terça-feira, 26 de julho de 2011

O diagnóstico da educação e a avaliação docente como terapia


“As carreiras são entre nós matéria importante, visto estarmos num país de carreiristas no qual todos buscam uma calha que lhes permita deslizar sem atrito”
(João Lobo Antunes, "Um Modo de Ser", 1996).

O diagnóstico do estado mórbido da Educação está feito por individualidades do mundo cultural, científico e político da sociedade portuguesa. Apenas alguns exemplos:

- “A educação é um desastre completo. Nem daqui a 30 ou 40 anos nos livramos dos erros que andamos a fazer hoje” (Silva Lopes).
-“Sem que haja um elevado número de indivíduos verdadeiramente qualificados, e não apenas ‘certificados’, não teremos um nível de instrução suficiente, isto é, europeu” (Medina Carreira).
-“A educação, objecto de tanto palavrório, passa moeda falsa; promete o mundo e não dá saber e trabalho” (Vasco Pulido Valente).
- “Por força de um atraso ancestral, a necessidade de uma escola qualificada que dê lugar a uma sociedade desenvolvida não está suficientemente clara na mente das pessoas. A escola, a boa escola, não ocupa ainda o lugar a que tem direito” (Carlos Fiolhais).
- “É indesculpável que um professor – qualquer professor !- não saiba escrever, cometa erros de ortografia graves, tenha limitações sérias no vocabulário, não faça ideia do que é a lei da queda dos graves, não saiba somar fracções ou confesse ‘horror à matemática’” (Nuno Crato).

Convém começar por lembrar que a encarniçada contenda da avaliação docente se tem desenrolado com a participação de duas aguerridas facções de professores, com o fogo de barragem sindical: uma constituída por professores medíocres que rejeitam, à outrance, toda e qualquer avaliação séria ao defenderam uma avaliação em roda livre que os coloque no topo da carreira docente sem mais aquelas; outra, por professores competentes que estiveram contra a avaliação (para utilizar o seu próprio argumento) levada a cabo por professores titulares, por vezes, de menor habilitação académica, mérito científico e cultural e docência de disciplinas que nada têm a ver com as do avaliado.

Não se pode deixar de dar razão a esta alegação. Todavia, não posso deixar de criticar que mesmo em escolas do ensino secundário tivesse havido casos de professores habilitados com simples cursos das antigas escolas técnicas a presidir aos respectivos conselhos directivos (posteriormente, executivos) com enquadramento legal para darem informações sobre o desempenho profissional de professores licenciados. Pena foi, portanto, que nessa altura se não tivesse erguido a vozearia, que depois se levantou, para criticar uma situação que então mereceu o maior silêncio e a mais espantosa aquiescência.

Que diria a sociedade portuguesa se o diagnóstico geral das obras de engenharia nacional indicasse erros, mais ou menos generalizados, de cálculos dos engenheiros? Que diria a sociedade portuguesa se o diagnóstico da medicina nacional indicasse má prática generalizada dos médicos? Porque se cala, então, a sociedade portuguesa, ou mesmo consente, se o diagnóstico aqui feito sobre o sistema educativo pode detectar nuns tantos docentes uma quota parte dessa responsabilidade, descurando o “produto” que sai das suas mãos, mãos hábeis e responsáveis ou mãos inábeis e irresponsáveis?

Ora isto passa por uma avaliação séria dos professores. Está agendada para a próxima sexta-feira uma reunião com sindicatos docentes para apresentação e discussão de um novo processo de avaliação a apresentar pelo actual Ministro da Educação. E ao que se sabe, pelos jornais, mais uma vez a Fenprof (mais calada do que o costume, embora eu duvide que este silêncio prenuncie boa notícia ou “a eloquência dos anjos”, de que nos falou Camilo) parte para essa importante reunião com a intransigência para que desse processo de avaliação não constem os resultados obtidos pelos alunos no fim dos respectivos desempenhos escolares.

O argumento é o do costume: como se pode avaliar esses resultados quando se está em presença de uma escola de bons alunos de um estrato económico elevado e de uma outra escola de alunos problemáticos e de um chamado “bairro da lata”. Essa é uma questão que se pode podia pôr (embora sem pernas para andar) relativamente a um médico que trabalhe num hospital de ponta e um outro que desenvolva o seu múnus num posto médico da província. Ou de um médico que trate uma simples constipação e um outro que se veja a braços com um doente com uma pneumonia.

Qualquer um deles deve ser avaliado conforme o empenho, o brio, a dedicação, postos na obtenção dos melhores resultados em função dos desafios que lhe são impostos e os meios colocados à sua disposição. Continuar a pôr como condição sine qua non não entrar para a avaliação docente os resultados obtidos pelos alunos é levantar logo à partida uma ponte de desentendimento sobre a avaliação dos professores como se as carreiras docentes não fossem entre nós matéria importante para premiar os bons professores e penalizar os maus docentes, pondo, no entanto, meios à sua disposição para virem a melhorar o respectivo desempenho. Como li algures: Todos iguais? Não! Todos solidários? Sim!

