sexta-feira, 15 de julho de 2011

O Monstro


Com a devida vénia, destacamos mais um artigo de opinião de J.L.Pio de Abreu, este saído hoje no "Destak" (na imagem, o monstro "chupa-cabras"):

"Os sábios economistas da Escola de Chicago criaram um monstro para levarem ao extremo o dogma capitalista: ‘O dinheiro produz dinheiro.’ Gurus da usura, doutores da soma e da subtracção, mestres da compra e da venda, peritos dos jogos de percentagens, e com o pequeno vício das apostas, esqueceram-se que a riqueza se baseia na produção de bens e no trabalho que essa produção incorpora.

No passado, o monstro acompanhou as ditaduras do Chile e Argentina, países que devorou em benefício de Wall Street. Thatcher e Reagan, aproveitando o colapso da União Soviética, adoptaram e globalizaram o monstro, que promoveu de imediato as máfias russas. E, por todo o lado, ele nada fez pela produção de bens, mas apenas criou assimetrias: os ricos ficaram mais ricos à custa dos pobres, que ficaram cada vez mais pobres.

O monstro anda agora pela Europa, que antes lhe resistia. O projecto europeu, assente em negociações permanentes, nada tinha a ver com o liberalismo desenfreado. Mas alguns governos europeus chamaram o monstro para a sua companhia. Não chegaram a privatizar os Estados, mas despojaram-nos do poder monetário e mandaram-nos para as mãos dos mercados, ou seja, do monstro.

Descontrolado e cada vez mais voraz, o monstro começou a deglutir os Estados europeus. Se o deixarem, ele vai acabar por se devorar a si próprio. Os únicos que ficarão a rir são aqueles que o põem a funcionar. Já se devem ter munido dos bens suficientes para lhe sobreviverem."

J.L. Pio de Abreu

14 comentários:

Anónimo disse...

O povo não precisa de lições,
discursos acade micos somenos:
precisa é de saber quantos tostões
em cada fim de mês vai ter de menos!

JCN

Blog da Lu disse...

Excelente texto. Dada a pertinência do tema, urge refletir a respeito e pensar estratégias para combater essa hidra, cauterizando as cabeças decepadas e pondo uma pedra naquela que seria imortal. Haverá Hércules dispostos a tal empreitada?
A Grécia sucumbe, Espanha vai mal, Portugal e Itália também... E agora quem poderá lhes socorrer?

RioD'oiro disse...

Do mesmo artista:

http://fiel-inimigo.blogspot.com/2008/04/esquerda-estpida-autoridade-e-poder.html

.

Anónimo disse...

Acho que ninguém se ficará a rir, o homem não é uma ilha, cairão todos, se aí se chegar. Há leis do universo que ultrapassam o protagonismo aparente do animal humano no planeta terra.
HR

fernando caria disse...

Caros Editores

Efectivamente, continuo a ficar espantado com o eco que produzm sobre as incursões económicas dos comentários de J.L. Pio de Abreu... Até parece que podem concordar concordar com elas.
Este artigo de opinião, revela um desconhecimento profundo dos fenómenos económicos dos nossos dias e em nada contribui para o esclarecimento da população não especialista.
O eco a estes artigos, ainda que de opinião não se coaduna com o trabalho de fundamentaçao da opinião crítica que no meu entender, caracteriza este blogue.

Anónimo disse...

Ele vê-se, pá, a começar
por vossemecê! JCN

Anónimo disse...

Nandinho, andou a estudar para padre,não foi?
Já sei, foi no ISEG com o Cantigas?ou o Duque?
Se fala tão benzinho como escravinha,tem lugar junto ao Teodósio, "o amanuence da Finança".
Será que tambem dobra o espinhaço?Se assim for, temos mais um, que certamente nos vai "explicar" as quetões da "inconomia".
Nandinho, no minimo, mais um "enorme comentadoiro" das TVs,...espere tá?

Nascimento

Cláudia S. Tomazi disse...

Eis que formalizar
não seja solução
mas que o povo
saiba sem ilusão

somente é do jeito
assim tiram proveito
aos que de Portugal
não pensem direito

e para vós sem
delongas fivelas
esta é carapaça

ainda das poucas
que por cá tem
fruto da trapaça.

Anónimo disse...

Quem se senta à nossa mesa
e não gosta da comida
tem uma óptima saída,
que é despedir-se à francesa!

JCN

Anónimo disse...

Não conheço o Sr. Pio de Abreu!
Pode ser só um artigo de opinião...

Mas venham lá os economistas, ou os homens do marketing, ou os publicitários explicar isto:

- A EDP tem concorrência? Não!
- Então para que servem aqueles anúncios (que devem ter gastos astronómicos) vermelhos na televisão? Ou nas páginas das revistas e jornais?
- Quanto paga a EDP por isso?
- Qual é o vencimento de um administrador da EDP?

É que quem paga o anúncio é o consumidor final, o último da cadeia alimentar (o que é comido!).

Afinal sempre há algo de científico, ou não?

AI (ai! ai! ai!)

Cláudia disse...

