Biologia e Geologia.
Relembro o erro na correcção do exame de Biologia e Geologia do ano passado da 1ª fase, e que denunciei neste blog a 1 de Setembro. O Professor Carlos Fiolhais escreveu sobre ele (dias 14 e 15 do mesmo mês). Ninguém da área da Geologia se manifestou, atempadamente ou não, e o erro passou impune. Será que também não tinham conhecimentos, como aconteceu com o(a) docente a que se refere o post?

Ana Marta, professora de Biologia e Geologia, licenciada em ensino da Biologia

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