7 comentários:

Anónimo disse...

tem tudo um fundo de verdade como tudo na vida

mas o último é bastante parcial

As carreiras são entre nós matéria importante, visto estarmos num país de carreiristas no qual todos buscam uma calha que lhes permita deslizar sem atrito” (João Lobo Antunes, "Um Modo de Ser", 1996).
O diagnóstico do estado mórbido da Educação está feito por individualidades do mundo cultural, científico e político da sociedade portuguesa. Apenas alguns exemplos:
- “A educação é um desastre completo. Nem daqui a 30 ou 40 anos nos livramos dos erros que andamos a fazer hoje” (Silva Lopes).
-“Sem que haja um elevado número de indivíduos verdadeiramente qualificados, e não apenas ‘certificados’, não teremos um nível de instrução suficiente, isto é, europeu” (Medina Carreira).
-“A educação, objecto de tanto palavrório, passa moeda falsa; promete o mundo e não dá saber e trabalho” (Vasco Pulido Valente).
- “Por força de um atraso ancestral, a necessidade de uma escola qualificada que dê lugar a uma sociedade desenvolvida não está suficientemente clara na mente das pessoas. A escola, a boa escola, não ocupa ainda o lugar a que tem direito” (Carlos Fiolhais).
- “É indesculpável que um professor – qualquer professor !- não saiba escrever, cometa erros de ortografia graves, tenha limitações sérias no vocabulário, não faça ideia do que é a lei da queda dos graves, não saiba somar fracções ou confesse ‘horror à matemática’” (Nuno Crato).

e o dito nuno crato que sabe de biologia molecular ou de física quântica

a lei da queda dos graves para um professor de francês
faz tanto sentido como saber as declinações do checo ou do latim
num professor de geografia

o conhecimento é astronómico

seleccionar conhecimentos é idiótico

um dos melhores físicos deste país era ou é disléxico e enganava-se nas contas

fossem fraccionais ou não

de resto havia um outro que até perdia os testes

mas isso não os fazia maus professores

alguns tinham um feitiozinho de prima donas
como um geophisico...algures que não sabia fazer

arrazoados inteligíveis em termos gramaticais e não só
mas era ou continua a ser um professor du catano

tirando essas tiradas
sobre é preciso que saibam aquilo que eu sei....

nada a dizer
com tanto professor por aí

seleccionar o que já foi tão seleccionado...

quem quer ser professor já tem pancada

não vale a pena agravá-la com stress

Penso eu de que disse...

E como dizia um professor catedrático de geografia

avaliar o quê e com que meios

e principalmente com que avaliadores?

é como a inspeção (sem c creio né?)que ciranda pelas escolas a pesquisar vírgulas em actas e..

enfim...mandá-los de volta à escola não funciona
há 20 e tal fora dela como é que vão voltar

numa das últimas escolas em que o dito Nuno Crato foi dar uma das suas perorações
havia até pessoal que estava destacado há anos

e ele agora quer mandá-los de volta

é cruel..meteste a tua educação num bordel.etc

resumindo qualquer dia inda reduz os sub-directores a 4 ou 5 por escola

e reduz o nº de actas...e cartas a enviar

e...telefonemas e se calhar até de faltas...

E há aqui cada um ForFor Especializados disse...

24Fevereiro2011

Lista de candidatos seleccionados para o curso de Formação de Formadores Especializados em Avaliação do Desempenho Docente






Já disponível

José Batista da Ascenção disse...

Não tenho dúvida de que qualquer sistema de avaliação de professores só é válido se se basear na qualidade das aprendizagens dos alunos. Também sei que isso não é fácil. Mas sei igualmente que não é impossível.

E é minha opinião que um professor só é professor se tem alunos e os ensina sobre algo. Não é professor, em meu entender, quem durante anos sucessivos não tem alunos. E penso também que, numa escola, todos os professores, salvo casos de doença ou situações excepcionais, deviam ter pelo menos uma turma atribuída. Directores incluídos.

E não aceito que se montem esquemas de avaliação (!?) elaborados por "especialistas de educação" que sobrevalorizem as suas doutrinas, embrulhadas num certo "folclore", que privilegia factores como "a relação com a comunidade educativa", a "dinamização de actividades extra-lectivas", a "implementação de projectos de inovação" e o desempenho de cargos, em detrimento do trabalho árduo da preparação efectiva dos alunos.

É claro que não tenho a mínima esperança de que entre nós venha algum dia a haver um sistema de avaliação de professores digno de o ser. Por uma razão elementar: não há nenhum sistema de avaliação em nenhum sector da sociedade portuguesa que avalie justamente quem devia avaliar. Isto devido à tendência medular para a "corrupçãozinha" que é endémica entre nós. Muitas vezes com aqueles que mais gritam contra a corrupção a assobiarem para o lado, ou a tornarem-se muito discretos, e nada assertivos, quando têm que se justificar, ou fogem a pronunciar-se sobre situações que envolvem nomes "conceituados" ou personalidades de quem possam depender. Mas este é um motivo fundamental para que os professores exijam um sistema de avaliação de... professores. E não de quaisquer outras coisas...

Anónimo disse...

Entre nóa a educação
está doente a valer:
o que nos falta é saber
a sua medicação!

JCN

Anónimo disse...

Corrijo a gralha "nóa" por "nós". JCN

Rui Baptista disse...

Meu Caro José Batista da Ascenção: Ora cá estamos nós outra vez em sintonia.Aquela sintonia que aproveitando o dito populat, "quem não deve não teme".

Só é pena que numa altura destas não apareçam sugestões de professores que querem ser avaliados em parâmetros de seriedade. Será que ambos (e ingratidão seria não mencionar o nosso Colega Fartinho da Silva) estamos condenados a perorar no deserto da indiferença?

Um abraço grato.

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