quinta-feira, 16 de junho de 2011

Uma “sanção psicológica”

Ouvi logo de manhã na rádio e… pensei não ter ouvido bem. Depois li nos jornais (por exemplo aqui ) uma vez, duas vezes… e não sei se compreendi. Vamos ver os factos, ou o que, como tal, se apresentam:

1. No Centro de Estudo Judiciários, que, note-se bem, prepara os Magistrados deste país, descobriu-se que muitos formandos copiaram num teste.
2. Em virtude disso, foi decidido anular-se o teste.
Muito bem. Tratando-se de uma fraude, esta primeira medida parece razoável.

3. E o que se seguiu? Não, não se passou o que seria lógico; passou-se exactamente o contrário.

4. A Direcção decidiu, por unanimidade (sublinhe-se “por unanimidade”): exercer uma “sanção psicológica”, a qual se traduziu em (pasme-se) passar toda a gente… com dez valores!
5. Dez valores permitem passar à justa… Mas, permitem passar!
6. Como se percebe de 4. e 5. quem prevaricou teve dez valores e quem não prevaricou teve também dez valores.

7. As justificações da Direcção para tudo isto são admiráveis, todas de carácter burocrático ("timings existentes", "impossibilidade de recalendarizar o teste", etc, etc., etc).

8. A Associação Sindical dos Juízes, disse que o episódio era "escusado e lamentável".

9. Sim senhor… está certo

10. Mas, acrescentou que não é caso para descredibilizar a instituição.

11. Não é!? Se este não o é, não estou a ver bem o que a possa descredibilizar

12. Nem o Centro de Estudos Judiciários nem a Associação Sindical dos Juízes tocaram em princípios éticos de honestidade e justiça, nem em questões legais, que também as há.

13. Ou terei sido eu que não estive devidamente atenta e não ouvi, nem li? Deve ter sido isso, pois duas entidades tão distintas não podem ter omitido tais reparos.

14. Acabo de ouvir na televisão o bastonário da Ordem dos Advogados a este propósito. Acalentei nova esperança de haver alguém a invocar a deontologia e a lei e apenas isso, pois é disso que se trata. Enganei-me.

15. Disse o senhor que, no Centro de Estudo Judiciários, o ensino está centrado na transmissão de conhecimentos, como acontece numa escola ou faculdade, tendo os formandos de reproduzir esses mesmos conhecimentos. Logo, é compreensível que recorram a este tipo de fraude, como se de legítima defesa se tratasse.

16. Certamente, não compreendi algo nesta (triste) história.

10 comentários:

Rantanplan disse...

Em países anglo-saxónicos, altamente atrasadinhos ética e moralmente, este pessoal seriam simplesmente expulso. Os códigos deontológicos de muitas universidades americanas não perdoam. Aluno que seja apanhado a copiar é expulso da instituição. Mas por cá o socialismo perverteu tudo.

Rantanplan disse...

Mas pior que o copianço foi mesmo a falta de classe a copiar. Respostas erradas rigorosamente iguais. Perguntas difíceis respondidas de modo igual quase por todos os alunos. Ou seja, uma total falta de miolos. E isso também me preocupa muito. Será já Bolonha e o socialismo em acção?

Anónimo disse...

ACHO QUE OS SEUS PONTOS 14 e 15 não correspondem à verdade- talvez precise ouvir o q realmente foi dito... Sono?
Com os melhores cumprimentos

Anónimo disse...

Há bocado ouvi dizer na rádio que o 10 era apenas uma medida temporária. Parece uma desculpa muito esfarrapada. Para que serve atribuir uma nota se não é para manter?

Algo que ainda ninguém parece ter questionado é a competência de quem geriu este exame.

Se os alunos tiveram acesso prévio às respostas é porque alguém falhou ou uma tentativa de favorecimento de um aluno correu mal (desonesto e incompetente).

Mas copianço em massa necessita de grande incompetência de quem vigia, seja copiado pelo do lado ou de cábulas.
Falo por experiência própria, na universidade em que estudei no nosso país situações como a desta notíca eram absolutamente comuns. Encontrar num exame quem não copiasse era como encontrar o "Wally".
Na universidade em que estudei nos EUA, nem uma única vez vi alguém copiar fosse de que forma fosse. Não quer dizer que não existisse, não sejamos ingénuos, mas a frequência é de tal modo tão inferior que em várias dezenas de exames nunca assisti a tal coisa. Os professores simplesmente não permitiam que ninguém abrisse a boca durante o exame. Quando se quer, faz-se bem.

Só vejo uma lógica no 10. Os alunos prevaricadores demonstraram capacidades semelhantes aos seus futuros pares que os avaliaram. Estão aptos a fazer parte do sistema. Os que foram honestos e estudaram tiveram um aviso para não se armarem em espertos e habituarem-se à ideia de que se tentarem furar o sistema vão ser castigados.

É pena que isto não tenha acontecido há mais tempo porque para mim não é novidade nenhuma, só é novidade ter feito notícia. Há 20 anos que esperava que pudesse fazer notícia. Vamos ver agora se há coragem para a mudança que tanto se promete.

RioD'oiro disse...

http://fiel-inimigo.blogspot.com/2011/06/masturbios-viii-procuradora-por-acaso.html

Anónimo disse...

Já cansa o (falso e ridículo) argumento de que nos outros países é que é bom. Parolos temos muitos (nos outros países também).

Anónimo disse...

Não é uma questão de que nos outros países é que é bom, essa generalização é obviamente idiota. É uma questão de aprendermos uns com os outros, com o que cada um tem de melhor. Dispenso uma longa lista de coisas dos EUA e de outros países desenvolvidos.

Anónimo disse...

Nos exames copiar
tem sua sabedoria:
há que saber engrolar
quem na sala nos vigia!

JCN

Anónimo disse...

Portugal não é um país desenvolvido?

maria disse...

nessa história quem fica mesmo mal é o CEJ. a ele é confiada a selecção e formação dos magistrados e pelo que se viu não cumpre com a sua função. esses senhores que copiaram deviam ser expulsos , mas suponho que dava muito trabalho averiguar quem de facto copiou , não é?

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