Deste fruto por iguaria
quem de vos se sentaria
eis toda mesa é sagrada
ter sua pureza batizada!

fernando caria disse...

Caros Editores

Opinião crítica nao é obviamente alinhar umas bocas modernaças, com terminologia bloquista, ainda por cima anónimas.
Opinião crítica implica um pouco mais de pesquisa científica e construção de um racicínio fundamentado que resista, pelo menos, a uma investida séria de contra argumentação, o que não é o caso.
Assim, tornar culpas à escola monetarista pela actual crise é tão absurdo como defender que é o fumo de cigarros que é responsável pelo aquecimento global.
Não foram as teorias monetaristas as responsáveis pelo descontrole dos défices governamentais de várias das democracias europeias, nem foram responsáveis pelo crescente endividamento público da última década, para financiar obras de no mínimo duvidosa utilidade.
Para que não restem dúvidas refiro-me mesmo à utilidade do John S. Mill.
O J. L. Pio de Abreu, com a exposição mediática de que dispõe, contribui activamente com a sua opinião simplista, apesar de decorada com terminologia de autoridade, para o manto diáfano da ignorancia e não para o esclarecimento de quem em última instância decide, pelo voto.
Um povo ignorante, chamado às urnas para decidir uma ou outra direcção da governação do país, só pode decidir mal.

K. disse...

UM EUROPEU QUE FOI ROUBADO

Um dia vieram e levaram tudo ao meu vizinho que era Grego.
Como não sou Grego, não me incomodei.

No dia seguinte, vieram e levaram tudo
ao meu outro vizinho que era Irlandês.
Como não sou Irlandês, não me incomodei.

No terceiro dia vieram e levaram a casa do meu vizinho Portugês.
Como não sou Português, não me incomodei.

Mais tarde, levaram o que restava aos outros latinos. Mas eu não sou Italiano nem Espanhol. Sou dos que trabalham e pagam impostos. Por isso não me preocupei.

Agora, levaram-me tudo o que tinha. E não tenho a quem pedir ajuda para o reaver.

19 de Julho de 2011,

K.

Luís Daniel Abreu disse...

O comentário do Fernando Cária revela um desconhecimento total da génese desta crise.

Foi a recusa de Merkel em adoptar as medidas Keynesianas (resposta global e concertada à crise do subprime) que gerou a actual situação.

O governo Alemão colocou como condição para ajudar os bancos que eles reduzissem a exposição a activos de menor qualidade, onde incluiu dívida de países periféricos europeus, o que iniciou a subida dos yields.

Em seguida, os monetaristas Alemães e companhia fizeram à Grécia exactamente o que Keynes tentou evitar que fizessem à Alemanha no tratado de Versalhes. Keynes disse na altura (mas foi bloqueado por forças conservadoras):


"....The policy of reducing Germany to servitude for a generation, of degrading the lives of millions of human beings, and of depriving a whole nation of happiness should be abhorrent and detestable...."

Pois saiu bem caro aos Europeus. E ironicamente, no final da guerra resoveram perdoar a dívida à Alemanha, reconhecendo uma certa injustiçã no Tratado de Versalhes (um pouco tarde, não? esta gente parece lenta a entender as coisas).


Ironicamente (to say the least!), tendo beneficiado do perdão da dívida e do plano Marshal para se tornar numa super-economia, e tendo passado pelo terror das políticas de austeridade do Tratado de Versalhes, a Alemanha insiste em fazer o mesmo à Grécia e aos outros países do sul da Europa, forçando austeridade numa altura em que estão em crise. Espero que hoje seja aprovado o programa de recompra da dívida pelo FEEF (que ao recomprar dívida aos preços actuais poderá fazer descer o nosso endividamento significativamente). Talvez ainda vão a tempo. Merkel perdeu e os próprios Alemães ganharam consciência da enormidade dos seus erros.


Mas o problema não é de Friedman, cujas ideias sobre a relação entre a massa monetária e a estabilidade de preços têm sentido, apesar das situações extrema de armadilha de liquidez. Friedman disse que para combater a deflacção basta atirar dinheiro pelas ruas (opss....Japão!). Esta ideia é do mais simplista que existe, tipo economia de dona de casa. Tudo o que estamos a passar agora deve-se ao "dual" desta ideia: criar eurobonds e monetizar défices iria levar a inflacção na Europa. Mas a austeridade na Grécia está a gerar inflacção!

It´s the human being, stupid! (mera referência à campanha de Clinton, não é um insulto...)


O problema é que as forças conservadoras não têm problemas em ser Keynesianas quando lhes convêm (por exemplo, quando se trata de ir para a guerra: Bush, Nixon (um grande seguidor de Friedman), etc).


No fundo, como académico, entendo a situação dos Economistas no meio disto tudo. Todos nós temos de publicar artigos para sobreviver e, para o fazer, é necessário seguir o mainstream. No entanto, podemos seguir o mainstream para publicar e ao mesmo tempo desenvolver as nossas próprias ideias, esperando que um dia venham a ser mainstream. É essa que deve ser a verdadeira ambição de um académico.

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